Lágrimas de dor, impotência e desespero começaram a rolar furiosamente pelos olhos de Abelardo. Ele não suportava ver Lúcia se humilhando daquele jeito, implorando a Sílvio. Com sua mão esquelética, ele tentou alcançar a filha, querendo limpá-la, secar as lágrimas que desciam por seu rosto.— Sílvio, fala alguma coisa! Fala alguma coisa! — Lúcia meio que se ajoelhava no chão, enquanto o vento gelado levantava seus cabelos e a barra de sua jaqueta, cortando seu rosto como se fosse lâminas afiadas.Ver Lúcia se rebaixando tanto enfureceu Sílvio. As veias em seu pescoço pulsaram de raiva, e ele a puxou para cima com força:— Levanta!— Sílvio! — Lúcia gritou com todas as suas forças, agarrando-se ao terno dele, amassando o tecido do paletó com seus dedos, tão fortemente quanto seu coração estava despedaçado.Com o rosto sombrio, Sílvio se aproximou do ouvido dela e, com os dentes cerrados, sussurrou:— O Dr. Arthur já está a caminho. Se você não se levantar agora, não me culpe se eu mudar
Abelardo sabia que não havia mais esperança. A queda do alto daquela varanda... Ninguém poderia salvá-lo. Ele estava ciente de que seu fim havia chegado.Seu olhar, finalmente, pousou em Sílvio, que estava parado atrás de Lúcia, vestindo um terno escuro, impecável, como sempre.Com dificuldade, Abelardo esticou o braço e apontou para Sílvio, indicando que ele se aproximasse. Queria falar com ele.Sílvio, vendo o homem que tanto odiava naquela condição, sentiu uma mistura de emoções que ele não conseguia descrever.Deveria sentir satisfação? Não sentia. Deveria estar decepcionado? Também não.Era um turbilhão de sentimentos complexos, uma angústia silenciosa que crescia dentro dele.Mesmo com seu jeito frio e distante, Sílvio não ignorou o gesto de Abelardo. Com passos firmes e calculados, ele se aproximou e se agachou ao lado do homem moribundo.Abelardo, com a mão ensanguentada, tocou a mão de Sílvio e deu alguns tapinhas fracos. Seu olhar, fixo em Sílvio, estava carregado de súplicas
— Rápido, coloquem ele na ambulância, ele está à beira da morte. — Disse Sílvio, lançando um olhar frio para o Dr. Arthur que estava logo atrás.Dr. Arthur e a equipe médica correram para socorrer Abelardo. Colocaram uma máscara de oxigênio nele, e uma das enfermeiras inseriu uma longa agulha na mão coberta de sangue de Abelardo.Logo, ele foi conectado ao soro, enquanto várias enfermeiras, num frenesi, o colocavam na ambulância.Lúcia e Sandra também subiram no veículo.A ambulância saiu apressada, deixando Sílvio para trás, como se ele tivesse sido esquecido. Ele ficou ali, sozinho, sendo açoitado pelo vento frio.Em seguida, Sílvio entrou no carro e seguiu a ambulância.Lá dentro, Abelardo, graças ao oxigênio, começou lentamente a abrir os olhos.— Pai, pai, estamos indo para o hospital. Aguenta firme! — Disse Lúcia, com os lábios trêmulos, tentando conter as lágrimas que se acumulavam nos olhos.Abelardo olhou para Lúcia, e então deu um leve tapinha na mão da filha. Em seguida, vir
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co
Lúcia ouviu um zumbido nos ouvidos e sua visão ficou turva por um momento. Antes que pudesse reagir, sentiu suor frio na testa.Sandra, ainda furiosa, deu mais um tapa na filha.Lúcia quase caiu, mas uma enfermeira bondosa a segurou.Com a visão gradualmente recuperada, ela viu a mãe, furiosa, olhando para ela e gritando:- Sua ingrata! Eu te avisei para não fazer isso, mas você insistiu! Eu sempre disse que Sílvio não era bom para você, que ele tinha segundas intenções! Eu escolhi para você um bom partido, alguém do nosso nível, mas você preferiu um órfão, um segurança! E agora? Como ele te trata? Como ele nos trata? A família Baptista, que sempre foi tão respeitada, está arruinada por sua causa, tudo por sua culpa!Sandra, com o rosto vermelho de raiva, levantou a mão para bater de novo, mas foi contida pelos profissionais de saúde.Lúcia, com o rosto dolorido, tentou falar, mas não conseguiu emitir uma palavra. Tudo o que podia fazer era chorar de arrependimento.Na maca, o pai come