Ela nunca teria imaginado que, quando Sílvio falava em “grato”, isso significava destruir a família Baptista, jogá-la do alto para ser esmagada sob os pés dele.Lúcia não queria acreditar nas palavras dele, não queria ceder. Mas, no final das contas, que outra opção ela tinha? Ela simplesmente não tinha o direito de resistir.Lúcia piscou os olhos lentamente.— Tudo bem.— Então, vamos montar o carrinho de bebê. Preciso que me ajude. — Sílvio, satisfeito com a resposta, rasgou a embalagem do carrinho e pegou o manual de instruções.Ele leu o manual com atenção e pediu a Lúcia que lhe entregasse as peças enquanto ele montava o carrinho.Ela, sempre atenta, encontrava rapidamente as peças certas e as passava para ele. A sintonia entre os dois era impecável.Nenhuma luz estava acesa no terceiro andar. A luz das estrelas e da lua, que entrava pelas janelas abertas, iluminava o ambiente, espalhando sombras por todo o chão e sobre eles.Lúcia reparou que as sombras deles se uniam no chão, ma
Sílvio terminou de montar o carrinho e, ao levantar o olhar, percebeu que ela ainda o observava. Isso o fez lembrar dos primeiros tempos de namoro, quando Lúcia costumava encará-lo da mesma forma.Na época da faculdade, enquanto ele estudava na biblioteca, ela sempre o olhava fixamente. Ele, já sabendo a resposta, perguntava de brincadeira:— Lúcia, o que você está fazendo?— Estou olhando meu namorado. Não consigo evitar, você é lindo demais, nunca me canso de te olhar. — Ela respondia, radiante de felicidade.Sílvio se perdeu por um momento nessas lembranças e, sem pensar, repetiu:— Lúcia, o que você está fazendo?— Estou te olhando. — Respondeu Lúcia, com uma sinceridade cansada em seus olhos.— Me olhando por quê? — Sílvio franziu a testa.Lúcia pensou que ele provavelmente não queria que ela o olhasse. Afinal, ela era filha de seu maior inimigo. Ser observada pela filha de seu rival deveria lhe causar náuseas, né? Ele devia estar enjoado, talvez até com vontade de vomitar.Com um
As palavras ácidas estavam prestes a escapar dos lábios de Lúcia, mas ela sabia muito bem as consequências de enfrentá-lo diretamente. Seu pai havia acabado de acordar, e talvez fosse melhor evitar mais complicações. Assim, engoliu em seco e reprimiu o que queria dizer.— Se tem algo para falar, fale logo. — Disse Sílvio, incomodado ao perceber o silêncio hesitante dela.Lúcia piscou, os olhos vazios, e soltou:— Não é nada, vamos dormir.Ela se virou de costas para ele, ficando de frente para a parede. Sílvio odiava quando ela fazia isso. Afinal, eram casados, por que precisavam dormir de costas um para o outro?De repente, uma de suas mãos grandes e quentes pousou em sua cintura, sem qualquer aviso. Antes que ela pudesse reagir, Sílvio a puxou, forçando-a a encostar o corpo contra o peito dele.O corpo de Lúcia ficou rígido imediatamente. A mão de Sílvio, seca e quente, subia lentamente pela bainha do robe dela, explorando cada centímetro, como se ele tivesse o direito de tocá-la à v
Ele limpava as lágrimas dela com paciência, enquanto Lúcia, teimosa, continuava a chorar, com os cantos dos olhos avermelhados e a garganta apertada e amarga.Sílvio achou que a tristeza dela vinha do fato de que ele a havia tocado e que isso a assustara. Ele sabia que Lúcia gostava de romantismo e não de ser tratada com rudeza.— Não vou mais te tocar. Dorme. — Disse ele, num tom frio, sem tirar os olhos dela.Lúcia piscou, com os olhos cheios de apreensão, e perguntou hesitante:— Você está bravo comigo?— Não. — Respondeu Sílvio com a voz baixa.Ela insistiu:— E você vai arrumar uma babá para o meu pai?— Vou. Agora, tenta descansar.Sílvio ajeitou o cobertor sobre ela com cuidado, depois se levantou, colocou o robe e saiu do quarto. Seus passos foram leves, mas, mesmo assim, Lúcia percebeu que ele tinha saído, porque estava apenas fingindo dormir. Ela não tinha conseguido pegar no sono.Dizia que não estava bravo, mas, claramente, estava sim. Homens detestavam ter o clima interrom
Embora a energia tivesse sido cortada, o quarto não estava tão escuro quanto Giovana imaginava. A luz da lua, clara como a água, entrava inclinada pelas frestas da janela, iluminando o ambiente com sua suavidade. As cortinas balançavam levemente com o sopro da brisa, criando sombras irregulares pelo chão.Giovana, com o rosto escondido sob uma máscara que só deixava seus olhos à mostra, entrou no quarto. Abelardo estava de olhos fechados, claramente adormecido. Ela vestia luvas e caminhava lentamente em direção a ele. Já havia decidido que ele morreria pelas suas mãos, sem deixar vestígios.Para ela, Lúcia só conseguiu se casar com Sílvio por pura sorte, por ter nascido em uma família privilegiada. E a maior ligação entre Sílvio e Lúcia era Abelardo. Se ele morresse, Lúcia certamente romperia com Sílvio. O simples pensamento de Lúcia assistindo à morte de seu próprio pai, antes de encontrar seu próprio fim, fez Giovana sorrir por dentro.Com passos suaves para evitar qualquer ruído, Gi
O tom do Dr. Arthur não era de reprovação, mas sim de consolo:— Você perdeu essa oportunidade, Giovana. Tenho medo que encontrar outra chance seja cada vez mais difícil.— Cala essa boca, seu agourento! — Giovana respondeu irritada e desligou o telefone bruscamente.No quarto, Sandra havia chamado uma enfermeira para ajudar a colocar Abelardo de volta na cama. Ele soltava gemidos abafados, e Sandra, preocupada, perguntou:— Está com sede?Abelardo balançou a cabeça negativamente.— Está com fome, então?Outro aceno de negação. Frustrado, Abelardo jogou no chão tudo o que havia no prato de frutas. A enfermeira, assustada com a reação dele, deixou o quarto rapidamente.Sandra começou a recolher o que estava espalhado pelo chão:— Calma, por favor. Eu só saí por um momento para pegar água. Sei que você não quer que eu me afaste de você.— Ugh! Ugh! — Abelardo protestava, mas Sandra não conseguia entender nada do que ele dizia. Desesperada, ela foi até a enfermaria e voltou com papel e ca
Abelardo olhava para Lúcia com uma mistura de emoções nos olhos – ansiedade, confusão e desespero. Ele tentava falar, mas só conseguia emitir gemidos, gesticulando de forma agitada.Lúcia sabia que seu pai estava preocupado com ela. Mas será que ela conseguiria convencer Sílvio a deixá-lo voltar para casa para passar o Natal? Nem ela tinha certeza. Seu coração estava cheio de apreensão.Mesmo assim, Lúcia tentou acalmar sua própria inquietação. Segurou a mão de Abelardo com delicadeza e disse em um tom suave:— Pai, não se preocupe mais. O senhor já passou a vida inteira cuidando de tudo. Agora, deixa comigo. Hoje, de qualquer forma, vou levar o senhor de volta para a Mansão Baptista.Abelardo sorriu aliviado ao ouvir essas palavras.— Pode esperar pelas boas notícias, papai! — Lúcia sorriu, tentando transmitir confiança.Ele assentiu com gratidão, seus olhos brilhando com um misto de alívio e esperança.Depois de tranquilizar Abelardo, Lúcia saiu do quarto. Ela não ligou para Sílvio.
Lúcia apertou os lábios antes de perguntar:— E o Sílvio? Preciso falar com ele.— Ele está no escritório. — Respondeu Leopoldo.— Ótimo, vou falar com ele.Lúcia já se preparava para seguir em direção ao escritório quando Leopoldo a chamou, hesitante, com uma expressão que a fez franzir as sobrancelhas.— Leopoldo, quer dizer algo mais? — Ela perguntou, intrigada.— O presidente está de mau humor por causa de um projeto de investimento. Sra. Lúcia, cuidado com o que vai dizer. Se não for algo urgente, talvez seja melhor esperar ele se acalmar. — Leopoldo parecia genuinamente preocupado, e depois de uma pausa, acrescentou. — Se a senhora confiar em mim, posso passar o recado.Lúcia soltou um suspiro. Então, Sílvio estava mal-humorado. Isso complicava ainda mais a situação. Ela se perguntou se ele lhe daria alguma atenção ou se a trataria com frieza.Vendo a preocupação de Leopoldo, Lúcia sentiu-se grata. Mas o assunto era importante demais para ser deixado para depois, e por mais que c