Ela o encarava fixamente. Era óbvio que tinha ouvido suas palavras.Lúcia não se surpreendeu com a resposta dele. Afinal, ele sempre desejou sua morte. Mas ouvir isso repetidamente ainda a machucava.— Por que não está deitada? O que está fazendo perambulando por aí? — Sílvio perguntou, impaciente.Ela já estava acostumada com aquele tom de desdém. Continuava repetindo para si mesma que deveria se acostumar, que tudo isso se tornaria rotina.Desviando o olhar, entrou no banheiro. Com uma mão segurava o soro, e seus passos eram incertos, como se estivesse andando sobre um chão de algodão, um pé alto, outro baixo.Quase caiu, mas ele foi rápido o suficiente para segurá-la pelo braço.Lúcia, entretanto, se desvencilhou, olhando para o chão:— Não preciso da sua falsa preocupação.Ela entrou no banheiro e fechou a porta. Sílvio tocou o nariz, riu ironicamente. Falsa preocupação? Ele a tinha trazido ao hospital! Como Basílio podia dar-lhe um chocolate e ela sorria tão docemente, com olhos
— Lúcia, pare de mencionar dinheiro. — Gritou ele.Lúcia não entendia como ele podia se irritar tanto. A pressão na mão que segurava seu queixo aumentava, e Sílvio rangia os dentes enquanto se controlava.Ela pensava em como ele era difícil de agradar, rejeitando até mesmo o café da manhã que ela comprara, e agora adiava constantemente as promessas do contrato que tinham assinado.Lúcia retrucou com um tom frio:— Presidente Sílvio, parece que entre nós só resta a relação contratual. O contrato está claro e explícito. Se não posso falar de dinheiro, sobre o que devo falar? É melhor que você cumpra o acordo.Acordo? Então era só isso que restava para ela! Sílvio a beijou com força, mordendo seus lábios. Ela, que dizia amá-lo tanto, agora só falava de dinheiro!Sílvio estava insatisfeito. Onde estava a Lúcia que o amava loucamente? Lúcia tentou empurrá-lo, mas ele a segurava ainda mais forte. Antes, ela nunca recusava seus beijos, sempre o esperava alegremente, ansiosa por seus cari
No início, quando começou a se relacionar com Lúcia, ele a rejeitava intensamente, a ponto de querer estrangulá-la com as próprias mãos.Mas ela era uma atriz nata, sabia como provocá-lo, e seu corpo era macio e perfumado. Não importava o quanto ele se irritasse ou a ignorasse, ela sempre voltava como chiclete, grudada nele.Ela se aninhava no peito dele com seu corpo macio, como uma gatinha, mordiscando de leve seu nariz e sussurrando carinhosamente, repetidas vezes após o ato: — Sílvio, eu te amo.Naquela época, ele sorria e perguntava:— E se depois de casarmos, eu não for gentil com você? Ainda vai gostar de mim?Ela ria confiante, batendo no peito e dizia que não acreditava que ele a trataria mal. E mesmo que tratasse, ela aqueceria seu coração frio.No começo, ele não acreditava, mas ela repetia tanto que ele acabou acreditando.Ela prometera que, não importava o que acontecesse, ela sempre o amaria incondicionalmente. E agora, tudo estava diferente, ela se envolvia com Basílio
Lúcia apertava o celular com força, os dedos cada vez mais tensos. Ela não sabia como contar à mãe que Sílvio a tinha enganado novamente.A mãe continuava a falar, e ela ouvia em silêncio, cheia de culpa. A família Baptista estava naquela situação, e o pai dela estava daquele jeito, tudo por culpa dela.— Mãe, não se preocupe, amanhã eu consigo o dinheiro. — Lúcia disse, sentindo-se insegura e com medo de que a mãe percebesse. Desligou rapidamente.Ela então enviou uma mensagem para Sílvio: [O diretor do hospital disse que, se o pagamento não for feito amanhã, eles vão parar o tratamento do meu pai. Sílvio, por favor, não brinque mais, pode ser?][Sílvio, eu errei, não está bom assim? O que preciso fazer para você transferir o dinheiro para o meu pai?]Nenhuma resposta veio. Na manhã seguinte, ainda não havia resposta.Ela pensou em ligar para ele, mas temia perturbá-lo e tornar a situação ainda pior. Agonizou sozinha até o amanhecer. Por volta das nove da manhã, finalmente ligou para
Dizendo isso, ele afastou a mão dela com um movimento brusco, fazendo-a recuar alguns passos e quase cair. Felizmente, conseguiu se apoiar na parede.O homem saiu rapidamente e ligou para Leopoldo:— Encontre alguém para vigiar a Lúcia, para evitar que ela faça algo drástico.Lúcia saiu do Grupo Baptista, caminhando pelas ruas com os olhos cheios de lágrimas. Aos poucos, as lágrimas começaram a cair sem controle.Ela se sentia tão inútil! Sílvio a manipulava repetidamente!Como ela pôde ser tão tola? Ela era filha do inimigo de Sílvio e ainda assim esperava que ele ajudasse seu pai...Sentou-se no ponto de ônibus, observando os transeuntes e o trânsito, chorando sem parar.De repente, o celular tocou.Ela pegou o celular e viu que era Sandra ligando.A mãe obviamente estava ligando para cobrar o pagamento das despesas médicas.Ela não sabia o que dizer. Atenderia, mas o que diria?Finalmente, atendeu o telefone, e antes que pudesse falar, ouviu Sandra, preocupada, perguntar:— Lúcia, p
— Quem pagou? — Sílvio riu baixinho.O diretor do hospital informou que foi Basílio, o novo presidente do Grupo Araújo.Sílvio riu de raiva. Então ela realmente obedecera e procurara Basílio, como ele havia sugerido.— Use o dinheiro da minha conta para reembolsá-lo e diga a ele que eu sou o marido da Lúcia.Desligou o telefone, acendeu um cigarro e ligou para Leopoldo:— O que Lúcia está fazendo agora?Leopoldo sentiu um calafrio. O telefonema de Sílvio com certeza traria problemas.Ele observou Lúcia e Basílio sorrindo na churrascaria. Se contasse a verdade, Lúcia certamente seria punida pelo chefe.Lúcia havia sido uma boa amiga, e se não fosse por ela, ele e sua esposa nunca teriam se conhecido, muito menos se casado.— A Sra. Lúcia está fazendo compras. — Mentiu Leopoldo.Sílvio, desconfiado, perguntou:— Tem certeza?— Tenho sim, a Sra. Lúcia parece estar de bom humor.— Claro que ela está feliz. Se não estivesse, seria estranho. — Sílvio riu sarcasticamente e desligou.Leopoldo
Isso era algo que Sílvio certamente faria.— Se você não chegar em casa em dez minutos, arque com as consequências!Mais uma ameaça.Lúcia não queria mais ouvir, e desligou o telefone abruptamente.Na hora em que mais precisava de sua ajuda, ele a ignorou, a ridicularizou, a manipulou, mas não estendeu a mão para ajudá-la.Ela não queria mais lidar com ele, nem brigar.Voltando para a churrascaria, sentou-se novamente e olhou para o prato de carne e linguiça que ainda não havia terminado. Perdeu completamente o apetite.— Aconteceu alguma coisa? — Basílio, com a elegância de um cavalheiro, perguntou com um sorriso discreto nos lábios e uma voz grave e melodiosa.Lúcia sufocou seu desespero, sorriu e balançou a cabeça:— Nada demais, só um telefonema de um golpista. Hoje em dia, esses golpistas estão cada vez mais audaciosos. Me exaltei um pouco e discuti com ele.Basílio parecia entender, mas não disse nada.Ela mudou de assunto:— Sr. Basílio, de qualquer forma, muito obrigada pela aj
Lúcia ainda não tinha reagido quando a foto em suas mãos foi arrancada por uma mão grande.Ela levantou os olhos e viu Sílvio olhando para ela com raiva, rasgando a foto ao meio com um movimento brusco.— Sílvio, com que direito você rasga minha foto? Me devolva! — Lúcia ficou desesperada, esticando-se na ponta dos pés para alcançar a foto em suas mãos.Vendo-a tão desesperada, tão apegada àquela foto velha, Sílvio ficou furioso:— Você valoriza tanto isso? Hein? Basílio é esse amante, né?— Me devolva! Sílvio, você não tem o direito de rasgar minha foto!Lúcia tentou pegar os pedaços da foto da mão dele.Ele abriu a janela com um movimento brusco, e uma rajada de vento frio entrou, fazendo seus cabelos negros e ondulados voarem.Os fios de cabelo roçaram no rosto de Sílvio, que teve um momento de hesitação.— Me devolva a foto! — Lúcia estava tão desesperada que quase chorava.Sílvio jogou os pedaços da foto pela janela.Os fragmentos da foto caíram como borboletas sem asas, em um voo