Capítulo 3

L U Í S

Mulher louca. Penso enquanto observo a amiga, a linda amiga da minha patroa a deixar a cozinha. Ela realmente é uma mulher bem atraente, linda e maluca. Das vezes que nos encontramos está sempre imersa em uma atmosfera engraçada e constrangedora. 

Sorrio mais uma vez, sozinho na cozinha e a pensar que gostaria da companhia dela, pois solidão não está entre as minhas coisas favoritas. No entanto não me incomodo tanto, apenas despertei essa hora por estar louco de sede.

Pego um copo no armário exclusivo para copos e bebo água direto da torneira. Quando estou devidamente saciado, guardo o copo no devido lugar e em seguida me encaminho para o meu quarto. Não sinto muito sono o suficiente para me deitar, então me contento em ficar na minha janela.

Aprecio a vista que Veneza me oferece no auge da madrugada. Ainda existe um resquício de lua no céu, portanto não está totalmente escuro. Tudo parece tão calmo e sereno, uma brisa suave me atinge a cara assim que abro mais a minha janela. Por um instante desejo tanto essa mesma calmaria para mim, ainda que esteja onde realmente quero estar eu ainda sinto a mesma angústia que me acompanhava em Sevilha.

Continuo a encarar a vista, sem no entanto estar focado nela e sim na angústia que esmaga meu peito. Sinto tantas saudades do solo espanhol, de toda alegria da minha terra e todas as excentricidades que me ofereciam. Mas também sinto muita raiva e não me conformo com tudo que aconteceu. Suspiro, existem coisas que não valem à pena recordar e tão pouco são dignas do meu tempo.

Encosto a janela e vou para minha cama. Antes mesmo que meus olhos se rendam ao sono e ao cansaço, um certo par de olhos escuros de uma linda e maluca morena piscam na minha mente. As lembranças dos eventos vergonhosos e engraçados me fazem abrir um sorriso, aquela mulher realmente é uma maluca.

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— Bom dia, malta. – Anuncio animado, ao chegar na cozinha em plena manhã.

Todos me encaram, apesar de não estarem sentados ao redor da mesa e sim dispersos pela cozinha. Enquanto alguns arrumam a mesa para a refeição matinal. A mansão D'Angelo conta com 25 funcionários. Uns são permanentes e outros apenas vem de vez em quando.

— Bom, dia, Luís. – Diz  Anna, a senhora responsável pela cozinha.

— Sempre bem disposto, meu jovem. – Continua  Luigi, o velho responsável pelo jardim.

— Bom dia, Luís! Meu colega sempre bem humorado. – Maria diz, ela é uma jovem bem simpática e ela é responsável pela limpeza da casa, juntamente com outras quatro mulheres.

Os demais respondem normalmente.

— Sem dúvidas, bom humor é sempre  o requisito para um bom dia. – Digo,  lavando as mãos ao lado de Giorgio, um dos seguranças. — Tudo bem?

— Tudo sim e contigo?

Respondo calmamente, logo somos chamados para nos sentar ao redor da mesa na cozinha. São sete e meia, segundo Anna a mesa já foi posta para os patrões. Então não é nenhum problema que façamos o mesmo aqui entre funcionários. Uma conversa divertida se inicia enquanto tomamos o pequeno-almoço.

Como hoje felizmente é domingo, as meninas não tem nenhum compromisso que seja ficar em casa. Ou se ambas quiserem, talvez até poderemos ir dar um passeio ou ir à praia ou outra coisa do gênero. De qualquer maneira eu não teria muito a fazer durante o dia, minha única tarefa é ir deixar o senhor Giancarlo em sua empresa.

Quando termino de comer, deixo a loiça usada por mim na pia e com passos leves me encaminho para sala de jantar. A família ainda encontra-se à mesa quando lá chego, então é inevitável chegar e não atrair a atenção de alguns para mim.

— Bom dia. – Cumprimento.

Eles me respondem prontamente. Estão todos à mesa, Fiorella conversa algo com as filhas e a sua amiga, Giancarlo tem um jornal nas mãos e parece bem atento e nada preocupado em sair de casa, mas mesmo assim ouso perguntar para que não reste sombras de dúvidas.

— O senhor vai precisar de mim hoje?  – Questiono, ganhando a atenção do meu patrão.

— Hm... Não. Podes tirar o dia de folga, hoje não vou à lugar algum. Obrigada, Luís.

— Certo.

Antes que deixe a sala, olho de relance para Mia, apenas por curiosidade para ver se ela não está em nenhuma situação constrangedora. Nossos olhares se encontram e não resisto em sorrir brevemente, com as lembranças de ontem. Ela desvia o olhar instantes após e eu apenas me encaminho para o meu quarto, onde substituo o meu uniforme pelas minhas roupas sociais.

Apesar de ser uma cidade calma, Veneza está sempre apta para me oferecer diversão e eu claro não me incomodo nem um pouco. Saio pelas ruas, não uso o carro, vou à pé. Gosto de sempre estar a explorar a cidade, explorar o que melhor existe cidade – diversão.

Existem casas de diversão, diversos lugares que ainda não explorei por completo. Entre eles: as praças, os canais, os bares famosos, as igrejas, as gelatarias – que por sinal dizem que são o melhor da Itália– tem ainda os monumentos. Confesso estou muitíssimo ansioso por conhecer de perto uma vinícola, ainda que na Espanha hajam aos montes, mas como  os italianos são conhecidos como um dos maiores produtores de vinho, adoraria ter essa experiência. 

Vou para o restaurante. Me sento em uma das mesas sem destaque e peço qualquer coisa para beliscar. Enquanto meu pedido não chega, retiro meu celular do meu bolso e me entretenho com ele. Quem espero aparece apenas alguns minutos depois. Milena surge em sua extravagância, linda, decidida tal como ela é.

— Oi, bonitão!  – Ela me cumprimenta, com dois beijos na bochecha e em seguida puxa a cadeira e senta-se ao meu lado.

— Milena. Sempre extravagante. – É meu cumprimento, ela apenas me sorri largamente. — Chegaste cedo hoje. Não interrompeste o teu sono de beleza, pois não?

— Claro que não. – Ela me encara, sedutora.

— Como vai tudo?

— Normal. Meus pais ainda continuam meio ranzinzas em relação a mim e ao Toni. – Ela suspira, o garçom se aproxima com meu pedido e ela pede algo para sim.

— E vocês ainda continuam brigados por isso?

Minha amiga apenas deixa os ombros caírem e sua expressão se fecha.

— Na verdade, ele está zangado por meu pai ter sugerido que talvez ele só esteja comigo pelo nosso dinheiro. Sabes como é... Aquele clássico da menina rica e o menino pobre. Se fosse ao contrário, tenho a certeza que seria tudo diferente. Mas como é ele quem está nessa posição, e foi tão difícil convencê-lo a conhecer os meus pais. Agora isso; Ele de um lado e os meus pais de outro. Ah, Luís, por quê amar é tão complicado?

— E tu perguntas isso para mim? Eu nunca amei, e estou certo que não amarei ninguém. Essa coisa de amor realmente é um stress. – Desabafo. — Sobre vocês, eu acho que deverias conversar com ele e mostrares que não te importas com essas coisas de posições sociais. Que tu lhe amas e só. Uau, nem acredito que acabei de dizer isso. Soa tão clichê. O que tu fazes comigo, Milena?

— Quero ver quando for tua vez se acharás tanta graça. Mal posso esperar para que uma mulher te enlace o coração!

Chica ingrata! Milena, eu estou aqui a te dar conselhos e é assim que reages? Me rogando pragas? Amizades já foram melhores. – Digo, com fingida ofensa. Ela apenas ri.

— Algo dia entenderás que amar não é bicho de sete cabeças que achas.

— Sinceramente? Espero não entender nunca.

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