Capítulo 2

M I A

O restante da festa corre tranquilamente. Ella convoca Giuliana para se aproximar da mesa dos doces, a adolescente faz o que a mãe diz. Ela fica de frente para o bolo decorado de acordo com o tema da festa, Giuliana abre um sorriso tímido quando começamos todos a cantar o parabéns.

A primeira pessoa na fila para os presentes e os abraços sou eu. Giuliana me sorri quando me vê com os braços estendidos em sua direção e uma sacola de presente em um deles. Ela recebe o presente e deixa sob mesa.

— Feliz aniversário, minha princesa! – Digo após puxá-la para um abraço. — Parabéns pelos teus 16 anos. É uma idade e tanto.

— Obrigada, tia Mia. – Ela diz quando nos separamos. — Por pouco pensei que não virias.

— A minha chefe bruxa-lagarta quase tentou me prender, mas felizmente consegui escapar.

Giuliana franze o cenho e me encara confusa. Mas no final acaba por rir, me afasto dela graças aos incentivos que recebo dos demais convidados que estão atrás de mim; Vou diretamente a minha mesa, onde estou sentada com Ella, Giancarlo e outras pessoas que não conheço assim tão bem.

A música escolhida é calma e baixa, para não incomodar ou assustar o bebezinho presente. Afinal esta é uma casa com um bebé com menos de um mês de vida. Converso com as mulheres que estão ao meu lado, falamos sobre assuntos banais e outras coisas.

A noite está tão linda, uma luz não muito forte se faz presente no jardim. A festa está tão calminha, mas ainda assim é possível observar algumas pessoas na pista de dança, umas nas mesas dos doces, as crianças brincam no playground instalado exatamente para esse dia.

Adoro tanto esse clima de festa, toda essa energia que os convidados todos felizes me transmitem; Se eu pudesse escolher a minha profissão, se tivesse tido capital, eu seria uma decoradora de eventos. Festas e sua organização a minha paixão. Mas como nada na vida é como nós queremos, aqui estou eu num emprego apenas porque dependo do salário.

São vinte e duas horas quando a festa está parcialmente vazia, a maioria dos convidados já se foi, estamos apenas nós os de casa. Arrumamos coisas básicas e deixamos tudo guardado em na garagem. Grazi depois de muito relutar enfim foi se deitar, mas Giuliana relutou ao sono está na sala connosco.

Faz um pouquinho de frio então troquei o meu vestido maravilhoso pela minha camisete branca e meus shorts, estou de meias pois não existe coisa pior do que sentir os pés congelados. Na televisão passa um filme clássico de romance, apesar de estarmos entretidos na conversa consigo acompanhar um pouquinho do filme.

A história é triste, é um romance entre um criado e uma dama filha de aristocratas. Mas no desenvolvimento da trama, é lindo ver como o amor vence todos limites e barreiras impostas pela sociedade. É uma pena que histórias de amor verdadeiro se restrinja apenas na ficção, porque na vida real as coisas são bem mais sérias e cruéis.

— Já pensaste em curso queres fazer quando ingressares no ensino superior? Por que é daqui a nada. – Questiono, apenas para receber a atenção de ambas.

— Não sei... – Giuliana balbucia, desvia o olhar para encarar as próprias unhas. — Confesso que ainda estou indecisa.

— Eu acho que deverias te basear nas disciplinas que és mais forte. – Ella comenta, após mergulhar a mão na tigela de pipocas e levar à boca.

— Eu sou boa em matemática. Gosto mais disso... Estou indecisa entre administração, economia, contabilidade e gestão.

— Pensa em qual dos cursos mais te identificas. – Aconselho.

— Ainda tens alguns meses para pensar a respeito. Pensa naquela profissão que te faria feliz e realizada, saiba que qualquer que seja a tua decisão, eu estou aqui para te apoiar. – Ella toca nos ombros da filha, ao dizer.

Giuliana olha de mim para a mãe e dá de ombros. Eu parcialmente acho um pouco bizarra a história da minha amiga, ela foi contratada pela irmã gémea para lhe substituir por um ano na sua vida, mas durante a sua convivência ela e Giancarlo se apaixonaram. Foi uma confusão quando Giancarlo descobriu tudo.

Fiorella e Mirella não sabiam que eram irmãs gémeas, elas só descobriram alguns meses atrás. No entanto Giancarlo e Mirella se separaram, ele e Ella se casaram. As meninas lidaram bem com essa coisa do pai se casar com a tia delas, e nenhuma delas vê problema em chamar Ella de mãe. Elas até brincam que tem duas mães.

As vezes olho ao meu redor vejo quase todas as minhas colegas, vizinhas, a maioria das mulheres já estão quase todas casadas e com filhos, todas ao meu redor parecem tão felizes e realizadas. Na vizinhança percorrem rumores de que é provável que eu vá ficar para a titia, que eu serei uma solteirona ou que talvez eu seja lésbica. 

As vezes olho para as tantas pessoas ao meu redor, vejo sempre pessoas tão felizes e com suas famílias, é impossível não sentir essa pontada de dor que atinge o meu coração sempre que me dou conta o quão solitária eu sou. Não que eu precise de um homem para alcançar a felicidade, sou perfeitamente capaz de ser sozinha.

Mas as vezes olho para mim mesma e me dou conta que provavelmente não serei mãe, tal como é o meu sonho, pois o tempo está a passar e com ele o meu relógio biológico. Isso me magoa tanto, mas de todo modo estou melhor assim. Sem amor, sem desgaste emocional, sem stress, apenas eu e minha calmaria sem fim.

— Mãe, tia Mia, eu já vou dormir. Estou muitíssimo cansada e o dia de hoje foi bem longo. – Giuliana declara,   quando o filme enfim acaba e sobem os créditos finais.

— Está bem, querida. Bom descanso e bons sonhos! – Ella diz, ela e Giu trocam um abraço.

— Dorme bem, boneca. Descansa que o dia foi mesmo longo.

Giuliana nos deixa sem nem relutar, observamos ela subir as escadas e desaparecer quando chega lá em cima. Ella e eu trocamos um olhar, eu deixo escapar um suspiro quando coloco minha mão na tigela e lhe encontro vazia. Me encosto ao ombro dela, enquanto ela me envolve em um meio abraço.

— Valeu à pena? – É minha questão, me afasto um pouco para olhar minha melhor amiga, que por sua vez tem um olhar confuso. — Valeu à pena dares uma segunda chance para o amor?

— Queres que eu seja sincera? – Ela devolve com outra questão, apenas consinto sem muita vontade de falar. — Valeu muito à pena, tudo isso me faz sentir muito feliz e realizada. Meus filhos, Gian e esse amor que nós construímos juntos. Estás apaixonada?

— Claro que não, Ella!

A ideia é tão absurda que me causa uma onda de riso, mas tenho de me controlar pois já é tarde e tem pessoas a dormir. Sinto minha barriga doer, limpo as lágrimas que escapam e estou um tanto ofegante.

— Eu só perguntei por perguntar. Curiosidade apenas, não estou apaixonada e cruzes, bata na madeira, desse mal não irei padecer novamente.

Ela me olha sem acreditar, mas nada diz. Depois de algum tempo enquanto conversamos sobre assuntos banais, nos despedimos e ambas vamos dormir; Meu quarto é tão amplo, minha cama é tão macia, o clima um pouco mais acima da temperatura que faz lá fora. Inverno e eu não nos damos bem.

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Afasto os lençóis de mim e deixo a cama. Estou um tanto inquieta, tenho ignorado a fome insana que sinto por muito tempo, vim dormir com fome a pensar que não queria assaltar a cozinha e poderia fazê-lo mais cedo. Mas infelizmente minha fome não cedeu e eis me aqui a conferir as horas no meu telemóvel.

Descubro que são quatro da madrugada e trinta minutos, por sorte ainda continuo de meias, então não é nenhum esforço deslizar da minha cama. Nem me preocupo em vestir algo por cima, pois já estou vestida com meus shorts e minha camisete.

Calço os meus chinelos. Não é nenhum esforço quando deixo o quando deixo a cama, primeiro abro a porta do quarto e espio sem de facto deixar o quarto, a casa está mergulhada no mais profundo silêncio e não existe ninguém no corredor. Deixo o quarto e ando com cuidado para não acordar ninguém.

Meus sentidos estão em alerta, olho tudo e escuto tudo com muita atenção, contudo o que vejo é a luz da lua que se reflete nas janelas e escuto o uivar o vento. Respiro aliviada quando enfim chego na cozinha, lavo as minhas mãos e vou direto para a geleira onde encontro sobras do bolo e outras coisas.

Escuto passos no momento em que me sento para comer. Meu coração acelera de imediato, minha mente cria milhares de cenários dignos de um filme de terror. Será que entrou algum bandido ou algo assim? Será que aconteceu alguma coisa com os seguranças lá fora?

Fecho os meus olhos enquanto rezo internamente, para que não seja nada, que seja tudo fruto da minha mente. Aperto os olhos enquanto rezo com fervor, meu coração emite batidas tão frenéticas e rápidas que sou capaz de ouvir o descompassar nos meus ouvidos.

Sou capaz de ouvir quando os passos eventualmente apressados cessam, sinto a presença de mais alguém e quase morro do coração. Oh, céus, eu tende piedade de mim. Piedade, piedade! Movida por uma coragem, abro um dos meus olhos com o coração na mão e em seguida abro outro.

Luís está parado diante de mim, ele me encara como se tivesse nascido uma segunda cabeça sob meu pescoço. Nossos olhares se encontram, meu coração descompassa e então sinto o alívio percorrer cada parte do meu corpo. Mas isso dura meros instantes, pois uma o riso dele preenche o ambiente, me irritando ao máximo.

Por que ele tem sempre de me encontrar em situações mais constrangedoras?

— Não tem graça, quase me mataste do coração! – Exclamo, levando a mão ao meu peito com a intenção de acalmar as batidas.

— Estavas a passar mal? Estavas com uma cara muito engraçada. – Ele questiona após parar de rir.

Os olhos castanhos estacionam nos meus, por um tempo indeterminado ele me encara, meu coração não parece compreender que deve se acalmar, pois o perigo passou. Mas como eventualmente nada disso acontece, apenas balanço a cabeça em negação e deixo a cozinha; Pois eu realmente preciso me recuperar.

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