Observei atentamente a reação de Connor, me perguntando se, no fundo, ele ainda simpatizava comigo. No entanto, só o vi franzir a testa brevemente.— Como assim? A Clara morreu? — Perguntou ele, com a voz fria.— Sim, Alfa... A Luna ficou tempo demais naquele poço seco... Sem água, sem comida... Não... Ela não aguentou. — Explicou o subordinado, cabisbaixo, incapaz de encarar Conor nos olhos.Conor soltou um riso incrédulo, como se tivesse ouvido uma piada:— Ah, é mesmo? Pois que continue fingindo. Se estiver morta de verdade, chame o sacerdote para fazer um ritual e joguem o corpo dela no mar. Assim ela vai aprender as consequências de bancar a morta.O olhar dele me encheu de repulsa, e percebi que não queria assistir à sua crueldade mais nem um segundo. Tentei controlar minha alma para me afastar, para subir cada vez mais. Mas, quanto mais tentava, mais sentia uma força que me puxava de volta a Conor. Logo percebi que não era Conor em si que me atraía, e sim o bracelete de alma d
Conor soltou um sorriso sarcástico nos lábios e zombou:— Como ela pode morrer tão fácil assim? Eu sei muito bem quão forte é a vontade de viver dela.Ao lado dele, Belinda riu também.— Pois é, nossa Luna é capaz até de engolir cobra viva. Embora não tenha havido água nem comida nos últimos dias, acredito que ela pode sobreviver.Os empregados que escutavam a conversa riram baixo, fazendo coro. Mas, curioso, o riso de Conor travou no rosto.Naquele instante, observei sua expressão constrangida e senti um breve alívio.“Então você também sente alguma culpa, não é mesmo?”, pensei comigo.Me lembrei de quando Conor foi capturado pelos renegados. Tentando salvá-lo, me infiltrei sozinha no quartel-general deles. Quando finalmente cheguei à cela onde ele estava preso, coberta de ferimentos, o olhar de surpresa e gratidão de Conor era tão intenso que quase esqueci a dor.Para fugir, fingimos ser dois guerreiros rouge de baixa patente. Mas, ao recebermos a ração distribuída, cobras e centopei
Conor deu um salto para trás, arrepiado.— Quem... Quem colocou essa coisa horrível lá embaixo? — Sua respiração ficou pesada, o peito subia e descia rapidamente. — Cadê a Clara? Será que ela acha que colocar um cadáver falso vai me enganar? Vão atrás dela, agora!Eu me divertia ao ver quão absurda era a reação dele. Afinal, meu corpo estava ali, estava apodrecendo. Para onde mais poderiam me procurar?Em pânico, um dos subordinados tentou avisá-lo:— Alfa... A Luna... Ela... De fato morreu... O corpo já está cheirando mal.— Mentira! Está querendo me enganar? — Conor explodiu em fúria, interrompendo o homem. Num golpe rápido, desembainhou a espada e, sem hesitar, decepou a cabeça do subordinado. — Quem mais ajudar a Luna a me enganar terá o mesmo destino!Ele ainda vociferava:— Custe o que custar, quero Clara de volta. Tragam ela até mim, não importa como!Conor mandou lacrar o poço com placas de ferro e chamou dezenas de cachorros de caça e guerreiros, especialistas em rastrear inim
Desde aquele instante em que Conor viu meu anel e, por um breve segundo, deixou escapar um lampejo de tristeza, nunca mais o vi demonstrar qualquer sinal de abatimento. Ele continuou a trabalhar e viver como sempre fazia, mantendo a mesma rotina.Só que, ao voltar para o castelo em que morávamos juntos, era inevitável perceber um costume que ele não perdeu. Conor costumava estender o sobretudo para trás, esperando que eu o pegasse, enquanto me chamava pelo nome em voz alta. Então, ao se dar conta de que eu não estava mais lá, a expressão em seu rosto ficava confusa, como se ele tivesse se esquecido de algo por um instante.Quando se aproximou o festival anual da Matilha Garra Negra, diversos subordinados vieram prestar contas a Conor sobre as compras e preparativos necessários. Impaciente, ele reclamou:— Deixem esse tipo de tarefa para Luna. Não me incomodem com isso!Só que, ao notar os olhares hesitantes de todos, Conor tornava a ficar confuso. Aquela expressão de desamparo que s
Após perceber que eu jamais voltaria, Conor mergulhou na bebida. Passou a se embriagar dia após dia, deixando de lado até as obrigações da matilha.Às vezes, quando estava completamente bêbado, ele gritava me ofendendo que eu era cruel com Belinda e que eu era uma víbora.Na maioria das vezes, porém, apenas chamava insistentemente pelo meu nome. Em seguida, corria até a câmara fria onde guardavam meu corpo e me beijava, mesmo com a carne já em decomposição. Até eu, que habitava aquele corpo e aquela lembrança, sentia repulsa por aquela cena.As repetidas negligências de Conor acabaram prejudicando várias questões importantes da matilha, e os anciãos chegaram ao limite da paciência. Eles decidiram pedir ajuda a Belinda, esperando que ela conseguisse persuadi-lo a retomar o controle da situação.Belinda apareceu justamente no instante em que Conor me segurava nos braços. Ao ver a cena, ela deu um grito de horror e começou a vomitar, sem conseguir acreditar naquilo.— Alfa, o que está faz
Ao enxergar Conor daquela forma, Belinda deixou transparecer um olhar de desespero. Com a voz trêmula, tentou mudar de assunto à força:— É porque o senhor é bom, Alfa! Mesmo sem amar a Luna, ela ainda era sua companheira. É natural que se sinta abalado vendo sua morte. Não demora muito, o senhor vai superar isso.— Afinal, o senhor não ama a Luna. — Ela repetiu cada palavra de forma enfática, quase soletrando.Ouvindo aquilo, Conor pareceu subitamente iluminado, como alguém à beira do afogamento que encontrava um tronco para se agarrar. Ele começou a repetir as palavras que Belinda havia dito:— Certo, certo. Você está certa, eu não amo ela. Eu não mataria a própria mulher se a amasse de verdade.Depois de repetir essas frases algumas vezes, Conor enfim conseguiu se acalmar. Com Belinda ao lado, ele saiu da câmara fria e voltou à rotina de trabalho e às obrigações da matilha.Naquele dia, enquanto Conor fazia a inspeção de costume com seus subordinados do lado de fora das muralhas da
A voz de Halle ganhou um tom ameaçador, vibrando como um trovão abafado. Ele apontou a lâmina da adaga na direção da garganta de Conor.— A vida de Clara só pode ser paga com o seu sangue.Pego de surpresa, Conor ergueu o braço para se defender. Mas Halle o atacava com a fúria de uma tempestade, obrigando-o a recuar, tropeçando de forma desajeitada.— Você me prometeu que daria felicidade eterna para a Clara. Foi por isso que ajudei você a matar seus dois irmãos mais velhos!Ao redor deles, as pessoas ficaram em choque. A morte dos irmãos de Conor parecia ter sido acidental, mas, pelo visto, tinha sido uma armação de Conor.— Halle, pare de inventar mentiras! — Conor tentou se esquivar dos golpes. No instante seguinte, as garras de Halle cortaram o ar em direção à jugular de Conor. Ele se jogou para o lado, mas ainda assim teve o ombro dilacerado, e o sangue manchou sua roupa em instantes.Desabando de joelhos diante de Halle, Conor viu que seus subordinados se agitaram para protegê-l
Conor correu atrás da carroça de Halle por um longo tempo, até que, exausto pelo ferimento, tropeçou e caiu.Belinda se apressou em ajudá-lo.— Alfa, o senhor está bem?Ele continuou encarando, com dor explícita no olhar, a direção por onde Halle e os outros haviam partido. De repente, pareceu se lembrar de algo, ele se virou para Belinda e questionou de modo urgente:— Belinda, quando eu tinha 12 anos, fui mais uma vez vítima de uma armadilha dos meus irmãos. Eles me largaram num matagal distante. Na época, entrei em contato com uma planta venenosa que me cegou por um bom tempo. Você me salvou, caminhando sozinha durante horas à noite... E desde então adquiriu cegueira noturna. Então, me diz: foi memso você quem me resgatou?A expressão de Belinda vacilou, o olhar desviando por um instante antes de dizer:— Claro que fui eu, Alfa. Por que essa pergunta agora, do nada?Conor passou a encará-la com atenção, percebendo que ela ficava cada vez mais tensa. Após um longo silêncio, ele disse