Lúcia acompanhava Abelardo em uma caminhada, explorando os arredores do hospital. Ela achava que, depois de tanto tempo deitado, o pai precisava respirar um pouco de ar fresco para se recuperar mais rapidamente.Quando desceram, o sol ainda se punha, mas agora o crepúsculo já havia dado lugar a um céu cada vez mais sombrio. Um vento gelado soprou, levantando o cobertorzinho que cobria os joelhos de Abelardo. Ele levou o punho aos lábios e tossiu levemente, o corpo tremendo com a tosse.— Pai, vamos voltar pro quarto. — Lúcia se preocupou que ele estivesse pegando frio e apertou as mãos no apoio da cadeira de rodas.Abelardo assentiu com a cabeça e tentou tranquilizá-la, emitindo sons incompreensíveis. Pelo movimento de seus lábios, Lúcia deduziu que ele estava dizendo: "Estou bem, não se preocupe."De volta ao elevador, Lúcia se inclinou para perguntar:— Pai, o que o senhor gostaria de comer?Ele balançou a cabeça.— Eu fico feliz em cozinhar para o senhor. Amanhã, quando eu voltar,
Ao ouvir aquelas palavras, as lágrimas de Abelardo começaram a escorrer silenciosamente de seus olhos. Ele estava deitado na cama, sem dizer nada, sem emitir nenhum som. Apenas seus olhos ficavam cada vez mais vermelhos, enquanto chorava em silêncio.Abelardo era um homem extremamente inteligente, e agora, mais do que nunca, sentia o peso de ser um fardo para Lúcia. A culpa e a tristeza o esmagavam por dentro.Após desabafar, Sandra percebeu o que tinha feito. Ela não deveria ter despejado tantas queixas diante do marido. Rapidamente, tentou consertar:— Abelardo, não pense demais nisso, por favor. O fato de você ter despertado já nos deixa muito felizes. A Lúcia disse que está bem, que as coisas estão melhorando. Além disso, ela está esperando um filho do Sílvio. Talvez, quando o bebê nascer, o Sílvio mude de atitude e passe a tratá-la, e a nós, com mais carinho. Eu consigo ver que ele se importa com o bebê que Lúcia está esperando. Não leve a sério o que eu disse antes. E, olha, as s
— Hum. — Lúcia acenou com a cabeça.Sílvio franziu o cenho e continuou a perguntar:— Foi você que jogou fora a planta ali no canto?— Fui eu. — Lúcia respondeu sem hesitar.Sílvio se aproximou dela:— Por quê?— A planta morreu, e o papagaio estava preso na gaiola, nada feliz. Achei melhor soltá-lo para voar livre pelo céu. — Disse ela, com naturalidade.Sílvio estreitou os olhos, claramente insinuando algo:— E como você sabe que ele estava infeliz na gaiola? Eu dava boa comida e bebida pra ele. Solto, ele pode morrer de fome por aí.Lúcia piscou os olhos, surpresa com a lógica dele. Então, era assim que ele pensava. Interessante. Será que ele realmente acreditava que, ao torturá-la daquele jeito, ela também ficava feliz e grata?Ela sentiu a resposta irônica formar na garganta, pronta para ser dita, mas então lembrou que seu pai havia acabado de acordar e que ainda precisaria da ajuda de Sílvio em muitas coisas. Não seria prudente criar um conflito agora, isso só traria prejuízos pa
— Não disse que quero fazer isso com você. — Sílvio segurou bruscamente a mão dela, impedindo-a de desamarrar seu roupão."Não quer fazer comigo? Então vai fazer com quem? Com a Giovana?" Lúcia pensou.Sílvio era aquele tipo de homem raro que conseguia ser o cúmulo do canalha e o exemplo de fidelidade, tudo ao mesmo tempo. Com ela, era cruel até o limite, mas com Giovana, era devotado de forma impressionante.As pessoas eram complicadas, afinal. Cheias de contradições. Até os piores homens podiam ser calorosos, mas tudo dependia de quem estava recebendo o calor.Lúcia odiava rodeios. Gostava de ir direto ao ponto.— Você não disse que eu tinha que te agradecer?— Mas não precisa ser desse jeito. — Sílvio franziu o cenho. Ele detestava quando ela agia assim. No passado, ele morria de ciúmes e queria dominá-la por completo, possuir cada centímetro de seu corpo. Agora, ele desejava muito mais: queria o corpo, o coração, queria tudo dela.A Lúcia de antes sempre fazia essas coisas de form
Ela nunca teria imaginado que, quando Sílvio falava em “grato”, isso significava destruir a família Baptista, jogá-la do alto para ser esmagada sob os pés dele.Lúcia não queria acreditar nas palavras dele, não queria ceder. Mas, no final das contas, que outra opção ela tinha? Ela simplesmente não tinha o direito de resistir.Lúcia piscou os olhos lentamente.— Tudo bem.— Então, vamos montar o carrinho de bebê. Preciso que me ajude. — Sílvio, satisfeito com a resposta, rasgou a embalagem do carrinho e pegou o manual de instruções.Ele leu o manual com atenção e pediu a Lúcia que lhe entregasse as peças enquanto ele montava o carrinho.Ela, sempre atenta, encontrava rapidamente as peças certas e as passava para ele. A sintonia entre os dois era impecável.Nenhuma luz estava acesa no terceiro andar. A luz das estrelas e da lua, que entrava pelas janelas abertas, iluminava o ambiente, espalhando sombras por todo o chão e sobre eles.Lúcia reparou que as sombras deles se uniam no chão, ma
Sílvio terminou de montar o carrinho e, ao levantar o olhar, percebeu que ela ainda o observava. Isso o fez lembrar dos primeiros tempos de namoro, quando Lúcia costumava encará-lo da mesma forma.Na época da faculdade, enquanto ele estudava na biblioteca, ela sempre o olhava fixamente. Ele, já sabendo a resposta, perguntava de brincadeira:— Lúcia, o que você está fazendo?— Estou olhando meu namorado. Não consigo evitar, você é lindo demais, nunca me canso de te olhar. — Ela respondia, radiante de felicidade.Sílvio se perdeu por um momento nessas lembranças e, sem pensar, repetiu:— Lúcia, o que você está fazendo?— Estou te olhando. — Respondeu Lúcia, com uma sinceridade cansada em seus olhos.— Me olhando por quê? — Sílvio franziu a testa.Lúcia pensou que ele provavelmente não queria que ela o olhasse. Afinal, ela era filha de seu maior inimigo. Ser observada pela filha de seu rival deveria lhe causar náuseas, né? Ele devia estar enjoado, talvez até com vontade de vomitar.Com um
As palavras ácidas estavam prestes a escapar dos lábios de Lúcia, mas ela sabia muito bem as consequências de enfrentá-lo diretamente. Seu pai havia acabado de acordar, e talvez fosse melhor evitar mais complicações. Assim, engoliu em seco e reprimiu o que queria dizer.— Se tem algo para falar, fale logo. — Disse Sílvio, incomodado ao perceber o silêncio hesitante dela.Lúcia piscou, os olhos vazios, e soltou:— Não é nada, vamos dormir.Ela se virou de costas para ele, ficando de frente para a parede. Sílvio odiava quando ela fazia isso. Afinal, eram casados, por que precisavam dormir de costas um para o outro?De repente, uma de suas mãos grandes e quentes pousou em sua cintura, sem qualquer aviso. Antes que ela pudesse reagir, Sílvio a puxou, forçando-a a encostar o corpo contra o peito dele.O corpo de Lúcia ficou rígido imediatamente. A mão de Sílvio, seca e quente, subia lentamente pela bainha do robe dela, explorando cada centímetro, como se ele tivesse o direito de tocá-la à v
Ele limpava as lágrimas dela com paciência, enquanto Lúcia, teimosa, continuava a chorar, com os cantos dos olhos avermelhados e a garganta apertada e amarga.Sílvio achou que a tristeza dela vinha do fato de que ele a havia tocado e que isso a assustara. Ele sabia que Lúcia gostava de romantismo e não de ser tratada com rudeza.— Não vou mais te tocar. Dorme. — Disse ele, num tom frio, sem tirar os olhos dela.Lúcia piscou, com os olhos cheios de apreensão, e perguntou hesitante:— Você está bravo comigo?— Não. — Respondeu Sílvio com a voz baixa.Ela insistiu:— E você vai arrumar uma babá para o meu pai?— Vou. Agora, tenta descansar.Sílvio ajeitou o cobertor sobre ela com cuidado, depois se levantou, colocou o robe e saiu do quarto. Seus passos foram leves, mas, mesmo assim, Lúcia percebeu que ele tinha saído, porque estava apenas fingindo dormir. Ela não tinha conseguido pegar no sono.Dizia que não estava bravo, mas, claramente, estava sim. Homens detestavam ter o clima interrom