A noite era um véu de penumbra, mas no horizonte surgiam traços sutis de cinza, anunciando a chegada do amanhecer. As estrelas persistiam, desafiando o avanço da luz, conforme o ar pesado carregava a promessa de algo iminente. O silêncio parecia vivo, pulsando como o prelúdio de uma tempestade.Hei e Kaena moviam-se como sombras pelos arredores das minas, seus passos tão leves quanto uma brisa noturna. A escuridão era uma aliada caprichosa, revelando contornos traiçoeiros de detritos e buracos escavados por trabalhadores exauridos. Guiados pela luz tênue e os sons abafados que vinham das cavernas, eles avançavam com precisão meticulosa, cada gesto um reflexo de seu treinamento.— É mais cruel do que eu imaginava — murmurou Hei, a voz carregada de incredulidade. Ele observava um grupo de homens acorrentados carregando pedras grotescamente grandes. Seus ombros estavam arqueados como galhos quebrados, os olhos opacos e distantes, drenados de qualquer brilho de vida. — Estão sendo esmagado
As sombras na câmara quase respiravam. Moviam-se como criaturas famintas, dançando pelas paredes em um espetáculo de malevolência pulsante. No centro, Naaldlooyee permanecia imóvel, mas sua presença era tudo, como um olho de tempestade que atraía o caos ao seu redor. Ele controlava as trevas como um maestro oculto, cada movimento calculado com uma precisão arrepiante.Tupã sentia a opressão do lugar como se o ar tivesse se tornado líquido e denso e tenebroso. Era mais do que o peso físico: era uma mordaça que sufocava seus pensamentos, sua ligação com a floresta, seu próprio espírito. Ele tentou buscar força nas lições espirituais que aprendera — na energia das árvores, no sussurro da terra — mas o silêncio do mundo natural era ensurdecedor.Ele respirou fundo, forçando-se a não sucumbir ao desespero.— Agora você entende — a voz de Naaldlooyee cortou o silêncio como uma lâmina fria, reverberando pela câmara como trovões distantes. — Sua floresta o abandonou, guerreiro. Você não é nada
O caos reinava na câmara. As sombras de Naaldlooyee serpenteavam como víboras famintas, envolvendo Tupã em um redemoinho de escuridão que parecia sugar não apenas sua força, mas também qualquer traço de esperança. O ar estava pesado, sufocante. Cada respiração era uma batalha, cada movimento, uma luta contra um oceano invisível que tentava tragá-lo.E, mesmo assim, no fundo de sua mente, entre os ruídos ensurdecedores da escuridão e a dor que atravessava seu corpo como lâminas, havia algo: um fio de luz.Tupã fechou os olhos por um instante. Ele precisava ignorar o tumulto em volta de si, o peso esmagador das trevas, a voz de Naaldlooyee zombando em sua mente. Ele precisava se lembrar.As palavras de Nagato, de Yara, e dos anciões ecoaram como sussurros na memória, carregadas de uma verdade simples, mas poderosa: a floresta não era apenas árvores e raízes. Era um espírito, uma força viva que conectava tudo.Você é parte dela, Yara havia lhe dito, sua voz tão clara em sua memória quant
No coração das minas, o ar era pesado, impregnado de poeira e suor. As paredes de pedra, iluminadas por tochas escassas, pareciam apertar os corredores, transformando o lugar em uma prisão sufocante. Lá dentro, Hei e Kaena estavam perto de alcançar seu objetivo. Correntes se partiam, e as sombras nos rostos dos trabalhadores começavam a dar lugar a uma centelha esquecida: esperança.Kaena parou subitamente, seus sentidos aguçados detectando movimento no corredor escuro.— Eles estão vindo — alertou ela, apertando o cabo de suas lâminas gêmeas.Hei permaneceu sereno, mas seus olhos refletiam urgência. — Mantenha-os ocupados. Eu termino aqui.Sem hesitar, Kaena desapareceu na penumbra. Em segundos, o som do confronto irrompeu, aço contra aço ecoando pelas estreitas passagens. Ela era uma tempestade em movimento, usando a estreiteza dos túneis a seu favor, cada golpe de suas lâminas certeiro, cada movimento, meticulosamente planejado. Os guardas caíam um a um, incapazes de acompanhar tama
Os primeiros raios de sol infiltravam-se pela copa das árvores, tingindo o chão da floresta com um brilho dourado que contrastava com o caos em volta. O som metálico de lâminas cruzando o ar ecoava entre os troncos, misturando-se aos gritos abafados de esforço e dor.Tumbleweed movia-se como um vento, seus pés deslizando com agilidade quase sobrenatural conforme enfrentava os espadachins. Cada movimento era uma dança, uma luta desesperada por sobrevivência.Seu corpo estava no limite, cada músculo ardendo, cada respiração vindo carregada de dor, mas ele não podia parar. Não enquanto os jovens aldeões dependiam dele. Os olhos arregalados e cheios de pânico daqueles que tentavam fugir eram seu único impulso para continuar.— Vocês têm que fugir! — gritou ele, girando no ar para desferir um chute vigoroso, que arrancou a espada das mãos de um dos adversários.— E deixar você aqui? — protestou um dos jovens, hesitando, a voz tremendo de medo e preocupação.— Agora! — rugiu Tumbleweed, sua
A floresta ainda dormia sob o manto da madrugada. A névoa rasteira dançava sobre o solo úmido, enquanto as folhas, orvalhadas pelo frescor da noite, sussurravam segredos ancestrais ao vento. Lá, no coração desse silêncio antigo, duas sombras se moviam com a suavidade de predadores. Yara, de olhos afiados como a lâmina da sua adaga, conduzia seus passos firmes sobre as raízes da terra que tanto conhecia. Ao seu lado, Tupã, o caçador cuja respiração compassada seguia o ritmo da floresta, mantinha os sentidos em alerta, pronto para proteger a mulher que amava. Juntos, formavam um só espírito, mas agora eram também um casal foragido.A alvorada não tardaria a banhar os céus de laranja e ouro, mas aquela manhã não seria como as outras. Desta vez, a luz do sol traria consigo caçadores — não de presas, mas de almas humanas.Yara olhou de relance para Tupã, os olhos expressando a certeza e a preocupação que tentava esconder. Ele não precisava de palavras para entender. Um simples olhar bastav
A noite desceu sobre a floresta como um manto de veludo negro, ocultando os segredos e os medos que cresciam sob as copas altas das árvores. O vento murmurava canções antigas, que só aqueles de coração selvagem podiam compreender. Yara e Tupã caminhavam entre essas sombras, suas respirações sincronizadas com o pulsar da floresta viva, sentindo em cada passo o peso da perseguição que os rondava, como lobos famintos à espreita.A escuridão era um refúgio e um perigo. Ali, onde os raios da lua mal atravessavam o denso dossel de folhas, o casal sabia que a floresta poderia ser sua aliada ou sua ruína. As árvores, testemunhas silenciosas de séculos de histórias, pareciam abrigar segredos, oferecendo-lhes proteção, mas também alertando sobre o que viria.Tupã, com seus sentidos afiados, par
O sol nascente despontava no horizonte, tingindo de dourado as copas das árvores, mas a luz que quebrava a escuridão não trazia consolo. Pelo contrário, o amanhecer revelava o início de um novo desafio, e Yara e Tupã sabiam que a perseguição havia apenas começado.As marcas no solo eram inconfundíveis. Tupã, agachado junto a uma trilha de folhas amassadas, examinava os rastros com olhos atentos. Havia pegadas largas, impressas profundamente na terra úmida, pesadas como as intenções daqueles que as deixaram. Ele passou os dedos pelos sulcos no chão e estreitou os olhos.— Não são guerreiros comuns — murmurou Tupã, a voz grave cortando o silêncio da floresta. — São homens brancos, caçadores de recompensas. A paga deles é o peso de nossas cabeças.Yara se a