Beatrice
O som das ondas quebrando suavemente na areia era hipnotizante, mas não o suficiente para silenciar a tempestade que se formava na minha mente. O céu azul de Cancún parecia uma pintura viva, o cheiro de sal misturando-se ao perfume de Gabriel, e tudo ao redor deveria parecer perfeito. Era o cenário ideal para uma lua de mel, o lugar onde o nosso amor recente deveria ser celebrado.
Gabriel estava ao meu lado, tomando seu whisky com um sorriso tranquilo, apontando para algo distante, compartilhando suas observações com um entusiasmo que, antes, teria me contagiado. Mas agora, algo estava diferente. Minha mente não estava mais aqui, com ele, naquela ilha. Ela estava presa a outro lugar, a outro rosto, Alexandre. Cada palavra que ele dizia soava distante, como se eu estivesse ouvindo do fundo de um túnel.
A verdade estava se tornando insuportável. Eu tinha acabado de casar com um homem incrível, que me amava profundamente, e, ainda assim, não conseguia parar de pensar em Alexandre. A cada sorriso de Gabriel, um peso surgia no meu peito, uma sombra que se estendia por todo o ambiente. “Quem de nós dois...” A música de Ana Carolina parecia tocar em meu coração, ainda que em silêncio. Por que meus sentimentos tinham que se conflitar agora? Só por ele estar com ela?
"No vão das coisas que a gente disse, não cabe mais sermos somente amigos." A letra se repetia, e eu não podia ignorá-la. O que eu fizera? Como pude me envolver tão profundamente com Gabriel, se meu coração ainda estava entrelaçado com as lembranças de Alexandre? “Eu não queria que fosse assim,” pensei. “Eu não queria me perder em algo que sabia que não seria justo com Gabriel.”
"Você está tão distante hoje" disse Gabriel, quebrando o silêncio, e me tirando das minhas reflexões. Ele olhava para mim com um sorriso suave, tentando, sem saber, resgatar a atenção que eu não conseguia dar.
Olhei para ele, tentando forçar um sorriso, mas o peso que se aninhava em meu peito estava além de qualquer esforço. "Não, não é isso... só estou pensando em coisas que tenho que resolver quando voltar."
Ele franziu a testa, um olhar preocupado tomando conta do seu rosto. "Você não parece estar realmente aqui, parece que está... fugindo de algo."
As palavras dele cortaram fundo. Não queria que ele visse a verdade. Não queria que ele soubesse da bagunça emocional que estava me consumindo. Mas, mesmo assim, eu não conseguia esconder o que transbordava dentro de mim. Alexandre estava ali, em todos os cantos da minha mente, e eu não sabia mais o que fazer com isso.
"Não estou fugindo, Gabriel" respondi, me exaltando um pouco demais, tentando disfarçar a confusão. Mas a dúvida na minha voz entregava mais do que eu queria. Eu estava tentando criar uma mentira convincente, uma justificativa para o que estava acontecendo dentro de mim. "Acho que estou ficando de TPM"
Ele pareceu aceitar, mas ainda não estava completamente convencido. Gabriel continuava a me olhar com um carinho silencioso, como se tentasse entender. Eu sabia que ele percebia que algo estava errado, mas ele não sabia o que. Não sabia da minha luta interna. Não sabia do peso de Alexandre que ainda me acompanhava.
“E quando eu falo que eu já nem quero, a frase fica pelo avesso, meio na contramão.” Eu tentei esquecer, tentar me convencer de que estava fazendo a escolha certa, mas a cada vez que eu dizia que não queria mais, a verdade se escondia, se virava do avesso. “Quando finjo que esqueço, eu não esqueci nada.” Eu sabia que estava mentindo para ele e para mim mesma. "Eu não devia ter aceitado esse casamento, eu estava bem solteira"
"Eu sei que você está pensando em algo mais, mas não precisa ficar com essa cara, sabe?" disse Gabriel, tentando me animar. Mas eu sentia um nó na garganta.
Eu apenas respirei fundo, tentando processar tudo. Não queria que ele soubesse o que realmente estava se passando. Eu estava dividida, e não sabia mais como esconder isso.
"Eu só estou... cansada, Gabriel" respondi, minha voz falhando um pouco. Não sabia mais o que dizer. Ele era o homem com quem eu havia escolhido estar e ele não merecia essa confusão. Mas como lidar com um sentimento que se recusava a ir embora?
Gabriel, sempre paciente, olhou para o horizonte e depois voltou os olhos para mim. "Tudo bem, você está lidando com muita coisa, eu entendo. Mas lembre-se de que estou aqui para você, sempre."
Eu senti o peso daquelas palavras, e, por um momento, a culpa me invadiu ainda mais. Gabriel estava aqui, se oferecendo, me apoiando de todas as formas possíveis, e eu estava perdendo o foco, jogando tudo fora, por algo que não conseguia controlar.
Mas, no fundo, sabia que não era tão simples assim. As lembranças de Alexandre estavam mais próximas do que eu gostaria de admitir. “E é por isso que atravesso o teu futuro e faço das lembranças um lugar seguro.” Eu atravessava cada momento que passava com Gabriel e me refugiava nas memórias de Alexandre. Não porque quisesse voltar ao que foi, mas porque essas lembranças eram, de alguma forma, tudo o que eu tinha. Eram um lugar seguro onde eu podia me esconder da minha própria confusão.
Gabriel, mais uma vez, tentou fazer uma piada, tentando aliviar a tensão. Ele sorria, ainda não entendendo a tempestade que se passava dentro de mim. "Então, o que vamos fazer amanhã? O que você acha de um passeio de barco?"
Eu olhei para ele, tentando me reconectar. Era isso que eu deveria querer. Era isso que eu deveria estar sentindo. Mas as palavras de Alexandre, os momentos que havíamos compartilhado, ainda me assombravam. Cada vez que eu dizia que ia esquecer, cada vez que eu tentava seguir em frente, mais parecia que eu estava entrando involuntariamente na vida dele novamente.
Eu me virei para Gabriel e o observei por um momento, tentando ver a pessoa com quem eu havia me casado, tentando sentir o que deveria sentir. Ele sorriu de volta para mim. Eu estava perdida entre dois amores, entre dois mundos que não podiam coexistir. E, no fundo, eu sabia que, cedo ou tarde, essa mentira teria que vir à tona.
Eu estava à beira de uma escolha que, mais cedo ou mais tarde, iria definir meu destino. Mas, por enquanto, ficava ali, com Gabriel, tentando dar sentido a um amor que eu sabia que não era completo.
"Eu acho que... um passeio de barco seria ótimo" respondi, forçando um sorriso. Não sabia mais o que fazer, mas talvez, naquele momento, o que eu mais precisava era de uma distração. Talvez eu conseguisse, por algum tempo, convencer a mim mesma de que estava tudo bem.
BeatriceO retorno para casa deveria ter sido marcado pela sensação de recomeço, mas, no fundo, meu coração estava inquieto. Assim que chegamos no apartamento de Gabriel, que seria agora o meu novo lar, fiquei apreensiva. O lugar era impecável: um espaço amplo em um bairro de luxo, com janelas altas que ofereciam uma vista deslumbrante das luzes da cidade à noite. Seus móveis eram simples, como se ele não se importasse com a decoração.Abraçando meu roupão, fiquei olhando pela janela enquanto Gabriel tomava banho. Nós estávamos nos preparando para dormir, mas a verdade era que nossa intimidade ainda era superficial. Dormíamos juntos, mas nossos momentos se limitavam a beijos e carícias. Gabriel parecia respeitar meu espaço, mas eu podia sentir que ele esperava mais e em alguns momentos, eu também queria. Minha cabeça estava uma confusão e essa confusão acabava se estendendo para meu relacionamento."Amanhã preciso ir até Alexandre" pens
GabrielO som monótono dos aparelhos médicos preenchia o silêncio do quarto, uma trilha sonora opressiva para a conversa que eu sabia que estava por vir. Meu sogro estava deitado na cama, pálido e visivelmente fragilizado, mas seus olhos ainda carregavam aquela intensidade, mas também uma fragilidade, como se ele estivesse se fazendo de forte naquele momento, talvez fosse dali de onde Beatrice tinha herdado a teimosia e intensidade que só ela podia ter.Parei na entrada do quarto por um instante, ajustando o nó da gravata, como se isso fosse o suficiente para esconder o turbilhão que sentia. Era uma mistura de culpa, por ter me envolvido tão pouco com a saúde dele antes, e de tensão, por saber que Beatrice estava do outro lado daquela porta com Alexandre."Entre, Gabriel," a voz fraca, mas firme, quebrou meus pensamentos. Não tinha percebido que estava ainda parado na porta.Caminhei até a cadeira ao lado da cama e me sentei. Por um momento, nenhuma palavra foi dita. Eu não sabia por o
BeatriceO saguão do hotel era luxuoso, com pisos de mármore brilhante e um lustre grandioso que pendia no centro, lançando reflexos de luz pelo ambiente. Meu coração batia acelerado enquanto eu caminhava até a recepção, tentando manter a compostura. Será que eu perguntava do quarto dele? Ou eu espero no restaurante, enquanto bebo algo? Resolvi que a segunda opção era a mais válida. Eu estava determinada a resolver as coisas com Gabriel, a abrir meu coração pela primeira vez e, quem sabe, começar de novo. Sem Alexandre para nos atrapalhar ou invadir meus pensamentos.Mas o destino parecia ter outros planos para mim.A visão me atingiu como um soco no estômago. Quando cheguei no restaurante do hotel e ia começar a fazer meu pedido e mandar uma mensagem para Gabriel, eu o vi, Gabriel estava sentado em uma das poltronas próximas ao bar e ao seu lado, uma mulher loira deslumbrante, com um vestido vermelho que abraçava cada curva dela de forma impecável. Ela ria de algo que ele havia dito
GabrielO som do gelo batendo no copo de cristal ao lado do meu cotovelo era quase tão irritante quanto os próprios pensamentos que me consumiam. A luz suave do restaurante do hotel iluminava a loira à minha frente – minha irmã, Melissa. Ela mexia no drink com uma expressão meio inquisitiva, meio desapontada. Eu sabia que essa conversa estava longe de ser leve. Era Melissa, afinal. Mas, me sentia confortável de estar conversando com ela sobre, eu não sabia tanto como agir com mulheres."Vai me contar o que está acontecendo, ou vou precisar arrancar à força?" ela perguntou, apoiando o queixo na mão com uma paciência fingida. Seus olhos ácidos não deixavam espaço para fuga.Suspirei, passando a mão pelos cabelos, um gesto quase instintivo quando estava sob pressão. "Não tem muito o que dizer, Mel. Estou dando espaço para Beatrice e talvez para mim também. As coisas entre nós não estão... boas.""Espaço? É isso que você chama de fugir do seu próprio casamento?" Melissa rebateu, a voz afia
AlexandreEu estava parado diante da sala de aula vazia, olhando pela janela, enquanto pensava sobre a conversa que tive com Gabriel. As palavras dele ainda ecoavam na minha cabeça como um alerta constante: "Eu posso acabar com sua carreira aqui." Ele estava blefando? Talvez. Mas, no fundo, eu sabia que ele tinha o poder e as conexões necessárias para transformar a ameaça em realidade.Enquanto considerava como abordar isso com Beatrice, a ideia de contar tudo a ela era ao mesmo tempo reconfortante e preocupante. Ela tinha o direito de saber, mas ao mesmo tempo, não queria que ela se sentisse pressionada a tomar partido ou, pior, culpada por estar no centro de toda essa confusão. eu devia ter exposto meus sentimentos antes, se eu tivesse feito isso, nada disso estaria acontecendo, não haveria casamento e o pai dela ia me engolir.Com a cabeça cheia de pensamentos, caminhei pelo corredor em direção ao estacionamento. Já estava escurecendo e a esc
BeatriceO peso da verdade parecia uma âncora presa ao meu peito, me arrastando para um lugar de culpa e confusão que eu não podia mais suportar. Eu sabia que precisava falar com Gabriel, contar a ele toda verdade, eu estavasendo um monstro. Não importava o quanto eu temesse sua reação ou o que aquilo poderia significar para o futuro do nosso casamento. Ele merecia saber a verdade.Passei a manhã andando de um lado para o outro no apartamento, tentando encontrar as palavras certas. Toda vez que abria a boca para ensaiar, as palavras me escapavam. Como se fosse possível dizer tudo isso de uma maneira que não soasse terrível. Como dizer a ele que, enquanto nosso casamento que mal começou desmoronava, eu busquei conforto nos braços de Alexandre? Que eu me deixei levar por emoções confusas e, talvez, pelo vazio que eu permiti que houvesse entre nós?Com o coração pesado, decidi que não podia adiar mais. Gabriel estava no escritório da empresa
BeatriceAs horas pareciam se arrastar enquanto eu encarava o teto do quarto. O silêncio do apartamento era ensurdecedor desde que Gabriel decidiu se mudar para o hotel. Eu deveria me sentir aliviada, mas tudo o que sentia era um peso esmagador de culpa. Contar a verdade para ele me fez parecer uma criança tomando decisões impulsivas, sem pensar nas consequências. Meu coração e minha mente estavam um caos e no fundo, eu sabia exatamente para onde iria desabafar essa confusão.Peguei meu casaco e saí, dirigindo sem rumo, mas sem surpresa quando vi onde tinha parado. O caminho até o apartamento de Alexandre já era automático. Meu coração batia acelerado enquanto esperava ele abrir a porta. Quando ele apareceu, o olhar surpreso logo deu lugar a algo mais intenso." Trice? O que faz aqui a essa hora? São duas da manhã, você enlouqueceu?" A voz dele era rouca, carregada de sono."Eu só... precisava ver você." Minha voz saiu quase num sussurro."Cat está aqui, dormindo na minha cama."Aquela
GabrielO som do despertador ecoou pelo quarto do hotel e eu abri os olhos com certa relutância. Já fazia dias que eu estava ali, mas ainda não havia me acostumado com a frieza do lugar. Nada se comparava ao conforto do meu antigo apartamento. Agora, aquele espaço pertencia apenas a Beatrice.Me levantei, alongando os músculos tensos e caminhei até a janela. A cidade começava a se movimentar lá fora, indiferente ao caos que era minha vida no momento. Mas eu não podia me dar ao luxo de ficar parado. Havia muito a ser resolvido, e eu pretendia encerrar aquele capítulo de vez.Depois de um banho rápido e um café forte, desci até o lobby do hotel, onde um funcionário do meu advogado me esperava com a papelada do divórcio. Ele era um homem sério, vestindo um terno impecável e segurava uma pasta preta com os documentos que dariam fim ao meu casamento."Senhor Gabriel, aqui estão os papéis. Seu advogado revisou tudo e só precisamos de sua assina