Beatrice
O peso da verdade parecia uma âncora presa ao meu peito, me arrastando para um lugar de culpa e confusão que eu não podia mais suportar. Eu sabia que precisava falar com Gabriel, contar a ele toda verdade, eu estavasendo um monstro. Não importava o quanto eu temesse sua reação ou o que aquilo poderia significar para o futuro do nosso casamento. Ele merecia saber a verdade.
Passei a manhã andando de um lado para o outro no apartamento, tentando encontrar as palavras certas. Toda vez que abria a boca para ensaiar, as palavras me escapavam. Como se fosse possível dizer tudo isso de uma maneira que não soasse terrível. Como dizer a ele que, enquanto nosso casamento que mal começou desmoronava, eu busquei conforto nos braços de Alexandre? Que eu me deixei levar por emoções confusas e, talvez, pelo vazio que eu permiti que houvesse entre nós?
Com o coração pesado, decidi que não podia adiar mais. Gabriel estava no escritório da empresa
BeatriceAs horas pareciam se arrastar enquanto eu encarava o teto do quarto. O silêncio do apartamento era ensurdecedor desde que Gabriel decidiu se mudar para o hotel. Eu deveria me sentir aliviada, mas tudo o que sentia era um peso esmagador de culpa. Contar a verdade para ele me fez parecer uma criança tomando decisões impulsivas, sem pensar nas consequências. Meu coração e minha mente estavam um caos e no fundo, eu sabia exatamente para onde iria desabafar essa confusão.Peguei meu casaco e saí, dirigindo sem rumo, mas sem surpresa quando vi onde tinha parado. O caminho até o apartamento de Alexandre já era automático. Meu coração batia acelerado enquanto esperava ele abrir a porta. Quando ele apareceu, o olhar surpreso logo deu lugar a algo mais intenso." Trice? O que faz aqui a essa hora? São duas da manhã, você enlouqueceu?" A voz dele era rouca, carregada de sono."Eu só... precisava ver você." Minha voz saiu quase num sussurro."Cat está aqui, dormindo na minha cama."Aquela
GabrielO som do despertador ecoou pelo quarto do hotel e eu abri os olhos com certa relutância. Já fazia dias que eu estava ali, mas ainda não havia me acostumado com a frieza do lugar. Nada se comparava ao conforto do meu antigo apartamento. Agora, aquele espaço pertencia apenas a Beatrice.Me levantei, alongando os músculos tensos e caminhei até a janela. A cidade começava a se movimentar lá fora, indiferente ao caos que era minha vida no momento. Mas eu não podia me dar ao luxo de ficar parado. Havia muito a ser resolvido, e eu pretendia encerrar aquele capítulo de vez.Depois de um banho rápido e um café forte, desci até o lobby do hotel, onde um funcionário do meu advogado me esperava com a papelada do divórcio. Ele era um homem sério, vestindo um terno impecável e segurava uma pasta preta com os documentos que dariam fim ao meu casamento."Senhor Gabriel, aqui estão os papéis. Seu advogado revisou tudo e só precisamos de sua assina
GabrielBeatrice sentou na cadeira à minha frente, e eu pude sentir o peso de cada um de seus passos, como se o mundo inteiro estivesse sobre seus ombros. O coração dela, assim como o meu, parecia esmagado pelo que havíamos vivido e naquele momento, ela se posicionou diante de mim, os olhos fugindo dos meus, como se ainda não tivesse coragem de encarar o passado que compartilhamos.Respirei fundo, tentando segurar a vontade de simplesmente me levantar e sair dali. Eu já tinha superado, ou pelo menos achava que sim. A rotina tinha me consumido e eu estava tentando seguir em frente. Vanessa me esperava, ansiosa pelo nosso almoço e Beatrice ainda estava ali, com aquele olhar que, mais do que qualquer outra coisa, marcou minha alma.Ela tirou do bolso um envelope, o papel amassado denunciando que ela o segurava há dias. A angústia nos olhos dela era clara... ela tinha sofrido com a separação. Mas de que adiantava sofrer quando o que se perdeu
AlexandreEra engraçado – ou talvez trágico – como tudo podia mudar tão rápido. Um dia, Beatrice estava nos meus braços, dividindo segredos, toques, noites de paixão. No outro, ela era uma sombra do que tinha sido comigo, fria e inalcançável.Eu a observava pelos corredores da escola, esperando qualquer resquício daquela mulher intensa, da mulher que fugia para os meus braços quando o mundo desmoronava ao redor dela. Mas não havia mais nada, nem mesmo amizade. Seus olhos, que um dia me procuraram cheios de necessidade, agora desviavam sem hesitação. Seu sorriso, que costumava se abrir para mim mesmo quando não havia motivo, estava ausente.Era como se eu fosse um estranho. Mais um dos professores medíocres que ocupavam os cargos daquela escola.Tentei falar com ela algumas vezes. Pequenas interações. Um "bom dia" que ficou sem resposta. Um "você t
BeatriceFazia dias que eu vinha arquitetando cada passo da minha estratégia. Se eu queria Gabriel de volta, precisava jogar com inteligência. Pensei em diversas formas de reconquistá-lo, até mesmo largar meu emprego para mostrar que estava disposta a mudanças, mas isso seria extremo demais.Foi quando vi Melissa caminhando pela escola, ela tinha que vir toda semana, mas nas outras eu estava muito para baixo para pensar em falar com ela sem desmoronar. Desde que Gabriel decidiu evitar a escola e qualquer encontro comigo ou com Alexandre, ela parecia ser a única ligação que eu ainda tinha com ele. E quem melhor para me ajudar do que a própria irmã dele?Depois de um café com ela, percebi que não era a única a querer Vanessa fora do caminho. Melissa tinha seus próprios motivos para detestá-la e juntas poderíamos fazer com que essa mulher entendesse que ela não pertencia àquele lugar.Apoiando o cotovelo na mesa e estreitando os olhos, Melissa girou o café na xícara antes de falar:"Então
GabrielA música pulsava no ambiente, as luzes coloridas criavam sombras e reflexos ao redor da piscina e o riso das pessoas preenchia o espaço. Eu estava me esforçando para aproveitar a noite, mantendo uma conversa casual com alguns amigos, mas minha atenção continuava escapando para Beatrice.Desde o momento em que ela entrou, minha mente ficou em um maldito loop, absorvendo cada detalhe. O vestido vermelho colado ao corpo, a forma como seus olhos brilhavam ao rir de algo que Melissa dizia, a confiança na sua postura. Não era apenas sua aparência — era a energia que ela emanava. Era a mulher que um dia foi minha e agora parecia querer ser novamente.E eu não podia negar que algo dentro de mim reagia a isso.Vanessa, no entanto, percebeu. Seu humor mudou ao longo da noite, seu aperto no meu braço ficou mais forte e seus comentários passaram de sedutores par
GabrielEu não sabia exatamente por que tinha convidado Beatrice para jantar. Talvez fosse culpa, talvez fosse saudade. Ou talvez eu apenas precisasse de respostas que estavam presas em algum lugar entre o passado e o presente. O que eu sabia era que, desde que ela começou a tentar me encontrar, meus pensamentos não me davam trégua.Cheguei ao restaurante mais cedo, escolhi uma mesa mais reservada e tentei me concentrar no menu, mas minha mente estava em outro lugar. Quando ela entrou, senti meu coração vacilar por um momento. O vestido azul-marinho se ajustava perfeitamente ao seu corpo, e seu cabelo solto lhe dava um ar natural e elegante. Era impossível ignorá-la."Você veio." Minha voz saiu quase como um alívio, mas também carregava um tom de surpresa."Claro que vim." Ela sorriu, sentando-se à minha frente. "Você me convidou, não?"Assenti e indiquei o cardápio, tentando disfarçar o desconforto que crescia em mim. Eu agia como se não tivesse casado ou conhecido essa mulher. Depoi
AlexandreOs dias no hospital se arrastavam de forma torturante. Os remédios aliviavam a dor física, mas não havia remédio para a sensação de vazio que se alojava dentro de mim. Tentei ocupar minha mente com filmes, conversas casuais com as enfermeiras, até mesmo algumas leituras despretensiosas. Mas a verdade era que nada disso funcionava. Cada silêncio me fazia lembrar do que eu havia perdido.Na quarta noite, enquanto tentava dormir, o som da porta do quarto se abrindo me despertou. Pensei que fosse mais uma enfermeira, mas quando levantei o olhar, meu coração parou por um instante.Beatrice estava ali.Ela hesitou na porta, como se não soubesse se deveria entrar ou não. Seus olhos encontraram os meus, e por um breve momento, vi algo que não via há tempos: culpa. Ou talvez fosse saudade. Eu queria acreditar que era saudade.“Posso entrar?” A voz dela saiu baixa, quase hesitante.Assenti lentamente, incapaz de formular uma resposta melhor. Ela fechou a porta atrás de si e caminhou a