Quando estou com ele me sinto bem e feliz, é como se não houvesse problemas e todas as brigas que enfrento em casa nunca houvessem existido.
O Ivan é meu único amigo e eu realmente o amo, mas não apenas como amigo, desde que o conheci senti algo forte entre nós, a forma com que ele me observava toda sua preocupação e seu jeitinho doce de ser sempre fizera meu coração disparar. Foi ai que decidi silenciosamente demonstrar através de olhares meus sentimentos, e para minha surpresa ele sempre correspondeu.
Lembro-me como se fosse ontem, estávamos no segundo intervalo e decidimos matar os dois últimos horários, então seguimos para o banheiro do terceiro andar, onde todos achavam que estava interditado, podia até mesmo estar, mas isso não vem ao caso. Trancamos a porta por dentro com uma mesa esquecida lá, nos sentamos no chão, e ficamos bons tempos conversando, até começarmos a falar de uma garota lá da sala que tem um precipício pelo Ivan e aproveitando a situação do assunto e o fato dele detestar com todas as forças aquela garota, decidi brincar um pouquinho e ter certeza de minhas chances com ele, eu estava sentado ao seu lado e em uma brincadeira me joguei em seu colo o segurando pelos ombros e nuca, sussurrei em seu ouvido: ‘’ Tatiana morra de inveja, eu posso e você não’’ ao dizer isso, mordi a pontinha de sua orelha e caí ao seu lado gargalhando, ele gargalhou junto comigo e ficou hipervermelho, com todos os pelos da nuca e dos braços arrepiados. Após esse dia qualquer coisinha era motivo para ele me provocar, ele sempre queria a revanche, mas eu sempre revidava, até hoje brincamos com isso, principalmente quando a insuportável da Tatiana está por perto, é muito bom ver o ódio no olhar dela.
...
O sono chegou de uma única vez, ato que me fez dormir sem perceber e só me dei conta disso quando o despertador me acordou na manhã seguinte, estava frio como sempre, portanto me levantei e fui ao banheiro repetir mais uma vez o que eu fazia todas as manhãs, tomar banho e me preparar para a escola, poucos minutos depois eu estava pronto. É, mais um dia no inferno, respirei fundo e sai do quarto, desci as escadas rápido já com minha mochila apoiada em meu ombro, passei pela cozinha e peguei uma maçã mesmo sem fome eu preciso me alimentar, olhei em volta e nem sombra da minha mãe, mordi a maçã e segui o tradicional caminho para a escola.
Após alguns minutos cheguei ao local, era uma escola grande e de paredes na cor de tijolos com telhado na mesma cor, havia escadas por todos os lados e um grande portão cinza por onde eu havia acabado de passar, logo comentários ridículos sobre minha aparência começaram a surgir, não dei importância apenas continuei meu trajeto, subi dois lances de escadas e encontrei minha sala, entrei passando rápido pelos alunos que ali estavam e me sentei na última cadeira da fileira da parede, olhei à hora e meu único amigo ainda não havia chegado o que era bastante estranho afinal ele sempre chega cedo, é acho que o pai dele passou novamente à noite bebendo com o meu e fez showzinho quando chegou em casa.
Logo a sala ficou em um profundo silêncio o diretor estava ali com a notícia de que o professor de química se atrasaria e provavelmente chegaria na segunda aula. Ótimo, mais cinquenta minutos nesse inferno e o pior, sem nada para fazer, apoiei meus braços na mesa e deitei minha cabeça neles, meus cabelos caíram nos olhos os escondendo, mas eu ainda podia ver a todos em volta.
Um vulto se aproximara rápido de mim o que me fez acordar de meus devaneios, meu coração disparou. Levantei lentamente a cabeça e vi Ivan, respirei aliviado, no momento achei que fosse algum valentão para me fazer de saco de pancadas novamente.
— Hey Gry, como estás? — Incrível como Ivan sempre está de bom humor, olhei para ele afastando meu cabelo de meu rosto com um sorriso no mesmo. Gry, era assim que ele me chamava, tínhamos o costume de brincar com nomes e como já existem muitos Greg’s por ai ele decidiu me chamar dessa forma.
— Agora estou bem, ontem foi difícil aguentar meu pai bêbado. — respirei fundo Ivan me observava atento, largou sua mochila na cadeira ao lado da minha e se sentou na que estava a minha frente.
— Ele te pegou de novo? — havia preocupação em sua voz.
— Sim, mas... Ele só conseguiu apertar meu braço, fugi dele e me tranquei em meu quarto. — Ivan me ouviu atento, tocou meu rosto carinhosamente e sorriu.
— Não se preocupe, estou contigo, pode contar sempre comigo está bem? — Assenti e sorri sentindo seu toque.
— Hey, o professor vai se atrasar novamente vamos matar as aulas dele? Não estou conseguindo me concentrar hoje. — Um sorriso brotou no rosto de Ivan ao ouvir minha proposta.
— Eu já ia te propor o mesmo. — Sorri ao ouvi-lo e me levantei já com a mochila em mãos, ele pegou as coisas dele e logo saímos da sala.
Viramos no primeiro corredor a esquerda e fomos até o armário guardar as mochilas, após isso seguimos para os fundos da escola, havia muitas árvores de diversos tamanhos e entre elas passava um rio, obviamente a entrada de alunos era proibida ali, mas nem nos importamos seguimos rápido para o meio da mesma e em poucos minutos estávamos próximo do riacho.
A grama ali era mais macia e verde, não havia matos grandes, apenas mais no fundo do local, o ar era puro e o som da água passando pouco à frente me deixava calmo.
Sentei-me de frente para o riacho e Ivan se sentou ao meu lado, observamos o lugar em silêncio. Eu me sentia bem ali, era como se nada no mundo pudesse me atingir, como se todos os meus problemas houvessem desaparecido.
Desde que conheci Ivan, senti que algo nele me atraia, era algo muito forte, os olhos castanhos dele me enfeitiçavam, eu poderia passar horas olhando aqueles olhos âmbar.
— Sente-se melhor Gry? — Sua doce voz me tirou de meus devaneios, e senti meu coração acelerar.
— Sim. — Sorri — Com você aqui tudo fica perfeito. — Ele sorriu e suas bochechas criaram um leve tom ruborizado.
— Exagerado! — Ele fez um biquinho fofo e levantou-se levemente, eu estava concentrado na água que corria e não percebi ele se mover logo um sopro em minha orelha direita me surpreendeu e minha pele arrepiou-se inteira, Ivan ria descontrolado.
— Ah! Eu te pego sua peste. — Me levantei e ele correu pelas árvores, corri atrás dele sorrindo, passamos entre árvores até que um galho no chão o fez tropeçar e diminuir a velocidade em que corria.
Ótima oportunidade. Apressei o passo e me joguei nas costas dele o derrubando. Caímos na grama macia às gargalhadas, ele se virou e eu continuei por cima dele, sorriamos tanto que nem percebemos nossos rostos se aproximando. Fomos parando o riso lentamente e mais uma vez me perdi em seus olhos cor de mel, encostei meus lábios nos seus e meu coração pareceu parar, o medo da rejeição tomou conta de meu corpo que tremia lentamente, sei que sempre brincávamos dessa forma, mas eu nunca tinha ido tão longe a ponto de beijá-lo, mas ao sentir sua mão percorrer minha nuca e me puxar para mais perto respirei aliviado, seus lábios fizeram pressão contra os meus e pedi passagem com a língua, ele logo cedeu, adentrei sua boca a explorando completamente, nossas línguas dançavam em um ritmo calmo e intenso, aprofundei mais o beijo e ele apertou mais os meus cabelos.
Pouco depois paramos o beijo lentamente, suas pernas haviam enlaçado as minhas e seu corpo quente me aquecia. Olhei em seus olhos e ele sorria de um jeito fofo que me fazia derreter.— Achei que eu fosse passar o resto da minha vida sonhando com esse momento. — Ele me disse com um lindo sorriso no rosto. Sorri com seu exagero e acariciei seu rosto delicadamente.— Se depender de mim, esse momento se repetirá a todo minuto. — Sorri e mordi meu lábio inferior, Ivan me olhou com os olhos brilhando e inverteu as posições tomando meus lábios em mais um beijo.Após alguns minutos fomos surpreendidos com o estrondoso sinal que indicara o final da primeira aula, paramos o beijo e sorrimos, nos levantamos e decidimos dar uma volta, Ivan se levantou primeiro e me puxou com ele, caminhamos de mãos dadas por todo o local, logo encontram
— Bom é que... — Começou o garoto de cabelos pretos, mas o loiro logo o cortou.— É que, bom Ian já que eles não ficaram bravos... Quer dizer não tão bravos. — Corrigiu-se ao olhar para Ivan e prosseguiu. — Acho que não há problemas em falar o que realmente houve. — O outro garoto concordou e prosseguiu.— Okay, okay, o que aconteceu foi o seguinte, estávamos matando as primeiras aulas la no bosque e a situação ficou muito quente, mas tão quente que caímos da árvore em que estávamos sobre um morro de folhas secas, fez um grande estrondo e ouvimos passos daí corremos mais para o centro do bosque.— Só que... — Continuou o outro rapaz. — Hoje é o dia da inspeção, ou seja, é hoje que o secretário vai no bosque com uns agentes de saúde e ao f
Três Meses Após o dia citado anteriormente.Após alguns meses nosso relacionamento se intensificou ainda mais, todo o amor que sentíamos um pelo outro crescia e as nossas demonstrações de afeto em público estavam cada vez mais explícitas, mas não nos importávamos, todos os preconceituosos da escola cansaram de nos espancar por termos assumido. Ian e Serg estavam sempre conosco e também tiveram paz após nossa união como grupo, eles eram nossos melhores amigos e desde então confiávamos nossas vidas uns aos outros.Agora nossa maior preocupação estava em esconder de nossos pais, eles eram intolerantes e por serem extremamente brutos poderiam, sem dúvida, nos espancar até a morte. A mãe de Ivan nos flagrou no quarto do mesmo enquanto comemorávamos dois meses de namoro e a cena que ela viu não foi muito conveniente, mas cor
Voltei à atenção a janela e a sala estava calma, os médicos removiam os instrumentos usados e retiravam itens de proteção tais como máscaras, luvas e toucas de cabelo, uma enfermeira estava a cobrir todo o corpo de Ivan com o lençol, ali ele jazia sem vida. Senti como se um buraco negro crescesse em meu interior, estraçalhando todo meu coração e levando toda a luz e cor do meu mundo, o grande amor da minha vida havia partido, e eu não pude fazer nada para impedir, gritei com todas as minhas forças e esmurrei a parede nada podia amenizar a dor que eu sentia, meu mundo acabou junto com os batimentos cardíacos dele, o vidro da sala se quebrou cortando meus braços, senti meu sangue quente escorrer, mas não senti dor, nenhuma dor nos cortes, apenas a imensa dor que me consumia por dentro, a dor da perda, eu havia perdido o amor da minha vida eu havia perdido Ivan
Assenti e me sentei em sua cama o abraçando em silêncio, nada do que eu dissesse poderia confortá-lo naquele momento. Portanto eu apenas o abracei apertado para que ele tivesse certeza de que não estava só. Permanecemos abraçados por mais uns minutos, nada parecia forte o suficiente para acalmá-lo, a cada minuto ele chorava mais e mais até que o cansaço falou mais alto e ele apoiado em meu peito caiu em um sono profundo acompanhado de soluços.Acariciei seus cabelos, enquanto ele dormia vencido pelo cansaço repentino provocado pela perda de sangue. Após alguns minutos a enfermeira voltou para ver como ele estava.— Com licença, vejo que ele acordou então como ele está?— Sim, ele despertou e está péssimo como você pode ver, quando ele terá alta?— Suponho que em breve, os cacos de vidro perfuraram todo seu br
A manhã se iniciara mais uma vez, acordei com a luz do sol entrando por entre os espaços da cortina, me sentei na cama, acomodando o travesseiro em minhas costas, havia uma enfermeira em meu quarto que me ajudou a me posicionar, olhei por todos os lados do amplo quarto branco com aquele cheiro de hospital e não encontrei o Ian.— Então como está se sentindo hoje jovem? — A mulher veio sorrindo em minha direção, parecia atenciosa.— Melhor, eu acho. Cadê o Ian? — Perguntei-a e ela parecia confusa.— Oh deve se referir ao Chatwin certo? Ele saiu agora a pouco. E como o doutor me recomendara, trouxe seu café da manhã. Está com fome?— Ah, não obrigado, acordei sem fome.— Tudo bem, mas vou deixar assim mesmo, se sentir fome não deixe
Ele sorriu e se retirou ao lado de Sergey, voltei minha atenção ao terno preto que eu havia retirado do armário, o coloquei sobre cama e o completei com camisa e gravata na cor vinho, não exatamente na mesma tonalidade, mas. Ah que seja, procurei usar tudo em cores escuras. Após tudo organizado fui para o banheiro tomar um banho. Minutos depois estava pronto. Parei na frente do espelho, minha imagem estava péssima, peguei meu delineador e contornei meus olhos repetindo o gesto inúmeras vezes, minha pele pálida destacou. Em meu quarto comecei a andar de um lado para o outro, minha mente vagava por tudo o que acontecera, eu não estava bem, me sentia sufocado por meus próprios pensamentos, encostei-me na parede e deixei meu corpo desabar permanecendo naquele canto até que Paul e Sergey voltassem.Aquele canto sempre fazia com que eu me sentisse mais protegido, era ali que eu sempre ficava todas as vezes
Todas as pessoas saiam do cemitério lentamente, mas eu fiquei observando a lápide que colocaram para identificar seu túmulo, ou melhor, seu novo lar."Aqui jaz um pequeno sonhador, que veio para nos mostrar que o amanhã é um novo dia, e que o amor nunca morre. Com ele tudo é possível!"Ivan Malkovich.*15 de Maio de 1995☥23 de Setembro de 2010Após mais alguns minutos voltamos para casa, Paul e Sergey me acompanharam até meu quarto e só se foram depois que eu tomei os remédios e adormeci.No dia seguinte os dois voltaram a minha casa, era cedo e eu já estava acordado. Passamos a manhã conversando e decidimos nos mudar para o colégio interno Papermint High School, que fica na Alemanha aos arredores de Neubrandenburg em um grande campo distante de tudo e de todos.— Então? — Perguntei. — Vocês topam vir comig