GabrielO som do gelo batendo no copo de cristal ao lado do meu cotovelo era quase tão irritante quanto os próprios pensamentos que me consumiam. A luz suave do restaurante do hotel iluminava a loira à minha frente – minha irmã, Melissa. Ela mexia no drink com uma expressão meio inquisitiva, meio desapontada. Eu sabia que essa conversa estava longe de ser leve. Era Melissa, afinal. Mas, me sentia confortável de estar conversando com ela sobre, eu não sabia tanto como agir com mulheres."Vai me contar o que está acontecendo, ou vou precisar arrancar à força?" ela perguntou, apoiando o queixo na mão com uma paciência fingida. Seus olhos ácidos não deixavam espaço para fuga.Suspirei, passando a mão pelos cabelos, um gesto quase instintivo quando estava sob pressão. "Não tem muito o que dizer, Mel. Estou dando espaço para Beatrice e talvez para mim também. As coisas entre nós não estão... boas.""Espaço? É isso que você chama de fugir do seu próprio casamento?" Melissa rebateu, a voz afia
AlexandreEu estava parado diante da sala de aula vazia, olhando pela janela, enquanto pensava sobre a conversa que tive com Gabriel. As palavras dele ainda ecoavam na minha cabeça como um alerta constante: "Eu posso acabar com sua carreira aqui." Ele estava blefando? Talvez. Mas, no fundo, eu sabia que ele tinha o poder e as conexões necessárias para transformar a ameaça em realidade.Enquanto considerava como abordar isso com Beatrice, a ideia de contar tudo a ela era ao mesmo tempo reconfortante e preocupante. Ela tinha o direito de saber, mas ao mesmo tempo, não queria que ela se sentisse pressionada a tomar partido ou, pior, culpada por estar no centro de toda essa confusão. eu devia ter exposto meus sentimentos antes, se eu tivesse feito isso, nada disso estaria acontecendo, não haveria casamento e o pai dela ia me engolir.Com a cabeça cheia de pensamentos, caminhei pelo corredor em direção ao estacionamento. Já estava escurecendo e a esc
BeatriceO peso da verdade parecia uma âncora presa ao meu peito, me arrastando para um lugar de culpa e confusão que eu não podia mais suportar. Eu sabia que precisava falar com Gabriel, contar a ele toda verdade, eu estavasendo um monstro. Não importava o quanto eu temesse sua reação ou o que aquilo poderia significar para o futuro do nosso casamento. Ele merecia saber a verdade.Passei a manhã andando de um lado para o outro no apartamento, tentando encontrar as palavras certas. Toda vez que abria a boca para ensaiar, as palavras me escapavam. Como se fosse possível dizer tudo isso de uma maneira que não soasse terrível. Como dizer a ele que, enquanto nosso casamento que mal começou desmoronava, eu busquei conforto nos braços de Alexandre? Que eu me deixei levar por emoções confusas e, talvez, pelo vazio que eu permiti que houvesse entre nós?Com o coração pesado, decidi que não podia adiar mais. Gabriel estava no escritório da empresa
BeatriceAs horas pareciam se arrastar enquanto eu encarava o teto do quarto. O silêncio do apartamento era ensurdecedor desde que Gabriel decidiu se mudar para o hotel. Eu deveria me sentir aliviada, mas tudo o que sentia era um peso esmagador de culpa. Contar a verdade para ele me fez parecer uma criança tomando decisões impulsivas, sem pensar nas consequências. Meu coração e minha mente estavam um caos e no fundo, eu sabia exatamente para onde iria desabafar essa confusão.Peguei meu casaco e saí, dirigindo sem rumo, mas sem surpresa quando vi onde tinha parado. O caminho até o apartamento de Alexandre já era automático. Meu coração batia acelerado enquanto esperava ele abrir a porta. Quando ele apareceu, o olhar surpreso logo deu lugar a algo mais intenso." Trice? O que faz aqui a essa hora? São duas da manhã, você enlouqueceu?" A voz dele era rouca, carregada de sono."Eu só... precisava ver você." Minha voz saiu quase num sussurro."Cat está aqui, dormindo na minha cama."Aquela
GabrielO som do despertador ecoou pelo quarto do hotel e eu abri os olhos com certa relutância. Já fazia dias que eu estava ali, mas ainda não havia me acostumado com a frieza do lugar. Nada se comparava ao conforto do meu antigo apartamento. Agora, aquele espaço pertencia apenas a Beatrice.Me levantei, alongando os músculos tensos e caminhei até a janela. A cidade começava a se movimentar lá fora, indiferente ao caos que era minha vida no momento. Mas eu não podia me dar ao luxo de ficar parado. Havia muito a ser resolvido, e eu pretendia encerrar aquele capítulo de vez.Depois de um banho rápido e um café forte, desci até o lobby do hotel, onde um funcionário do meu advogado me esperava com a papelada do divórcio. Ele era um homem sério, vestindo um terno impecável e segurava uma pasta preta com os documentos que dariam fim ao meu casamento."Senhor Gabriel, aqui estão os papéis. Seu advogado revisou tudo e só precisamos de sua assina
GabrielBeatrice sentou na cadeira à minha frente, e eu pude sentir o peso de cada um de seus passos, como se o mundo inteiro estivesse sobre seus ombros. O coração dela, assim como o meu, parecia esmagado pelo que havíamos vivido e naquele momento, ela se posicionou diante de mim, os olhos fugindo dos meus, como se ainda não tivesse coragem de encarar o passado que compartilhamos.Respirei fundo, tentando segurar a vontade de simplesmente me levantar e sair dali. Eu já tinha superado, ou pelo menos achava que sim. A rotina tinha me consumido e eu estava tentando seguir em frente. Vanessa me esperava, ansiosa pelo nosso almoço e Beatrice ainda estava ali, com aquele olhar que, mais do que qualquer outra coisa, marcou minha alma.Ela tirou do bolso um envelope, o papel amassado denunciando que ela o segurava há dias. A angústia nos olhos dela era clara... ela tinha sofrido com a separação. Mas de que adiantava sofrer quando o que se perdeu
AlexandreEra engraçado – ou talvez trágico – como tudo podia mudar tão rápido. Um dia, Beatrice estava nos meus braços, dividindo segredos, toques, noites de paixão. No outro, ela era uma sombra do que tinha sido comigo, fria e inalcançável.Eu a observava pelos corredores da escola, esperando qualquer resquício daquela mulher intensa, da mulher que fugia para os meus braços quando o mundo desmoronava ao redor dela. Mas não havia mais nada, nem mesmo amizade. Seus olhos, que um dia me procuraram cheios de necessidade, agora desviavam sem hesitação. Seu sorriso, que costumava se abrir para mim mesmo quando não havia motivo, estava ausente.Era como se eu fosse um estranho. Mais um dos professores medíocres que ocupavam os cargos daquela escola.Tentei falar com ela algumas vezes. Pequenas interações. Um "bom dia" que ficou sem resposta. Um "você t
BeatriceFazia dias que eu vinha arquitetando cada passo da minha estratégia. Se eu queria Gabriel de volta, precisava jogar com inteligência. Pensei em diversas formas de reconquistá-lo, até mesmo largar meu emprego para mostrar que estava disposta a mudanças, mas isso seria extremo demais.Foi quando vi Melissa caminhando pela escola, ela tinha que vir toda semana, mas nas outras eu estava muito para baixo para pensar em falar com ela sem desmoronar. Desde que Gabriel decidiu evitar a escola e qualquer encontro comigo ou com Alexandre, ela parecia ser a única ligação que eu ainda tinha com ele. E quem melhor para me ajudar do que a própria irmã dele?Depois de um café com ela, percebi que não era a única a querer Vanessa fora do caminho. Melissa tinha seus próprios motivos para detestá-la e juntas poderíamos fazer com que essa mulher entendesse que ela não pertencia àquele lugar.Apoiando o cotovelo na mesa e estreitando os olhos, Melissa girou o café na xícara antes de falar:"Então