Conor correu atrás da carroça de Halle por um longo tempo, até que, exausto pelo ferimento, tropeçou e caiu.Belinda se apressou em ajudá-lo.— Alfa, o senhor está bem?Ele continuou encarando, com dor explícita no olhar, a direção por onde Halle e os outros haviam partido. De repente, pareceu se lembrar de algo, ele se virou para Belinda e questionou de modo urgente:— Belinda, quando eu tinha 12 anos, fui mais uma vez vítima de uma armadilha dos meus irmãos. Eles me largaram num matagal distante. Na época, entrei em contato com uma planta venenosa que me cegou por um bom tempo. Você me salvou, caminhando sozinha durante horas à noite... E desde então adquiriu cegueira noturna. Então, me diz: foi memso você quem me resgatou?A expressão de Belinda vacilou, o olhar desviando por um instante antes de dizer:— Claro que fui eu, Alfa. Por que essa pergunta agora, do nada?Conor passou a encará-la com atenção, percebendo que ela ficava cada vez mais tensa. Após um longo silêncio, ele disse
Conor voltou às pressas para nossa casa e começou a revirar meus antigos diários. Desde os 6 anos, eu mantinha esse hábito de escrever e, quando nos casamos, trouxe todos comigo.Com as mãos trêmulas, ele finalmente localizou um caderno referente ao período em que eu tinha 12 anos e, folheando, encontrou minhas anotações.[17 de novembro. Hoje à noite, a lua está tão clara que parece lavar tudo ao redor. Fiquei sabendo que Conor foi aprontado pelos dois irmãos de novo. Preciso salvar ele. Só não posso contar para o meu pai, senão ele não me deixaria ir à floresta do Sul. Vou sozinha.][18 de novembro. O mato é mais assustador do que eu pensava. Ainda bem que encontrei Conor a tempo. Ele estava preso numa armadilha, coberto pela seiva pegajosa de vinhas venenosas. Seu pelo prateado estava manchado, e os olhos dourados estavam nublados. Ele não enxergava nada!][23 de novembro. Ele me perguntou quem eu era. Se descobrisse que sou só uma menina, acho que ficaria envergonhado por me ver n
Conor permaneceu no meu quarto por um dia e uma noite inteiros, sem comer nem beber, apenas folheando meu diário. Era como se, pela primeira vez, ele estivesse me conhecendo de verdade.Sempre que encontrava um trecho em que eu estava feliz, ele chegava a sorrir baixinho. Mas quando lia sobre minhas tristezas, as lágrimas brotavam em seus olhos. Só depois de ler tudo foi que compreendeu o quanto eu o amava e também percebeu que quase todas as minhas mágoas foram causadas por ele.Encolhido no chão, apertava o diário contra o peito, beijando-o como se fosse o próprio rosto que ele tanto ignorou em vida.— Clara, me perdoa. Me perdoa. — Ele murmurava. — Eu me arrependo tanto. Por favor, volte para mim, fique ao meu lado.Sentada ali perto, eu o observava sem demonstrar qualquer emoção. Me perguntei se todo aquele arrependimento mudaria algo. Será que lágrimas do assassino poderiam trazer minha vida de volta? Não havia a menor chance de eu me comover.No dia seguinte, Conor mandou chamar
Assim que viu o presente enviado pelo artesão, Conor finalmente pareceu lembrar de mim, que há dias não aparecia.— Clara não tem aparecido estes dias para fazer confusão, não é? Será que finalmente se aquietou? — Ele comentou, franzindo a testa por um instante antes de voltar a conferir o embrulho que receberam. — Ela sempre foi muito mimada. Só passando por algum sufoco para aprender a se comportar.Um de seus subordinados pigarreou com a voz cautelosa:— Alfa, me desculpe, mas a Luna... Ela ainda está presa dentro daquele poço.A mão de Conor, que segurava a pena, parou por um segundo. Em seguida, ele disfarçou a expressão e respondeu com aparente indiferença:— Eu achei que ela tivesse finalmente aprendido a ficar quieta. Então que fique lá mais alguns dias, para tirar uma lição de tudo isso.O subordinado hesitou, com o olhar preocupado:— Mas, Alfa... Já faz dias que não escutamos nem um ruído. E o cheiro que vem de lá é horrível. Não gostaria de verificar a situação dela?Conor
Belinda deixou transparecer um leve brilho de triunfo no olhar, mas rapidamente o escondeu.— Alfa, o senhor não precisava chegar a tanto. Eu não queria que ela fosse castigada. Temo que, a Luna possa me culpar por tudo isso no futuro.— Ela se atreveria? — Conor replicou, categórico. — Não se preocupe. Tenho certeza de que, após sair dali, vai baixar a crista. A menos que deseje voltar para o mesmo poço.— Ela é tão orgulhosa, mas fico imaginando como estão sendo esses dias resolvendo tudo lá embaixo. — Ele disse, com maldade. — Certamente não vai querer se submeter a isso de novo.Afinal, ele sabia melhor do que ninguém o quanto eu valorizava minha dignidade. E ainda assim, escolheu me dar a morte mais humilhante possível.Antes de morrer, minhas unhas cuidadosamente afiadas se fincavam nas paredes do poço, e eu escalava sem parar. Porém, sempre que estava quase chegando à beira, os guardas me empurravam de volta para o fundo.Depois, por ordem dele, selaram completamente a entrada,
As palavras de Conor defendendo Belinda me parecem tão absurdas. Eu estava incapaz de conter um riso irônico.Duas semanas atrás, saí com a caravana para negociar com uma tribo vizinha. Por ser a Luna, todos me tratavam com reverência, o que deixava Belinda fervendo de ciúmes. Certo dia, quando eu estava sozinha, ela me interceptou no meio do caminho e, com um tom desafiador, disse:— De que adianta ser a Luna? O coração do Alfa não está nem um pouco em você!Não tinha vontade de discutir, então apenas me afastei e subi na minha carroça. Belinda não quis ir à carroça mais velha que restou e acabou ficando pelo caminho, sozinha, em meio ao descampado.Depois de algum tempo, Conor foi buscá-la com alguns homens. Eles a encontraram lutando para se livrar das garras enormes de um urubu gigante. Ao ser salva, ela parecia tão frágil que mal conseguia respirar, e, como se estivesse prestes a morrer, murmurou para Conor:— Eu só queria ver você de longe, mas nem esse desejo tão pequeno pude r
Observei atentamente a reação de Connor, me perguntando se, no fundo, ele ainda simpatizava comigo. No entanto, só o vi franzir a testa brevemente.— Como assim? A Clara morreu? — Perguntou ele, com a voz fria.— Sim, Alfa... A Luna ficou tempo demais naquele poço seco... Sem água, sem comida... Não... Ela não aguentou. — Explicou o subordinado, cabisbaixo, incapaz de encarar Conor nos olhos.Conor soltou um riso incrédulo, como se tivesse ouvido uma piada:— Ah, é mesmo? Pois que continue fingindo. Se estiver morta de verdade, chame o sacerdote para fazer um ritual e joguem o corpo dela no mar. Assim ela vai aprender as consequências de bancar a morta.O olhar dele me encheu de repulsa, e percebi que não queria assistir à sua crueldade mais nem um segundo. Tentei controlar minha alma para me afastar, para subir cada vez mais. Mas, quanto mais tentava, mais sentia uma força que me puxava de volta a Conor. Logo percebi que não era Conor em si que me atraía, e sim o bracelete de alma d
Conor soltou um sorriso sarcástico nos lábios e zombou:— Como ela pode morrer tão fácil assim? Eu sei muito bem quão forte é a vontade de viver dela.Ao lado dele, Belinda riu também.— Pois é, nossa Luna é capaz até de engolir cobra viva. Embora não tenha havido água nem comida nos últimos dias, acredito que ela pode sobreviver.Os empregados que escutavam a conversa riram baixo, fazendo coro. Mas, curioso, o riso de Conor travou no rosto.Naquele instante, observei sua expressão constrangida e senti um breve alívio.“Então você também sente alguma culpa, não é mesmo?”, pensei comigo.Me lembrei de quando Conor foi capturado pelos renegados. Tentando salvá-lo, me infiltrei sozinha no quartel-general deles. Quando finalmente cheguei à cela onde ele estava preso, coberta de ferimentos, o olhar de surpresa e gratidão de Conor era tão intenso que quase esqueci a dor.Para fugir, fingimos ser dois guerreiros rouge de baixa patente. Mas, ao recebermos a ração distribuída, cobras e centopei