Capítulo 4

O lugar onde Caterina trabalhava era o tipo de ambiente que eu nunca imaginara pisar em toda a minha vida. Uma boate de stripper. O som ensurdecedor da música vibrava nas paredes de luzes piscantes, e o cheiro de bebida misturado a perfume barato criava uma atmosfera pesada, mas, de alguma forma, atraente. Havia algo naquele caos organizado que mexia comigo, algo que anestesiava os sentidos de uma forma que nenhum remédio fora capaz de fazer.

— Bem-vinda ao Inferno! — Teri brincou, abrindo os braços como se fosse a anfitriã de um grande evento. — Literalmente. Esse é o nome da casa.

— Inferno? — perguntei, hesitante. — Não tinham algo mais... convidativo?

— Convidativo é para amadores, querida. — Ela piscou, rindo. — Aqui, a gente não esconde o que é. As pessoas gostam de saber exatamente no que estão se metendo. Além do mais... quer algo mais convidativo do que... nós?

Teri parecia não se levar a sério. Ela transitava pelo ambiente com a facilidade de quem já fazia parte dele há muito tempo, cumprimentando garotas, rindo de piadas que eu não entendia. Era impossível ignorar sua energia. Ela parecia uma estrela prestes a subir ao palco, e talvez fosse exatamente isso que a mantinha tão confiante.

— Aqui ninguém julga ninguém. Pelo menos não oficialmente. — Teri deu de ombros, como se estivesse me lendo como um livro aberto. — Mas, entre nós, eu prefiro não saber o que passa na cabeça desses caras. São só clientes, e clientes pagam.

Eu a segui pelos corredores estreitos, sentindo-me completamente deslocada. Passamos por mulheres que conversavam e riam enquanto se preparavam, trocando piadas e ajustando os figurinos. Algumas estavam de lingerie luxuosa, outras com vestidos justos que pareciam pertencer a outro mundo.

— Não parece tão ruim assim — comentei, em um tom baixo.

Teri parou no meio do corredor e olhou para mim com um sorriso travesso.

— Sério? Bem, espere até ouvir as histórias das meninas. Esse lugar é um prato cheio de caos, drama e, às vezes, uma boa dose de diversão.

— E você? Qual a sua história? — perguntei, curiosa.

— Minha história? — Ela riu. — Você não tem a vida inteira pra ouvir, querida. Mas, resumindo: eu estava entediada com um trabalho de escritório, decidi que precisava de algo mais... emocionante. Aqui estou.

Havia algo em sua resposta que parecia como uma mentira muitas vezes repetida, mas não insisti. Teri era uma força da natureza, e não seria fácil atravessar suas barreiras. Em vez disso, apenas a segui enquanto ela continuava pelo corredor.

— Vou subir para o número de abertura — Teri avisou, entregando-me um copo com uma bebida colorida que havia pegado no bar. — Relaxe e veja como funciona. Talvez você até goste.

Sentei-me em uma cadeira de plástico próxima a uma tela que exibia imagens do palco. As luzes giravam e refletiam nos corpos das garotas enquanto elas se moviam ao som de uma música vibrante e levavam os homens na plateia a loucura.

Meus olhos grudaram na tela enquanto as dançarinas realizavam movimentos precisos, cheios de sensualidade. Apesar de todo o barulho, havia algo naquilo que era quase... bonito. Não era apenas sobre corpos e roupas mínimas. Era sobre presença, controle, força. Era como se, naquele palco, aquelas mulheres fossem donas do mundo.

Sem perceber, meus pés começaram a bater no ritmo da música. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando bloquear os pensamentos que insistiam em me lembrar do que eu havia perdido. O som da música era como uma brisa em meio ao calor sufocante da dor. Meus movimentos começaram devagar, quase involuntários, mas logo meu corpo inteiro estava respondendo ao ritmo. Era algo natural para mim. A dança sempre fora minha válvula de escape, e, mesmo naquele ambiente, ela ainda tinha o poder de me transportar para longe.

— Isso que eu chamo de entretenimento extra. — Uma voz masculina cortou o som ao meu redor, e eu abri os olhos imediatamente.

Na porta do camarim, um homem estava parado, com um sorriso de canto nos lábios e os braços cruzados. Ele parecia ter cerca de trinta e poucos anos, bem-vestido, com uma postura confiante e um olhar penetrante.

— Se você puder fazer isso tirando a roupa, diria que tem um emprego garantido.

Minha respiração ficou presa na garganta, e senti o rosto esquentar. Endireitei-me rapidamente, tentando disfarçar o constrangimento.

— Obrigada, mas... não estou interessada.

Ele riu, mas seu olhar não desviou de mim. Havia algo naquele sorriso que era ao mesmo tempo desconfortável e intrigante.

— É amiga da Cat, certo? — ele perguntou, ignorando minha tentativa de encerrar a conversa. — Ela me disse que você precisava de um emprego.

— Eu... não exatamente — respondi, evitando encará-lo diretamente.

— Então qual é o problema? — ele continuou, inclinando-se levemente para frente. — A timidez? O preconceito? Ou a moral?

O tom casual e provocativo me deixou sem palavras por um instante. Não era a dança que me incomodava. Era o que aquilo representava. Era o medo do julgamento, o peso de como isso seria visto por outros. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que precisava de algo. De dinheiro, de movimento, de uma distração.

— Não é a dança — disse, finalmente, tentando manter a voz firme. — É... o que vem depois dela.

— Dormir com os clientes? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Não é obrigatório. Altamente recomendável, claro, mas aqui você faz o que quiser.

Algo sobre o tom casual que ele usava fazia aquilo parecer simples, mas para mim, era tudo menos isso.

Ele se aproximou um pouco mais, agora com as mãos nos bolsos.

— Vou ser sincero. Temos espaço para alguém como você. Não estou pedindo que decida agora, mas se ainda está aqui, é porque está considerando. Então, seja prática.

“Um ano aqui, e eu recomeço minha vida” pensei, tentando me convencer de que aquilo poderia ser apenas uma fase. Um ano seria suficiente para ganhar o dinheiro necessário e reconstruir o que restava de mim.

Por um instante, fechei os olhos e senti o peso esmagador do vazio que meus filhos deixaram. Não havia mais risadas no banco de trás do carro, nem histórias para contar antes de dormir. Tudo o que restava era uma ausência que gritava em silêncio. E, talvez, naquele caos, eu pudesse encontrar algum barulho que abafasse a dor. Era isso ou me perder para sempre.

— Eu aceito — disse, estendendo a mão. Minha voz saiu firme, mas meu coração batia forte.

O homem apertou minha mão, com um sorriso satisfeito.

— Boa escolha. Bem-vinda ao Inferno.

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