Alexandro saiu do hospital pensativo. O encontro com a bela Dra. Íris mexeu demasiadamente com suas emoções e isso o estava incomodando. Depois de Ágata, nunca sentira uma atração tão forte por alguém como a que estava sentindo naquele momento pela senhorita antipatia.
Em seu íntimo ele sentia-se culpado por está pensando em outra mulher já que sua viuvez ainda era muito recente. Por outro lado, o relacionamento dele com Ágata nunca foi dos melhores, e depois do nascimento de Damon — o primeiro filho deles — o casamento foi de mal a pior e o que já era morno, esfriou de vez. Zoe — segundo sua esposa —, foi um acidente de percurso e depois desse dia, ela afastou-se definitivamente dele. Ágata não queria nenhum tipo de contado físico, nem com ele nem com Zoe. Para os que os conheciam; eles pareciam ser o casal mais perfeito e harmonioso do mundo, porém por trás das cortinas, a história era bem diferente: eles viviam como se fossem dois estranhos: ela tentando adaptar-se com a presença indesejada dele e, ele tentando aprender a lidar com a mulher a qual se tornou desconhecida para ele.Durante a gravidez de Ágata ela ficou com nojo dele e da criança que carregava no ventre. O convívio deles tornou-se insuportável e para puni-los, ela se recusava a fazer o pré-natal. Com muito sacrifício, a família dela conseguiam arrastá-la para realizar os exames referentes ao pré-natal; porém ela não o deixava acompanha-la em nenhuma consulta. Por fim, o obstetra que a assistia durante a gravidez; achou mais conveniente que ela passasse o restante da gestação na casa dos pais dela. Foi aí que descobrira que sua esposa tinha adquirido depressão gestacional. Após esse fato, os dias que se seguiram até o falecimento dela, foram um verdadeiro martírio, contudo ele não desistiu de manter suas obrigações como esposo e pai e ficou ao lado dela até o fim. Talvez o fato de ele está sentindo-se atraído por Íris, fosse o resultado de sua extrema carência afetiva. Mas pelo jeito como ela o olhou o mais sensato a fazer era deletar aquela médica de seus pensamentos de uma vez por todas; era óbvio que ele não teria a menor chance com ela — Íris era uma mulher de alta classe e deveria ter vários pretendentes aos seus pés. A ele restava o suspirar e o encanto em silêncio. Ainda pensando na mulher que mexeu com as defesas dele; ele chegou no estacionamento, abriu a porta do passageiro, acomodou Zoe na cadeirinha, entrou no carro e deu a partida.Como o trânsito aquela hora do dia estava tranquilo, ele não demorou muito para chegar em casa. Quando entrou, encontrou seus filhos entretidos na televisão.Assim que eles os viram, correram para abraçá-lo e imediatamente voltaram a se concentrar no desenho animado que assistiam.— Conseguiu a consulta para Zoe? Melina, irmã de Ágata, perguntou apreensiva, pois a tempos o seu cunhado tentava marcar uma consulta para Zoe com a requisitada médica; porém a agenda dela vivia sempre lotada. Aquela consulta só fora possível por que Demétrius — esposo de Melina —; era segurança do hospital e ligou logo cedo para Alexandro avisando-lhe que a neurologista iria atender na ala dos conveniados. — Sim. — Respondeu com certo alívio enquanto entregava Zoe aos cuidados de sua tia. — Aproveitei o caminho para casa e já comprei os remédios dela. Vamos ver se a doutora Íris faz jus ao jaleco que usa.— Por que diz isso? Não gostou do atendimento dela?— Mesmo a doutora não descendo do seu pedestal, até que ela foi bastante atenciosa com o problema de minha filha. — Respondeu ainda pensando no ar de superioridade dela. O olhar frio que ela lhe dirigiu expressava o tamanho do desgosto que estava sentindo por atender na ala dos pobres — pelo menos era isso que ele acreditava. — Agora você entende por que Demétrius nunca teve coragem de falar com ela a respeito de Zoe. — Melina Justificou e disse. — Ela é a médica da Elite de Pátras: nunca iria se rebaixar a atender a sobrinha de um simples segurança.— Nesse caso posso dizer que Zoe teve muita sorte. Estou muito confiante nessa nova medicação que ela prescreveu: sinto que dessa vez o tratamento da minha filha vai começar a fazer efeito. — Disse e lembrou-se a seguir. — Só espero que a pediatra de Zoe concorde com a Dra. Varvakis e mantenha essa nova medicação.— Não acredito que ela fará objeções; a menos é claro, que a medicação não surta o efeito desejado. — Melina comentou e acrescentou. — Além do mais, ela não vai querer se indispor com uma das sócias do hospital em que trabalha.— Bem, isso faz todo sentido. — Ele disse aliviado, enquanto administrava a nova medicação prescrita. — Agora é só esperar o remédio começar a fazer efeito, minha bonequinha. — Acrescentou como se Zoe fosse capaz de entendê-lo.O conceito que Alexandro formou de Íris como pessoa não era dos melhores, porém como o de médica, alcançou o patamar mais elevado, e, aos olhos dele; ela era simplesmente a melhor neurologista daquele conceituado hospital.Como previsto por ela, e esperado por ele, a medicação não demorou a fazer efeito e Zoe, depois de meses, estava dormindo tranquilamente nos seus braços.Vê-la tão serena e relaxada, causou-lhe uma emoção muito grande e ele sentiu que a qualquer momento sua alegria fosse se transformar em lágrimas. Sua filha finalmente poderia ter dias de paz. Enquanto ele a contemplava dormindo, sua alegria inicial se converteu em tristeza. Mesmo pequenininha, sua filha já tinha muitas batalhas a ser vencida, e uma delas era vencer a resistência de sua avó em relação a ela. Como Ágata morreu ao dá a luz a Zoe, a senhora Irene Petrakos — mãe de Ágata — não conseguia nem chegar perto da neta. Inconscientemente ela responsabilizava a pequena pela morte de sua filha.Aquele dia deveria ser de alegria e não de tristeza e temendo ser sucumbido por aquele sentimento opressor, ele deu um leve beijo nas bochechas rosadas de sua filha, colocou-a no berço e foi ao encontro de sua cunhada.— Você não quer aproveitar que Zoe está dormindo para descansar também? Você anda muito abatido ultimamente. — Melina observou diante do rosto cansado de seu ex cunhado. — Do jeito que eu estou esgotado, se eu me jogar agora na cama; é bem capaz de eu acordar só amanhã de manhã. — Aproveite esse momento e vá dormir, eu coloco seus filhos na cama. — Insistiu enquanto o via soltar um enorme bocejo.— Daqui a pouco irei deitar: vou ficar cuidando de Zoe mais um pouco. — Ainda acredito que o ideal seria descansar agora. Daqui a pouco a Zoe acorda e aí vai ficar mais difícil para você dormir. — Explicou preocupada e prosseguiu. — Lembre-se que ela e seus filhos precisam de você bem e saudável. Não pule outras noites de sono atrás de Zoe. — A doutora Íris falou-me que ela vai dormir bastante, com esse remédio. Isso significa que pela primeira vez, desde que ela nasceu, vou ter uma noite tranquila de sono. — Respondeu aliviado e disse. — Mas em todo caso, vou colocar essas crianças para dormir cedo. Amanhã cedo ainda tenho que levá-los a escola. Disse enquanto olhava para os seus filhos que brincavam animadamente, com os filhos de Melina. Os filhos de Melina e os de Alexandro se davam muito bem. Mais do que primos, eles eram como irmãos. Embora ele não pudesse contar com a ajuda da avó materna, Melina e Maia — irmã caçula de Ágata —, estavam sempre dispostas a ajudá-lo; de maneira que quando ele saia para trabalhar, elas assumiam a responsabilidade das crianças.Como engenheiro naval, o salário dele era muito bom, e ele fazia questão de pagar pelos serviços de suas ex cunhadas. Embora elas fossem tias das crianças, elas não tinham obrigação de assumir as responsabilidades que não eram delas. Ele sabia que seus filhos estariam bem enquanto estivesse ausente, por isso, agradecia imensamente o esforço das duas.Apesar da resistência de sua ex sogra em relação à Zoe, Alexandro não a considerava uma pessoa má; ela apenas não conseguia aceitar o fato de que, para sua neta nascer, sua amada filha teve que ser sacrificada. Era uma vida pela outra e, aos olhos dela, essa foi uma troca injusta.Mas, fazer o que diante do inevitável? A equipe médica que a acompanhou fez o possível e o impossível para salvá-la, mas infelizmente, não foi o bastante. O impossível não tornou-se possível e no final ela foi sucumbida por ele, bem diante dos olhos dele.O cansaço de um dia longo de trabalho e a insônia da noite anterior estava refletindo diretamente em Íris e ela chegou em casa no final de seu expediente, aos cacos.Saber que ainda teria que enfrentar um jantar longo pela frente só aumentava a indisposição dela, contudo não teria como fugir dele: o segundo ato do espetáculo “Leandro” iria dar continuidade a uma nova onda de desconfiança e decepção, e como membro da família, ela não tinha como ficar de fora dessa cena.Disposta ou não, Íris arrumou-se com capricho: suas irmãs e suas cunhadas eram muito elegantes e ela teria que se apresentar à altura, embora a ocasião não fosse favorável.Jogando seu desânimo no fundo de um baú, ela desceu um lance de escadas e em pouco tempo se encontrava no hall. O olhar analítico de Catarina e Thais — esposa de Nikos —, sobre ela era sinal que Íris tinha sido feliz na escolha do traje. Catarina, diante da elegância da gêmea caçula, esboçou um sorriso forçado e a elogiou a contragosto. — Finalment
Mesmo diante do acontecido da noite anterior, Íris não poderia ter tido uma noite de sono tão agradável, como a que teve. Ela acordou bem-disposta e determinada, e nada ou ninguém ia estragar o seu dia: isso se ela fosse mais rápida que seu pai e saísse antes que ele a visse.Como nenhum dinheiro do mundo era capaz de comprar a paz de espírito dela; Íris se apressou e correu para tomar banho. Depois da ducha relaxante, ela arrumou-se apressada, saiu sorrateiramente da mansão e pegou a estrada que a levaria para o hospital: seu desjejum, ela deixaria para fazer em uma confeitaria próxima ao Hospital Santo André.A passagem dela pela confeitaria não demorou muito e isso deu a ela, alguns minutos a seu favor: ela pretendia, então, usar o tempo livre que ainda lhe restava para sondar Nikos a respeito do que ficou decidido na reunião de família. Assim que entrou no hospital se dirigiu a recepção e perguntou ansiosa.— O doutor Nikos já chegou?— Sim, e está bem atrás de você. — Nikos resp
Passaram-se uma semana e nada de Alexandro esquecer o encontro que tivera com Íris Varvakis. Desde a primeira vez que a vira, não conseguia tirá-la do pensamento: ela povoava sua mente dia e noite. Os sonhos que perdia ao dormir, agora eram nítidos à imagem curvilínea dela. Em alguns momentos, ele se sentia um tonto por permitir que seus pensamentos fossem ludibriados por sua falta de senso; somente mesmo um desavisado como ele para acreditar que algum dia ela o olharia diferente. Íris era a filha do dono do estaleiro, e ele, um simples engenheiro naval. Eles viviam em mundos diferentes, e era mais fácil ele conseguir pegar o sol com as mãos, do que fazer com que ela o olhasse: Íris era inalcançável para ele.Perdido em meio a tantos desatinos negativos, ele não percebeu a aproximação de Irini Petrakis, secretária de Dionísio Andreas. — Sr. Lykaios, o senhor Andreas o espera na sala de reuniões. — A secretária o avisou e observou em tom de reprimenda. — Estou há horas ligand
Revolta não era exatamente a palavra certa para definir o estado atual de Alexandro ao deixar a sala de reuniões; ele estava possesso de raiva. Seus filhos não eram brinquedos para serem jogados em um tabuleiro de xadrez e conduzidos de forma desumana à boa vontade de um velho medíocre com desejos de ser vovô. Konstantinos não tinha tino para conduzir nada além da empresa. Mesmo sabendo que relutar contra os desatinos daquele homem poderoso, seria perda de tempo, Alexandro não estava disposto a se deixar ludibriar e nem se curvar aos desmandos dele. Ele não iria permitir que aquela raposa velha lhe passasse a perna, e na hora certa, Konstantinos Varvakis teria uma grande e desagradável surpresa.Deixar a sala de reuniões para trás foi fácil, o difícil mesmo seria conseguir dar continuidade ao trabalho com aquele peso imenso nas costas. Ele não era o tipo de homem que levava problema para o trabalho, no entanto, o grande contraste era que o problema que estava enfrentando estava intri
— O quê? Casar?! — Íris gritou desnorteada. — O senhor não pode está falando sério!O choque diante das palavras de seu pai era visível no rosto tenso dela, e um leve tremor era perceptível na sua voz ao se contrapor a proposta de Konstantinos. De todas as possíveis insanidades de seu pai, aquela com certeza não fazia parte delas. Seu pai não poderia estar levando o contrato de Michaels a sério. Ela jamais se submeteria a um casamento forçado só para reparar um erro que nunca fora dela.A expressão de incredulidade de Íris era uma forte evidência que ela ainda não tinha-se dado conta que o casamento, no momento, ainda era a melhor solução para os problemas de sua família. Diante dessa quase relutância em aceitar os fatos, Konstantinos disse resoluto. — Não estou falando nenhum disparate. Você sabe tão bem quanto eu, que aqui na Grécia, muitos casamentos ainda são arranjados.— Não na nossa família. — O lembrou consternada. Refeita do impacto inicial das palavras de seu pai, disse cau
A resistência de Íris não era nenhuma novidade para Michaelis. Era óbvio que a irmã não ia facilitar para eles, e isso o abrigaria a usar uma abordagem mais dura com ela, que, consequentemente, a machucaria e poderia até se tornar letal, caso ela não estivesse equilibrada emocionalmente. Era chegada a hora do tudo ou nada. Assim como Íris; Michaelis não se dava por vencido tão facilmente, e naquele momento, dobrar Íris para ele era questão de honra.Já saturado da teimosa dela, disse sarcástico.— Ora, ora! A mocinha só vai se casar por amor! — Depois de um breve riso debochado, vociferou. — Não seja ridícula. O que é que você sabe de amor? ... Nada! Desde a tua adolescência, até agora, posso contar os teus namorados a dedo; se tivestes três foi muito. As chances de você vir a escolher e casar-se por amor, são mínimas. — Acrescentou atiçando a fúria dela.— Você é muito cruel. — Disse entredentes, enquanto lutava para controlar a mão que queria alcançar o rosto de Michaelis com um ta
Mesmo consciente de que deveria ser forte para enfrentar os vendavais e remar contra a maré, Íris sentiu-se fraquejar frente as expectativas da família que esperava o consentimento dela para participar daquele jogo desumano — vidas seriam mudadas, principalmente a de seus sobrinhos, que não tinham a menor culpa disso.Amargurada, deixou o escritório de seu pai entre lágrimas. Cada palavra de Michaelis sobre si tinha o peso de uma tonelada e conscientemente ela sabia que não seria mais a mesma depois daquela noite. Com apenas algumas palavras, Michaelis conseguiu não apenas o seu “sim”, mas também derrota-la diante de toda a família.Contrariando sua decisão inicial de subir diretamente para o quarto, Íris pegou o carro e deixou a mansão sorrateiramente. Ficar em casa só iria aumentar o seu nível de estresse, e mais do que uma noite tranquila de sono, ela necessitava urgentemente respirar novos ares, espairecer, antes que sua cabeça entrasse em pane.Sem destino certo, ela percorreu al
A pequena fuga de Íris não contribuiu de maneira alguma para aliviar a tensão que a rodeava, pelo contrário, só trouxe-lhe mais aborrecimentos e o que era para ser uma noite restauradora, transformou-se em mais uma carga de estresse.O atrevimento daquele desconhecido a tirou do sério e por pouco ela não o mandou procurar alguém da laia dele para perturbar. Não era porque ela era mulher que iria deixar uma afronta daquelas passar em branco. Ele pode até considerar-se sortudo por ela não ter revidado a altura; se não fosse pela gama de problemas entulhando sua paciência, ela o teria colocado em seu devido lugar.Como de problemas já bastavam os seus, o estranho era o de menos. O dia seguinte certamente se encarregaria de arrancar a imagem daquele homem atrevido de sua mente e tudo voltaria a normalidade — pelo menos em relação àquele infortúnio.Depois de decidir esquecer aquela noite frustrada, ela deitou-se. Porém, o silêncio do quarto, ao invés de proporcionar-lhe calmaria, jogou so