Após perceber que eu jamais voltaria, Conor mergulhou na bebida. Passou a se embriagar dia após dia, deixando de lado até as obrigações da matilha.Às vezes, quando estava completamente bêbado, ele gritava me ofendendo que eu era cruel com Belinda e que eu era uma víbora.Na maioria das vezes, porém, apenas chamava insistentemente pelo meu nome. Em seguida, corria até a câmara fria onde guardavam meu corpo e me beijava, mesmo com a carne já em decomposição. Até eu, que habitava aquele corpo e aquela lembrança, sentia repulsa por aquela cena.As repetidas negligências de Conor acabaram prejudicando várias questões importantes da matilha, e os anciãos chegaram ao limite da paciência. Eles decidiram pedir ajuda a Belinda, esperando que ela conseguisse persuadi-lo a retomar o controle da situação.Belinda apareceu justamente no instante em que Conor me segurava nos braços. Ao ver a cena, ela deu um grito de horror e começou a vomitar, sem conseguir acreditar naquilo.— Alfa, o que está faz
Ao enxergar Conor daquela forma, Belinda deixou transparecer um olhar de desespero. Com a voz trêmula, tentou mudar de assunto à força:— É porque o senhor é bom, Alfa! Mesmo sem amar a Luna, ela ainda era sua companheira. É natural que se sinta abalado vendo sua morte. Não demora muito, o senhor vai superar isso.— Afinal, o senhor não ama a Luna. — Ela repetiu cada palavra de forma enfática, quase soletrando.Ouvindo aquilo, Conor pareceu subitamente iluminado, como alguém à beira do afogamento que encontrava um tronco para se agarrar. Ele começou a repetir as palavras que Belinda havia dito:— Certo, certo. Você está certa, eu não amo ela. Eu não mataria a própria mulher se a amasse de verdade.Depois de repetir essas frases algumas vezes, Conor enfim conseguiu se acalmar. Com Belinda ao lado, ele saiu da câmara fria e voltou à rotina de trabalho e às obrigações da matilha.Naquele dia, enquanto Conor fazia a inspeção de costume com seus subordinados do lado de fora das muralhas da
A voz de Halle ganhou um tom ameaçador, vibrando como um trovão abafado. Ele apontou a lâmina da adaga na direção da garganta de Conor.— A vida de Clara só pode ser paga com o seu sangue.Pego de surpresa, Conor ergueu o braço para se defender. Mas Halle o atacava com a fúria de uma tempestade, obrigando-o a recuar, tropeçando de forma desajeitada.— Você me prometeu que daria felicidade eterna para a Clara. Foi por isso que ajudei você a matar seus dois irmãos mais velhos!Ao redor deles, as pessoas ficaram em choque. A morte dos irmãos de Conor parecia ter sido acidental, mas, pelo visto, tinha sido uma armação de Conor.— Halle, pare de inventar mentiras! — Conor tentou se esquivar dos golpes. No instante seguinte, as garras de Halle cortaram o ar em direção à jugular de Conor. Ele se jogou para o lado, mas ainda assim teve o ombro dilacerado, e o sangue manchou sua roupa em instantes.Desabando de joelhos diante de Halle, Conor viu que seus subordinados se agitaram para protegê-l
Conor correu atrás da carroça de Halle por um longo tempo, até que, exausto pelo ferimento, tropeçou e caiu.Belinda se apressou em ajudá-lo.— Alfa, o senhor está bem?Ele continuou encarando, com dor explícita no olhar, a direção por onde Halle e os outros haviam partido. De repente, pareceu se lembrar de algo, ele se virou para Belinda e questionou de modo urgente:— Belinda, quando eu tinha 12 anos, fui mais uma vez vítima de uma armadilha dos meus irmãos. Eles me largaram num matagal distante. Na época, entrei em contato com uma planta venenosa que me cegou por um bom tempo. Você me salvou, caminhando sozinha durante horas à noite... E desde então adquiriu cegueira noturna. Então, me diz: foi memso você quem me resgatou?A expressão de Belinda vacilou, o olhar desviando por um instante antes de dizer:— Claro que fui eu, Alfa. Por que essa pergunta agora, do nada?Conor passou a encará-la com atenção, percebendo que ela ficava cada vez mais tensa. Após um longo silêncio, ele disse
Conor voltou às pressas para nossa casa e começou a revirar meus antigos diários. Desde os 6 anos, eu mantinha esse hábito de escrever e, quando nos casamos, trouxe todos comigo.Com as mãos trêmulas, ele finalmente localizou um caderno referente ao período em que eu tinha 12 anos e, folheando, encontrou minhas anotações.[17 de novembro. Hoje à noite, a lua está tão clara que parece lavar tudo ao redor. Fiquei sabendo que Conor foi aprontado pelos dois irmãos de novo. Preciso salvar ele. Só não posso contar para o meu pai, senão ele não me deixaria ir à floresta do Sul. Vou sozinha.][18 de novembro. O mato é mais assustador do que eu pensava. Ainda bem que encontrei Conor a tempo. Ele estava preso numa armadilha, coberto pela seiva pegajosa de vinhas venenosas. Seu pelo prateado estava manchado, e os olhos dourados estavam nublados. Ele não enxergava nada!][23 de novembro. Ele me perguntou quem eu era. Se descobrisse que sou só uma menina, acho que ficaria envergonhado por me ver n
Conor permaneceu no meu quarto por um dia e uma noite inteiros, sem comer nem beber, apenas folheando meu diário. Era como se, pela primeira vez, ele estivesse me conhecendo de verdade.Sempre que encontrava um trecho em que eu estava feliz, ele chegava a sorrir baixinho. Mas quando lia sobre minhas tristezas, as lágrimas brotavam em seus olhos. Só depois de ler tudo foi que compreendeu o quanto eu o amava e também percebeu que quase todas as minhas mágoas foram causadas por ele.Encolhido no chão, apertava o diário contra o peito, beijando-o como se fosse o próprio rosto que ele tanto ignorou em vida.— Clara, me perdoa. Me perdoa. — Ele murmurava. — Eu me arrependo tanto. Por favor, volte para mim, fique ao meu lado.Sentada ali perto, eu o observava sem demonstrar qualquer emoção. Me perguntei se todo aquele arrependimento mudaria algo. Será que lágrimas do assassino poderiam trazer minha vida de volta? Não havia a menor chance de eu me comover.No dia seguinte, Conor mandou chamar
Assim que viu o presente enviado pelo artesão, Conor finalmente pareceu lembrar de mim, que há dias não aparecia.— Clara não tem aparecido estes dias para fazer confusão, não é? Será que finalmente se aquietou? — Ele comentou, franzindo a testa por um instante antes de voltar a conferir o embrulho que receberam. — Ela sempre foi muito mimada. Só passando por algum sufoco para aprender a se comportar.Um de seus subordinados pigarreou com a voz cautelosa:— Alfa, me desculpe, mas a Luna... Ela ainda está presa dentro daquele poço.A mão de Conor, que segurava a pena, parou por um segundo. Em seguida, ele disfarçou a expressão e respondeu com aparente indiferença:— Eu achei que ela tivesse finalmente aprendido a ficar quieta. Então que fique lá mais alguns dias, para tirar uma lição de tudo isso.O subordinado hesitou, com o olhar preocupado:— Mas, Alfa... Já faz dias que não escutamos nem um ruído. E o cheiro que vem de lá é horrível. Não gostaria de verificar a situação dela?Conor
Belinda deixou transparecer um leve brilho de triunfo no olhar, mas rapidamente o escondeu.— Alfa, o senhor não precisava chegar a tanto. Eu não queria que ela fosse castigada. Temo que, a Luna possa me culpar por tudo isso no futuro.— Ela se atreveria? — Conor replicou, categórico. — Não se preocupe. Tenho certeza de que, após sair dali, vai baixar a crista. A menos que deseje voltar para o mesmo poço.— Ela é tão orgulhosa, mas fico imaginando como estão sendo esses dias resolvendo tudo lá embaixo. — Ele disse, com maldade. — Certamente não vai querer se submeter a isso de novo.Afinal, ele sabia melhor do que ninguém o quanto eu valorizava minha dignidade. E ainda assim, escolheu me dar a morte mais humilhante possível.Antes de morrer, minhas unhas cuidadosamente afiadas se fincavam nas paredes do poço, e eu escalava sem parar. Porém, sempre que estava quase chegando à beira, os guardas me empurravam de volta para o fundo.Depois, por ordem dele, selaram completamente a entrada,