Mulher louca. Penso enquanto observo a amiga, a linda amiga da minha patroa a deixar a cozinha. Ela realmente é uma mulher bem atraente, linda e maluca. Das vezes que nos encontramos está sempre imersa em uma atmosfera engraçada e constrangedora.
Sorrio mais uma vez, sozinho na cozinha e a pensar que gostaria da companhia dela, pois solidão não está entre as minhas coisas favoritas. No entanto não me incomodo tanto, apenas despertei essa hora por estar louco de sede.
Pego um copo no armário exclusivo para copos e bebo água direto da torneira. Quando estou devidamente saciado, guardo o copo no devido lugar e em seguida me encaminho para o meu quarto. Não sinto muito sono o suficiente para me deitar, então me contento em ficar na minha janela.
Aprecio a vista que Veneza me oferece no auge da madrugada. Ainda existe um resquício de lua no céu, portanto não está totalmente escuro. Tudo parece tão calmo e sereno, uma brisa suave me atinge a cara assim que abro mais a minha janela. Por um instante desejo tanto essa mesma calmaria para mim, ainda que esteja onde realmente quero estar eu ainda sinto a mesma angústia que me acompanhava em Sevilha.
Continuo a encarar a vista, sem no entanto estar focado nela e sim na angústia que esmaga meu peito. Sinto tantas saudades do solo espanhol, de toda alegria da minha terra e todas as excentricidades que me ofereciam. Mas também sinto muita raiva e não me conformo com tudo que aconteceu. Suspiro, existem coisas que não valem à pena recordar e tão pouco são dignas do meu tempo.
Encosto a janela e vou para minha cama. Antes mesmo que meus olhos se rendam ao sono e ao cansaço, um certo par de olhos escuros de uma linda e maluca morena piscam na minha mente. As lembranças dos eventos vergonhosos e engraçados me fazem abrir um sorriso, aquela mulher realmente é uma maluca.
💎. 💎. 💎.
— Bom dia, malta. – Anuncio animado, ao chegar na cozinha em plena manhã.
Todos me encaram, apesar de não estarem sentados ao redor da mesa e sim dispersos pela cozinha. Enquanto alguns arrumam a mesa para a refeição matinal. A mansão D'Angelo conta com 25 funcionários. Uns são permanentes e outros apenas vem de vez em quando.
— Bom, dia, Luís. – Diz Anna, a senhora responsável pela cozinha.
— Sempre bem disposto, meu jovem. – Continua Luigi, o velho responsável pelo jardim.
— Bom dia, Luís! Meu colega sempre bem humorado. – Maria diz, ela é uma jovem bem simpática e ela é responsável pela limpeza da casa, juntamente com outras quatro mulheres.
Os demais respondem normalmente.
— Sem dúvidas, bom humor é sempre o requisito para um bom dia. – Digo, lavando as mãos ao lado de Giorgio, um dos seguranças. — Tudo bem?
— Tudo sim e contigo?
Respondo calmamente, logo somos chamados para nos sentar ao redor da mesa na cozinha. São sete e meia, segundo Anna a mesa já foi posta para os patrões. Então não é nenhum problema que façamos o mesmo aqui entre funcionários. Uma conversa divertida se inicia enquanto tomamos o pequeno-almoço.
Como hoje felizmente é domingo, as meninas não tem nenhum compromisso que seja ficar em casa. Ou se ambas quiserem, talvez até poderemos ir dar um passeio ou ir à praia ou outra coisa do gênero. De qualquer maneira eu não teria muito a fazer durante o dia, minha única tarefa é ir deixar o senhor Giancarlo em sua empresa.
Quando termino de comer, deixo a loiça usada por mim na pia e com passos leves me encaminho para sala de jantar. A família ainda encontra-se à mesa quando lá chego, então é inevitável chegar e não atrair a atenção de alguns para mim.
— Bom dia. – Cumprimento.
Eles me respondem prontamente. Estão todos à mesa, Fiorella conversa algo com as filhas e a sua amiga, Giancarlo tem um jornal nas mãos e parece bem atento e nada preocupado em sair de casa, mas mesmo assim ouso perguntar para que não reste sombras de dúvidas.
— O senhor vai precisar de mim hoje? – Questiono, ganhando a atenção do meu patrão.
— Hm... Não. Podes tirar o dia de folga, hoje não vou à lugar algum. Obrigada, Luís.
— Certo.
Antes que deixe a sala, olho de relance para Mia, apenas por curiosidade para ver se ela não está em nenhuma situação constrangedora. Nossos olhares se encontram e não resisto em sorrir brevemente, com as lembranças de ontem. Ela desvia o olhar instantes após e eu apenas me encaminho para o meu quarto, onde substituo o meu uniforme pelas minhas roupas sociais.
Apesar de ser uma cidade calma, Veneza está sempre apta para me oferecer diversão e eu claro não me incomodo nem um pouco. Saio pelas ruas, não uso o carro, vou à pé. Gosto de sempre estar a explorar a cidade, explorar o que melhor existe cidade – diversão.
Existem casas de diversão, diversos lugares que ainda não explorei por completo. Entre eles: as praças, os canais, os bares famosos, as igrejas, as gelatarias – que por sinal dizem que são o melhor da Itália– tem ainda os monumentos. Confesso estou muitíssimo ansioso por conhecer de perto uma vinícola, ainda que na Espanha hajam aos montes, mas como os italianos são conhecidos como um dos maiores produtores de vinho, adoraria ter essa experiência.
Vou para o restaurante. Me sento em uma das mesas sem destaque e peço qualquer coisa para beliscar. Enquanto meu pedido não chega, retiro meu celular do meu bolso e me entretenho com ele. Quem espero aparece apenas alguns minutos depois. Milena surge em sua extravagância, linda, decidida tal como ela é.
— Oi, bonitão! – Ela me cumprimenta, com dois beijos na bochecha e em seguida puxa a cadeira e senta-se ao meu lado.
— Milena. Sempre extravagante. – É meu cumprimento, ela apenas me sorri largamente. — Chegaste cedo hoje. Não interrompeste o teu sono de beleza, pois não?
— Claro que não. – Ela me encara, sedutora.
— Como vai tudo?
— Normal. Meus pais ainda continuam meio ranzinzas em relação a mim e ao Toni. – Ela suspira, o garçom se aproxima com meu pedido e ela pede algo para sim.
— E vocês ainda continuam brigados por isso?
Minha amiga apenas deixa os ombros caírem e sua expressão se fecha.
— Na verdade, ele está zangado por meu pai ter sugerido que talvez ele só esteja comigo pelo nosso dinheiro. Sabes como é... Aquele clássico da menina rica e o menino pobre. Se fosse ao contrário, tenho a certeza que seria tudo diferente. Mas como é ele quem está nessa posição, e foi tão difícil convencê-lo a conhecer os meus pais. Agora isso; Ele de um lado e os meus pais de outro. Ah, Luís, por quê amar é tão complicado?
— E tu perguntas isso para mim? Eu nunca amei, e estou certo que não amarei ninguém. Essa coisa de amor realmente é um stress. – Desabafo. — Sobre vocês, eu acho que deverias conversar com ele e mostrares que não te importas com essas coisas de posições sociais. Que tu lhe amas e só. Uau, nem acredito que acabei de dizer isso. Soa tão clichê. O que tu fazes comigo, Milena?
— Quero ver quando for tua vez se acharás tanta graça. Mal posso esperar para que uma mulher te enlace o coração!
— Chica ingrata! Milena, eu estou aqui a te dar conselhos e é assim que reages? Me rogando pragas? Amizades já foram melhores. – Digo, com fingida ofensa. Ela apenas ri.
— Algo dia entenderás que amar não é bicho de sete cabeças que achas.
— Sinceramente? Espero não entender nunca.
M I A Observo Enzo dormir tranquilamente, logo após que lhe deixo em seu berço. Ele é um pequeno príncipe, tão calmo e quietinho, não tem muitos problemas e tão pouco é manhoso. Talvez seja cedo para dizer, ou talvez não... Tenho zero conhecimento sobre bebés.Ele adormeceu há pouco nos meus braços enquanto estávamos na sala, meu afilhado é mesmo um anjinho. Enzo ressona tranquilo e eu apenas fico estática no meu lugar enquanto observo os seus movimentos. Quinze minutos após saio do quarto dele e fecho a porta com calma.Passo no meu quarto e encontro a minha bolsa já pronta em cima da minha cama, tal como deixado pela manhã. Confiro o meu telefone e vejo apenas uma mensagem da minha mãe, a perguntar se voltarei ou hoje ou não, apenas sorrio antes de responder, pois hoje é domingo e amanhã tenho trabalho.Sem mais nenhuma notificação, guardo o meu telefone na minha bolsa e em seguida refaço o meu penteado. E logo após saio do quarto com uma dor no coração, essa casa é literalmente um
M I A Deixo o meu telemóvel de lado, logo após ter visto endereço da boate através da mensagem que recebi das meninas. Me concentro em passar uma generosa camada de rímel nos meus cílios, faço uma maquiagem bem leve e quando termino, abro a minha caixa de batons e escolho um parcialmente escuro.Passo-o o nos lábios e em seguida me encaro no espelho. Não me surpreendo com a imagem que nele se reflete, linda, como sempre estou! Autoestima é algo vital para mim, tão natural quanto respirar. Prendo uma pequena parte central do meu cabelo, de resto apenas deixo-o solto com leves cachos.Estou vestida de uma maneira simples, não quero nada muito chamativo, para que não pareça super desesperada por atenção. O vestido vermelho com riscas pretas me cai perfeitamente, valoriza minhas curvas, mas não de um jeito vulgar e sim de um modo discreto.Coloco uns brincos simples, calço as minhas sandálias e estou pronta. Pego minha bolsa, mas não antes de conferir as horas no meu telemóvel. Trinta
M I A - De onde és? - Questiono ápice da minha curiosidade, dou mais um gole super drink. - Teu sotaque é fortemente carregado.Os olhos escuros me estudam por um breve momento, ele está sempre com uma expressão de quem se diverte, essencialmente quando olha para mim. Quase como se eu sempre me encontrasse em situações divertidas, e ele estivesse lá, justamente para se divertir às minhas custas.- Sou de Sevilha, Espanha. A terra dos homens de sangue quente e da castanhola. - Ele me conta, por um misero instante, os olhos perdem a diversão e ficam opacos.- Espanha, uau! Adoraria muito visitar as paisagens, ver a vossa cultura, as danças e a gastronomia. Mas diz-me uma coisa, por que saíste de lá? Se vivesse em um lugar paradisíaco como aquele, não sairia de lá por nada.Meu drink novamente chega ao fim, os pedaços de fruta estão um tantinho salgadas e azedas, talvez porque elas sugaram a maior parte do álcool. Luiz desvia o olhar do meu, se concentra no bartender e pede mais uma dos
M I A — Quem era aquele homem? Um amigo? – Minha mãe questiona na manhã seguinte, quando me sento à mesa.Estou bastante animada, como o habitual para mais um dia de trabalho. Meus pais estão bem atentos a mim, meu pai ainda mais que minha mãe.— Nada demais, mãe. Era só o motorista da Ella. – Respondo, retirando uma fatia de pão do cesto.— Motorista da Ella a aquela hora? Ainda mais sem o carro? Estranho. – Pai resmunga, fazendo me sorrir enquanto passo a manteiga pelo pão.— É assim, pai. Eu e as meninas da joalheria marcamos de ir a boate juntas, no entanto muita coisa aconteceu e eu acabei sozinha. Encontrei Luiz, o motorista da Ella. Nos divertimos juntos, fomos à praça de San Marco e perdemos a noção do tempo. – Conto, sentindo meu coração se aquecer com as meras recordações.Realmente a noite de ontem foi agradável, tanto que não consigo deixar de pensar nos momentos em passamos juntos pelos próximos dias. Embora meus dias sejam monótonos, não faço outra coisa além de trabalh
M I A Passamos uma adorável tarde juntas, realmente estava a precisar de passar um tempo com a minha melhor amiga e os meus lindos sobrinhos. Me sinto renovada quando saio da mansão da minha amiga, Giancarlo como sempre me ofereceu boleia e eu rejeitei.São um pouco mais de vinte horas, como sempre o clima está favorável, durante o dia fez um pouco de calor, mas no entanto nesta altura ainda não escureceu por completo, tendo em conta que estamos no início do verão. Gosto de sentir a brisa branda que sopra em minha direção e espalha os fios do meu cabelo no ar.O som de uma buzina ecoa ao meu lado, existe um carro preto e de vidros também pretos ao meu lado, meu coração rapidamente gela de medo e obriga os restantes dos membros a seguir o mesmo caminho. Será um sequestro? Provavelmente acabarei morta, minha família não tem um centavo. Fecho os olhos e começo a rezar mentalmente para que alguém apareça, ou que algum milagre Divino se manisfeste, mas tudo que ouço é uma risada. Abro os
L U I Z Me surpreendo por ser ela a tomar a atitude, pois eu tinha planos de beijá-la hoje no final da nossa noite. Apressada ela... O que custava esperar só mais um pouco? Contudo não tenho muito tempo para pensar, apenas enlaço a sua cintura e a trago para mim. Faço o quis fazer desde a primeira vez que lhe vi.Ela me beija com tanta voracidade, e ao mesmo tempo com algum tipo de ternura. O sabor marcante do gelatto dela se mistura ao beijo intenso e me deixa inebriado, os dedos dela passeiam sobre o meu cabelo e eu simplesmente aperto o seu quadril.Os lindos olhos escuros me encaram risonhos depois que nos afastamos, deixo escapar um suspiro. Ambos respiramos ofegantes; Mia sorri ao me encarar, como se ela me desafiasse a dizer que não gostei do beijo ou que não deveria ter acontecido.- Não posso dizer que estou surpreso, afinal sabia querias me beijar. - Digo, provocando seu riso enquanto ela me empurra o ombro. - Não gostei nem um pouco do beijo. Terei de devolver.- O quê? - E
M I A — Bom dia, sejam bem-vindos. Em que posso ser útil? – Digo bem disposta pela manhã, quando um par de homens se aproxima do balcão.Levanto-me e fico de frente para eles, que por sua vez encaram as jóias expostas nas prateleiras de vidro. Passo a mão pelo meu rabo de cavalo, enquanto olho para o homem de meia idade e um rapaz mais jovem, pela semelhança entre ambos arrisco em dizer que são pai e filho.— Bom dia. Estamos à procura de um conjunto de brincos, pulseira, colar e anéis. – O mais velho responde.— Está bem... Tem alguma preferência nas jóias? Tipo rubis, safiras, ouro branco, diamantes, ametistas, cristais, ou ainda as semi jóias. – Explico.— Não temos nada em mente, importa-se de nos mostrar todas as opções? Quem sabe o conjunto perfeito não surja?— Claro, em um instante.Me curvo um pouco para empurrar levemente a portinha de vidro, retiro as bandejas adequadas que contém brincos, dos nais diversos tipos de joias, logo após retiro as pulseiras expostas, mascotes e
L U I Z Mia se acomoda no carro e em seguida põe o cinto de segurança, também faço o mesmo que ela em alguns instantes. Ligo o rádio, procuro a estação que passa músicas internacionais, por algum motivo a música que inicia é a que minha mãe tanto gosta, imediatamente uma onda de saudade me percorre.Ainda que tudo tenha terminado, como terminou, sinto tanta saudades deles, apesar de tudo são a minha família e eu amo todos loucamente. Mas também sinto tanta raiva e mágoa, deles, de mim e dela... Tudo poderia ser sido bem diferente, mas infelizmente não pode ser.Essa música me traz tantas recordações indesejadas, faço menção de trocar, mas olho para Mia e ela parece se divertir com a melodia alegre. Um único olhar a ela e toda minha raiva desaparece, Mia tem uma aura muito especial e cativante, ela me faz até abrir um pequeno sorriso.— O que foi? – Ela pergunta.— Nada. – Ligo o carro, ela ainda não me deu nenhuma direção, pouco me importa conhecer ainda mais Veneza, a coisa que mais