ETHAN
A estrada parece mais longa hoje do que o habitual. Constato, porém sabendo que essa fadiga e impaciência é devido ao cansaço por causa do longo plantão que tive no Centro Médico.
Passo uma mão pelo rosto para espantar o sono que quer me dominar. Apesar de estar dirigindo devagar pela estrada resolvo parar um pouco, mesmo estando a alguns minutos da minha cabana. Sei que deveria ter parado para tomar um café antes de ir para casa, mas o desejo de chegar logo no meu paraíso particular foi mais forte que qualquer coisa.
Paro o jipe no acostamento e passo mais uma vez as mãos pelo rosto tentando despertar quando de repente um som estranho corta o silêncio. É algo parecido com um gemido de dor. Olho ao redor para ver se há algum animal ferido por perto, mas não vejo nada, então decido sair do carro a fim de procurar melhor apesar de saber que estou me ariscando muito, pois o gemido pode ser algum animal perigoso.
Caminho um pouco a frente do carro, olhando para todos os lados, sem conseguir identificar nada, porém andando um pouco mais a frente ouço outro gemido e é então que consigo enxergar um pé sobre um monte de folhas secas. Apresso-me e corro até a pessoa caída no meio do mato e coberta de folhas.
Ao chegar lá, ajoelho-me ao lado do corpo e vou tirando as folhas de cima da pessoa e aí que meu espanto é enorme ao identificar a freira que vi ontem, a filha do meu amigo Dr. Evans, Melanie. Ela está quase inconsciente, com muito sangue por toda sua roupa. Fico de pé e pego-a, sem muito esforço, nos braços levando-a até meu carro.
─ Aguenta firme. Já já estaremos no Centro Médico e você ficará boa. ─ Sussurro para que ela consiga me ouvir e não desista de lutar.
─ Não! Hospital não, por favor. ─ Ela consegue dizer em um sopro, mas devido ao esforço, desmaia.
Não sei o que faço agora, pois se não a levar até o Centro Médico ela poderá morrer, porque perdeu muito sangue. Mas em contrapartida ao ouvir que a levaria para o hospital ela entrou em pânico se debatendo, com o pouco de força que ainda lhe restava.
Coloco-a sobre o banco do passageiro e após sentar no banco do motorista, observo seu rosto pálido e a quantidade gigantesca de sangue sobre sua roupa de freira, decido levá-la para minha cabana, pois sei que lá poderei cuidar dela, não com os recursos, que com certeza teria no Centro Médico, mas no momento o mais importante é tentar salvá-la. Com este pensamento na cabeça ligo o carro e dou partida em alta velocidade para tentar chegar o mais rápido possível ao meu lar.
Alguns minutos depois estaciono bruscamente em frente à cabana, desço rapidamente e circulo o jipe para pegá-la nos braços do outro lado do carro. Com ela em meu colo, abro a porta e imediatamente sigo até meu quarto, depositando-a sobre a cama. Volto até o carro novamente para pegar minha maleta e com ela em mãos chego ao quarto preparado para fazer de tudo para salvar a menina.
Lavo as mãos rapidamente e volto ao quarto, abro a maleta e pego uma tesoura para cortar a roupa que cobre seu ferimento, pois preciso ver a gravidade do ferimento para ter uma dimensão do estrago. Após livrar seu corpo da vestimenta, examino-a e percebo que ela foi ferida de raspão no ombro direito e pelo formato do ferimento constato que foi uma bala que a atingiu. O que me deixa bastante intrigado, mas sem tempo para remoer o assunto decido questioná-la quando ela despertar.
Começo a limpar a ferida para depois esterilizar o local, em seguida dou alguns pontos, após concluir a sutura faço um curativo. Cubro seu corpo e sento-me na poltrona ao lado da cama observando seu sono e ainda intrigado pelo fato de saber que ela tenha sido baleada, além do fato de encontrá-la desmaiada no meio da floresta. Então um pensamento aterrorizante me passa pela cabeça. Como eu a encontrei logo cedo desacordada no acostamento da estrada com toda certeza ela deve ter estado naquele local desde o dia anterior.
─ Porra! Ela poderia ter sido devorada por algum animal selvagem. ─ Passo as mãos freneticamente pelo rosto e cabelo.
Decidido a não pensar mais, levanto-me e vou até o banheiro tomar uma ducha. Cogitei a ideia de ir até a cachoeira nadar um pouco para tirar o estresse, mas na mesma hora desisti, pois não é bom deixar a menina sozinha na situação em que se encontra. Entro no banheiro, retiro toda a roupa e me enfio debaixo do jato de água quente.
Após o banho vou de toalha até o guarda roupa, pego uma calça de moletom e uma regata branca, mas ao fazer o caminho de volta para o banheiro a fim de me trocar, paro e observo a garota sobre minha cama, ainda dormindo. Meus olhos pousam sobre o rosto angelical, a pele morena imaculada.
─ Meu anjo de olhos amarelos. ─ Sussurro sem me dar conta. Porra! Que droga está acontecendo comigo. Ela não é minha coisa nenhuma, nem muito menos eu deveria estar tendo esse tipo de pensamento com relação a ela.
─ Ela é só uma menina. Droga! ─ Passo as mãos pelos cabelos molhados e entro rapidamente no banheiro.
Já vestido saio apressadamente do quarto e vou em direção a cozinha preparar algo para comer. Decido preparar ovos, torrada e café, pois é rápido e não terá perigo da minha hospede não gostar.
Assim que termino de preparar o alimento, coloco uma porção dos ovos em um prato, encho uma caneca com café fresco e um copo com suco de laranja, que tinha na geladeira, ponho umas torradas no prato junto com os ovos e organizo tudo em uma bandeja que levo para o quarto, deixando-a na mesinha de cabeceira ao lado da cama, pois assim que ela acordar, com certeza estará com fome. Observo seu rosto sereno ainda dormindo e me obrigo a sair imediatamente do quarto para não mais pensar o que não devo.
Sento-me para comer, mas parece que meu apetite se foi depois de tudo o que aconteceu agora pela manhã. Observando a floresta pela janela da cozinha fico completamente perdido em pensamentos, mais especificamente sobre o que aconteceu com a menina que dorme sobre a minha cama nesse exato momento.
Passo as mãos pelo rosto agoniado.
Parece que o passado está batendo em minha porta e cobrando seu preço. Ele está me cobrando por ter deixado uma criança de apenas oito anos de idade a própria sorte. Apesar de ter noção de que supri as suas necessidades financeiras, o que não me traz alivio nenhum para o sentimento de culpa que carrego dentro do peito.
─ Socorroooooo! Nãooooo! ─ Um grito doído corta o silêncio e meus devaneios. Saio correndo em direção ao quarto e ao entrar no ambiente me deparo com a menina se debatendo e suando muito sob os lençóis que usei para lhe cobrir.
─ Calma. Calma. Foi só um pesadelo, você está segura agora. ─ Tento acalmá-la da melhor maneira possível.
─ E... eu... eles vão me pegar... nãooo ─ Ela continua se debatendo em seu sono agitado, então sento-me ao seu lado a cama tentando fazê-la se acalmar, pois está muito agitada e poderá fazer com que os pontos abram.
─ Xiu, meu anjo! Ninguém te fará nenhum mal, eu não deixarei. ─ Quando dou por mim estou sentado na cama acariciando seu rosto, próximo demais dela.
É então que ela abre os olhos e os foca em mim. Prendo o ar com a intensidade do seu olhar, meu coração dá um solavanco no peito depois dispara freneticamente me fazendo parar o que estava fazendo e apenas olhá-la sem conseguir quebrar a magia do momento. É como se o universo parasse para que eu apenas pudesse absorver todo o calor do seu olhar.
Mas de repente me dou conta de quem eu sou e de quem ela é, então levanto-me para colocar o maior espaço possível entre nós. Percebo que ela fica um pouco confusa, olha ao redor, depois focaliza em mim novamente para só então questionar.
─ Onde estou? Como vim para aqui? ─ Seus olhos se expandem de repente, como se ela tivesse lembrado algo e percebo sua agitação e nervosismo. Com certeza ela se recordou do momento em que foi baleada.
─ Fique calma, está segura agora. Você está em minha casa e eu sou Dr. Ethan Colins, médico responsável pelo Centro Médico do vilarejo de El Camino. ─ Explico para que ela consiga se sentir segura. ─ Eu a encontrei desmaiada no acostamento da estrada perto daqui e a trouxe para minha casa, tratei do seu ferimento à bala e a mediquei. Tentei levá-la até o Centro médico, mas você ficou em pânico com a possibilidade, por isso a trouxe para minha casa. Mas se achar melhor posso levá-la para lá ou entrar em contato com alguém do convento para vir buscá-la. ─ Concluo e vejo pânico surgir em seu semblante assim que termino de falar.
MELANIE─ Nãaoooo! Por favor! ─ Um medo atroz toma conta de mim com a possibilidade de ser pega por aqueles homens novamente ou ter de voltar para o convento. Ambas as possibilidades me aterrorizam. ─ Não me mande embora ou avise para alguém que estou aqui. Po...por favor! ─ Não aguento a pressão e caio em prantos.Ainda é muito difícil para mim entender por que aqueles homens quiseram me sequestrar, mas mais difícil é entender como é que vim parar justamente na casa do homem que me deixa nervosa e com o coração aos pulos dentro do peito só de olhar para ele.Quando acordei e o vi cheguei a cogitar a possibilidade de estar em um sonho, pois sentir suas mãos grandes acariciando meu rosto e ainda por cima ter seu rosto e seus olhos sobre mim, assim tão de perto foi à sensação mais maravilhosa do mundo!Tê-lo t&
ETHAN─ Deus! O que está acontecendo comigo? ─ Ainda encostado na porta, após sair do quarto como se mil demônios me perseguissem, passo a mão pelo cabelo tentando compreender e entender o que está acontecendo comigo, pois ao entrar naquele banheiro e vê-la nua, a própria imagem da pureza virginal, eu deveria ter saído imediatamente, mas ao contrário do que deveria ter feito, fiquei lá parado, encantado com tanta beleza, porque sem sombra de dúvidas o que acabo de ver é a imagem da mais sublime perfeição e eu não consegui me mexer, apenas admirá-la. Porém quando me dei conta da situação, consegui agir sensatamente e sair de lá.Como pode aquela menina mexer tanto assim comigo? Como? Porra! Sou um homem feito e já estive com mais mulheres do que possa contar e de repente uma menina, que eu tenho por obriga&cced
MELANIEUma semana depois...É difícil entender como as coisas acontecem em nossas vidas... O que poderia ser a pior tragédia da minha vida acaba se transformando em algo bom, algo libertador e que acabou reavivando em mim a tão esquecida sensação que é ter um lar. Sei que não posso me acostumar com este lugar que para mim mais parece com um paraíso, apesar de não ter me aventurado muito pelos arredores da propriedade, mas o que pude observar já me deixou bastante impressionada e louca para desbravar tudo.Com o passar dos dias, após ter quase sucumbido à tentação e implorado ao Dr. Collins que me beijasse, ele praticamente ignorou minha presença, aparecendo apenas para me examinar e depois partindo em seguida, sem contato, conversa ou qualquer tipo de proximidade. Confesso que a atraçã
ETHANSubo os degraus da escada de dois em dois com a intenção de chegar o mais rápido possível em meu quarto, que fica no andar de cima. para pegar a carteira e a chaves do jipe.Com os objetos em mãos passo pela sala e saio chegando rápido ao carro, entro e imediatamente dou a partida no veículo logo em seguida ainda me questionando de como fui capaz de beijá-la.Como?─ Cara ela é uma criança, porra! Seu pervertido de merda! ─ Irritado esmurro o volante com raiva. Raiva de mim por não conseguir me controlar e frear o desejo devastador que me atingiu, assim que seu corpo macio colidiu com o meu naquela cozinha. Mas com mais raiva ainda por ostentar uma maldita ereção até agora e que me faz querer dar a volta e continuar de onde paramos.─ Eu tenho que dar um jeito nisso logo, antes que caia em tentação e a tome para mim
ETHANAbro os olhos, mas fecho-os na mesma hora, pois a claridade do ambiente fere minhas retinas. Passados alguns segundos tentando me acostumar à claridade do ambiente e com uma dor de cabeça poderosa, tento mais uma vez abrir os olhos, dessa vez com sucesso, na mesma hora percebo que há uma pessoa na cama ao meu lado. Vejo uma mulher loira completamente nua adormecida, então flashes da noite anterior pipocam em minha mente. Lembro de tê-la trazido para meu quarto, após ter bebido horrores no bar e ficar completamente embriagado. Recordo também de ter transado com ela, sem querer realmente estar com qualquer outra mulher que não fosse a Melanie, mas obrigando-me a ir até o final para tentar tirar seu gosto e cheiro impregnados em mim. Confesso que só fui até o final por que queria provar a mim mesmo que a menina não tinha poder sobre mim e minhas vontades, porém tenho
MELANIEO canto dos pássaros próximo a janela do quarto faz com que eu desperte. Abro os olhos lentamente, um pouco desnorteada e com o corpo dolorido. Acho estranho o ambiente em que estou, porém depois de olhar ao redor consigo identificar o quarto de Ethan e o motivo de estar aqui.─ Está se sentindo melhor? ─ Uma voz grave me faz olhar para o lado e meu coração acelera rapidamente ao ver Ethan sentado na poltrona ao lado da cama, com uma expressão cansada no rosto e uma postura rígida.─ E... estou.─ Ótimo. Agora me conte o que aconteceu com você. ─ Seu semblante está fechado, com uma carranca enorme ao pronunciar as palavras o que me deixa sem entender o motivo de sua raiva já que foi ele que sumiu por uma noite inteirinha me deixando aqui sozinha.─ Não sei a que se refere. Nada aconteceu. ─ Esquivo-me de sua pergunta e viro o rosto par
Ethan Chego em casa bastante cansado do dia puxado de trabalho, mas apesar disso uma alegria e vivacidade toma conta de mim assim que desço do carro e entro na cabana, pois sei que vou encontrá-la: meu anjo, minha menina. Ela tem sido minha alegria e a razão por estar em um estado constante de felicidade, o que tem chamado bastante atenção de todos que trabalham comigo no Centro Médico, pois sempre fui mais reservado, calado e até um pouco ranzinza. Quando entro em casa meu sorriso morre na mesma hora, porque não sinto seu aroma, nem recebo sua resposta em troca quando chamo por ela, fazendo com que a preocupação ocupe o lugar da alegria que me contagiava há alguns minutos pela simples expectativa de vê-la novamente. Procuro por todos os cômodos da
Melanie ─ Você é minha! ─ Essas três palavrinhas sussurradas ao pé do ouvido quando tenho ele assim bem dentro de mim, mesmo que a dor que sinto agora seja insuportável, não foi suficiente para apagar o significado delas na minha mente. Fecho os olhos com força e sinto lágrimas escorrerem por minhas bochechas por causa da dor. ─ Abra os olhos para mim, bebê. ─ Ordena. Faço como pedido e me deparo com sua visão que tira meu fôlego. Ainda é surreal tudo o que está acontecendo aqui nesse esconderijo particular feito pela água da cachoeira que nos cobre com suas águas límpidas.