Lúcia olhava a foto dos sogros no túmulo. O sogro tinha bochechas levemente cheias, parecia uma pessoa bondosa. A sogra tinha uma expressão severa, mas era bonita e elegante.— Sogro, sogra, não sei se vocês ainda se lembram de mim. Sou Lúcia, esposa do Sílvio, sua nora. Nos encontramos há uma semana.Lúcia mordeu os lábios e colocou as velas acesas ao redor do túmulo, com cuidado.Flocos de neve caíam sobre seus cabelos, cílios e bochechas, como pequenas lâminas afiadas.— Desculpe, realmente desculpe. Eu peço desculpas em nome do meu pai, em nome da família Baptista. Desculpe... — Lúcia começou a chorar novamente. — Para mim, meu pai sempre foi um filantropo, o homem mais bondoso do mundo. Mas eu não sabia que ele fugiu de um acidente e mandou matar vocês. Desculpe, eu sei que meu pai carrega pecados profundos. Paulo agora está na prisão, meu pai virou um vegetal por causa de um acidente de carro e sofre diariamente. E eu, como filha única de um assassino, fui diagnosticada com cânce
Lúcia estava ouvindo tranquilamente, e não sentia nem um pouco de raiva. Se fosse antes de saber a verdade, se ele dissesse essas palavras, ela ficaria furiosa, choraria e xingaria de volta com palavras ainda piores.Mas quando é que a vingança chegaria ao fim?Ele estava certo, a família Baptista realmente deveria desculpas a seus pais.Lúcia não esperava que ele soubesse tanto sobre seus passos, mas ela não o questionou, nem se importou. Lúcia e Sílvio já não eram mais os mesmos, ela tinha medo de que, se abrisse a boca, seria apenas mais uma troca de ofensas.Lúcia desligou o telefone em silêncio, comprou uma passagem de avião, voou de volta para Cidade A naquela mesma noite.Mal chegou em casa, com fome, pensando em ir à cozinha preparar algo para comer, seu fígado começou a doer incontrolavelmente, como se uma multidão de cupins estivesse rasgando aquele fígado cheio de feridas.Ela cambaleou até o armário, procurou pelos analgésicos, tremendo, jogou alguns comprimidos na boca, e
— Seu pai de tem custos médicos mensais de centenas de milhares, sem Sílvio não teremos como sustentar isso. Você é por causa da Giovana? Minha filha, eu sei como você se sente, ver o homem que você gosta com sua melhor amiga deve ser uma dor pior do que engolir agulhas. Mas quando você ficar mais velha vai entender que não existe homem fiel, você só tem que usar ele pra ganhar dinheiro e fingir que não vê. — Se você for divorciada, e ainda tiver um pai em estado vegetativo, será muito difícil arranjar outro homem. A alta sociedade nunca vai aceitar a gente. — Seu pai é um ótimo homem, consegue ganhar dinheiro e é um grande filantropo, ele já teve uma ou duas traições na juventude, que eu peguei. Eu também chorei e fiz escândalo pra me divorciar, mas depois vi que a atitude de arrependimento dele era sincera, e ele cortou o relacionamento com a outra mulher e tem sido cada vez melhor comigo e com você. Já estamos juntos há décadas, né? Quando a gente olha pra trás, todos aqueles peq
— Vim ver por que você ainda não morreu. — As palavras de Sílvio eram geladas e cortantes.Lúcia apertou os dedos sobre os joelhos com tanta força que as unhas se cravaram na carne, causando uma dor intensa. Ela pensava que, se sentisse dor física, talvez a dor no coração diminuísse.Ele realmente esperava que ela morresse? Quantas vezes ele já tinha questionado por que ela ainda não havia morrido, ela já tinha perdido a conta.Sílvio deu um sorriso despreocupado para ela: — Você não vive dizendo que quer morrer? Agora que a verdade veio à tona e você conhece seus pecados, por que ainda está viva? Não vai cumprir o que sempre disse? Ou suas palavras são só vento?Lúcia, com os lábios cerrados, olhou para ele sem expressão. Sabia que ele queria provocá-la, mas não podia se deixar levar. Ainda precisava do apoio de Sílvio para salvar a família Baptista.A família Baptista estava em declínio, e muitos estavam de olho, prontos para tirar proveito da queda. Seu corpo se enfraquecia a cad
Mas quando ela pediu que ele ajudasse a família Baptista, Sílvio foi tomado por lembranças dos ressentimentos passados.Sílvio se virou para sair.Lúcia, desesperada, frágil, bloqueou o caminho dele.Sob o olhar ligeiramente surpreso e perplexo de Sílvio, ela caiu de joelhos no chão. Caiu com determinação.Assim como naquela vez, em um dia de neve intensa, ajoelhada em frente ao prédio do Grupo Baptista. As pessoas só deixavam seu orgulho de lado quando eram empurradas ao limite, e isso era um sinal de amadurecimento.A única diferença era que, naquela ocasião, ele havia chamado uma porção de jornalistas para transmitir ao vivo e humilhá-la. Agora, apenas ele assistia à sua humilhação, sua dignidade em frangalhos.Para conseguir dinheiro para ajudar seu pai, Lúcia bateu a cabeça no chão três vezes, cada vez com mais força. O som ecoava pelo chão, e a testa de Lúcia começou a sangrar ao se chocar contra o chão, deixando uma mancha de sangue.Sua testa estava sangrando. Mas não importa
Ele examinou o caderno, que estava amassado, obviamente usado por um bom tempo.Ele estava curioso: O que ela estaria escrevendo naquele caderno que ele lhe dera? Segredos que ninguém conhecia? Confissões e arrependimentos sobre sua família?Ele estava prestes a abrir o caderno.A mulher na cama murmurava: — Sílvio... Sílvio...Sílvio colocou o caderno sobre a mesa, sem abri-lo. Ele pensou que eles tinham chegado a esse ponto. Não importava o que estivesse escrito ali, eles não poderiam voltar ao passado.Eles estavam errados desde o início, e não importava quanto lutassem, continuariam errados.O que Sílvio não sabia era que, naquele momento, ele parecia despreocupado e desinteressado pelo caderno, mas quando Lúcia morresse, ver o conteúdo do caderno o deixaria arrasado e enlouquecido.Lúcia ainda chamava seu nome. Incapaz de se controlar, Sílvio se aproximou dela, abaixando-se e colocando o ouvido perto de seus lábios, querendo ouvir o que ela queria dizer. — Sílvio, me ajude, cuid
Depois de se arrumar, Lúcia foi direto para o Grupo Baptista de carro. Ela estava no escritório da presidência, mas não viu Sílvio por perto. Onde será que ele estava? Normalmente ele não faltaria, já que era um workaholic.Nesse momento, Leopoldo entrou no escritório e ficou surpreso ao ver Lúcia no sofá: — Sra. Lúcia, o que a senhora está fazendo aqui?— Estou esperando o Sílvio. Onde ele está? — Lúcia se levantou apressada do sofá.Leopoldo pegou uns papéis da mesa: — O Presidente Sílvio está em uma reunião. Sra. Lúcia, a senhora machucou a testa?— Não é nada, foi só um acidente, escorreguei e bati. — Lúcia deu um leve sorriso. — Obrigada por se preocupar.Leopoldo insistiu: — A senhora não deveria ter ido ao médico? Pode dar tétano, não é nada bom.— É só um pequeno machucado, não é nada demais. — Lúcia desconversou e voltou a perguntar sobre Sílvio. — Quando será que ele vai sair da reunião?Leopoldo pensou um pouco: — Hoje vários clientes importantes vieram, então a reuniã
— A reunião deve acabar antes do final do expediente, Sra. Lúcia. Por que a senhora não volta para casa? Quando terminarmos, eu lhe mando uma mensagem e a senhora volta. — Sugeriu Leopoldo, achando que ela estivesse entediada. — Ou, se preferir, pode ir ao shopping para passar o tempo.Lúcia, entretanto, não pensava assim. Para evitar qualquer complicação, ela balançou a cabeça em negativa.Assim, ela permaneceu sentada desde as nove e meia da manhã até as dez da noite.Os funcionários do Grupo Baptista já tinham ido embora, mas Sílvio ainda não saíra da sala de reuniões.Ela não sabia se ele estava realmente ocupado ou se estava deliberadamente a evitando.Mas não importava, ela tinha tempo de sobra e podia esperar.Sentindo um enjoo repentino, ela correu do escritório do presidente até o banheiro, onde se apoiou na pia, vomitando sem parar.Seu rosto ficou vermelho, e ela sentia como se seus pulmões fossem sair pela boca, mas nada saía.Estranho, por que ela estava vomitando tanto ul