Beatrice
Eu tinha decidido que não queria planejar o casamento, mas escolhi as cores... branco e dourado. Talvez porque dourado combinasse com os olhos de Gabriel, aqueles olhos que, de alguma forma, me deixavam mais confusa do que eu já estava. Pedi também que fosse algo mais simples e íntimo, com nossas famílias e amigos mais próximos.
Eu estava nervosa e me arrumando no meu antigo quarto. O casamento aconteceria no casarão da minha família. O cheiro familiar do meu quarto com o chão de madeira enceradas, a luz suave que entrava pelas janelas altas... tudo ali parecia congelado no tempo, como se aquele casarão ainda guardasse ecos da minha infância.
Não consegui esconder meu nervosismo.Meu coração batia tão rápido que parecia ecoar no silêncio do quarto. Nem os votos eu tinha escrito ainda. Era agoniante. Eu nem queria esse casamento e agora estava aqui, nervosa e pensativa sobre ele.
A maquiadora terminou de me maquiar e eu me levantei para me olhar no espelho. Eu estava magnífica. O vestido branco tinha um corpete com alças longas em cima e descia para uma saia de cetim com rendas delicadas. Meu sapato era de vidro, mas tão bem lapidado que parecia de cristal. Meu cabelo descia pelas minhas costas como ondas escuras e meus olhos verdes esmeraldas brilhando numa luz intensa, pareciam estar marejados. Talvez fossem lágrimas pela lembrança de minha mãe, que usou um vestido parecido no dia do casamento dela.
Cat entrou no quarto enquanto eu, distraída, me olhava através do espelho.
"Trice, você está linda!"
Cat também estava deslumbrante. Com um vestido colado que deixava suas curvas à mostra, uma fenda que destacava sua pele negra como ébano, e olhos pretos que me fitavam com preocupação de irmã. Seu cabelo estava solto num black e o caramelo dele se destacava bem com o vestido.
"Trice, o que foi? Olha, eu sei que o casamento não era algo que você esperava..."
"Cat", eu disse, interrompendo-a com minha mania de cortar as pessoas. "Eu não escrevi os votos. Não sei o que falar para ele. Não sei! Ele é meu amor de infância, mas eu não o conheço agora!"
Cat suspirou e se aproximou, segurando minhas mãos com firmeza. "Trice, olha pra mim. Você teve mais de dez encontros com ele, e eu sei que você tem algo a dizer. Não precisa ser perfeito, só precisa ser sincero. E, no fundo, você sabe mais sobre ele do que quer admitir. Lembra como você me disse que ele sorriu de um jeito especial no último jantar de vocês? Talvez seja esse o começo que você precisa."
"Ah, amiga, estou tão nervosa!"
Cat deu um sorriso caloroso, que parecia aliviar um pouco da pressão. "Você vai arrasar. E, seja o que for, estou aqui por você, sempre."
Uma das organizadoras do casamento entrou, interrompendo nossa conversa. "Cat, precisamos que você espere lá fora. A entrada dos padrinhos vai começar em breve e logo depois será a sua vez, Beatrice."
Ela me entregou um buquê de rosas brancas e ajustou os toques finais do vestido. Enquanto ela ajeitava a barra, eu observei o reflexo no espelho novamente. Por um momento, imaginei como seria cruzar o corredor e encontrar Gabriel ali, me esperando. Um Gabriel que eu ainda não compreendia completamente, mas que, de alguma forma, começava a me intrigar.
Quando a organizadora saiu, ouvi uma batida leve na porta. Meu pai entrou, vestindo um elegante terno escuro que destacava o cabelo grisalho cuidadosamente penteado. Ele parecia tenso, mas quando me viu, um sorriso emocionado suavizou suas feições.
"Beatrice, você está... linda. Parece sua mãe no dia em que nos casamos."
Suas palavras me atingiram como um abraço, despertando memórias de histórias que ele costumava contar sobre o amor deles. Eu me aproximei, tentando esconder as lágrimas que ameaçavam cair.
"Pai, eu... estou tão nervosa. E se eu não estiver pronta para isso? E se eu falhar e a gente perder o Colégio Starlight Institute?"
Ele segurou minhas mãos com firmeza, como fazia quando eu era criança e tinha medo do escuro. "Filha, ninguém está totalmente pronto para o amor. Ele nos desafia, nos transforma e, às vezes, nos assusta. Mas você é forte, como sua mãe era. Eu sei que você encontrará seu caminho."
Suas palavras me trouxeram um conforto inesperado e eu sorri, mesmo que hesitante.
"Agora," ele disse, endireitando os ombros, "vamos lá. Tem um homem esperando por você lá fora e eu prometo que ele não vai tirar os olhos de você nem por um segundo e nem te fazer sofrer."
Ele ofereceu o braço, e eu o segurei, sentindo a segurança de sua presença. Quando saímos do quarto e nos dirigimos ao corredor, o som da música suave preencheu o ambiente. Meu coração ainda batia rápido, mas agora havia algo a mais: uma centelha de coragem.
Gabriel:
Eu estava aparentemente calmo. Por fora, ao menos. Meu rosto mantinha a expressão serena que treinei por anos, mas por dentro, meu coração parecia uma orquestra desafinada. Como meus amigos próximos não conseguiriam chegar a tempo, apenas os amigos de Beatrice seriam os padrinhos.
Era mais um detalhe que reforçava o quanto esse casamento não era exatamente sobre nós dois. Era uma união pensada, quase forçada, para salvar o colégio. Mas, mesmo assim, uma parte de mim se sentia esperançosa. Talvez houvesse algo mais esperando por nós além de um contrato assinado e de promessas vazias.
Olhei pela janela e vi os padrinhos dela enquanto se organizavam no altar. Todos pareciam confiantes, sorrisos fáceis estampados nos rostos, como se aquele fosse apenas mais um momento de alegria. Eu me senti deslocado, como se estivesse no palco de um espetáculo do qual eu não tinha ensaiado.
A luz do fim de tarde entrava pela janela do casarão, estava terminando de me arrumar quando Alexandre, o novo melhor amigo de Beatrice entrou no escritório, a luz agora iluminava os dois homens que agora se encaravam. Alexandre, com os braços cruzados, tinha um olhar intenso. Gabriel, por outro lado, mantinha uma postura calma, mas o aperto em seus punhos traía o desconforto que sentia ao estar de frente com o rapaz que possivelmente era um caso de sua noiva.
"Eu não vou me alongar aqui, Gabriel," Alexandre começou, com a voz firme. "Eu gosto da Beatrice. Sempre gostei. Talvez não como você a conheceu na infância, mas como ela é agora. Forte, determinada e, às vezes, insuportável teimosa. E eu não vou mentir, não é fácil ver você no lugar onde eu gostaria de estar."
Fiquei em silêncio por alguns segundos, processando as palavras que Alexandre acabará de me dizer. Um calor estranho subiu ao seu rosto — era ciúmes, um sentimento que ele raramente experimentava, mas que agora parecia consumir sua calma usual.
"Se gosta tanto dela, por que nunca disse nada antes?" Gabriel retrucou, tentando manter a voz neutra, mas um toque de ironia escapou. "Ou será que é mais fácil criticar do lado de fora enquanto eu tento fazer isso dar certo? Não é você que sai com a Cat?"
Alexandre deu um passo à frente, os olhos faiscando. "Eu não estou aqui para brigar. A Cat e eu não temos nada sério, não meta ela nesse assunto. Eu só quero uma coisa de você, Gabriel. Quero que me prometa que nunca vai feri-la. Seja lá o que acontecer entre vocês dois, ela merece alguém que a respeite, que a ame de verdade. E se você não puder ser esse alguém, talvez seja melhor desistir agora."
Gabriel respirou fundo, tentando controlar o impulso de retrucar. Mas ele sabia que Alexandre não estava completamente errado. Ainda assim, ele sentiu a necessidade de deixar algo claro, ele amava Beatrice, mesmo que tivesse que reciclar esse amor, para ser um sentimento de agora e não do passado.
"Você acha que eu quero feri-la?" Gabriel perguntou, finalmente olhando Alexandre nos olhos. "Eu posso não ser o homem perfeito, mas, se tem uma coisa que eu prometo, é que vou fazer o possível para vê-la feliz. Eu também me importo com ela, Alexandre. Mais do que você imagina. E eu não te devo explicações de nada"
Os dois ficaram em silêncio por um momento, como se ambos estivessem avaliando a sinceridade do outro. Finalmente, Alexandre assentiu, embora ainda houvesse algo de protetor em seu olhar.
"Se você quebrar essa promessa, Gabriel, eu vou estar aqui. Não como amigo, mas como alguém que não vai deixar você sair impune."
"Se eu quebrar essa promessa," Gabriel respondeu, a voz mais suave agora, "você nem vai precisar se preocupar. Porque eu nunca vou me perdoar."Mas não era apenas isso. A ideia de que Beatrice havia escolhido aqueles amigos — pessoas que ela confiava, amava e com quem tinha histórias — me fazia sentir um pouco fora do lugar. Seria eu capaz de me tornar alguém tão importante na vida dela quanto eles eram? O sentimento de insegurança começou a tomar conta de mim.
Enquanto os preparativos finais eram feitos, eu passei as mãos no paletó, ajustando-o pela quinta vez. Não era o traje que me incomodava, mas a sensação de que, em breve, eu estaria diante dela — aquela garota que um dia encheu minha infância de risos e que agora era uma mulher que eu mal reconhecia.
O que Beatrice pensaria ao me ver ali? Será que ela enxergaria o garoto que costumava desenhar no quintal dela ou apenas o homem "forçado" a se casar?
Quando o som suave da música começou, eu respirei fundo. Era chegada a hora. A porta no final do corredor se abriu, e todos se levantaram. Meus olhos se fixaram na entrada, e, por um momento, o nervosismo foi substituído por uma certeza silenciosa: qualquer que fosse o destino, eu estava pronto para enfrentá-lo ao lado dela.
Beatrice
Eu segurava o braço do meu pai, quase forçando por conta do meu nervosismo, enquanto ele sorria para nossos familiares e amigos. Então, fiz o que achei que me deixaria sorrir: olhei para Gabriel. Seus olhos dourados e o sorriso nervoso me deixavam feliz, como se ele estivesse tentando me tranquilizar à distância.
Caminhei até o altar. Quando meu pai passou minhas mãos para as de Gabriel, uma corrente de calor percorreu meu corpo. Seu toque era macio e quente, e isso me fez suspirar. Por um breve instante, imaginei como seria na lua de mel. Senti meu rosto corar e, como em câmera lenta, finalmente olhei para aqueles olhos castanhos. Eles eram mais intensos do que eu lembrava, quase como se quisessem dizer algo que as palavras não alcançavam.
A cerimônia estava perfeitamente montada. As cores branco e dourado criavam uma atmosfera elegante e íntima, um reflexo da simplicidade que eu tanto havia pedido. O contraste das flores delicadas com o brilho das velas criava uma magia difícil de descrever. Gabriel estava de pé diante de mim, suas mãos segurando as minhas com firmeza. Seus olhos não se desviaram dos meus enquanto ele começou a falar seus votos. Mas então, como que puxada por um ímã invisível, meu olhar se desviou para Alexandre, que estava atrás de Gabriel. Sua expressão carregava uma fúria contida, que eu não entendia, um conflito obscuro que tentava me procurar naquele momento.
Gabriel começou a falar, e cada palavra parecia ser escolhida com cuidado:
"Beatrice,
Eu nunca pensei que um dia estaria aqui, diante de você, dizendo palavras como estas. Mas, agora que estou, sinto que preciso aproveitar esta oportunidade para te contar algo que talvez você não saiba.Desde que éramos crianças, você foi uma presença marcante na minha vida. Naquela época, enquanto corríamos pelo jardim da sua casa e eu pensava em como seria se ficássemos juntos para sempre, nunca imaginei que um pensamento infantil se realizaria de forma tão inesperada.
A verdade, Beatrice, é que eu sempre guardei um carinho muito especial por você. Não sei se isso era amor naquela época, mas sei que você foi minha primeira inspiração, a pessoa que me fez enxergar que há beleza em ser corajoso, em sonhar alto.
Eu já tive outros amores, assim como você já teve os seus também. E isso não me assusta. Quero deixar claro que não vim aqui para substituir ninguém, mas para ser aquele que estará ao seu lado quando você precisar. Que vai te lembrar todos os dias que o passado é só parte da nossa jornada.
Quando a vida nos separou, eu pensei que essas memórias ficariam para sempre no passado. Nunca imaginei que nossos caminhos se cruzariam de novo, muito menos desta forma. Mas, para mim, este momento representa uma chance. Uma chance de te conhecer de novo, de redescobrir aquela garota que costumava me desafiar a fazer os buquês de flores mais vendidos da Inglaterra e me chamava de 'meu cavaleiro.'
Hoje, diante de você, eu não quero prometer que tudo será perfeito. Não quero fingir que já sei como escreveremos nossa história. Mas quero prometer algo mais importante: eu estarei ao seu lado. Seja qual for o caminho que você escolher trilhar, quero ser alguém que te apoia, que te dá força quando precisar, e que te lembra de como você é incrível, mesmo quando não consegue enxergar isso em si mesma.
Beatrice, eu não sei o que o futuro nos reserva, mas sei que ele começa aqui, hoje, com você. E, por isso, eu sou grato."
As palmas preencheram o ar e meu coração parecia estar em sintonia com elas. Eu não pude deixar de notar que um sorriso bobo se formava nos meus lábios, e quando o padre declarou que eu podia beijá-lo, eu não hesitei. O beijo começou tímido, mas foi se aprofundando na ternura de um sentimento que finalmente parecia florescer.
BeatriceEu segurava o buquê com firmeza, estava me preparando para poder lançar o buquê, caminhando entre os convidados que sorriam e brindavam em celebração ao nosso casamento. As músicas suaves e agitadas eram um contraste meu e de Gabriel. O nervosismo ainda latejava em meu peito, como se algo estivesse prestes a acontecer.Depois de cumprimentar alguns familiares e amigos, meus olhos captaram uma cena que me fez parar. Minha prima inclinada para perto de Gabriel, rindo de algo que ele disse. Sua postura sugere mais do que um simples cumprimento amigável."Você é mesmo muito diferente de como Beatrice te descrevia quando éramos crianças. Ela dizia que você era tímido e atrapalhado, mas agora... bem, agora é difícil tirar os olhos de você" ela disse, deixando a mão repousar por um instante no braço dele. Como essa cachorra tem coragem de fazer uma coisa dessas no dia do meu casamento, eu sabia que ela era piranha, mas porra?Gabriel parecia desconfortável, forçando um sorriso enqua
BeatriceO som das ondas quebrando suavemente na areia era hipnotizante, mas não o suficiente para silenciar a tempestade que se formava na minha mente. O céu azul de Cancún parecia uma pintura viva, o cheiro de sal misturando-se ao perfume de Gabriel, e tudo ao redor deveria parecer perfeito. Era o cenário ideal para uma lua de mel, o lugar onde o nosso amor recente deveria ser celebrado. Gabriel estava ao meu lado, tomando seu whisky com um sorriso tranquilo, apontando para algo distante, compartilhando suas observações com um entusiasmo que, antes, teria me contagiado. Mas agora, algo estava diferente. Minha mente não estava mais aqui, com ele, naquela ilha. Ela estava presa a outro lugar, a outro rosto, Alexandre. Cada palavra que ele dizia soava distante, como se eu estivesse ouvindo do fundo de um túnel. A verdade estava se tornando insuportável. Eu tinha acabado de casar com um homem incrível, que me amava profundamente, e, ainda assim, não conseguia parar de pensar em Alexan
BeatriceO retorno para casa deveria ter sido marcado pela sensação de recomeço, mas, no fundo, meu coração estava inquieto. Assim que chegamos no apartamento de Gabriel, que seria agora o meu novo lar, fiquei apreensiva. O lugar era impecável: um espaço amplo em um bairro de luxo, com janelas altas que ofereciam uma vista deslumbrante das luzes da cidade à noite. Seus móveis eram simples, como se ele não se importasse com a decoração.Abraçando meu roupão, fiquei olhando pela janela enquanto Gabriel tomava banho. Nós estávamos nos preparando para dormir, mas a verdade era que nossa intimidade ainda era superficial. Dormíamos juntos, mas nossos momentos se limitavam a beijos e carícias. Gabriel parecia respeitar meu espaço, mas eu podia sentir que ele esperava mais e em alguns momentos, eu também queria. Minha cabeça estava uma confusão e essa confusão acabava se estendendo para meu relacionamento."Amanhã preciso ir até Alexandre" pens
GabrielO som monótono dos aparelhos médicos preenchia o silêncio do quarto, uma trilha sonora opressiva para a conversa que eu sabia que estava por vir. Meu sogro estava deitado na cama, pálido e visivelmente fragilizado, mas seus olhos ainda carregavam aquela intensidade, mas também uma fragilidade, como se ele estivesse se fazendo de forte naquele momento, talvez fosse dali de onde Beatrice tinha herdado a teimosia e intensidade que só ela podia ter.Parei na entrada do quarto por um instante, ajustando o nó da gravata, como se isso fosse o suficiente para esconder o turbilhão que sentia. Era uma mistura de culpa, por ter me envolvido tão pouco com a saúde dele antes, e de tensão, por saber que Beatrice estava do outro lado daquela porta com Alexandre."Entre, Gabriel," a voz fraca, mas firme, quebrou meus pensamentos. Não tinha percebido que estava ainda parado na porta.Caminhei até a cadeira ao lado da cama e me sentei. Por um momento, nenhuma palavra foi dita. Eu não sabia por o
BeatriceO saguão do hotel era luxuoso, com pisos de mármore brilhante e um lustre grandioso que pendia no centro, lançando reflexos de luz pelo ambiente. Meu coração batia acelerado enquanto eu caminhava até a recepção, tentando manter a compostura. Será que eu perguntava do quarto dele? Ou eu espero no restaurante, enquanto bebo algo? Resolvi que a segunda opção era a mais válida. Eu estava determinada a resolver as coisas com Gabriel, a abrir meu coração pela primeira vez e, quem sabe, começar de novo. Sem Alexandre para nos atrapalhar ou invadir meus pensamentos.Mas o destino parecia ter outros planos para mim.A visão me atingiu como um soco no estômago. Quando cheguei no restaurante do hotel e ia começar a fazer meu pedido e mandar uma mensagem para Gabriel, eu o vi, Gabriel estava sentado em uma das poltronas próximas ao bar e ao seu lado, uma mulher loira deslumbrante, com um vestido vermelho que abraçava cada curva dela de forma impecável. Ela ria de algo que ele havia dito
GabrielO som do gelo batendo no copo de cristal ao lado do meu cotovelo era quase tão irritante quanto os próprios pensamentos que me consumiam. A luz suave do restaurante do hotel iluminava a loira à minha frente – minha irmã, Melissa. Ela mexia no drink com uma expressão meio inquisitiva, meio desapontada. Eu sabia que essa conversa estava longe de ser leve. Era Melissa, afinal. Mas, me sentia confortável de estar conversando com ela sobre, eu não sabia tanto como agir com mulheres."Vai me contar o que está acontecendo, ou vou precisar arrancar à força?" ela perguntou, apoiando o queixo na mão com uma paciência fingida. Seus olhos ácidos não deixavam espaço para fuga.Suspirei, passando a mão pelos cabelos, um gesto quase instintivo quando estava sob pressão. "Não tem muito o que dizer, Mel. Estou dando espaço para Beatrice e talvez para mim também. As coisas entre nós não estão... boas.""Espaço? É isso que você chama de fugir do seu próprio casamento?" Melissa rebateu, a voz afia
AlexandreEu estava parado diante da sala de aula vazia, olhando pela janela, enquanto pensava sobre a conversa que tive com Gabriel. As palavras dele ainda ecoavam na minha cabeça como um alerta constante: "Eu posso acabar com sua carreira aqui." Ele estava blefando? Talvez. Mas, no fundo, eu sabia que ele tinha o poder e as conexões necessárias para transformar a ameaça em realidade.Enquanto considerava como abordar isso com Beatrice, a ideia de contar tudo a ela era ao mesmo tempo reconfortante e preocupante. Ela tinha o direito de saber, mas ao mesmo tempo, não queria que ela se sentisse pressionada a tomar partido ou, pior, culpada por estar no centro de toda essa confusão. eu devia ter exposto meus sentimentos antes, se eu tivesse feito isso, nada disso estaria acontecendo, não haveria casamento e o pai dela ia me engolir.Com a cabeça cheia de pensamentos, caminhei pelo corredor em direção ao estacionamento. Já estava escurecendo e a esc
BeatriceO peso da verdade parecia uma âncora presa ao meu peito, me arrastando para um lugar de culpa e confusão que eu não podia mais suportar. Eu sabia que precisava falar com Gabriel, contar a ele toda verdade, eu estavasendo um monstro. Não importava o quanto eu temesse sua reação ou o que aquilo poderia significar para o futuro do nosso casamento. Ele merecia saber a verdade.Passei a manhã andando de um lado para o outro no apartamento, tentando encontrar as palavras certas. Toda vez que abria a boca para ensaiar, as palavras me escapavam. Como se fosse possível dizer tudo isso de uma maneira que não soasse terrível. Como dizer a ele que, enquanto nosso casamento que mal começou desmoronava, eu busquei conforto nos braços de Alexandre? Que eu me deixei levar por emoções confusas e, talvez, pelo vazio que eu permiti que houvesse entre nós?Com o coração pesado, decidi que não podia adiar mais. Gabriel estava no escritório da empresa