M I A
- Eu te conheço de algum lugar. - Constato, após ter me sentado no banco da frente. Bem ao lado do estranho da Ella.
Eu realmente tenho a leve sensação de conhecê-lo de algum lugar, por mais que tente forçar a mente para tentar lembrar... Mas nada. Com minha curta capacidade de guardar caras na mente, fica difícil lembrar.
O estranho me encara, a diversão é palpável em nos olhos castanhos. Ao mesmo passo que um sorriso cínico desenha-se pela face dele, num primeiro instante sinto-me irritada e intrigada.
- Hmm... Vejamos... - Ele balbucia, desvia o olhar para a estrada que surge diante de nós. - Talvez porque sou o motorista dos D'Angelo ?
Crispo a testa, um tanto confusa pois ele não se parece nem de longe com um motorista. Ele é tão descontraído e não tem aquele ar de cordialidade que os motoristas aparentam ter. Sinto que não o conheço através disso e sim de um episódio além... Mas como não consigo lembrar, acho melhor deixar para lá.
- Sei lá eu... - Balbucio, desviando o meu olhar para a minha janela, onde posso encarar a paisagem de Veneza numa linda tarde. - A festa começou há muito tempo?
- Não, só há uma hora atrás.
- Hmmm... Então não perdi muito. - Digo, antes de retirar o meu telemóvel de dentro da minha bolsa e conferir o horário. - Tu não pareces com um motorista. É sério, não tens aquela postura de motoristas e tão pouco te comportas como um.
Pelo vidro imenso consigo ver quando um carro para bem na frente deste, o estranho encosta o carro na lateral da rua para que o outro carro passe, então ele me brinda com o seu olhar e quase faz meu coração parar aqui no meu peito; Os olhos castanhos me encaram com diversão palpável e então ele ri.
- E qual é essa postura de motoristas? - Ele questiona, a diversão ainda palpável nos seus olhos. - Porque eu não sabia que existia uma.
- Sei lá eu... Os motoristas, ao menos os pessoais, costumam ser todos sérios e bem calados. E tu no entanto não és como os restantes. És muito relaxado para ser um.
- Isto é porque eu sou diferente. Nem tudo tem de ser igual ou seguir o mesmo padrão, ou mundo seria uma seca.
- Hmm... Pois é.
Do meu trabalho para a mansão dos D'Angelo são uns vinte minutos indo de carro, as ruas tranquilas e sem muita movimentação em uma linda tarde então chegamos em quinze minutos mesmo. Guardo o meu telemóvel na minha bolsa assim que o homem estaciona em frente ao portão da casa da minha amiga.
É possível ouvir a música razoável a ecoar pela casa ainda do imenso portão, os guardas abrem a porta e não se demoram a abrir o portão eletrônico. O estranho nos conduz até à garagem, mas no entanto não me atenho aos detalhes pois estou demasiado interessada na festa que decorre pela casa.
Desafivelo o cinto mal me contendo de tamanha animação. Confiro o meu cabelo através do espelho retrovisor, e resolvo fazer um rabo de cavalo bem firme, meu batom está no ponto e meus cílios também; Sinto-me feliz por não precisar de mais uma camada de rímel.
Abro a porta do carro, pronta para descer mas um aperto suave no meu braço me impede. Olho para o estranho por cima do meu ombro, ele no entanto já desligou o carro e retirou a chave da ignição.
- Meu nome é Luís. Podes me chamar assim e não de estranho como aposto que deves estar a me chamar. - Ele declara, me deixando surpresa e assustada com a possibilidade de ele ler mentes.
- Está bem, Luís. - Sorrio para ele, puxo meu braço do seu domínio. - Obrigada por teres ido me buscar.
- Nada por isso. Agradece a Fiorella, a ideia foi dela.
- Está bem... - Balbucio, inquieta. - Então... Obrigada e nos vemos por aí.
Sem mais delongas desço do carro, aceno uma última vez para Luís e vou caminhando logo para a casa. Onde encontro alguns funcionários conhecidos na casa e cumprimento, vou diretamente ao quarto de hóspedes que sempre ocupo quando venho e deixo minha bolsa.
- Tia Miaaaaa! - Grazie, minha sobrinha diz quando vê no corredor. A loirinha corre animada e me abraça pela cintura.
- Oi, bonequinha da tia. - Digo, antes de abraçar Grazie de volta. - Como estás?
- Eu estou bem. E tu, tia Mia? - Ela devolve com um doce sorriso.
- Agora eu estou bem, acreditas que por pouco eu não viria a festa da Giuliana?
Grazie nega, ela me abraça pela cintura e juntas vamos em direção a parte exterior da casa enquanto ela vai me contado das novidades; Grazie está linda dentro de um vestido lilás, os cachinhos loiros caiem suavemente ao redor da face e ele dão o aspecto de uma boneca.
O ar fresco da tarde me recebe assim que chegamos no jardim, me surpreendo de imediato assim que noto a decoração presente. Está tudo exatamente como Ella, Giuliana e eu planejamos. Cores harmônicas como azul, preto e prata se destacam nos balões, nas mesas e o restante da decoração.
Sorrio ao ver Giuliana sorridente numa mesa e rodeada de seus amigos adolescentes. Vejo Ella debruçada num um carrinho sob de a sombra de uma árvore, ela sorri enquanto fala qualquer coisa para o bebé... Eu me pergunto se a maternidade enlouquece as pessoas, pois desde que Enzo nasceu minha amiga está sempre com o sorriso na cara.
Não duvido nada que ela durma e acorde com esse sorriso orgulhoso na cara, de certeza que cuidar de um recém-nascido deve ser uma das coisas mais fáceis e prazerosas. Enzo Gabriel nasceu há duas semanas e desde então só tenho visto todos extremamente sorridentes: desde o Giancarlo, Ella, Giuliana e até a Grazie.
- Oi, mãe do ano! - Saúdo em baixo tom, no entanto o suficiente para que minha amiga ouça.
Ella se vira para mim com um sorriso de orelha à orelha. Aposto que a maternidade tem efeito tranquilizante e alegre na vida das mulheres. Para Ella estar sempre sorridente assim, a maternidade deve ser as mil maravilhas.
- Olá, madrinha do ano. - Ela devolve o cumprimento, e puxa logo em seguida onde trocamos um rápido abraço. - Estás linda! Digna de uma uma atriz do Hollywood.
- Obrigada. Tu também estás muito bonita com esse vestido.
- Obrigada! Por falar nisso, tu estás diferente. Estás um pouco corada. O que aconteceu?
- Corada eu? Impressão tua. Nada aconteceu.
Meu coração ainda está aos saltos, estou um tanto confusa sobre as minhas reações no carro com Luís, afinal não é nem um pouco estranho passar uns quinze minutos sozinha com um homem, ainda mais um homem muito bonito. Estranhas realmente foram as minhas reações; o modo como meu coração reagia a cada ao som da sua voz, como o frio no meu estômago se intensificava a cada olhar que ele me dava.
Se calhar as reações que eu tive com aquele estranho Luís, não tenha sido nada pessoal. Talvez foi por eu estar demasiado carente e desolada na loja... Uhm, isso, Mia! Não foi nada pessoal. Nada! Deve ter sido a minha desolação que me levou a ter reações tão estranhas perto do Luís.
- Não aconteceu nada de mais... - Reforço, mediante ao olhar desconfiado da minha melhor amiga.
Ela apenas dá de ombros e eu aproveito a deixa para me inclinar no carrinho e trazer o bebezinho para os meus braços. Os olhinhos azuis estão abertos, no entanto ele não me dá um olhar sequer. Enzo está tão fofinho dentro body branco, um gorrinho azul e meias da mesma cor. Ele é tão calmo e fofo que quase me dá vontade de ter um bebé também.
- Oi, fofucho da madrinha. - Sussurro, na esperança de ter um pouquinho da sua atenção, mas eventualmente isso não acontece me contento em beijar o seu narizinho. - Estás muito lindo hoje, madrinha já te disse isso?
Aconhego meu afilhado nos meus braços, mas não sem antes colocar uma mantinha ao redor do seu corpinho. Uns instantes após Giancarlo chega e me cumprimenta, logo após dá um beijo na esposa. Ella e Giancarlo parecem tão felizes juntos, tão apaixonados que quase me fazem cobiçá-los; Mas como o amor realmente não é para mim, eu nem me atrevo a sonhar com nada disso...
M I A O restante da festa corre tranquilamente. Ella convoca Giuliana para se aproximar da mesa dos doces, a adolescente faz o que a mãe diz. Ela fica de frente para o bolo decorado de acordo com o tema da festa, Giuliana abre um sorriso tímido quando começamos todos a cantar o parabéns.A primeira pessoa na fila para os presentes e os abraços sou eu. Giuliana me sorri quando me vê com os braços estendidos em sua direção e uma sacola de presente em um deles. Ela recebe o presente e deixa sob mesa.— Feliz aniversário, minha princesa! – Digo após puxá-la para um abraço. — Parabéns pelos teus 16 anos. É uma idade e tanto.— Obrigada, tia Mia. – Ela diz quando nos separamos. — Por pouco pensei que não virias.— A minha chefe bruxa-lagarta quase tentou me prender, mas felizmente consegui escapar.Giuliana franze o cenho e me encara confusa. Mas no final acaba por rir, me afasto dela graças aos incentivos que recebo dos demais convidados que estão atrás de mim; Vou diretamente a minha mes
L U Í S Mulher louca. Penso enquanto observo a amiga, a linda amiga da minha patroa a deixar a cozinha. Ela realmente é uma mulher bem atraente, linda e maluca. Das vezes que nos encontramos está sempre imersa em uma atmosfera engraçada e constrangedora. Sorrio mais uma vez, sozinho na cozinha e a pensar que gostaria da companhia dela, pois solidão não está entre as minhas coisas favoritas. No entanto não me incomodo tanto, apenas despertei essa hora por estar louco de sede.Pego um copo no armário exclusivo para copos e bebo água direto da torneira. Quando estou devidamente saciado, guardo o copo no devido lugar e em seguida me encaminho para o meu quarto. Não sinto muito sono o suficiente para me deitar, então me contento em ficar na minha janela.Aprecio a vista que Veneza me oferece no auge da madrugada. Ainda existe um resquício de lua no céu, portanto não está totalmente escuro. Tudo parece tão calmo e sereno, uma brisa suave me atinge a cara assim que abro mais a minha janela
M I A Observo Enzo dormir tranquilamente, logo após que lhe deixo em seu berço. Ele é um pequeno príncipe, tão calmo e quietinho, não tem muitos problemas e tão pouco é manhoso. Talvez seja cedo para dizer, ou talvez não... Tenho zero conhecimento sobre bebés.Ele adormeceu há pouco nos meus braços enquanto estávamos na sala, meu afilhado é mesmo um anjinho. Enzo ressona tranquilo e eu apenas fico estática no meu lugar enquanto observo os seus movimentos. Quinze minutos após saio do quarto dele e fecho a porta com calma.Passo no meu quarto e encontro a minha bolsa já pronta em cima da minha cama, tal como deixado pela manhã. Confiro o meu telefone e vejo apenas uma mensagem da minha mãe, a perguntar se voltarei ou hoje ou não, apenas sorrio antes de responder, pois hoje é domingo e amanhã tenho trabalho.Sem mais nenhuma notificação, guardo o meu telefone na minha bolsa e em seguida refaço o meu penteado. E logo após saio do quarto com uma dor no coração, essa casa é literalmente um
M I A Deixo o meu telemóvel de lado, logo após ter visto endereço da boate através da mensagem que recebi das meninas. Me concentro em passar uma generosa camada de rímel nos meus cílios, faço uma maquiagem bem leve e quando termino, abro a minha caixa de batons e escolho um parcialmente escuro.Passo-o o nos lábios e em seguida me encaro no espelho. Não me surpreendo com a imagem que nele se reflete, linda, como sempre estou! Autoestima é algo vital para mim, tão natural quanto respirar. Prendo uma pequena parte central do meu cabelo, de resto apenas deixo-o solto com leves cachos.Estou vestida de uma maneira simples, não quero nada muito chamativo, para que não pareça super desesperada por atenção. O vestido vermelho com riscas pretas me cai perfeitamente, valoriza minhas curvas, mas não de um jeito vulgar e sim de um modo discreto.Coloco uns brincos simples, calço as minhas sandálias e estou pronta. Pego minha bolsa, mas não antes de conferir as horas no meu telemóvel. Trinta
M I A - De onde és? - Questiono ápice da minha curiosidade, dou mais um gole super drink. - Teu sotaque é fortemente carregado.Os olhos escuros me estudam por um breve momento, ele está sempre com uma expressão de quem se diverte, essencialmente quando olha para mim. Quase como se eu sempre me encontrasse em situações divertidas, e ele estivesse lá, justamente para se divertir às minhas custas.- Sou de Sevilha, Espanha. A terra dos homens de sangue quente e da castanhola. - Ele me conta, por um misero instante, os olhos perdem a diversão e ficam opacos.- Espanha, uau! Adoraria muito visitar as paisagens, ver a vossa cultura, as danças e a gastronomia. Mas diz-me uma coisa, por que saíste de lá? Se vivesse em um lugar paradisíaco como aquele, não sairia de lá por nada.Meu drink novamente chega ao fim, os pedaços de fruta estão um tantinho salgadas e azedas, talvez porque elas sugaram a maior parte do álcool. Luiz desvia o olhar do meu, se concentra no bartender e pede mais uma dos
M I A — Quem era aquele homem? Um amigo? – Minha mãe questiona na manhã seguinte, quando me sento à mesa.Estou bastante animada, como o habitual para mais um dia de trabalho. Meus pais estão bem atentos a mim, meu pai ainda mais que minha mãe.— Nada demais, mãe. Era só o motorista da Ella. – Respondo, retirando uma fatia de pão do cesto.— Motorista da Ella a aquela hora? Ainda mais sem o carro? Estranho. – Pai resmunga, fazendo me sorrir enquanto passo a manteiga pelo pão.— É assim, pai. Eu e as meninas da joalheria marcamos de ir a boate juntas, no entanto muita coisa aconteceu e eu acabei sozinha. Encontrei Luiz, o motorista da Ella. Nos divertimos juntos, fomos à praça de San Marco e perdemos a noção do tempo. – Conto, sentindo meu coração se aquecer com as meras recordações.Realmente a noite de ontem foi agradável, tanto que não consigo deixar de pensar nos momentos em passamos juntos pelos próximos dias. Embora meus dias sejam monótonos, não faço outra coisa além de trabalh
M I A Passamos uma adorável tarde juntas, realmente estava a precisar de passar um tempo com a minha melhor amiga e os meus lindos sobrinhos. Me sinto renovada quando saio da mansão da minha amiga, Giancarlo como sempre me ofereceu boleia e eu rejeitei.São um pouco mais de vinte horas, como sempre o clima está favorável, durante o dia fez um pouco de calor, mas no entanto nesta altura ainda não escureceu por completo, tendo em conta que estamos no início do verão. Gosto de sentir a brisa branda que sopra em minha direção e espalha os fios do meu cabelo no ar.O som de uma buzina ecoa ao meu lado, existe um carro preto e de vidros também pretos ao meu lado, meu coração rapidamente gela de medo e obriga os restantes dos membros a seguir o mesmo caminho. Será um sequestro? Provavelmente acabarei morta, minha família não tem um centavo. Fecho os olhos e começo a rezar mentalmente para que alguém apareça, ou que algum milagre Divino se manisfeste, mas tudo que ouço é uma risada. Abro os
L U I Z Me surpreendo por ser ela a tomar a atitude, pois eu tinha planos de beijá-la hoje no final da nossa noite. Apressada ela... O que custava esperar só mais um pouco? Contudo não tenho muito tempo para pensar, apenas enlaço a sua cintura e a trago para mim. Faço o quis fazer desde a primeira vez que lhe vi.Ela me beija com tanta voracidade, e ao mesmo tempo com algum tipo de ternura. O sabor marcante do gelatto dela se mistura ao beijo intenso e me deixa inebriado, os dedos dela passeiam sobre o meu cabelo e eu simplesmente aperto o seu quadril.Os lindos olhos escuros me encaram risonhos depois que nos afastamos, deixo escapar um suspiro. Ambos respiramos ofegantes; Mia sorri ao me encarar, como se ela me desafiasse a dizer que não gostei do beijo ou que não deveria ter acontecido.- Não posso dizer que estou surpreso, afinal sabia querias me beijar. - Digo, provocando seu riso enquanto ela me empurra o ombro. - Não gostei nem um pouco do beijo. Terei de devolver.- O quê? - E