M I ATateio o lugar ao meu lado, sinto o frio dos lençóis e constato que Luiz não dormiu aqui. Pela janela vejo apenas a escuridão, não devem ser mais que duas horas. Confirmo esse facto ao olhar na tela do meu telefone.Estou com uma sede imensa, essa razão me fez acordar do sono delicioso. Levanto-me com calma e cubro meu corpo com um roupão, uma vez que estou apenas de um pijama curto e possivelmente encontre outras pessoas a vagar pela casa. Calço os meus chinelos em baixo da cama e saio do quarto.A casa está mergulhada no mais profundo silêncio, de certeza que todos devem estar a descansar depois da semana agitada que cada um teve. Me encaminho para a cozinha, escolho o leite para matar minha sede. Poderia até aquecer, mas meu sono não me permite. Tomo assim gelado mesmo.Corto uma fatia do bolo que mamá fez ontem, para acompanhar. Quando termino lavo o copo, deixo no escorredor e começo a andar de volta para o nosso quarto, no entanto ouço vozes em uma direção certa da casa. N
M I ADesço em frente ao Novohotel, agradeço ao taxista que durante o percurso de Sevilha até aqui não falou nada. Eu não estava em clima deconversar mesmo. Ao chegar na recepção, há um homem que está entretido no computador.— Boa noite. Poderia me dizer em que quarto está hospedada Mirella Cassani? – Questiono.— Buenos días, Señora. Um minuto. Ele liga para alguém, suponho que seja Mirella a confirmar sobre mim. Apesar de falado em inglês comigo, ele comunica-se em espanhol com a tal pessoa.— Señora Mirella te aguarda, ela está no quarto 116B no 4° andar. – Ele diz.— Obrigada.Sigo pelo elevador, não tarda e estou no andar em que Mirella está. Não é difícil localizar o quarto dela, bato a porta quando consigo essa proeza. Logo a porta é aberta, revelando uma Mirella visivelmente preocupada em um— Olá, Mirella. – Cumprimento, sem graça. — Obrigada por teres aceitado me receber.— De nada... – Ela me dá espaço para entrar, ajudando-me com minha mala.Sento-me no sofá que possui
M I ADesembarco em Veneza algumas horas depois. Arrasto as minha malas para fora do aeroporto, quase comemoro por conseguir mantê-las em equilíbrio enquanto aspiro o ar italiano, sinto-me um tanto aliviada por estar de volta.Chamo por um táxi via online mesmo, uma vez que aqui não existe nenhum disponível. Uns instantes após um estaciona em minha frente, deixando-me surpresa com a rapidez.— Boa tarde, senhora. – O homem cumprimenta.— Boa tarde... Tudo bem? – Sorrio. — Poderia por favor me levar até Dorsoduro?— Claro que sim. Deixe-me lhe ajudar.O motorista recolhe minhas malas e guarda no respectivo lugar, enquanto eu ocupo o banco dos passageiros atrás e logo em seguida ele ocupa o seu banco na frente. Daqui para minha casa não é tanto tempo assim, talvez uns trinta minutos apenas. Me distrair com algumas coisas nas redes sociais.— Voltando de uma viagem, não é? – O motorista pergunta após algum tempo, consigo ouvi-lo porque a música está baixa.— Sim, sim. – Respondo, sem des
Capítulo Quarenta e Três M I A — Fala sério que tudo isso aconteceu enquanto estavas lá? – Ella questiona e eu confirmo. — Jesus... Isso parece coisa de novela mexicana. Quanto drama! — Pois é. Foi o que aconteceu. E imaginas que lá todos sabiam disso, a única que estava no escuro era eu. Não imaginas o quão ridícula e palhaça senti-me lá. – Desabafo. — Que calculista ele, estou chocada! – Ella exclama, coloca ambas mãos em frente a boca para enfatizar o choque. — Sinto tanto por ti, minha amiga. Não merecias em nada uma situação como essa. Ela diz ao segurar na minha mão. Embora tenham passado duas semanas desde que estou em Veneza, ainda sinto uma dor imensurável no coração ao lembrar que tudo não passou de uma encenação. Todo aquele papo de mostrar as atrações turísticas italianas e aquela visita inusitada ao casino, simplesmente tudo era mentira. — Infelizmente isso aconteceu. – Suspiro. — Sabes uma coisa que essa situação toda me mostrou? Não preciso de um homem para ser fe
M I A Encaro o meu reflexo no espelho, enquanto meus dedos seguem pela região do meu abdômen. Estou ainda de calcinha e sutiã, meu abdômen ainda está totalmente liso e não entrega nenhum indício que estou grávida.Isso tudo ainda parece muito louco e estranho. Ainda não dá para crer que em breve serei mãe, o meu sonho vai enfim se realizar. Um sorriso cresce nos meus lábios, embora eu esteja em uma situação difícil, não deixo de me sentir feliz.Meu coração se preenche de amor pelo pequeno ser que cresce em mim. Um pensamento sobre o pai dele inunda a minha mente, diante de tudo que aconteceu entre eu ele, como nossa relação foi baseada. Tudo por puro interesse da parte dele, tudo uma mentira muito bem elaborada, fora as palavras dele a negar veemente a ter um filho.Toco a barriga, lembrando de todas as vezes que ele repetiu que não queria ser pai, que se algum dia eu engravidasse ele não iria querer saber. Além do mais, com toda essa situação que vivi, ele casou comigo apenas para
M I ANão consigo conter o sorriso imenso que cresce nos meus lábios assim que recebo um presente de Ella. Desenrolo o laço por cima do presente, mal contendo-me de curiosidade, em seguida rasgo com delicadeza o embrulho em volta.Abro a caixinha e o que vejo faz meu coração se encher amores e meus olhos de lágrimas. Observo o par de sapatinhos vermelhos ao lado de um body branco, desdobro com muito cuidado, toco a maciez do tecido e deslizo os dedos pelas letras douradas.“Amor da madrinha" essas palavrinhas são capazes de me fazer sorrir largamente enquanto minhas lágrimas transbordam.— Se eu não for a madrinha desse bebé, então podes devolver o meu presente. – Ella brinca.— Claro que és. Quem mais seria? – Digo ao dobrar a peça com muito cuidado. — Esse é o primeiro presentinho do meu bebé. Obrigada, madrinha.Ela retribui o meu sorriso, passando a mão pela minha barriga com carinho.— Quando irás contar para Luiz? – Ella questiona, deixando-me um tanto surpresa. — Ele é o pai, e
M I A Sorrio ao observar a imagem do meu bebé no monitor, embora não consiga distinguir muita coisa no ecrã. Consigo ver o que o Dr apontou e disse que era o eu bebé, que está a crescer muito bem.Escuto o som do coração do meu bebé, e não sei se no mundo existe coisa mais maravilhosa que esse som. Tão rico e poderoso, saber que o meu útero é o abrigo do meu anjinho me faz sentir muito importante e graciosa.Lágrimas escapam pelos meus olhos, tamanha é minha emoção por gerar o meu anjinho. Fruto do meu amor pelo pai dele, que apesar de tudo eu gostaria que ele estivesse aqui comigo na consulta.— Prontas para saber o sexo do bebé? Ou queres saber só no parto, Mia? – Dr Giovanni pergunta, alternando o olhar entre minha barriga imensa de seis meses. Sim, o meu bebé espertinho não queria que descobríssemos o seu sexo.— Claro que não, Dr. Só esses quatro meses foram uma tortura, pode dizer. Não sou tão corajosa quanto tu, Ella. – Comunico, minha amiga apenas sorri em resposta.— É uma m
L U I Z Mia ainda me encara, ela parece estar ainda mais bonita e mais radiante. Não sei é o feito da gravidez nela... Ela está mesmo mudada. O olhar dela passa de chocado para indiferente.Confesso que me machuca receber esse olhar dela.— O quê? Como assim? – Ela pergunta, antes de fechar os olhos brevemente.— Estás grávida e obviamente o filho é meu. Como puseste fazer isso? Estou muito indignado.— Como é que é? É muita ousadia tua, não achas? Primeiro fazes toda aquela palhaçada para me forçar a casar contigo, e agora isso. Estás maluco, fumas ou te drogas? Não é possível que te comportes assim. – Ela diz, posso sentir o desprezo dela a escorrer da voz.— Podemos conversar? – Peço. — Por favor. Uns dez minutos, se não for por ti, pelo nosso bebé.— Nosso?— Mia, por favor. Me dá uma chance, escuta a minha versão. Te imploro.Ela olha para mim, sei que deve estar numa luta interna. Pelo que conheço dela, sei bem que ela adoraria gritar um sonoro não. No entanto faço cara de cach