O Dr. Arthur parecia hesitante, com uma expressão de pesar no rosto. Ele olhou para Lúcia como se quisesse dizer algo, mas não soubesse por onde começar.— Por que você está me olhando assim? Fala logo, a cirurgia do meu pai foi bem-sucedida ou não? — Lúcia já pressentia que algo estava errado, seu rosto mostrava crescente ansiedade, e seu tom tornou-se mais incisivo enquanto encarava o Dr. Arthur.O médico tentou prepará-la:— Sra. Lúcia, você precisa se preparar emocionalmente. Mantenha-se firme.Ela respirou fundo, sentindo o coração acelerar e o nervosismo tomar conta.— Certo, estou pronta.— O Sr. Abelardo...— O que aconteceu com ele? — Lúcia o interrompeu, já sem paciência.— O Sr. Abelardo não resistiu. Ele faleceu na mesa de cirurgia.Aquelas palavras caíram sobre Lúcia como um raio, deixando-a completamente atordoada. O mundo ao seu redor parecia girar. Ela estendeu a mão, buscando apoio contra a parede fria do corredor.— Meu pai... Morreu... — Murmurou, quase sem voz.O Dr
O corpo do pai estava tão frio! Será que o papai realmente tinha morrido?Lúcia sentia uma angústia profunda, mas as lágrimas não vinham.Quando a dor atingia o limite, a pessoa não gritava, não chorava de forma descontrolada. Apenas permanecia calma, quase anestesiada. O sofrimento extremo trazia uma estranha serenidade, como se o coração já estivesse morto e restasse apenas um vazio, oco, onde antes havia vida.— Sra. Lúcia, meus sentimentos. — Disse o Dr. Arthur, preocupado ao ver o estado dela.Lúcia murmurou:— Estou bem.Ela já tinha passado por tanta coisa. Sobreviveria a isso também. Seu coração, embora machucado, era forte.De repente, o som insistente de um celular ecoou, quebrando o silêncio sepulcral.Lúcia não se mexeu. O celular continuava tocando.O Dr. Arthur a lembrou:— Seu celular está tocando.Como se despertasse de um sonho, Lúcia finalmente tirou o celular do bolso do casaco. Seus olhos estavam vazios, sem sequer olhar para o identificador de chamadas. Ela deslizo
Naquele momento, Sílvio estava no Grupo Baptista, imerso no trabalho. Sobre a mesa, havia vários dossiês abertos, aguardando sua revisão e assinatura.Sílvio, de óculos com armação dourada apoiados no nariz, vestia uma camisa branca, colete preto e uma gravata totalmente preta. Ele estava recostado de forma preguiçosa na cadeira de couro de seu escritório, na presidência da empresa.Era véspera de Natal, um dia tradicionalmente reservado para a família, para o aconchego do lar.No Natal do ano passado, ele estava na Mansão Baptista, celebrando com Lúcia e sua família, desfrutando do clima festivo.Quem diria que este ano o Natal seria tão solitário e desolador?Depois de ser expulso do hospital por Lúcia, ele havia voltado diretamente para o Grupo Baptista para trabalhar.Enquanto outros, quando de mau humor, buscavam diversão com bebidas, jogos, festas ou até mulheres, Sílvio era diferente. Quando as coisas iam mal, ele se enterrava no trabalho. O ritmo intenso e a carga de tarefas er
Será que Abelardo estava criando toda aquela cena de propósito, querendo entregar sua própria vida em troca do perdão de Sílvio para Lúcia e sua mãe?Parecia que aquele velho realmente amava Lúcia de verdade.Mas como Abelardo sabia que ele, Sílvio, não tinha planos de abandonar o desejo de vingança?Sílvio pegou a caixa de cigarros, tirou um e o colocou na boca. Com um estalo, o isqueiro acendeu, e uma chama amarela e azul engoliu a ponta do cigarro, que começou a brilhar suavemente em tons de laranja.Ele inalou profundamente, o gosto amargo da fumaça encheu seus pulmões, e logo soltou a fumaça lentamente pelas narinas e pela boca.Ele pensou em tudo o que Lúcia havia feito por Abelardo. Lembrou-se dela ajoelhada, em pleno inverno, na neve, em frente ao Grupo Baptista.Lembrou-se de como, para conseguir que ele pagasse as despesas médicas de Abelardo, ela havia assinado um contrato humilhante, aceitando trabalhar como faxineira na empresa, sendo humilhada, ajoelhando-se, batendo a ca
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co