– E por que você decidiu entregar aquilo que uma mulher tem de mais precioso na sua vida logo pra mim?
– Acontece que ninguém consegue ser enganado a vida toda, ninguém é tão ingênuo assim, e aos poucos eu fui vendo que por mais sacrifícios que eu fazia pra ver se ele se afirmava na igreja, estava só perdendo meu tempo pois não tinha resultado nenhum, ele só me dava patada, era grosso comigo, não me dava carinho e ainda desfilava comigo pelas rodas de amigos dele como se eu fosse um troféu ou um objeto de valor, fui percebendo que ele só estava comigo interessado no meu corpo pois ele me pedia direto pra ir pra cama com ele, eu dizia que não, que não tinha coragem, que não seria tão hipócrita assim, mas ele não entendia, queria, queria, queria, aí a gente brigava, um dia eu tive que gritar com ele, ele me insistiu tanto, eu falando que não, que não, que não, tive de gritar, aí ele ficou bravo e me deu um tapa no rosto, eu...
– Ele te batia?
– Não, essa foi a única vez, eu saí chorando e fiquei sem falar com ele um mês inteiro, depois ele me pediu perdão, me deixou uns tempos em paz, foi aí que ele escreveu aquela carta falsa, quer dizer, que ele mandou a mãe dele escrever. Mas há uns seis meses atrás, numa vez que eu cruzei com você no corredor da lan house, lá perto da igreja, você lembra?
– Perto da igreja?
– É, você estava junto com o Eduardo e parecia estar morrendo de pressa, era um domingo e a lan house estava lotada.
– Há sim, sim, me lembro, eu estava atrasado pro ensaio e tinha que imprimir umas partituras, eu estava sem energia elétrica aqui em casa e não consegui imprimir na casa de ninguém, aí eu e o Edu, saímos igual uns doidos por causa do horário, quase até que eu esqueço o pendrive do Marcello lá.
– Pois é, nesse dia você esqueceu sua conta de e-mail aberta lá.
– Foi mesmo?
– Foi, nesse dia quando eu entrei na lan house, eu tinha cruzado com você no corredor, e só vi uma máquina vazia, é lógico que eu sabia que era você que estava lá, fiquei olhando pra máquina, sem querer usar, quando o Diego, o rapaz que toma conta lá, me olhou assim meio com cara de bravo e perguntou se eu não ia querer usar, “pode ficar tranquila que não tem lepra na máquina não” ele falou pra mim, meio contrariada eu sentei assim mesmo, foi aí que eu descobri que você havia deixado seu e-mail aberto, aí resolvi dar uma fuçada por curiosidade, vi que num dos e-mails tinha uma confirmação de renovação de senha para um disco virtual. Me desculpe Léo, mas eu fiquei morta de curiosidade pra saber o que você tinha guardado lá, eu não sei por que eu tinha tanta repulsa por você, você nunca me fez nada, mas nessa hora eu só queria era saber o que uma pessoa tão sozinha como você tinha guardado lá, então segui o link e fui parar dentro do teu disco virtual. Tinha muita coisa, partituras, programas, livros virtuais, nada que me interessasse.
– Sei.
– Mas o que me chamou a atenção era uma pasta de cinco ou mais gigabytes com o meu nome, eu não resisti e tive que entrar.
– Abriu a pasta?
– Abri, minha nossa, tinha tanta coisa, tinha fotos minhas, vídeos, poesias que eu guardava “caramba, como ele conseguiu tudo isso” na hora eu comecei a ficar com raiva da sua audácia, ali você tinha coisas que nem eu tinha mais, fotos antigas, vídeos que eu já tinha até perdido, fui ficando chateada quando percebi que o Daniel não estava em nenhuma daquelas fotos, aí eu me lembrei que o meu próprio namorado não tinha tanta dedicação assim, ah Léo, eu comecei a me sentir culpada, vi uma pasta no último lugar da lista chamada slides, e quando eu abri, aí eu não resisti, eu comecei a chorar ali mesmo, tinha cada um mais lindo que o outro, e eram só as músicas que eu gostava, eram as “minhas” fotos, “minhas” poesias passeando na tela, com as “minhas” músicas preferidas, eu me controlava pra não desabar em pranto ali mesmo, aí eu fechei tudo, baixei tudo pro pendrive, mas não dava, aí eu liguei pra Klísia, e “ordenei” pra ela que me trouxesse o pendrive dela na mesma hora e...
– Ordenou? – comecei a rir.
– Ordenei, terminei de guardar tudo e disse que eu matava ela se ela contasse isso pra alguém.
– E você não ficou com medo dela não te atender ou coisa assim?
– Não, eu terminando com o Daniel, é ela que tem a ganhar.
– Ela gosta dele?
– Gosta? Ela é louca por ele.
– Ela te falou isso?
– Falou, mas eu sabia que por mais doida que ela seja, ela não faria nada com ele se “eu” não deixasse.
– E acha que ele vai querer alguma coisa com ela?
– Quem o Daniel? Pois espere pra ver. Muito bem, depois disso fui direto pra casa, nem fiquei na igreja naquele dia, eu tava louca de curiosidade pra ver aquilo tudo, descarreguei tudo no meu notebook, e passei a noite quase toda vendo aquilo tudo, e nossa Léo como eu chorei, chorei, chorei, aquelas músicas tocando, minhas fotos montadas de forma tão linda pela pessoa que eu mais repugnava, e sem saber por que, eu morria por causa do Daniel e o desgraçado não tinha tanta dedicação assim, me lembrei das vezes que eu reclamei de você com ele, Léo me deu tanto remorso, eu queria morrer... – a essas alturas ela já contava chorando, com a cabeça inclinada pra trás, encostada no meu ombro, a gente se abraçou mais forte, e depois de um longo suspiro ela continuou – e saber que eu fiquei contente por ele te ameaçar daquele jeito e por causa de que? Você nunca tinha me feito nada, eu só te odiava por odiar, nem eu sabia por que, mas aquilo estava mudando, eu via ali, diante de mim, na tela do meu computador a imagem de alguém que era justamente a pessoa que eu queria que o desgraçado do Daniel fosse, mas que a única coisa que ele queria era me levar pra cama. Decidi mudar isso, procurei ele e tive uma briga forte assim sem motivo nenhum, ele perguntou se eu estava ficando louca, mas eu bati o pé e disse que ou ele mudava ou eu dessa vez eu acaba tudo, e agora era pra valer. Acabou dando em nada, na verdade eu estava era deprimida e com um remorso do tamanho do mundo, depois disso eu te ignorava, tentava não te ver e nas poucas vezes que eu te via, já me dava vontade de chorar pois eu me lembrava do quanto mal eu te fiz e quanta coisa bonita você fazia em troca e guardava em segredo. Mas continuei com ele assim mesmo, a Klísia não dizia nada ela também não gosta de você, e queria era que eu acabasse tudo com o Daniel, mas eu tinha proibido ela de falar qualquer coisa, e ela sempre me respeitou nisso, ela não se atrevia a me desobedecer. A gota d'água veio nesses últimos dias, num domingo de manhã fui na casa do Daniel, e já estranhei o portão destrancado, vi que ele estava só, os pais dele jamais deixam o portão destrancado, entrei pela sala, subi as escadas e fui direto pro quarto dele, era mais ou menos umas nove da manhã e ele só levanta perto do meio dia, aí vi a pior coisa da minha vida, abri a porta de leve, achando que ele estava dormindo e vi ele nu com duas garotas nuas também numa cena depravada com as duas de uma vez só, como se fossem três animais, aquilo me deu tanto nojo, náusea...
– E ele viu você?
– Viu, claro que viu, eu queria morrer, eu queria matá-lo, sei lá, o que me deu na hora, mas ver aquela cena nojenta, como um cachorro com duas cadelas, eu saí correndo, bati a porta com força, desci as escadas com pressa fui pra rua, e ainda ouvia ele gritando meu nome, tomei o primeiro táxi que eu vi na principal e voltei pra casa. Chorei por aquele dia todo, a Klísia tentava me acalmar mas não havia o que me fizesse esquecer aquela cena, eu tinha náuseas cada vez que eu me lembrava, até tentei comer alguma coisa a noite, estava sem me alimentar pelo dia todo, mas dez minutos depois eu vomitei tudo, eu fiquei assim por uns três dias, o choque havia sido muito forte, minha mãe até me disse que eu só estava assim por que havia me recusado a acreditar no que tantos já tinham me falado, agora eu via com meus próprios olhos, e sabe como foi que eu comecei a me acalmar mais e a esquecer um pouco? – aí ela novamente se virou pra mim esperando que eu perguntasse.
– Não faço ideia.
– Voltei a assistir seus slides. No começo era duro, pois aí que eu chorava mesmo, mas depois fui me acalmando, fui me sentindo melhor, uns dias depois eu até fui pra igreja, mas quando eu vi a orquestra, procurei você lá, mas não te vi, desci as escadas e fui lá pra fora, foi quando eu cruzei com você na porta, vi até a irmã da Klísia no portão, vi quando você chegou sozinho, com seu violino nas costas, lindo, sempre sorrindo para os seus poucos amigos, me lembrei de uma vez de tudo, veio um turbilhão de lembranças na minha cabeça, lembrei de tudo o que eu já tinha feito pra você e de que você não merecia aquilo tudo, você era doce quando o Daniel era rude, você era gentil quando ele era grosso, lembrei do que ele tinha feito passei por você e até ouvi quando você mexeu comigo mas dessa vez eu não tive coragem de brigar, mas também não queria dar o braço a torcer e nem deixar você desconfiar de nada, mas a cada dia eu sofria mais...
– E ele não veio falar com você?
– Felizmente parece que ele teve vergonha na cara. Essa semana meus pais viajaram e eu fiquei sozinha em casa, nos primeiros dias foi bom, a Klísia estava lá mas depois quando ela foi embora e eu fiquei sozinha de verdade comecei a me sentir mal, aí resolvi ver aqueles slides de novo pra ver se eu conseguia esquecer um pouco da realidade, mas era pior, eu comecei a chorar ainda mais, foi aí que eu me desesperei mesmo, eu estava deitada no tapete da sala, sozinha olhando pro teto, com o computador do lado tocando, eu me agarrava nas almofadas e chorava, apertava elas com força, gritava, aí decidi acabar logo de vez com isso tudo, fechei o computador de repente fui pro banheiro, tomei um banho, me arrumei e vim pra cá, eu tinha ao menos que te pedir perdão, mesmo que você batesse a porta na minha cara...
– Deus me livre, eu jamais faria isso.
– Mas eu achei que faria, pois era o que “eu” faria com certeza.
A gente ficou em silêncio por uns longos minutos, os dois meditando, ela na minha possível reação, eu no que acabara de ouvir. Não dava pra acreditar em tudo aquilo.
– Tem alguma coisa ainda que você quer saber? – e desta vez ela foi tão doce na pergunta, que eu quase pensei novamente que estava sonhando.
– E por que foi então que você se entregou pra mim, se ele passou quase três anos te pedindo isso? – ela demorou alguns segundos pra responder, mas tomou folego e prosseguiu.
– Ele não merecia isso, e no final ainda acabou me provando que era só isso o que ele queria, acabou me provando com todas letras que só estava comigo por que queria algo mais, você não, você sempre me amou sem esperar nada em troca, eu nem gostava de você, até brigava e tudo, mas você nunca desistiu – aí ela própria começou a misturar suas palavras com lágrimas, ela falava e chorava ao mesmo tempo, eu só ficava calado, abraçando ela junto a mim, estávamos os dois sentados no sofá maior, com as pernas esticadas, ela sentada na minha frente com as pernas esticadas entre as minhas e as costas apoiadas no meu peito, a cabeça encostada pra trás, aí quando ela falou isso, apertei ela mais de encontro a mim – você nunca tentou me esquecer, mas foi só depois que eu me magoei com ele que eu enxerguei quem é que realmente me amava... eu não queria... eu só não queria que você... pensasse que eu te usei pra... pra me vingar dele, Léo. – aí ela virou de novo para trás e falava chorando, olhando nos meus olhos. – Por favor meu amor, eu não quero que você pense isso.
– Eu sei, eu sei Danny, eu acredito no que você está dizendo, jamais poderia desconfiar destas lágrimas, mas é que pra mim é meio difícil de aceitar que você está comigo – agora era eu que chorava – eu sofri tanto por você por tanto tempo, me machuquei tanto e agora você está aqui comigo, me amando, sorrindo pra mim e eu sonhei com isso tudo por tanto tempo Danny... tanto tempo.
Aí a gente se abraçou um pouco e ficamos ali os dois chorando por uns dez minutos mais ou menos, depois ficamos em silêncio, a gente não queria falar nada, apenas curtir um pouco daquele carinho de ficar ali abraçados sem dizer nada. Minha cabeça rodava, eu estava completamente entregue aos encantos daquela deusa, daquele anjo, do “meu” anjo, da “minha” Danny. A situação tinha virado, e a meu favor. E agora tudo o que eu queria era esquecer de todo o tempo que havia passado desde que eu tinha a conhecido, queria apagar de minha memória todas lembranças ruins daqueles dezoito meses de angústia.
– Nesse caso Danny – aí eu me levantei do sofá me sentei de frente pra ela com as pernas cruzadas, ela também cruzou as pernas e ficou me olhando nos olhos, sorrindo pra mim porém ainda com o rosto molhado e os olhos vermelhos. – vou querer com você uma coisa séria, a gente não vai só ficar ou passar tempo, quero namorar sério com você, não quero ter que esconder nada de ninguém por que eu amo você mais do que qualquer coisa na vida, eu amo você, entendeu? – fiz uma pausa de alguns segundo e continuei – você aceita?
– É claro minha vida – juntou meu rosto entre as mãos e me beijou com o sorriso mais lindo que ela tinha – é claro que eu aceito, eu só tenho medo do Daniel por você, meu amor, ele é capaz de qualquer coisa.
– Eu sei, mas vamos ficar em paz, ele não poderá nos fazer nada se Deus não deixar.
Continuamos ali por mais algum tempo, eu queria curtir cada minuto da companhia dela, agora ela era minha, a “minha” Danny agora era definitivamente minha, era minha garota, minha namorada. E tudo o que eu sentia por ela agora correspondido. Mas o tempo passava rápido demais, logo veio a hora do almoço e era hora da minha deusa me deixar, a gente se despediu ali na varanda, no mesmo local onde ela me beijou pela primeira vez, no mesmo local onde na noite anterior ela estava de cabeça baixa e olhos tristes, agora estava feliz e sorridente.
– Tem certeza que não quer que eu a acompanhe até o táxi?
– Não minha vida, outro dia talvez mas hoje quero sair da mesma maneira que cheguei, sozinha, porém eu cheguei sozinha e triste e saio sozinha e feliz, mais feliz do que em toda minha vida, agora eu tenho você, meu tudo – era bom ouvir aquilo, era maravilhoso, ela sussurrou as últimas duas palavras antes de me beijar com os braços enrolados em volta do meu pescoço. – agora escuta.
– Fala.
– Hoje à noite tenho que ajudar minha mãe com umas fichas de membros da igreja – eu sabia que a mãe dela era secretária da igreja – então quando você chegar eu não vou estar lá, vou chegar pouco depois, mas tem um lado bom disso tudo, ninguém tem a mínima ideia da gente e eu quero que você fale um pouco de nós, só pra eles rirem um pouco, depois eu chego, te cumprimento como meu namorado e te tiro do meio deles, aí então a gente sobe e eu sento com você. Tudo bem?
– Claro, acho que vai ser divertido.
– 'Tá, então tchau.
Depois ela se foi, e eu fiquei ali sozinho, mas dessa vez era mais feliz do que jamais tinha sido em toda minha vida, ela agora era minha, “minha” Danny, “meu” anjo, “minha” vida, “meu” tudo, como ela dizia, e eu era agora o único em seus pensamentos, e só fechei a porta depois de vê-la entrar no táxi.
Mas enfim chegou a noite, e conforme nosso combinado, cheguei mais cedo, preparei meu instrumento e fiquei lá embaixo entre meus poucos “amigos.”– Algum de vocês viu a Daniela? – Pra que você tá perguntando dela? – Espantou-se logo o Edu.– Estou preocupado, ela inda não chegou.– Você o quê? – perguntou o Marcello.– É que a gente combinou que se encontrava aqui e já vai dar sete e meia e até agora nada.– Léo, para de sonhar vai, você vai virar motivo de piada com esse tipo de brincadeirinha.– Poxa Ária, até você? Eu só estou preocupado, é que agora a gente 'tá namorando.– Vocês o que? – todo mundo quase que em coro, depois disso veio uma tempesta
Não sei se finalmente o veneno dela tinha me atingido ou se realmente eu “abria os olhos” como ela dizia, mas fazia sentido, fazia total sentido pois nos seis meses anteriores ao dia que a gente começou ela continuava a me humilhar e a me aborrecer, foi preciso que o Daniel a traísse para que ela decidisse ficar comigo, e como a Klísia dizia, quem poderia garantir que ela não estava querendo se vingar? É bem verdade que ela havia me jurado isso chorando, mas a Klísia estava certa, lágrimas nos olhos não provam nada, mas são altamente eficientes para convencer uma pessoa emotiva como eu, e a Daniela que todos conheciam era capaz de qualquer coisa, acho que até mesmo se aproveitar de sua aparência e de meu carinho por ela para me armar uma cilada. – Ela não seria capaz de fazer isso comigo. – E por que não? Só por que você é louco por ela? Seja realista “minha vida.” – Para de usar as palavras dela, Klísia e por
– Sabe o que isso significa, meu amor? – ela pensava primeiro nas consequências, pelo menos agora ela era assim.– Lá na igreja?– Sim, nós dois vamos ser excluídos.– É, eu sei, infelizmente sim. – agora ela conseguiu me deixar triste, desde que me batizei, isso quando ainda morava na casa de meus amigos, eu nunca tinha tido qualquer problema com a igreja, mas agora era a primeira vez, e não pensei em mim, pensei nela, eu ia expô-la a vergonha e ao ridículo de não ter sido firme a nossos princípios e agora estar grávida e logo de mim. – acha que devemos nos casar?– Com dois meses de namoro? Claro que não, quer dizer, não que eu não queira, eu quero sim, mas não vai adiantar muita coisa, eu já estou de seis semanas, sabe o que é isso? Cerca de um m&ecir
A ideia de que agora eu seria pai, me fez esquecer quase que todos os meus problemas, eu não queria saber de mais nada, só do meu filho e da minha mulher, embora morássemos cada um em suas casas, ambos, já nos considerávamos assim. Mas também sabíamos de nossas responsabilidades com a igreja, e decidimos ter uma conversa pessoal com o pastor da igreja e logo depois nos submetermos às decisões da comissão da igreja, que nós dois já sabíamos qual seria: Uma dupla exclusão, a qual a Danny me proibiu veementemente de sequer tocar no assunto de me lamentar ou qualquer coisa do tipo por causa dela, ela dizia que se tudo aconteceu foi por que ela colaborou, então não tinha por que ter pena. Achei que ela tinha razão e pus uma pedra no assunto. Decidimos não contar nada a ninguém antes de conversar com o pastor, o que nós descobrimos que deveria esperar um pouco pois o pastor estava viajando e demoraria vários dias para voltar, como ela ainda estava com menos de dois m
Na manhã seguinte, recebemos um telefonema do nosso pastor, nos avisando que um dos funcionários dos escritórios de direção da igreja assistiu nossa tarde de programação clássica e tinha gostado muito, aí estava querendo montar uma orquestra sinfônica a nível distrital e eram os nomes meu e do Marcello que estavam sendo cotados, na verdade esse era o grande sonho do Marcello, e eu também queria muito participar desse projeto só que tudo o que eu mais queria era sair dali, pois estávamos correndo risco de vida, eu a Danny que já estava com quase dois meses e meio de gestação e pra quem prestasse muita a atenção, o que não era quase ninguém agora que ela estava comigo, notaria que a barriga já não estava do tamanho normal. Aproveitei a oportunidade pra falar ao pastor que andávamos fazendo algumas “coisinhas erradas” que ele logo entendeu e prometeu que trataria disso logo que retornasse, não abri o jogo completamente pelo telefone, nem mesmo fal
Quando acordei, estava num quarto de hospital, não havia gesso nos meus braços, minha cabeça estava enfaixada, abri os olhos, olhei em volta sem me mover quase chorei quando vi meu doce anjo sã e salva sentada numa poltrona de espera, calmamente folheando uma revista, havia um relógio grande na parede marcando três e meia da tarde haviam também algumas máquinas monitorando meu corpo. – Oi. – Oi, meu amor – na mesma hora ela largou a revista e já veio para meu lado com os olhos marejados começou logo a beijar meu rosto todo. – minha vida, até que enfim, quanta saudade, meu amor. – Como você está? – Estou bem, eu estava muito preocupada com você. Você quase morreu. – Quanto tempo fiquei “fora do ar”? – ela demorou um pouco pra responder. – Três meses. – Tudo isso? – ela apenas acenou com a cabeça dizendo que sim. E já passava a mão no meu rosto. –
Depois de quase um ano e meio, chegou o dia da minha formatura, convidei alguns poucos amigos, não havia muitos, após a cerimônia no auditório da faculdade, precedida de um culto de ação de graças, fomos a nossa festa, e nesse dia me dei ao luxo de passar a noite toda em claro bagunçando com os colegas, a Danny não aguentou e lá pelas três ou quatro da manhã acabou dormindo dentro do carro que tínhamos alugado especialmente para a ocasião. Agora eu me considerava um músico de verdade, oficialmente formado, bacharel em música com habilitação em piano, até então eu dizia que era apenas um estudante. Resolvemos então dar continuidade aos nossos planos, e o primeiro deles, agora que eu tinha me formado era nos mudarmos daquela cidade, ir embora rumo a nosso próprio destino, em outra cidade então iniciaríamos o tratamento dela pra que pudéssemos ter nossos filhos, frequentaríamos uma igreja menor, onde houvesse mais necessidade de ajuda, e conseguiríamos um emprego t
Quando acordei, fiquei aliviado daquele pesadelo, dei graças a Deus por que estava vivo, por que tudo não passava de mais um sonho ruim, que era tudo imaginação minha e que agora era só levantar-me da minha cama e seguir minha vida, lembrei-me que eu precisava continuar preparando as coisas para nossa mudança, abri os olhos e me sentei na cama, eu não estava em casa, não era o meu quarto, não era minha cama, e não era a Daniela que estava lá, tudo em volta era branco, a calma era de ferro, alta, ao invés de um criado-mudo tinha umas máquinas grandes ao lado da minha cama, comecei a ficar com medo, não era possível, eu ainda estava sonhando, gritei por socorro e não foi a Daniela que apareceu, tinha uma mulher alta, branca de cabelos pretos e curtos, usava um jaleco branco e um crachá escrito Tereza, devia ser seu nome. – Que bom que você acordou, já era hora Leonardo! – ela sorriu pra mim, deu uma olhada na máquina à minha cabeceira, tomou uma prancheta co