Ivone, que da primeira vez tinha recebido Lúcia com tanta cordialidade, agora falava com uma frieza cortante. O olhar de Ivone caiu sobre a mulher parada na porta, que também vestia um uniforme listrado de hospital. Talvez sua reação indiferente tivesse ferido Lúcia, pois os olhos da mulher mostraram surpresa, seguida por uma sombra de tristeza.Lúcia era alta e magra, e até mesmo a roupa larga do hospital ganhava nela uma elegância única. Seus longos cabelos lisos caíam sobre os ombros com naturalidade.Ivone notou que Lúcia carregava uma sacola com suplementos alimentares. Então, era esse o tipo de mulher que Basílio gostava? Elegante, educada, a típica garota exemplar de uma família rica. Ivone, no entanto, não era assim. Ela sabia que tinha um espírito rebelde, que não se encaixava nesse molde perfeito. Ivone não queria ser como Lúcia. Ela se recusava a ser a sombra de outra pessoa.— Cunhada, eu só queria saber como você está... — Disse Lúcia, mordendo os lábios com um ar de desco
— Veio defender sua querida? — Perguntou Ivone, com uma ironia cortante.O sorriso de Basílio desapareceu instantaneamente. Ele ficou sem reação. Essa Ivone, fria e agressiva, ele nunca tinha visto antes. Se fosse no passado, ao ouvir algo assim, ele teria mandado ela lembrar qual era o seu lugar. Mas agora, ao pensar no que ela tinha passado, no bebê que ela perdeu, e que tudo aconteceu na propriedade da família Araújo, ele não conseguiu dizer nada. Mesmo que a queda não fosse diretamente culpa dele, ele não a impediu. Ela estava assim por causa dele. Ela não poderia mais ter filhos, e ele sabia que tinha parte de responsabilidade nisso. Basílio sentiu um desconforto leve, mas logo ele foi diminuindo. Ele relaxou as sobrancelhas franzidas pouco a pouco, pegou uma maçã da mesa, uma faca e começou a descascá-la com calma. Enquanto fazia isso, ele perguntou: — Como você está se sentindo?Ivone, sentada na cama do hospital, nem sequer olhou para ele. — Se não estiver bem, me avi
Insegura. Sensível.Ivone piscou seus olhos secos. Foi a primeira vez que ouviu essas palavras sendo usadas para descrevê-la.— Não preciso disso. Essa caridade, essa compensação, não me interessa. — Disse Ivone, com uma voz fria e firme. Ela estava simplesmente com o coração partido, e as palavras de Basílio a faziam rir de incredulidade.Basílio terminou de descascar a maçã e a estendeu para ela. Ivone pegou sem muita paciência e, na frente dele, jogou a fruta no lixo.Ele não se incomodou. Com uma paciência quase irritante, ele começou a falar:— Calma, Iva. Pense com tranquilidade na minha proposta. Não precisa ser tão sensível, nem desconfiada, e muito menos insegura. Você é a minha futura esposa, Ivone. Quero que você tenha confiança em si mesma, como naquela época em que nos conhecemos. Quanto aos sentimentos, eu vou me esforçar para me apaixonar por você. Não vai demorar muito. E você gosta tanto de mim... Não acredito que não vai se deixar levar.— Isso foi antes. Basílio, ago
No final, foi Otávio quem quebrou o silêncio: — Você realmente tem sangue frio, hein? Nem um pouco assustada comigo? — Sr. Otávio, eu tenho a consciência tranquila. Não fiz nada de errado. O que eu teria para temer? Pelo contrário, quem me deve algo é a família Araújo. — Respondeu Ivone com um sorriso frio. Otávio soltou uma risada sarcástica: — Quanto você quer? Era inacreditável. Dias atrás, Basílio tinha jurado que se casaria com ela, e agora o pai dele aparecia perguntando quanto dinheiro ela queria. Será que ela parecia tanto assim uma mulher desesperada por dinheiro? — Seu filho quer se casar comigo. — Está brincando? Na sua casa não tem espelho? Uma mulher como você acha que tem lugar na família Araújo? Isso é ridículo! — Disse Otávio, com desdém. — Vou ser franco: já escolhi outra noiva para o Basílio. Se tudo correr como planejado, ele se casará em breve. É melhor você pensar em quanto dinheiro quer, porque isso é mais prático e realista. Ivone respondeu, com a
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co