"Não acredito que o senhor vai me obrigar a casar com aquele cara sem graça!" eu disse ao meu pai, sentindo meu rosto arder de raiva, estava apertando as mãos como se estivesse preparada para dar um soco em alguém.
"É por um bem maior, veja bem, ele tem muitas qualidades e..." meu pai começou a justificar, mas não consegui segurar minha indignação e o interrompi.
"Qualidades? Como quais? Quer saber, pai? Esqueça, não tem nada nele que me interesse! Só farei isso pelo bem do colégio e da nossa família, mas deixo bem claro: vou me divorciar depois!"
Meu pai respirou fundo, mas não respondeu. Seu olhar parecia pesado, como se ele carregasse o peso do mundo nas costas. Talvez fosse exatamente isso, considerando o que estava em jogo, eu não sabia com o que ele estava lidando.
Com um suspiro frustrado, virei as costas e saí da sala da diretoria. Assim que abri a porta, percebi que não estávamos sozinhos. Alguns professores estavam no corredor, e era óbvio que tinham ouvido partes da conversa. Seus olhares eram mistos: curiosidade, julgamento e até uma pitada de pena.
"O que foi? Perderam alguma coisa lá dentro?" perguntei de forma afiada, incapaz de esconder meu mau humor.
Eles rapidamente desviaram os olhos e se afastaram, abrindo caminho para que eu passasse.
Caminhei pelo corredor com passos rápidos, quase atropelando um aluno que vinha distraído.
Meu pedido de desculpas saiu abafado. Não estava com paciência, então continuei sem olhar para trás. Assim que saí pela porta principal da escola, senti um alívio imediato ao respirar o ar fresco e o cheiro da chuva que estava por vir.
Peguei o celular e chamei um Uber. Enquanto esperava, pensei no absurdo de tudo aquilo. Um casamento arranjado em pleno século XXI! Como meu pai ainda achava que isso fazia sentido? Tudo para salvar a imagem do colégio e garantir que a família mantivesse sua reputação impecável. Era como se eu fosse apenas uma peça de xadrez em um jogo que ele jogava sozinho.
O carro chegou em poucos minutos. Assim que entrei, a primeira coisa que fiz foi mandar uma mensagem para Alexandre:
Eu: "Preciso desabafar. Está livre?"
Alexandre: "Sempre para você. Vem para cá."Eu sabia que ele estaria livre, eu já tinha colocado o endereço dele antes de perguntar. Alexandre Ross era meu refúgio. Mais do que um amigo, ele era meu porto seguro. Quando cheguei ao apartamento dele, ele já estava na porta, me esperando com aquele sorriso que parecia capaz de derreter até os problemas mais difíceis.
Ele tinha um corpo malhado, fruto da academia e um estilo de vida disciplinado. Seus olhos azuis brilhavam com um misto de curiosidade e preocupação, enquanto seus cachos escuros estavam arrumados de um jeito casual, mas incrivelmente atraente. Com a pele bronzeada e um ar confiante, Alexandre era a definição de "perfeito" para muitas pessoas. Para mim, porém, ele era apenas... Alex.
"Quer entrar ou quer ficar me admirando aqui fora?" ele brincou, rindo enquanto segurava a porta aberta.
"Não estou admirando nada," retruquei, revirando os olhos, mas senti meu rosto corar levemente. Passei por ele e entrei.
Assim que me sentei no sofá, desabei. "Meu pai quer que eu me case com um completo desconhecido! Quer dizer, conheço o cara, eu acho, é um daqueles caras da educação, mas ele é tão sem graça que nunca imaginei que isso pudesse sequer ser cogitado."
Alexandre sentou ao meu lado, me oferecendo uma xícara de chá que ele preparara. "Você sabe o motivo, né? Ele está tentando proteger a imagem da família e do colégio. Não que eu concorde, mas faz sentido na cabeça dele. E me diz afinal quem é o cara?"
"Sentido? Desde quando arruinar minha vida faz sentido?" perguntei, segurando a xícara com tanta força que temi quebrá-la. "É o Gabriel, Gabriel Larceda, dono da maior empresa de educação do país"
"Calma. Vamos pensar em uma solução, mas, cara esse Larceda é bem na fita, Trice" ele disse, colocando uma mão tranquilizadora no meu ombro. "Você disse que vai se divorciar, certo? Então, tecnicamente, você só precisa passar por isso por um tempo. Talvez dê para transformar isso em algo menos traumático."
Revirei os olhos. "Você fala como se fosse fácil. Eu nunca me imaginei casada. Muito menos com alguém que não amo."
"Então, por que você está cedendo?" ele perguntou, me encarando com intensidade.
Essa era a pergunta que eu vinha me fazendo desde que meu pai mencionou a ideia. Por que eu estava cedendo? Por que não lutava mais? Talvez, fosse o peso da responsabilidade. A ideia de decepcionar meu pai e comprometer a escola era algo que eu não sabia se poderia suportar.
"Eu não sei," murmurei, desviando o olhar.
Alexandre ficou em silêncio por um momento, e então falou suavemente: "Você sabe que sempre pode contar comigo, né? Não importa o que aconteça."
"Eu sei, Alex. E isso significa muito para mim."
O resto da tarde passou em um borrão. Falamos sobre tudo, menos sobre o casamento. Alexandre fez questão de me distrair, colocando um filme engraçado na TV e pedindo comida do meu restaurante favorito. Por algumas horas, consegui esquecer o caos que me aguardava.
Mas, no fundo, sabia que não poderia fugir para sempre. O casamento estava marcado, e a cada dia que passava, a realidade se tornava mais impossível de ignorar.
Ainda assim, havia uma chama de esperança. Talvez, de alguma forma, as coisas se resolvessem. E se não resolvessem... Bem, eu ainda tinha Alexandre ao meu lado. E isso já era mais do que suficiente para me dar forças para enfrentar o que viesse.
A sala de reuniões da escola nunca foi tão fria e silenciosa, como se o ambiente soubesse que algo grandioso estava prestes a acontecer. Meu pai me esperava com os braços cruzados e ao seu lado estava ele: o noivo.Até então, eu só havia visto fotos antigas de eventos de caridade em que ele participava ao lado da família. Um cara de aparência comum, roupas sem graça e um sorriso que parecia forçado. Mas, ao entrar naquela sala, algo mudou."Por que eu estou aqui de novo?" perguntei, cruzando os braços."Porque você precisa entender o motivo por trás desse casamento. Por favor, deixe de ser mimada por um instante?" meu pai respondeu, apontando para que eu me sentasse.Sentei com relutância, minhas mãos entrelaçadas no colo, enquanto meu pai suspirava e começava a falar: "Nos últimos anos, o colégio passou por dificuldades financeiras. Estamos cercados de dívidas que quase ninguém sabe, e a família do Gabriel tem nos ajudado a manter tudo em ordem. Esse casamento não é só um acordo com
BeatriceEu tinha decidido que não queria planejar o casamento, mas escolhi as cores... branco e dourado. Talvez porque dourado combinasse com os olhos de Gabriel, aqueles olhos que, de alguma forma, me deixavam mais confusa do que eu já estava. Pedi também que fosse algo mais simples e íntimo, com nossas famílias e amigos mais próximos.Eu estava nervosa e me arrumando no meu antigo quarto. O casamento aconteceria no casarão da minha família. O cheiro familiar do meu quarto com o chão de madeira enceradas, a luz suave que entrava pelas janelas altas... tudo ali parecia congelado no tempo, como se aquele casarão ainda guardasse ecos da minha infância.Não consegui esconder meu nervosismo.Meu coração batia tão rápido que parecia ecoar no silêncio do quarto. Nem os votos eu tinha escrito ainda. Era agoniante. Eu nem queria esse casamento e agora estava aqui, nervosa e pensativa sobre ele.A maquiadora terminou de me maquiar e eu me levantei para me olhar no espelho. Eu estava magnífica.
BeatriceEu segurava o buquê com firmeza, estava me preparando para poder lançar o buquê, caminhando entre os convidados que sorriam e brindavam em celebração ao nosso casamento. As músicas suaves e agitadas eram um contraste meu e de Gabriel. O nervosismo ainda latejava em meu peito, como se algo estivesse prestes a acontecer.Depois de cumprimentar alguns familiares e amigos, meus olhos captaram uma cena que me fez parar. Minha prima inclinada para perto de Gabriel, rindo de algo que ele disse. Sua postura sugere mais do que um simples cumprimento amigável."Você é mesmo muito diferente de como Beatrice te descrevia quando éramos crianças. Ela dizia que você era tímido e atrapalhado, mas agora... bem, agora é difícil tirar os olhos de você" ela disse, deixando a mão repousar por um instante no braço dele. Como essa cachorra tem coragem de fazer uma coisa dessas no dia do meu casamento, eu sabia que ela era piranha, mas porra?Gabriel parecia desconfortável, forçando um sorriso enqua
BeatriceO som das ondas quebrando suavemente na areia era hipnotizante, mas não o suficiente para silenciar a tempestade que se formava na minha mente. O céu azul de Cancún parecia uma pintura viva, o cheiro de sal misturando-se ao perfume de Gabriel, e tudo ao redor deveria parecer perfeito. Era o cenário ideal para uma lua de mel, o lugar onde o nosso amor recente deveria ser celebrado. Gabriel estava ao meu lado, tomando seu whisky com um sorriso tranquilo, apontando para algo distante, compartilhando suas observações com um entusiasmo que, antes, teria me contagiado. Mas agora, algo estava diferente. Minha mente não estava mais aqui, com ele, naquela ilha. Ela estava presa a outro lugar, a outro rosto, Alexandre. Cada palavra que ele dizia soava distante, como se eu estivesse ouvindo do fundo de um túnel. A verdade estava se tornando insuportável. Eu tinha acabado de casar com um homem incrível, que me amava profundamente, e, ainda assim, não conseguia parar de pensar em Alexan
BeatriceO retorno para casa deveria ter sido marcado pela sensação de recomeço, mas, no fundo, meu coração estava inquieto. Assim que chegamos no apartamento de Gabriel, que seria agora o meu novo lar, fiquei apreensiva. O lugar era impecável: um espaço amplo em um bairro de luxo, com janelas altas que ofereciam uma vista deslumbrante das luzes da cidade à noite. Seus móveis eram simples, como se ele não se importasse com a decoração.Abraçando meu roupão, fiquei olhando pela janela enquanto Gabriel tomava banho. Nós estávamos nos preparando para dormir, mas a verdade era que nossa intimidade ainda era superficial. Dormíamos juntos, mas nossos momentos se limitavam a beijos e carícias. Gabriel parecia respeitar meu espaço, mas eu podia sentir que ele esperava mais e em alguns momentos, eu também queria. Minha cabeça estava uma confusão e essa confusão acabava se estendendo para meu relacionamento."Amanhã preciso ir até Alexandre" pens
GabrielO som monótono dos aparelhos médicos preenchia o silêncio do quarto, uma trilha sonora opressiva para a conversa que eu sabia que estava por vir. Meu sogro estava deitado na cama, pálido e visivelmente fragilizado, mas seus olhos ainda carregavam aquela intensidade, mas também uma fragilidade, como se ele estivesse se fazendo de forte naquele momento, talvez fosse dali de onde Beatrice tinha herdado a teimosia e intensidade que só ela podia ter.Parei na entrada do quarto por um instante, ajustando o nó da gravata, como se isso fosse o suficiente para esconder o turbilhão que sentia. Era uma mistura de culpa, por ter me envolvido tão pouco com a saúde dele antes, e de tensão, por saber que Beatrice estava do outro lado daquela porta com Alexandre."Entre, Gabriel," a voz fraca, mas firme, quebrou meus pensamentos. Não tinha percebido que estava ainda parado na porta.Caminhei até a cadeira ao lado da cama e me sentei. Por um momento, nenhuma palavra foi dita. Eu não sabia por o
BeatriceO saguão do hotel era luxuoso, com pisos de mármore brilhante e um lustre grandioso que pendia no centro, lançando reflexos de luz pelo ambiente. Meu coração batia acelerado enquanto eu caminhava até a recepção, tentando manter a compostura. Será que eu perguntava do quarto dele? Ou eu espero no restaurante, enquanto bebo algo? Resolvi que a segunda opção era a mais válida. Eu estava determinada a resolver as coisas com Gabriel, a abrir meu coração pela primeira vez e, quem sabe, começar de novo. Sem Alexandre para nos atrapalhar ou invadir meus pensamentos.Mas o destino parecia ter outros planos para mim.A visão me atingiu como um soco no estômago. Quando cheguei no restaurante do hotel e ia começar a fazer meu pedido e mandar uma mensagem para Gabriel, eu o vi, Gabriel estava sentado em uma das poltronas próximas ao bar e ao seu lado, uma mulher loira deslumbrante, com um vestido vermelho que abraçava cada curva dela de forma impecável. Ela ria de algo que ele havia dito
GabrielO som do gelo batendo no copo de cristal ao lado do meu cotovelo era quase tão irritante quanto os próprios pensamentos que me consumiam. A luz suave do restaurante do hotel iluminava a loira à minha frente – minha irmã, Melissa. Ela mexia no drink com uma expressão meio inquisitiva, meio desapontada. Eu sabia que essa conversa estava longe de ser leve. Era Melissa, afinal. Mas, me sentia confortável de estar conversando com ela sobre, eu não sabia tanto como agir com mulheres."Vai me contar o que está acontecendo, ou vou precisar arrancar à força?" ela perguntou, apoiando o queixo na mão com uma paciência fingida. Seus olhos ácidos não deixavam espaço para fuga.Suspirei, passando a mão pelos cabelos, um gesto quase instintivo quando estava sob pressão. "Não tem muito o que dizer, Mel. Estou dando espaço para Beatrice e talvez para mim também. As coisas entre nós não estão... boas.""Espaço? É isso que você chama de fugir do seu próprio casamento?" Melissa rebateu, a voz afia