Capítulo 5

M I A

Deixo o meu telemóvel de lado, logo após ter visto endereço da boate  através da mensagem que recebi das meninas. Me concentro em passar uma generosa camada de rímel nos meus cílios, faço uma maquiagem bem leve e quando termino, abro a minha caixa de batons e escolho um parcialmente escuro.

Passo-o o nos lábios e em seguida me encaro no espelho. Não me surpreendo com a imagem que nele se reflete, linda, como sempre estou! Autoestima é algo vital para mim, tão natural quanto respirar. Prendo uma pequena parte central do meu cabelo, de resto apenas deixo-o solto com leves cachos.

Estou vestida de uma maneira simples, não quero nada muito chamativo, para que não pareça  super desesperada por atenção. O vestido vermelho com riscas pretas me cai perfeitamente, valoriza minhas curvas, mas não de um jeito vulgar e sim de um modo discreto.

Coloco uns brincos simples, calço as minhas sandálias e estou pronta. Pego minha bolsa, mas não antes de conferir as horas no meu telemóvel. Trinta minutos para as vinte e duas horas; Por sorte já jantei, não existe coisa pior que beber com o estômago vazio.

Fecho a porta do meu quarto, quando chego na sala encontro meus pais abraçados no sofá, enquanto assistem um programa qualquer. Meu pai não deixa escapar nenhuma oportunidade e aproveita para se colar a minha mãe; Ganho a atenção de ambos e o mesmo olhar admirado de sempre.

— De saída? – Pai pergunta.

— Sim. Vou à boate com as meninas da joalheria. Como estou?

Dou uma meia volta para que eles possam ver.

— Linda. Como sempre, principesca. – Minha mãe diz.

— Mas do que linda, estás incrível. Espero que não demores muito a voltar. – Meu pai continua, não importa o quanto o tempo passe, é provável que nunca deixe de ser a menininha dele.

— Claro que não, pai. A noite é uma criança. – Digo com um sorriso, meu telemóvel apita, então me apresso. — Mãe, pai, já vou indo. Vos amo muito! Até já.

— Não gosto quando te despedes assim, Mia. Mas enfim, diversão!

— Não fiques lá até tarde. – Meu pai emenda, para o caso de eu não ter ouvido da primeira vez.

Meu riso ainda reverbera pelo ambiente quando saio de casa. As vezes meus pais parecem esquecer que cresci e sou uma mulher agora. E que portanto não tenho mais 8 anos para ser tratada dessa maneira, mas não me ressinto pelo tratamento, sinto meu coração cheio de amor quando isso acontece.

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A boate não fica tão distante da minha casa, tanto que foi possível que viesse à pé. O que me levou apenas vinte minutos de caminhada. Não preciso de muito para identificar o local, é só olhar para o lugar bem chamativo em minha frente. Música bem alta flui de lá, exteriormente o lugar é lindo.

A construção é bem trabalhada, possui extravagância e sofisticação ao mesmo tempo. O nome da boate pisca em cores vibrantes e cintilantes. Embora hoje seja a inauguração, a rua não está tão cheia a ponto de modo que crie um congestionamento.

Dois homens fortes e grandes guardam a entrada.

— Boa noite. Tudo bem? – Saúdo, atraindo a atenção dos homens para mim. Ambos me olham de cima a baixo, respondem com um aceno de cabeça. – Existe algum procedimento para entrar?

— Hoje por ser a inauguração, a entrada é grátis. Mas nos restantes dias será necessário um pagamento. –  Um dos guardas explica. – Divirta-se.

— Certo. Obrigada!

Eles me dão espaço para passar, entro abismada com a decoração presente. As luzes coloridas e cintilantes são a primeira coisa que me chamam atenção, em seguida os sofás vermelhos e pretos distribuídos pelo espaço, encaro ainda o bar com os mais diversos tipos de bebidas e por fim a pista de dança onde existem muitas pessoas.

Pelo visto me enganei, isto aqui está abarrotado de gente. Por mais incrível que pareça, existe espaço em alguns sofás e ainda nas cadeiras do bar. A música alta banha cada espacinho daqui. Olho em volta, encarando as pessoas que aqui estão, em uma busca pelas meninas.

Infelizmente minha busca não é bem sucedida, então escolho ir me sentar nos lugares do bar. Estou mesmo a precisar de algo para beber, minha garganta está seca.

— Boa noite! – Ouço o grito de alguém, ergo a cabeça e vejo o barman.

— Oi! – Respondo com um pequeno grito, esperando que minha voz se sobreponha à música alta.

— Bem-vinda. O que posso te oferecer?

—Obrigada! – Sorrio. —  Não sei. Eu gostaria de uma bebida adocicada, mas no entanto com um baixo teor de álcool. O que me sugeres?

— Tenho aqui uns drinks surpresa que fizemos. Eles são feitos a base de sumo de frutas e baixo álcool tal como descreveste. – Ele se curva para retirar taças de diversas cores, enfeitadas com a sua devida fruta no interior delas. — Aqui estão. É só escolheres.

— É grátis? – É minha questão, enquanto fico a olhar de um drink para o outro, confusa sobre qual escolher. Um especial me chama a atenção, possui uma cor esverdeada e alguns retalhos de frutas ao fundo; Ele sorri e então acena positivamente. — Vou querer esse cheio de frutinhas.

—Boa escolha!  Aqui está. Espero que gostes.

Ele me entrega o drink, levanto-o um pouquinho em sinal de brinde, bebo um gole do drink e quase vejo estrelinhas tamanha é a maravilha. É como um encontro de sabores: do doce, do azedo, do marcante e com uma leve pitada de gás ao fundo.

Bebo mais um gole, enquanto uma nova música se inicia, meus olhos percorrem cada espaço da boate e simplesmente não consigo ver nem Gisele, tão pouco Marissa. Mas também né, aqui está tão cheio que me surpreenderia se lhes encontrasse.

— Boa noite.

A música está parcialmente razoável, por isso é consigo ouvir com clareza quando uma voz máscula e poderosa reverbera bem ao meu lado. Meu coração se agita em ansiedade e começa a bater firmemente. Arrisco em olhar para o lado, me arrependo pois no momento em que o olhar castanho encontra o meu, meu estômago se contrai.

Luiz me encara com surpresa visível no olhar, o canto do lábio se ergue e ele me sorri. Uau... Ele realmente precisa ser tão lindo? Ele está vestido de maneira informal, mas ele consegue estar mais lindo do que o dia que nos conhecemos. Será ele ou são meus olhos?

— Quem é vivo sempre aparece. – Digo, sem saber o que dizer realmente.

Luiz senta-se ao meu lado, bartender se aproxima e ele faz o seu pedido.

— Eu que o diga. – Ele diz com suavidade, em seu sotaque forte. — Obrigado. – Ele agradece depois que recebe o seu drink. — Mia, não é? Ou será que preciso te chamar de dona Mia?

— Só Mia está bom. – Dou mais um longo gole no meu drink, sobram apenas as frutinhas ao fundo. — Então Luiz, tudo bem?

— Sim, sim. E contigo? – Ele devolve a pergunta, engolindo um gole do seu drink.

— Também...

Ficamos sem assunto, o silêncio se instaura entre nós. Aproveito para me deliciar com os pedacinhos de fruta existentes no meu drink, também para retirar meu telemóvel da minha bolsa, desbloqueio o aparelho e vejo algumas notificações. 

Vejo primeiro as mensagens de Giovana:

"Meu filho adoeceu, precisei levá-lo ao hospital. "

"Desculpa, Mia. Mas não poderei vir, a fila cá é imensa e sequer fomos atendidos. Espero que se divirtam. "

Sem muito pensar, digito a resposta.

"Que nada, Giovana. Não te preocupes. Melhoras para o teu bebé. Beijos para ele! "

Adiante vejo algumas notificações sem importância das minhas redes sociais, tenho ainda mais  mensagem da Marissa que leio rapidamente:

"Mia, cheguei há muito tempo. Onde estás? "

"Que demora. Estou a ponto de criar raízes. "

Acabo por sorrir diante do drama dela, então digito a resposta dela.

"Já cheguei, Mari. Não te vejo! Onde estás? Eu aqui no bar. "

A resposta chega dentro de alguns instantes.

"Acabo de sair, encontrei meu ex e saímos para conversar em um lugar mais calmo. ☺"

Fecho os olhos por instante e respiro fundo, contendo a vontade de gritar. Estou cética com o que acabei de ler, será que ela enlouqueceu? Depois de tudo que ela me contou sobre o tal...

" Tu é que sabes. Faz o que for melhor para ti; Quero que sejas feliz. "

Sem mais a dizer, apenas bloqueio a tela do meu celular e guardo-o na minha bolsa. Sinalizo para o bartender para pedir mais um drink.

— Queres o mesmo ou algo diferente?

— O mesmo. Gostei muito desse.

Instantes após o meu drink é depositado sobre a bancada, agradeço a ele e não me privo de dar um longo gole. Olho para Luiz ao meu lado, apiro o perfume marcante e masculino que provem dele. Como se sentisse o meu olhar sobre si, o olhar dele recai sobre mim e então tudo se repete. Meu coração se agita e dispara com mais fervor.

Talvez seja a bebida, não sou lá muito forte para o álcool.

— Pareces desolada. Como se estivesses desapontada. – Luiz diz, antes de descansar o seu copo vazio.

— E estou. Marquei com minhas colegas de virmos nos divertir aqui, uma delas teve contratempos e a outra esteve aqui, mas já foi embora. E cá estou eu, sozinha. – Desabafo, com mais um longo gole acabo o meu drink.

— E eu sou o quê? – Ele graceja, sorri, eu não queria sorrir, mas o sorriso dele é tão cativante e acabo por fazer o mesmo. — Fica descansada. Também vim só, mais para conhecer a cidade mesmo. Faremos companhia um ao outro, que tal?

— É uma boa ideia. Ei, psiu, peço mais uma desse drink maravilhoso.

Minha terceira taça não demora a chegar, ele também faz o mesmo, brindamos a nós mesmo e a noite de hoje. A pista está tão cheia que não sinto ânimo para ir lá e dançar, Luiz fala qualquer coisa que não consigo prestar atenção, demasiado absorta no meu drink e confusa sobre as emoções que ele me causa. De certeza é só carência e nada mais.

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