M I A
Observo Enzo dormir tranquilamente, logo após que lhe deixo em seu berço. Ele é um pequeno príncipe, tão calmo e quietinho, não tem muitos problemas e tão pouco é manhoso. Talvez seja cedo para dizer, ou talvez não... Tenho zero conhecimento sobre bebés.
Ele adormeceu há pouco nos meus braços enquanto estávamos na sala, meu afilhado é mesmo um anjinho. Enzo ressona tranquilo e eu apenas fico estática no meu lugar enquanto observo os seus movimentos. Quinze minutos após saio do quarto dele e fecho a porta com calma.
Passo no meu quarto e encontro a minha bolsa já pronta em cima da minha cama, tal como deixado pela manhã. Confiro o meu telefone e vejo apenas uma mensagem da minha mãe, a perguntar se voltarei ou hoje ou não, apenas sorrio antes de responder, pois hoje é domingo e amanhã tenho trabalho.
Sem mais nenhuma notificação, guardo o meu telefone na minha bolsa e em seguida refaço o meu penteado. E logo após saio do quarto com uma dor no coração, essa casa é literalmente um pedaço do paraíso e portanto deixar esse lugar incrível é mesmo uma tristeza imensa.
Contorno o corredor extenso e logo após desço sem conseguir parar de admirar a casa, chego ao jardim onde encontro Ella e Giancarlo sentados de frente um para o outro, esses dois vivem imersos num universo só deles onde só enxergam o amor que sentem. Grazie diverte-se na piscina com alguns brinquedinhos adequados, Giuliana apenas está concentrada em um livro.
- Bem, casal feliz, eu já vou indo. - Me despeço, não me sento com eles à mesa, então fico em pé.
- Mas já, Mi? - Ella questiona. Eu apenas balanço em concordância.
- Não queria ir, mas o dever me chama. Amanhã tenho trabalho e de enfrentar minha chefe lagartinha, preciso de uma preparação prévia.
Ella apenas ri e consente, ela fica de pé para que troquemos um abraço. Em seguida me despeço das minhas sobrinhas, do Giancarlo e vou. Eles até insistiram que eu deveria ir com o motorista afinal enfrentar o sol a uma altura destas não é nada fácil, mas no entanto ele teve folga.
Apesar de não ser um sol agradável, ainda assim gosto de andar pelas ruas de Veneza e sentir o vento fresco na minha pele. Além do mais a distância da casa da Ella até a minha não é tão longa, são só alguns minutos e eu também não me incomodo de caminhar. Gosto de aproveitar o ar fresco da tarde e apreciar a paisagem que me cerca.
Gosto de andar com calma e apreciar a paisagem que me cerca, inspirar o ar puro da tarde e contemplar a cidade calma que é Veneza, ao menos no início do ano e portanto sem muitos turistas. Atravesso a estrada pouco movimentada e logo seguida meus olhos seguem para a rua muito mais em frente, onde consigo observar o Canal di Dorsoduro.
Dorsoduro é um bairro calmo, por se encontrar em uma rua escondida não atrai tantos turistas. Consigo observar algumas pessoas enquanto passeiam de barco no canal. Sinto um orgulho imenso ao vislumbrar a tranquilidade das pessoas e do meu bairro em si, se tivesse de escolher um lugar onde viver, escolheria viver justamente aqui em Itália.
Aceno para os vizinhos que se encontram na rua, dona Pietra e dona Carmen estão debruçadas na banca de legumes da dona Carina, ganho o olhar de ambas. Elas mal respondem ao meu cumprimento e voltam a falar com todo fervor, que vem de fora e vê as três a falar alto, pensa que é uma discussão, mas nós italianos somos assim, falamos alto e somos expansivos.
Empurro o velho portão da minha casa e em seguida entro. Aperto a alça da minha bolsa no meu ombro, preparando-me para tirar as chaves, descubro que não preciso quando vejo meu pai sentado no varanda enquanto escuta o rádio. Aproveito que ele está distraído e que não me viu ainda, para lhe surpreender, passando meus braços ao redor do seu corpo.
- Boa tentativa, principessa, mas já não me assustas mais. - Meu pai me faz sorrir. Desde os meus 8 anos que amo lhe surpreender ao chegar da escola ou mesmo da casa de Ella. - Isso costumava funcionar, mas agora não.
- É sempre bom tentar, nunca se sabe quando realmente terei sucesso. - Digo, antes de aceitar que me meu pai me puxe para ficar em frente dele. - Como pai está?
- Eu estou bem, principessa. E tu? Como foi a festa? Fiorella e a família como estão?
- Quanto a Ella e a família, estão todos bem. Eu também estou... A festa não poderia ter sido melhor, foi tudo fantástico! O mais fantástico foi ver a alegria da Giu, ela estava mesmo muito feliz com tudo. - Faço um breve resumo da festa, dos detalhes impecáveis até a ponto máximo.
Deixo meu pai na varanda, mal entro pela cozinha e um cheiro muito agradável me enche de água na boca. Encontro minha mãe na sala, Bianca está esparramada no sofá enquanto assiste os seriados americanos que ela tanto ama.
- Chegaste cedo hoje, Mia, pensei que dormirias na Fiorella.
Minha mãe desvia o olhar da tela para se concentrar em mim, que acabo por me sentar bem ao seu lado. Resolvo me deitar com a cabeça apoiada no colo dela, não importa o quão velha uma pessoa esteja, colo de mãe sempre será a melhor coisa desse mundo.
- Ah... Resolvi voltar, quero me preparar para o dia de amanhã, de certeza que não será nada fácil. Aturar a Gianna não é tarefa para reles mortais.
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A medida que os dias se passam, eles se transformam em uma semana e eu sinto-me um tanto estranha, pois vez por outra o olhar e o sorriso sarcástico de Luiz me volta a mente e piscam por diversas vezes. Mesmo que não tenhamos nos visto mais desde aquela manhã.
As vezes me pego a pensar nele e no sorriso sedutor que ele tem, no sotaque fortemente carregado, ou mesmo no olhar sempre intrigante que ele possui. É provável que eu esteja a enlouquecer, pois não é possível que eu sinta saudades de uma pessoa que mal conheço.
— Mia, eu e as meninas estamos a pensar em ir espairecer na nova boate que abriu. Queres vir connosco?
A pergunta da minha colega Giovana me tira dos meus devaneios malucos, é realmente disso que eu preciso, espairecer e esquecer essas maluquices.
— Sim. Claro! Estou mesmo a precisar disso.
— Está bem. Saímos lá para as 21 horas. – Ela diz com entusiasmo.
— Parece que a boate é boa e muito bem frequentada. Minha prima esteve lá e adorou. – Marissa comenta, ao se juntar a nós no balcão de atendimento.
— Espero que realmente seja mesmo. – Digo, antes de suspirar longamente enquanto enrolo uma mecha no meu dedo.
As meninas e eu engatamos uma conversa animada sobre diversos assuntos; A joalheira nunca esteve tão sem movimento quanto hoje, apenas um cliente entrou e não comprou um brinco sequer. Já são quase dezasseis e trinta, nós fechamos dentro de quatro horas.
Nossa conversa animada até ao ponto de nos fazer rir de algo que Giovana conta, o resto do dia transcorre e nem sequer um cliente para contar história. Quando o relógio marca dezanove horas e muitos minutos, Gianna sai da sua sala e começamos a fazer o balanço do dia.
Contamos peça a peça, por mais nulo que isto seja, pois hoje não se comprou nada, o número de produtos é o mesmo que o anterior, mas quem somos reles mortais para o dizer? As portas da joalheria já estão fechadas, restamos apenas nós as funcionárias e a gerente.
Após um tempo entediante e interminável, somos liberadas. Respiro um tanto aliviada quando enfim me livro do meu uniforme e posso pôr a minha blusa e as minhas calças. Encontro as meninas na saída.
— Onde nos encontramos? – Questiono, ao me certificar das horas no meu telemóvel.
— Pode ser na boate mesmo, não acho que haja que existe necessidade de irmos juntas. – Marissa sugere.
— Pois é. Acho o mesmo. – Giovana concorda.
— Está bem. Nos encontramos lá então.
M I A Deixo o meu telemóvel de lado, logo após ter visto endereço da boate através da mensagem que recebi das meninas. Me concentro em passar uma generosa camada de rímel nos meus cílios, faço uma maquiagem bem leve e quando termino, abro a minha caixa de batons e escolho um parcialmente escuro.Passo-o o nos lábios e em seguida me encaro no espelho. Não me surpreendo com a imagem que nele se reflete, linda, como sempre estou! Autoestima é algo vital para mim, tão natural quanto respirar. Prendo uma pequena parte central do meu cabelo, de resto apenas deixo-o solto com leves cachos.Estou vestida de uma maneira simples, não quero nada muito chamativo, para que não pareça super desesperada por atenção. O vestido vermelho com riscas pretas me cai perfeitamente, valoriza minhas curvas, mas não de um jeito vulgar e sim de um modo discreto.Coloco uns brincos simples, calço as minhas sandálias e estou pronta. Pego minha bolsa, mas não antes de conferir as horas no meu telemóvel. Trinta
M I A - De onde és? - Questiono ápice da minha curiosidade, dou mais um gole super drink. - Teu sotaque é fortemente carregado.Os olhos escuros me estudam por um breve momento, ele está sempre com uma expressão de quem se diverte, essencialmente quando olha para mim. Quase como se eu sempre me encontrasse em situações divertidas, e ele estivesse lá, justamente para se divertir às minhas custas.- Sou de Sevilha, Espanha. A terra dos homens de sangue quente e da castanhola. - Ele me conta, por um misero instante, os olhos perdem a diversão e ficam opacos.- Espanha, uau! Adoraria muito visitar as paisagens, ver a vossa cultura, as danças e a gastronomia. Mas diz-me uma coisa, por que saíste de lá? Se vivesse em um lugar paradisíaco como aquele, não sairia de lá por nada.Meu drink novamente chega ao fim, os pedaços de fruta estão um tantinho salgadas e azedas, talvez porque elas sugaram a maior parte do álcool. Luiz desvia o olhar do meu, se concentra no bartender e pede mais uma dos
M I A — Quem era aquele homem? Um amigo? – Minha mãe questiona na manhã seguinte, quando me sento à mesa.Estou bastante animada, como o habitual para mais um dia de trabalho. Meus pais estão bem atentos a mim, meu pai ainda mais que minha mãe.— Nada demais, mãe. Era só o motorista da Ella. – Respondo, retirando uma fatia de pão do cesto.— Motorista da Ella a aquela hora? Ainda mais sem o carro? Estranho. – Pai resmunga, fazendo me sorrir enquanto passo a manteiga pelo pão.— É assim, pai. Eu e as meninas da joalheria marcamos de ir a boate juntas, no entanto muita coisa aconteceu e eu acabei sozinha. Encontrei Luiz, o motorista da Ella. Nos divertimos juntos, fomos à praça de San Marco e perdemos a noção do tempo. – Conto, sentindo meu coração se aquecer com as meras recordações.Realmente a noite de ontem foi agradável, tanto que não consigo deixar de pensar nos momentos em passamos juntos pelos próximos dias. Embora meus dias sejam monótonos, não faço outra coisa além de trabalh
M I A Passamos uma adorável tarde juntas, realmente estava a precisar de passar um tempo com a minha melhor amiga e os meus lindos sobrinhos. Me sinto renovada quando saio da mansão da minha amiga, Giancarlo como sempre me ofereceu boleia e eu rejeitei.São um pouco mais de vinte horas, como sempre o clima está favorável, durante o dia fez um pouco de calor, mas no entanto nesta altura ainda não escureceu por completo, tendo em conta que estamos no início do verão. Gosto de sentir a brisa branda que sopra em minha direção e espalha os fios do meu cabelo no ar.O som de uma buzina ecoa ao meu lado, existe um carro preto e de vidros também pretos ao meu lado, meu coração rapidamente gela de medo e obriga os restantes dos membros a seguir o mesmo caminho. Será um sequestro? Provavelmente acabarei morta, minha família não tem um centavo. Fecho os olhos e começo a rezar mentalmente para que alguém apareça, ou que algum milagre Divino se manisfeste, mas tudo que ouço é uma risada. Abro os
L U I Z Me surpreendo por ser ela a tomar a atitude, pois eu tinha planos de beijá-la hoje no final da nossa noite. Apressada ela... O que custava esperar só mais um pouco? Contudo não tenho muito tempo para pensar, apenas enlaço a sua cintura e a trago para mim. Faço o quis fazer desde a primeira vez que lhe vi.Ela me beija com tanta voracidade, e ao mesmo tempo com algum tipo de ternura. O sabor marcante do gelatto dela se mistura ao beijo intenso e me deixa inebriado, os dedos dela passeiam sobre o meu cabelo e eu simplesmente aperto o seu quadril.Os lindos olhos escuros me encaram risonhos depois que nos afastamos, deixo escapar um suspiro. Ambos respiramos ofegantes; Mia sorri ao me encarar, como se ela me desafiasse a dizer que não gostei do beijo ou que não deveria ter acontecido.- Não posso dizer que estou surpreso, afinal sabia querias me beijar. - Digo, provocando seu riso enquanto ela me empurra o ombro. - Não gostei nem um pouco do beijo. Terei de devolver.- O quê? - E
M I A — Bom dia, sejam bem-vindos. Em que posso ser útil? – Digo bem disposta pela manhã, quando um par de homens se aproxima do balcão.Levanto-me e fico de frente para eles, que por sua vez encaram as jóias expostas nas prateleiras de vidro. Passo a mão pelo meu rabo de cavalo, enquanto olho para o homem de meia idade e um rapaz mais jovem, pela semelhança entre ambos arrisco em dizer que são pai e filho.— Bom dia. Estamos à procura de um conjunto de brincos, pulseira, colar e anéis. – O mais velho responde.— Está bem... Tem alguma preferência nas jóias? Tipo rubis, safiras, ouro branco, diamantes, ametistas, cristais, ou ainda as semi jóias. – Explico.— Não temos nada em mente, importa-se de nos mostrar todas as opções? Quem sabe o conjunto perfeito não surja?— Claro, em um instante.Me curvo um pouco para empurrar levemente a portinha de vidro, retiro as bandejas adequadas que contém brincos, dos nais diversos tipos de joias, logo após retiro as pulseiras expostas, mascotes e
L U I Z Mia se acomoda no carro e em seguida põe o cinto de segurança, também faço o mesmo que ela em alguns instantes. Ligo o rádio, procuro a estação que passa músicas internacionais, por algum motivo a música que inicia é a que minha mãe tanto gosta, imediatamente uma onda de saudade me percorre.Ainda que tudo tenha terminado, como terminou, sinto tanta saudades deles, apesar de tudo são a minha família e eu amo todos loucamente. Mas também sinto tanta raiva e mágoa, deles, de mim e dela... Tudo poderia ser sido bem diferente, mas infelizmente não pode ser.Essa música me traz tantas recordações indesejadas, faço menção de trocar, mas olho para Mia e ela parece se divertir com a melodia alegre. Um único olhar a ela e toda minha raiva desaparece, Mia tem uma aura muito especial e cativante, ela me faz até abrir um pequeno sorriso.— O que foi? – Ela pergunta.— Nada. – Ligo o carro, ela ainda não me deu nenhuma direção, pouco me importa conhecer ainda mais Veneza, a coisa que mais
M I A Sinto-me de volta a minha adolescência quando entro em casa na ponta dos pés, receosa por ter ficado até mais tarde do que o previsto com o namorado, no entanto estou tão alegre e contente que me sinto mesmo uma menininha.A casa está mergulhada no mais completo e profundo silêncio, são uma e vinte da madrugada, meus pais provavelmente devem estar a dormir então faço muito esforço para não despertá-los. As lembranças de instantes atrás preenchem minha mente, minha lingerie está toda molhada e meu cabelo com aquele cheiro horrível de mar, mas nem por isso o sorriso não quer abandonar minha cara.A noite foi tão divertida e leve, não sei como não fomos além de ousados e quentes beijos, é visível atração que flui de ambos quando estamos juntos. Abro a porta do meu quarto com calma, ligo a luz e então meu coração para, então voltar a bater com força quando vejo minha mãe na minha cama.— Que susto, mãe! – Levo a mão ao meu coração, tentando acalmar as batidas frenéticas. — Pensei q