─ Melanie, eu sei que você já sabe que fui eu que te deixei naquele convento quando você era uma menina, há nove anos, e sei também que a pessoa que te contou isso não deveria ser levada a sério e que a palavra dela não deveria se sobrepor a minha, pois Karen não é confiável. ─ Acuso vendo que a atingi, pois ela abaixa a cabeça com certa culpa. ─ Mas admito que errei também, pois deveria ser por minha boca que você deveria ter descoberto a verdade e não me eximo dessa culpa.
─ Você deveria ter me falado, Ethan! ─ Acusa.
─ Eu sei disso, meu anjo, e peço perdão por isso também, mas em minha defesa eu não te contei por medo de
MelanieDois anos depois... Jamais pensei que poderia ser tão feliz em toda minha vida, muito menos conseguir realizar todos os sonhos que tive enquanto amargurava dia após dia naquele quarto escuro do convento. Cheguei a cogitar que morreria naquele lugar, velha e amargurada como algumas das freiras que ali viviam. Dois anos se passaram e muita coisa aconteceu comigo desde então. Casei-me com o homem da minha vida, ingressei na faculdade de medicina, além de morar permanentemente em Londres, mas sem nos desfazer da nossa cabana que tem sido nosso refúgio quando estamos estressados e loucos por descanso, como agora. Ethan e eu resolvemos pegar nossas malas e vir para cá, pois como Ethan é diretor do St. George´s Hospital e entre o seu trabalho, as aulas que
Nove anos antes.─ Vem filha, vamos logo! ─ Papai me puxa pela mão com pressa. Há muito barulho de balas cortando o ar, pessoas correndo desesperadas com medo de serem atingidas pelos tiros que ecoam por todo canto.─ Mais rápido, filha! Mais rápido! Precisamos chegar até o Centro Médico o quanto antes. Lá estaremos protegidos e o Ethan poderá te proteger caso eu precise sair para atender algum ferido. Vem, vamos. ─Tento correr o mais rápido que minhas pequenas pernas conseguem, pois só tenho oito anos, mas mesmo assim ainda é insuficiente.Seguimos correndo e correndo, porque o tiroteio é intenso entre a polícia e os homens maus, que papai chama de traficantes. Estou com muito medo, mas eu sei que papai não vai deixar que nada de ruim aconteça comigo, porque ele me protege de tudo, desde que mamãe morreu, no dia em que vim ao mundo.
MELANIEDias atuais...Caminho por entre as árvores e ergo minha cabeça para absorver o calor do sol que queima o pouco de pele amostra que tenho. Fugi do convento com a intenção de vir ao vilarejo brincar um pouco com as crianças que moram na rua e que trabalham na feira do vilarejo, sei que não deveria fazer isso, pois se for pega sei que vou pagar caro por este pequeno deslize, mas apesar disso não resisti ao fato de ter um pouco de liberdade, nem que para isso sofra um castigo severo da madrevóla, é assim que chamo a Madre Superiora.Ao passar por entre as pessoas, que me olham com certa curiosidade, por causa do meu hábito de noviça, noto alguns homens que fazem parte do Cartel que comanda tudo por aqui, me olharem com cobiça, apesar das minhas vestes, e isso me deixa em alerta, pois não gosto da maneira como me acompanham com o olhar
MELANIEA escuridão do ambiente não me permite distinguir quando é dia ou noite. Depois de cinco dias, acho, pois perdi completamente a noção do tempo e do espaço, já não tenho mais forças para chorar ou clamar misericórdia, não quando tudo o que tenho como resposta é o silêncio e indiferença.Muitas vezes cheguei a pensar que Deus se esqueceu de mim no momento em que fui abandonada a própria sorte, sem pai, sem mãe e nenhum outro parente vivo na terra e ainda para piorar tudo fui largada nesse inferno de convento sem perspectiva de vida ou de um futuro. Dói tanto essa solidão que ás vezes chego a pensar que teria sido melhor que tivessem me deixado para viver nas ruas, como os meninos que trabalham na feira, eles são livres para ir e vir quando quiserem e bem ou mal têm uns aos outros para contar, como se fos
ETHAN─ Droga! ─ Esmurro a parede a minha frente assim que saio da sala de emergência.Não aguento mais perder vidas para as malditas drogas. Este paciente que acaba de falecer foi o terceiro esta semana que morreu em minhas mãos por overdose e eu não pude praticamente fazer nada, pois ele chegou já em estado terminal.Ando pelo corredor até chegar à saída querendo respirar um pouco. Quando alcanço o lado de fora solto todo o ar guardado dentro dos pulmões e passo as mãos freneticamente pelos cabelos soltos. Olho para frente e me deparo com um par de olhos amarelados assustados me de volta e nesse momento o mundo para, uma brisa forte balança meus cabelos, mas não ouso me mover, porque um sentimento forte toma conta de mim, não sei que tipo de sentimento é, mas não ouso me mover.Não faço idéia de quanto temp
MELANIEPassadas algumas semanas após ter saído do castigo no quarto escuro, e já recuperada, caminho por entre as pessoas do vilarejo, ao lado da irmã Consuelo. Nós estamos indo até o mercado fazer a encomenda dos mantimentos para o convento e já que sou sua ajudante tive que acompanhá-la, pois algumas coisas levamos agora mesmo.Ao passar em frente ao Centro Médico, meu coração tem um solavanco e parece que vai sair pela boca, porque imediatamente me recordo da última vez em que andei por este mesmo caminho e que me deparei com o homem mais bonito que já vi em toda minha vida. Não consigo desgrudar os olhos do prédio todo branco o corpo tenso e ansioso ao mesmo tempo, querendo vislumbrar ao menos o rosto do homem só mais uma vez. Seguimos caladas e quando estamos quase próximas ao prédio um carro vem e estaciona ao lado do pr&
ETHANA estrada parece mais longa hoje do que o habitual. Constato, porém sabendo que essa fadiga e impaciência é devido ao cansaço por causa do longo plantão que tive no Centro Médico.Passo uma mão pelo rosto para espantar o sono que quer me dominar. Apesar de estar dirigindo devagar pela estrada resolvo parar um pouco, mesmo estando a alguns minutos da minha cabana. Sei que deveria ter parado para tomar um café antes de ir para casa, mas o desejo de chegar logo no meu paraíso particular foi mais forte que qualquer coisa.Paro o jipe no acostamento e passo mais uma vez as mãos pelo rosto tentando despertar quando de repente um som estranho corta o silêncio. É algo parecido com um gemido de dor. Olho ao redor para ver se há algum animal ferido por perto, mas não vejo nada, então decido sair do carro a fim de procurar melhor apesar de saber que
MELANIE─ Nãaoooo! Por favor! ─ Um medo atroz toma conta de mim com a possibilidade de ser pega por aqueles homens novamente ou ter de voltar para o convento. Ambas as possibilidades me aterrorizam. ─ Não me mande embora ou avise para alguém que estou aqui. Po...por favor! ─ Não aguento a pressão e caio em prantos.Ainda é muito difícil para mim entender por que aqueles homens quiseram me sequestrar, mas mais difícil é entender como é que vim parar justamente na casa do homem que me deixa nervosa e com o coração aos pulos dentro do peito só de olhar para ele.Quando acordei e o vi cheguei a cogitar a possibilidade de estar em um sonho, pois sentir suas mãos grandes acariciando meu rosto e ainda por cima ter seu rosto e seus olhos sobre mim, assim tão de perto foi à sensação mais maravilhosa do mundo!Tê-lo t&