Dias depois tive uma surpresa muito desagradável, eu tinha saído para comprar umas coisas para casa quando por acaso vi o Daniel na rua, o felizardo namorado da Daniela, era assim que eu o considerava, um felizardo; eu já havia visto os dois juntos algumas vezes na igreja, claro que me senti super mal com isso e ganhei umas caras feias dele também, mas eu não sou nem um idiota, ela eu até encarava, mas um “armário” de um metro e noventa e cinco de altura igual ao Daniel eu não tinha coragem não, me chame de covarde quem quiser mas ainda tenho amor aos meus dentes e parece que para minha infelicidade ela percebeu isso, e passou a vir muito mais vezes acompanhada com ele, e ainda por cima ficava me olhando de vez em quando, é claro que era pra ter certeza de que eu não teria coragem de olhá-la perto do Daniel. Mas voltando à ocasião, dessa vez estávamos na rua, foi um encontro casual e ele não tinha me visto, eu estava perto o suficiente pra ouvir a conversa dele com um outro estranho, um cara de cabelo liso amarrado pra trás feito rabo de cavalo e cara de índio:
– E a gata?
– Ah rapaz, nem fala, aquela mina é demais.
– Dani, você sabe que ganhou na loteria, né? Experimenta dá uma bobeada que fica sem ela rapidinho.
– Acha que eu não tô ligado? Tá cheio de marmanjo de olho na minha mina, mas aquela tá na minha mão, comendo direitinho, fazendo tudo o que eu mando, doidinha pelo papai aqui.
– “Cê nun tá falando de tudo mesmo, né?”
– Claro que tô, e você acha que eu faço serviço pela metade?
– Cara, você... Dani eu não acredito.
– Pode crer cara, to falando que ela come na minha mão.
– Com todo respeito cara, 'cê sabe que é meu considerado, mas não dá pra deixar de imaginar uma deusa daquela sem roupa.
– Pois eu não preciso nem imaginar, é só m****r e tenho serviço completo. Cara, pensa numa gata que faz de tudo, tudo o que eu m****r, de qualquer posição, de qualquer maneira, em qualquer lugar.
– Aí, se pensar em alguma brincadeirinha assim tipo DP, é só me ligar em?
– Tá de gozação com a minha cara né? Sai fora mano.
Eu não conseguia acreditar no que ouvia, não teve jeito tive de me sentar minhas pernas amoleceram na hora, minha respiração ficou suspensa, esse desgraçado fazia mesmo isso tudo com ela? E ainda por cima ainda saía por aí contando vantagem? Isso era impossível, embora ela sempre me olhasse com raiva, ela tinha um olhar de pureza, uma aparência de donzela, eu me recusava a acreditar nessas besteiras, mas ela era tão grudada com ele que era bem provável que isso fosse verdade mesmo, além do que todo mundo sabia que o Daniel não era nenhum santo, fumava, bebia, jogava, tinha todo tipo de amizades, usava muita gíria e ainda soltava um palavrão em cada frase. E pra Danny estar tão colada com ele daquele jeito... Eu poderia sentir o chão sumir sob meus pés mas ali na minha frente, apenas a poucos metros estava o dono daquele corpo cujo olhar tanto me atormentava.
Mas a situação mudou, chegaram mais duas garotas, duas morenas, aparentemente eram irmãs, pois se pareciam demais, também eram igualmente lindas, não como a “minha Danny” mas também eram lindas, pele morena clara muito bronzeada, usavam calça comprida e camiseta, cabelos castanho escuros uma os usava soltos a outra amarrados, cada um deles ficou com uma, o Daniel ficou com a mais alta, usava cabelos amarrados, se beijaram “na boca”, abraçados por alguns segundos, conversavam baixinho, entraram todos no carro do Daniel, um conversível importado amarelo de uma marca alemã que nunca vi, dobraram a esquina e sumiram, não era preciso ser gênio para saber onde foram. E eu fiquei ali, remoendo aquela situação, quer dizer que o maldito além de contar vantagem de sua intimidade com a Danny, fazendo dela uma verdadeira prostituta, ainda a traía.
Eu precisava tirar essa história à limpo:
– Alô, Edu? É o Léo, tudo bom?
– Fala rapaz, claro, enfim parece que dessa vez você guardou o número do meu celular em?
– É parece que dessa vez eu acertei, mas é o seguinte, eu preciso tirar uma história a limpo com você.
– Pode m****r, qual é o problema?
– Você não vai acreditar no que eu vou te contar, sabe quem eu acabei de ver aqui pertinho de mim?
– Pra você falar assim com essa voz de garotinho sonhador, só pode ter sido a Daniela.
– Quase, o Daniel, ele estava conversando com um amigo dele, não me viram não, mas deu pra ouvir tudo o que falavam, você acredita que o desgraçado vai pra cama com ela?
– Sim, e daí? Você me ligou só pra contar isso?
– Como assim e daí?
– Leonardo, deixa de ser criança meu, todo mundo sabe disso.
– Como assim todo mundo?
– Ora como assim, todo mundo, acha que o Daniel tá com ela por causa de quê? Só porque ela é bonita? E acha que ela ia ficar com ele só por que ele é rico? Pode até ser que sim, mas não é só dinheiro que tem nessa jogada não meu chapa, o Daniel só tá na igreja ainda por causa dela, ELA segura ele lá, você sabe o que ele apronta.
– Quer dizer que ela se rebaixa ao ponto de ir pra cama com ele só pra segurar ele na igreja?
– Não foi bem isso que eu disse mas é mais ou menos por aí, mas tem outra coisa também, a Daniela, embora não aparente ou não deixe isso transparecer, pelo menos pra VOCÊ, é uma moça muito cristã...
– Cristã!?!? Ora Edu deixa de conversa se tudo o que eu ouvi for verdade ela não tem nada de cristã...
– Eu já sei o que você ouviu, que ela faz de tudo pra ele e tal, só que todo mundo nessa vida tem um esqueleto no armário, todos nós temos defeitos, mas eu já estudei com a irmã dela na classe jovem e conversamos muito também, na época em que a Marcelly ainda não se importava de ter amigos mais humildes, e te digo com absoluta convicção, ela só tem esse tipo de atitude por influência dele.
– Edu, ela não pode fazer tudo aquilo com ele, não pode, por favor. – Eu já estava desesperado com essa descoberta.
– É cara, eu sei o quanto isso deve ser duro de aceitar, principalmente pra você, mas é verdade.
– E tem mais também – aí contei das garotas.
– Eu sei, isso também não é novidade, ele trai ela direto mesmo e essas duas também não é a primeira vez que saem com ele. Não sei o nome delas mas já soube de outras historinhas envolvendo elas duas.
– Caramba, será que eu sou o único que não sei de nada naquela igreja?
– Parece que sim, mas se eu fosse você além de ficar calado não me arriscava a dizer nada pra ela, outros mas bem vistos por ela já tentaram e ela não acreditou em nada. E se você tentar, é bem provável que ela te mande falar com o Daniel.
– Eu sei, falar com ela seria besteira mesmo, de qualquer forma valeu.
– Leonardo.
– Fala.
– Eu não sou nenhum bobo, sei que você nunca falou com todas as letras mas nem precisa, eu e todo mundo lá na igreja já percebemos o quanto você é caidinho por aquela garota, mas como seu amigo cara, esqueça, não vale a pena, ela é uma moça muito cara, se é que a gente pode chamar de moça, esqueça dela Léo.
– E você acha que é tão simples assim?
– Eu sei que não é mas você tem que tentar, ela não é garota pra você.
– Edu eu não consigo ficar um só dia sem pensar nela.
– Eu sei, só que você não é o primeiro, você está sofrendo a toa, a troco de nada, esperar algo da Daniela é como dar murro em ponta de faca, é como a Ária falou aquele dia, ela não passa de uma cobra. Mas olha, eu vou ter que desligar, faz isso cara, pensa no teu violino, pensa no teu trabalho, naquele monte de linhas de código que só você e seus amigos nerds entendem e garanto que você vai sofrer bem menos. Não vale a pena desejar uma estrela quando você é um grão de areia ainda mais quando esse grão de areia está no fundo do mar.
– Tudo bem, valeu pelos conselhos.
– Ok fui, qualquer coisa já sabe, tamos aí.
Então era assim que todos eles me consideravam, um mísero grão de areia, apenas um nerd cheio de desejos impossíveis e sonhador. Voltei pra casa arrasado com minha descoberta, então era verdade, a minha Danny, a minha Dannyzinha fazia de tudo com o namorado, aceitava fazer papel de prostituta numa cama apenas pra impedir que o namorado se afastasse da igreja, sem saber que ela estava era justamente contribuindo para que ele se afastasse ainda mais depressa.
Descobrir aquilo foi um tremendo choque pra mim, levei semanas pra digerir aquilo, eu não conseguia acreditar que a minha Danny se prestava a um papel desses. Eu queria tratá-la como uma princesa e ela se rebaixava a um nível pior que o dos animais, aceitava se passar por orgias iguais a de uma garota de programa, a Danny, a “minha” Danny.
No sábado logo depois de ter descoberto essas coisas o chão se abriu sob meus pés quando cruzei com ela no corredor do estacionamento, o mesmo corredor onde eu a tinha visto pela primeira vez, onde de um lado era a saída dos carros e dos outro terminava na recepção da igreja, mais ou menos um metro e meio de largura espremidos entre a parede do templo e o muro da divisa. Não pude deixar de olhá-la como sempre mas dessa vez com um sentimento bem diferente me corroendo por dentro, e se antes eu tremia ante seu olhar de reprovação, agora eu era indiferente e sentia muita pena dela.
Num sábado, após terminado todos os serviços de culto, eu tinha guardado meu instrumento, peguei minhas coisas e cruzei com ela na escadaria da recepção, parei pra olhá-la a um metro de distância dela, tomei um choque quando ela percebeu e parou também uns três degraus acima, me olhou com tanta raiva que eu achei que ela fosse me empurrar escada abaixo, até me agarrei ao corrimão para no caso dela realmente tentar isso, imediatamente me lembrei daquilo tudo de novo e um aperto muito forte me surgiu no peito mas ela já estava ali na minha frente, no mesmo degrau que eu, de cabeça meio baixa me olhando por cima dos olhos, os lindos cabelos claros jogados sobre a testa, um fio de suor a escorrer pelo lado esquerdo de seu rosto claro, de saia azul escura pelo joelho, sandálias pretas, blusa branca de botões, e uma bolsa pequena no ombro esquerdo, que ela segurava com tanta força que as veias de seu braço pareciam quase estourar, estava ali, a menos de meio metro de mim, dava até pra sentir a força dessa repulsa. Ela encheu o peito de ar e antes que dissesse qualquer coisa eu me adiantei:
– Que foi que eu te fiz pra que você me odeie desse jeito, Daniela – tentando parecer o mais tranquilo que eu podia, falei com a voz baixa, olhando-a da mesmo maneira, de cabeça meio baixa e por cima dos olhos – será que eu poderia ao menos saber o motivo?
– Não fala meu nome e PARA DE OLHAR PRA MIM! VOCÊ É SURDO? PARA DE OLHAR PRA MIM!.
Foi só isso, ela subiu o resto da escada bufando, não tive como esconder isso de ninguém, tinha ainda umas quatro ou cinco pessoas ali que inevitavelmente assistiram tudo, eu fiquei sem ação, nunca que eu poderia imaginar uma reação dessas, ainda estava com a respiração suspensa quando a Ária colocou a mão no meu ombro, ela parecia ler meus pensamentos, parecia saber exatamente do caos que estava em minha mente naquele momento foi quando ouvi sua voz tímida, perguntando com suavidade bem do meu lado que meus pensamentos pareceram voltar à realidade.
– Que foi Léo?
– Por que ela me odeia desse jeito Ária, o que foi que eu fiz pra ela – a essa altura eu estava sentado na escadaria, com o case do violino no chão, ainda tentando entender o “balde de água fria” que acabava de tomar na cabeça, felizmente as demais pessoas tiveram o bom senso de não se aproximarem, principalmente depois de verem que a Ária já estava por ali, mas pelo sim, pelo não ela tratou logo de me tirar dali, pegou ela mesma minhas coisas me segurando pelo braço e me levou numa das salas próximas, onde eu tentava digerir toda aquela vergonha.
A Ária era a única amiga de verdade que eu tinha se posso dizer assim, tinha o Arthur, mas ele não fazia parte do meu círculo de amizades cristãs, então eu tomava muito cuidado com o que eu conversava com ele, e nunca, absolutamente nunca contava a ele qualquer problema que eu tinha com meus “amigos” na igreja.
Mais ou menos uma meia hora depois eu me sentia mais calmo e pude então pela primeira vez na vida assumir pra alguém com todas as letras o que eu realmente sentia pela Daniela, mas não teria feito isso se a Ária não tivesse tocado no assunto:
– Você deve gostar muito dela.
– Mais do que tudo.
– Você a ama?
– Mais do que qualquer coisa na vida Ária – eu que até então estivera sentado com a coluna reta, olhando pro nada, agora respondia isso olhando nos olhos dela, e seu sorriso me confortou.
– Então lute por ela.
– Como?
– Ore por ela.
– Eu já faço isso desde que... desde que... – fiz uma pausa – desde que a conheci.
– Você ia dizer outra coisa.
– É que, eu soube algumas coisas dela no mês passado e ...
– Eu sei, todo mundo sabe disso, é por isso que eu digo, se você gosta dela mesmo então lute, ela pode não saber ou até não aceitar, mas ela precisa de você.
Era a primeira vez que eu ouvia algo tão bom.
– Leonardo, ela precisa de você e não sabe, você é uma pessoa muito humilde e são dessas pessoas que a gente precisa quando se pensa que está no topo, e na verdade não tem nada. Toda essa beleza dela pode ser apenas uma casca, uma casca que enfeitiça qualquer homem ou mulher, mas que também é um dom que ela não está sabendo aproveitar, nossa beleza também é um dom, não existem seres humanos feios, pois todos somos feitos à imagem de Deus, e “lindo és meu mestre...” lembra?
Eu apenas concordava acenando com a cabeça, estava abalado demais para responder qualquer coisa.
– Eu digo que ela precisa de você por que com você ela mudaria de vida completamente, ela seria o que Deus realmente quer que ela seja, falo isso por que conheço bem você, essas coisas todas que ela faz, você a ama de verdade pra perdoá-la e tê-la com você a despeito disso tudo?
– Mas Ária, tem tanta gente melhor do que eu que gosta dela.
– Você não respondeu o que eu perguntei, eu não quero saber dos outros, VOCÊ é meu amigo, então me responda sinceramente – dessa vez ela tomou minha mão direita e olhou dentro dos meus olhos, e eu me lembrei que era assim mesmo que uma mulher muito mais velha, de cabelos ondulados e igualmente claros falava comigo, uma mulher que não me lembro de lugar algum por onde eu tenha passado nessa vida, uma mulher de quem sempre me lembro quando me vem à mente a mesma imagem daquele homem alto e magro, usando óculos e frequentemente escondido atrás de um piano; e era assim que minha amiga falava comigo, olhando dentro de meus olhos –Você a ama o suficiente para esquecer todos os erros que ela cometeu no passado?
– Amo Ária, amo mais do que minha própria vida, amo mais do que tudo, amo mais do que o ar que respiro.
– Então ore por ela.
– Eu já faço isso todas as noites e todos os dias.
– Então espere pela resposta de Deus, se Ele achar que você pode ficar com ela, quando chegar a hora certa, isso vai acontecer.
– Mas Ária eu...
– Calma Léo, apenas ore, e espere pela resposta de Deus, e o mais importante, se você decidiu entregar sua vida nas mãos dele, então deve respeitar o plano que ele tem pra você, mesmo que isso lhe doa, conforme-se com a vontade de Deus, pois certamente é o melhor pra você amigo.
Daí ela se levantou, ainda segurando minha mão, me abraçou, me deu um beijo no rosto e disse:
– E saiba que você tem uma amiga que realmente ora por você e torce por sua felicidade, viu? – seu sorriso me tranquilizava.
– Eu sei, e você também pode contar comigo sempre que precisar. – Pegou suas coisas e saiu me deixando ali para refletir um pouco.
Eu sabia que ela estava certa em tudo o que disse, mas preferi terminar minha reflexão em casa mesmo, por isso desci as escadas, peguei minha moto, e voltei para solidão do meu apartamento.
Resolvi seguir o conselho da Ária ao pé da letra, passei a orar muito mais do que antes pela Daniela, na verdade tinha vezes em que eu orava até mais por ela do que por mim mesmo, e passei a me sentir muito mais confortado, passei a sofrer bem menos pelas repulsas dela. Passaram-se vários meses e eu me conformava muito mais com minha situação, mas ainda me pegava triste por não tê-la comigo as vezes, ainda sonhava com ela e ainda era fascinado pela beleza celestial daquela garota com olhar de anjo. Ela no entanto, é claro que não notou mudança alguma, aliás, nem ela nem ninguém, pois como eu disse antes, eu não passava de um mísero grão de areia. Haviam-se passado um ano desde que a conheci, e ela ainda odiava quando me surpreendia olhando pra ela, mas houve uma vez em que foi diferente, ao invés de abaixar a cabeça ou virar para o outro lado como sempre eu fazia, dessa vez eu a enfrentei, o Edu até estava do meu lado nesse dia, e vendo que eu comecei a provoca
Após terminar um sábado normal como qualquer outro, tive de insistir muito com o pessoal da orquestra pra não ir comer pizza na casa do Marcello, eu estava afim mesmo era de ficar sozinho, tinha uns trabalhinhos extras que eu precisava terminar então ao chegar em casa, tomei um banho, jantei e me enterrei no computador quando lá pelas nove e meia da noite ouvi batidas na porta: – Já vou – gritei. Tomei o maior susto da minha vida quando abri a porta, era impossível acreditar, mas era verdade. – Dan... Daniela? – não podia acreditar que ela estivesse ali, bem na minha frente, bem na minha varanda, batendo à porta da “minha” casa, eu seria capaz de esperar uma visita até do Papa, menos dela. Linda como sempre, usando a mesma roupa que ela usava no dia que ficou tão pertinho de mim pra me ferir com aquelas palavras duras, uma saia azul marinho pelos joelhos, camisa branca de botões, levemente transparente, sandália preta de s
E a gente continuou assim por mais um tempo que eu não faço a mínima ideia, só sei que passava da uma da manhã quando ela anunciou que precisava ir, isso depois da gente ter conversado sobre os mais diversos assuntos, era simplesmente inacreditável que ela estivesse ali como uma amiga qualquer, depois da gente ter conversado muito, meu anjo precisava ir embora, e isso significava que eu precisava acordar e por um instante isso me doeu, e ela percebeu isso, pois a gente caminhou meio calados do quarto até a porta da sala quando já no lado de fora ela rompeu o silêncio: – Não se preocupe por que aquela Daniela que você e todo mundo conheceu nunca mais volta. E ao dizer isso, ela passou a mão bem de leve nos cabelos da minha testa, eu não podia crer, mas novamente senti aquela temperatura altíssima ao sentir o toque da pele dela na minha testa, e vi que ela sentiu também pois puxou rápido a mão e a gente ficou ali os dois olhando um pro outro
– E por que você decidiu entregar aquilo que uma mulher tem de mais precioso na sua vida logo pra mim? – Acontece que ninguém consegue ser enganado a vida toda, ninguém é tão ingênuo assim, e aos poucos eu fui vendo que por mais sacrifícios que eu fazia pra ver se ele se afirmava na igreja, estava só perdendo meu tempo pois não tinha resultado nenhum, ele só me dava patada, era grosso comigo, não me dava carinho e ainda desfilava comigo pelas rodas de amigos dele como se eu fosse um troféu ou um objeto de valor, fui percebendo que ele só estava comigo interessado no meu corpo pois ele me pedia direto pra ir pra cama com ele, eu dizia que não, que não tinha coragem, que não seria tão hipócrita assim, mas ele não entendia, queria, queria, queria, aí a gente brigava, um dia eu tive que gritar com ele, ele me insistiu tanto, eu falando que não, que não, que não, tive de gritar, aí ele ficou bravo e me deu um tapa no rosto, eu... – Ele te batia?
Mas enfim chegou a noite, e conforme nosso combinado, cheguei mais cedo, preparei meu instrumento e fiquei lá embaixo entre meus poucos “amigos.”– Algum de vocês viu a Daniela? – Pra que você tá perguntando dela? – Espantou-se logo o Edu.– Estou preocupado, ela inda não chegou.– Você o quê? – perguntou o Marcello.– É que a gente combinou que se encontrava aqui e já vai dar sete e meia e até agora nada.– Léo, para de sonhar vai, você vai virar motivo de piada com esse tipo de brincadeirinha.– Poxa Ária, até você? Eu só estou preocupado, é que agora a gente 'tá namorando.– Vocês o que? – todo mundo quase que em coro, depois disso veio uma tempesta
Não sei se finalmente o veneno dela tinha me atingido ou se realmente eu “abria os olhos” como ela dizia, mas fazia sentido, fazia total sentido pois nos seis meses anteriores ao dia que a gente começou ela continuava a me humilhar e a me aborrecer, foi preciso que o Daniel a traísse para que ela decidisse ficar comigo, e como a Klísia dizia, quem poderia garantir que ela não estava querendo se vingar? É bem verdade que ela havia me jurado isso chorando, mas a Klísia estava certa, lágrimas nos olhos não provam nada, mas são altamente eficientes para convencer uma pessoa emotiva como eu, e a Daniela que todos conheciam era capaz de qualquer coisa, acho que até mesmo se aproveitar de sua aparência e de meu carinho por ela para me armar uma cilada. – Ela não seria capaz de fazer isso comigo. – E por que não? Só por que você é louco por ela? Seja realista “minha vida.” – Para de usar as palavras dela, Klísia e por
– Sabe o que isso significa, meu amor? – ela pensava primeiro nas consequências, pelo menos agora ela era assim.– Lá na igreja?– Sim, nós dois vamos ser excluídos.– É, eu sei, infelizmente sim. – agora ela conseguiu me deixar triste, desde que me batizei, isso quando ainda morava na casa de meus amigos, eu nunca tinha tido qualquer problema com a igreja, mas agora era a primeira vez, e não pensei em mim, pensei nela, eu ia expô-la a vergonha e ao ridículo de não ter sido firme a nossos princípios e agora estar grávida e logo de mim. – acha que devemos nos casar?– Com dois meses de namoro? Claro que não, quer dizer, não que eu não queira, eu quero sim, mas não vai adiantar muita coisa, eu já estou de seis semanas, sabe o que é isso? Cerca de um m&ecir
A ideia de que agora eu seria pai, me fez esquecer quase que todos os meus problemas, eu não queria saber de mais nada, só do meu filho e da minha mulher, embora morássemos cada um em suas casas, ambos, já nos considerávamos assim. Mas também sabíamos de nossas responsabilidades com a igreja, e decidimos ter uma conversa pessoal com o pastor da igreja e logo depois nos submetermos às decisões da comissão da igreja, que nós dois já sabíamos qual seria: Uma dupla exclusão, a qual a Danny me proibiu veementemente de sequer tocar no assunto de me lamentar ou qualquer coisa do tipo por causa dela, ela dizia que se tudo aconteceu foi por que ela colaborou, então não tinha por que ter pena. Achei que ela tinha razão e pus uma pedra no assunto. Decidimos não contar nada a ninguém antes de conversar com o pastor, o que nós descobrimos que deveria esperar um pouco pois o pastor estava viajando e demoraria vários dias para voltar, como ela ainda estava com menos de dois m