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Voltei à atenção a janela e a sala estava calma, os médicos removiam os instrumentos usados e retiravam itens de proteção tais como máscaras, luvas e toucas de cabelo, uma enfermeira estava a cobrir todo o corpo de Ivan com o lençol, ali ele jazia sem vida. Senti como se um buraco negro crescesse em meu interior, estraçalhando todo meu coração e levando toda a luz e cor do meu mundo, o grande amor da minha vida havia partido, e eu não pude fazer nada para impedir, gritei com todas as minhas forças e esmurrei a parede nada podia amenizar a dor que eu sentia, meu mundo acabou junto com os batimentos cardíacos dele, o vidro da sala se quebrou cortando meus braços, senti meu sangue quente escorrer, mas não senti dor, nenhuma dor nos cortes, apenas a imensa dor que me consumia por dentro, a dor da perda, eu havia perdido o amor da minha vida eu havia perdido Ivan o único que sei que um dia realmente me amou, eu continuava a gritar, senti toda minha voz rasgando minha garganta, até que novamente mãos me seguraram, e dessa vez algo me atingiu, tudo a minha volta foi se apagando e logo um silêncio imenso tomou conta de mim.

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Mais uma vez o tédio tomara conta de mim, eu estava só em casa e não tinha a menor vontade de fazer absolutamente nada. Joguei-me em minha cama e com o controle remoto liguei o som, aumentei o volume e me distrai olhando para o teto, algumas recordações me vieram a memória, um vento frio entrou agitando as cortinas de meu quarto, e minha pele se arrepiou, eu estava sem camisa, me levantei e fechei a janela, voltei e tornei a me jogar na cama retornando a posição anterior, senti meu celular vibrar em meu bolso e logo o peguei, olhei no visor e notei se tratar do Gry atendi no mesmo momento sem me preocupar, afinal Gry é o meu melhor amigo estamos sempre a nos falar e eu não tenho a menor ideia do porque de eu ter pensado nisso ao notar a ligação.

— Hey Gry! Como está? — Uma voz estranha me surpreendeu.

— Suponho que Gry deva ser o Sr. Gregory Kravczyk, me escute, por favor, é urgente.

— Quem é você e o que faz com o telefone do Gregory? — Me assustei logo ao ouvir o estranho que ligara com o telefone do Gry.

— Acalme-se rapaz, eu te explicarei. — pude ouvir quando ele respirou fundo, minhas pernas tremeram temendo o que estaria por vir sentei-me na beirada da minha cama e o ouvi.

— Está bem, fale de uma vez que você está a me deixar nervoso.

— Bom, meu nome é Jhony Malicevik e eu sou enfermeiro do Hospital Central, o seu amigo esteve aqui hoje aparentemente em busca de Ivan Malkovich, que sofreu um acidente de carro mais cedo e foi a óbito, portanto Kravczyk invadiu a sala de emergência alterado emocionalmente e causou um estrago ao ver que Malkovich havia falecido. — Esse tal médico precisa mesmo é de uma lobotomia, ninguém pode sair por ai dando notícias ruins dessa forma como se as pessoas não fossem importantes. P**a que pariu acho que meu coração parou...

— O... Onde E... Ele está? Cadê o Gregory?! Ele está bem?! — perdi o controle e tornei a fazer perguntas. — Vamos, não tenho o dia inteiro, cadê o Greg?! E que diabos de hospital é esse que permite a entrada de qualquer um na área de emergência?

— Por favor, acalme-se rapaz, tentei falar com os pais de Gregory Kravczyk e eles me mandaram a merda, portanto você é tudo o que ele tem, venha para o Hospital Central que após ter se machucado quebrando o vidro da sala de cirurgia em que Ivan Malkovich morreu, Kravczyk precisou ser sedado para que não se machucasse mais na hora dos curativos. — Após muitas palavras diretas ouvi tudo quieto, afinal não podia perder o controle novamente, como o enfermeiro de nome estranho disse, eu sou tudo o que Gregory tem.

— Estou a caminho, por favor, se ele acordar, não diga nada, afinal com esse jeitinho que você tem de dar notícias, pode matá-lo do coração. — Desliguei o celular e chamei um táxi, peguei uma blusa de botões e a vesti tranquei a casa e esperei o táxi na varanda, enquanto fechava os botões ele logo chegou, entrei no carro e disse aonde ir. Após alguns minutos eu já estava na recepção, um enfermeiro estava a minha espera, olhei em seu crachá e percebi que se tratava do mesmo que me ligara.

— Que bom que o Senhor veio, venha comigo, por favor. — Ele me guiou até o quarto de Gregory, pegou alguns documentos meus e fez o registro na recepção, logo voltou e os devolveu me deixando a sós com o Gry que ainda estava dormindo sob o efeito do sedativo. Sentei-me na poltrona ao lado de sua cama, e o observei, havia manchas mais escuras em torno de seus olhos que aparentavam estar bem fundos, reações provocadas pelo choro, eu imagino.

Abaixei o olhar, haviam trocado suas roupas pela tradicional camisola de hospital, seus braços estavam enfaixados até a altura dos cotovelos, e um lençol o cobria até a cintura. Esperei seu despertar, me acomodei na poltrona já imaginando que demoraria. Poucos minutos depois uma enfermeira entrou no quarto para aplica-lhe os medicamentos.

— Ola, com licença, ele acordou ou se mexeu após a sua chegada? — Uma moça baixa de olhos âmbar, falava quase em um sussurro ao aproximar-se da cama.

— Não, na verdade cheguei agora a pouco, ele está bem? — Falei com calma a observar a bandeja que ela trazia, onde havia uma seringa e duas ampolas, imaginei logo que toda aquela química iria para o interior de Gregory.

— Fisicamente sim, mas ele sofreu traumas terríveis, eu presenciei toda a agonia dele ao presenciar os últimos minutos do rapaz acidentado, ele parecia viver por aquele rapaz, suponho que ele terá uma vida difícil a partir de hoje.

— Mas que curiosa, ela assistiu a tudo e agora diz isso como se fosse a coisa mais comum do mundo.

— Sim, ele amava aquele garoto mais do que a si mesmo. Será realmente muito difícil para ele, mas darei tudo de mim para ajudá-lo. — Fui tão direto quanto ela na resposta e após ela ter aplicado o conteúdo das ampolas no Gry a observei se retirar do quarto.

— Até mais. — Ela sorriu e se retirou.

Duas horas depois, Gregory mexeu os dedos e lentamente foi despertando, me sentei na ponta da poltrona ficando mais próximo dele.

— Gry! Como está mano? — me aproximei e retirei seu cabelo dos olhos o colocando atrás da orelha.

— Paul? — ele parecia desnorteado, olhou em volta e lentamente pareceu se lembrar de tudo seus olhos se encheram de lágrimas e sua respiração pesou.

— Sim, você se lembra de algo Gry?

— Sim, e tenho medo de ser tudo verdade. Paul.. Ca..dê o Ivan? — seus olhos trasbordaram e eu engoli em seco, abaixando o olhar já com os olhos cheios de lágrimas.

— Não! Não! Não! Foi mesmo verdade? E...Ele está mo..morto?! — Sua voz falhou e ele começou a chorar desesperadamente após ter a certeza de não ter vivido um pesadelo.

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