Lúcia estava deitada na cama do quarto principal do apartamento, olhando fixamente para o teto. Ela tinha ouvido cada palavra quando Sílvio bateu na porta e sugeriu levá-la ao hospital, mas estava exausta demais para continuar fingindo.A noite toda passou sem que ela conseguisse dormir. Observou o quarto escuro se iluminar lentamente à medida que o dia nascia.O som de batidas leves ecoou pela porta. Lúcia levantou-se da cama, caminhou até a entrada do quarto e abriu a porta.Marina, com um avental amarrado, sorriu de forma educada:— Sra. Lúcia, sou eu. O café da manhã está pronto, por favor, venha comer.— Não estou com fome. — Disse Lúcia, com sinceridade.Marina, achando que era mais um capricho, demonstrou desconforto:— Mas o Sr. Sílvio pediu para eu garantir que a senhora tome o café. Se não comer, como vou explicar para ele? Além disso, agora que está grávida, o bebê também precisa se alimentar, né?O bebê? Lúcia piscou, pensativa. Marina era uma boa pessoa, dedicada e discre
Lúcia esboçou um sorriso e colocou toda a ração que tinha na mão na tigela do papagaio, que devorou rapidamente, deixando tudo limpo em questão de segundos. A ave devia estar faminta, e Lúcia acabou enchendo a tigela várias vezes, e todas foram esvaziadas com a mesma rapidez.Enquanto olhava para as penas negras e brilhantes do papagaio, Lúcia caiu em pensamentos. A planta já havia morrido, e se o papagaio continuasse ali, teria o mesmo destino? Ela havia perdido sua liberdade, sua vida plena, e o papagaio não parecia muito diferente. Ambas estavam presas, dependendo dos caprichos de seus donos, tendo que agradar para sobreviver.Lúcia abriu a gaiola, e o papagaio, com um leve bater de asas, pousou instantaneamente na palma de sua mão.— Bom dia, bom dia. — Disse a ave, com uma dicção impecável.Lúcia, com a outra mão, acariciou suas penas. Eram incrivelmente macias ao toque, proporcionando uma sensação agradável. A luz do sol incidia sobre o papagaio, como se banhada por uma camada
O coração de Lúcia deu uma batida errada — seu pai tinha mesmo acordado?Depois de tanto tempo, aquele pai que estivera deitado em coma havia despertado! O primeiro instinto de Lúcia foi não acreditar, achando que sua mãe estava lhe pregando uma peça.— Lúcia, você está ouvindo? Seu pai acordou! — A voz de Sandra ficou ainda mais alta e emocionada.Lúcia segurou o celular com força:— Quando ele acordou?— Acabou de acordar! — Sandra respondeu com uma empolgação incontida.Ao ouvir isso, Lúcia sentiu uma onda de emoção invadir seu corpo. Seu nariz ficou imediatamente congestionado e as lágrimas começaram a brotar. Ela desligou o telefone rapidamente e correu para o quarto para trocar de roupa e sapatos.Quando seu pai sofreu o acidente de carro e ficou deitado na cama, ela não derramou uma lágrima. Mas agora, com ele finalmente acordado, as lágrimas pareciam impossíveis de segurar. Toda a dor que ela havia suportado, o sofrimento que passara, finalmente pareciam ter um fim. Deus, afin
Ao ouvir essas palavras, Lúcia foi tomada por uma profunda sensação de culpa.Tudo era culpa dela! Se não fosse por sua teimosia cega em se casar com Sílvio... Se ela tivesse escutado sua mãe e escolhido um homem mais adequado, seu pai não estaria nessa situação lamentável. A família Baptista não estaria à beira do colapso como estava agora!Com um baque, Lúcia caiu de joelhos diante de Abelardo. Seus joelhos bateram no chão frio e duro.— Pai, me perdoa! Eu fui desobediente, foi tudo minha culpa! Desculpa, desculpa! Eu fiz o senhor sofrer, fiz o senhor passar por tanto sofrimento! — Lúcia desabou em lágrimas, chorando com a dor que parecia transbordar de seu peito.Abelardo apenas emitiu sons de lamento, incapaz de falar. Lúcia agarrou a mão dele e a puxou contra seu rosto, implorando:— Pode me bater, me xingar. Eu não vou te culpar!Mas Abelardo manteve os punhos cerrados, sua frustração evidente.Enquanto Lúcia chorava, Abelardo a observava, também angustiado, soltando gemidos de d
Ao ver as lágrimas rolarem pelas faces envelhecidas de Abelardo, Lúcia imediatamente sentiu seus próprios olhos marejarem. Ela levantou a mão delicada, com as pontas dos dedos suaves. Antes, ela adorava manter as unhas bem longas e pintá-las com esmalte cor de cereja, o que destacava a elegância de suas mãos. Mas, desde que seu pai sofreu o acidente, ela não tinha mais ânimo para se preocupar com isso.Lúcia limpou as lágrimas dele, devagarinho, e sorriu para o pai:— Pai, não chore mais. Eu quero que o senhor seja sempre feliz, que nunca derrame uma lágrima sequer.Mesmo que ela não estivesse mais ali, mesmo que seu pai tivesse que enfrentá-la partindo, ela queria que ele se mantivesse feliz, sem prantos, nem mesmo no seu funeral.Abelardo, obediente, assentiu e, num piscar de olhos, conteve as lágrimas.Lúcia decidiu levar Abelardo para tomar um ar. Junto com Marina, ajudou a colocá-lo na cadeira de rodas. Ela então empurrou o pai pelos corredores do hospital, descendo até o térreo
— Foi o Sílvio quem me deu a ordem de vida ou morte. Se eu não conseguisse salvar o Abelardo em três dias, eu estaria fora daqui. Agora, pense bem, se eu for demitido, quem vai te ajudar com as suas coisinhas? Se o novo diretor descobrir o que a gente anda fazendo, os dois estamos ferrados. No final das contas, fui eu que salvei a sua pele. Quanto à Lúcia não ter morrido, foi uma baita de uma coincidência. O Sílvio trouxe a mãe dela, e ela, de algum jeito, conseguiu acordá-la. Dá pra acreditar? Meu sedativo foi simplesmente anulado, como se não tivesse efeito nenhum. A quem eu vou reclamar? — Dr. Arthur afastou a mão dela e tentou tranquilizá-la. — Agora, me diz: quem mais sabe o quanto eu gosto de você, hein? Você é minha vida. Como você pode pensar que eu te trairia por causa da Lúcia? Vem cá, me dá um beijo. Essa última semana foi um inferno. Faz tempo que não te vejo, tô morrendo de saudade.Ele se inclinou, com os lábios prontos para beijá-la, mas Giovana o afastou com nojo, ainda
Lúcia acompanhava Abelardo em uma caminhada, explorando os arredores do hospital. Ela achava que, depois de tanto tempo deitado, o pai precisava respirar um pouco de ar fresco para se recuperar mais rapidamente.Quando desceram, o sol ainda se punha, mas agora o crepúsculo já havia dado lugar a um céu cada vez mais sombrio. Um vento gelado soprou, levantando o cobertorzinho que cobria os joelhos de Abelardo. Ele levou o punho aos lábios e tossiu levemente, o corpo tremendo com a tosse.— Pai, vamos voltar pro quarto. — Lúcia se preocupou que ele estivesse pegando frio e apertou as mãos no apoio da cadeira de rodas.Abelardo assentiu com a cabeça e tentou tranquilizá-la, emitindo sons incompreensíveis. Pelo movimento de seus lábios, Lúcia deduziu que ele estava dizendo: "Estou bem, não se preocupe."De volta ao elevador, Lúcia se inclinou para perguntar:— Pai, o que o senhor gostaria de comer?Ele balançou a cabeça.— Eu fico feliz em cozinhar para o senhor. Amanhã, quando eu voltar,
Ao ouvir aquelas palavras, as lágrimas de Abelardo começaram a escorrer silenciosamente de seus olhos. Ele estava deitado na cama, sem dizer nada, sem emitir nenhum som. Apenas seus olhos ficavam cada vez mais vermelhos, enquanto chorava em silêncio.Abelardo era um homem extremamente inteligente, e agora, mais do que nunca, sentia o peso de ser um fardo para Lúcia. A culpa e a tristeza o esmagavam por dentro.Após desabafar, Sandra percebeu o que tinha feito. Ela não deveria ter despejado tantas queixas diante do marido. Rapidamente, tentou consertar:— Abelardo, não pense demais nisso, por favor. O fato de você ter despertado já nos deixa muito felizes. A Lúcia disse que está bem, que as coisas estão melhorando. Além disso, ela está esperando um filho do Sílvio. Talvez, quando o bebê nascer, o Sílvio mude de atitude e passe a tratá-la, e a nós, com mais carinho. Eu consigo ver que ele se importa com o bebê que Lúcia está esperando. Não leve a sério o que eu disse antes. E, olha, as s