E a gente continuou assim por mais um tempo que eu não faço a mínima ideia, só sei que passava da uma da manhã quando ela anunciou que precisava ir, isso depois da gente ter conversado sobre os mais diversos assuntos, era simplesmente inacreditável que ela estivesse ali como uma amiga qualquer, depois da gente ter conversado muito, meu anjo precisava ir embora, e isso significava que eu precisava acordar e por um instante isso me doeu, e ela percebeu isso, pois a gente caminhou meio calados do quarto até a porta da sala quando já no lado de fora ela rompeu o silêncio:
– Não se preocupe por que aquela Daniela que você e todo mundo conheceu nunca mais volta.
E ao dizer isso, ela passou a mão bem de leve nos cabelos da minha testa, eu não podia crer, mas novamente senti aquela temperatura altíssima ao sentir o toque da pele dela na minha testa, e vi que ela sentiu também pois puxou rápido a mão e a gente ficou ali os dois olhando um pro outro com cara de bobos por alguns segundos.
Mas eu sabia que tudo isso era mentira, a realidade sempre me dizia que a verdadeira Daniela que eu e todo mundo conhecia era bem diferente daquele anjo que falava comigo, eu sabia que em poucos minutos eu iria acordar sozinho na minha cama, olhando pro teto, voando em meus pensamentos mas como eu queria me prender àquele sonho louco e nunca mais acordar.
– Quer que eu chame um táxi pra você
– Não, não precisa, eu ligo do celular, tem uma avenida bastante movimentada aqui perto, acho que não leva nem um minuto pra chegar algum táxi aqui, mas você pode ficar me vigiando daqui de cima se quiser – a gente estava na varanda de casa, ela ao lado de fora e eu na porta.
– Vigiando você?
– Não, não é bem o que eu queria dizer, me perdoe se soou mal, é que...
– Tudo bem, tudo bem que já entendi – era a mesma Daniela de sempre, ela simplesmente não queria correr o risco de verem-na junto comigo, eu só não entendia o que deu na cabeça dela, o que a fez se sentir mal a ponto de vir tão humilhada me pedir desculpas.
– Não Leonardo, por favor, não me leve a mal.
– Tudo bem Daniela, você deve ter seus motivos, eu respeito isso, só de você estar aqui já e termos passado esses momentos conversando já foi muito bom.
Em troca ela não respondeu nada, apenas sorriu, ficamos nos olhando por alguns segundos quando ela disse:
– Tudo bem então, tchau.
Ela estendeu sua mão macia pra pegar a minha num gesto de despedida, automaticamente peguei na dela, senti novamente aquela sensação estranha de estar tocando em brasa, só que desta vez a sensação era bem maior, ela então tocou com a outra meu antebraço direito e me beijou no rosto, aquele pequeno beijo de despedida entre amigos íntimos, como que por instinto, enquanto segurava com a direita a mão dela, com a esquerda toquei-a na cintura pra me despedir dela, ela então virou, me beijou no lado direito do rosto, e quando virou-se pra dar o terceiro e último beijo novamente no lado esquerdo, repentinamente mudou de ideia, voltou-se para a frente soltou meu ante braço, segurou meu rosto e me beijou na boca, aquilo me deixou chocado mas como eu sabia que em poucos momentos eu acordaria na solidão do meu quarto, deixei que tudo acontecesse livremente, quando ela viu que eu “colaborava” bem devagar sem interromper o beijo ela soltou minha mão e me abraçou com as duas mãos nas minhas costas, eu coloquei minhas duas mãos na cintura dela, quando percebi que ela forçava seu corpo de encontro ao meu, como que estivesse me empurrando novamente para dentro de casa, tive de dar um passo pra trás para não cair, mas ela continuou e eu dei outro passo, depois mais outro e de olhos fechados senti ela trancando a porta por trás de mim, jogando sua bolsa em cima do sofá, me encostando no Rack da TV, e foi aí que eu realmente senti a doçura de seu beijo, daqueles lábios colados nos meus, daquela boca que me beijava cada vez mais, era impossível mas ela estava me beijando eu não queria acreditar que tudo aquilo fosse sonho, preferia pensar que tinha sido agraciado por Deus depois de tanto sofrer, mas aquela era a mesma Daniela de sempre, apenas com uma pequena diferença, algo nela tinha mudado, algo que de repente me deu medo, pois a Daniela de sempre era cruel, vazia e sem amor nenhum, ela me repugnava como se eu fosse um verme e agora estava me beijando na boca, então se isso era alguma armadilha dela decidi me entregar, decidi que voluntariamente eu cairia no seu golpe, fosse qual fosse, mesmo que me custasse a vida, valeria pagar o preço pra sentir o gosto dos lábios do meu grande amor, decidi me entregar àquele beijo maravilhoso e depois arcar com as consequências, afinal de contas, tudo não passava de um sonho mesmo, senti suas mãos tateando meu corpo por dentro de minha camisa, o toque das mãos dela por dentro de minha roupa me incendiava o corpo todo, mantive uma de minhas mãos na parte baixa de suas costas, e a outra na sua nuca, sentindo a maciez dos seus cabelos soltos entre meus dedos depois que a presilha deles tinha se perdido pelo chão, não sei como mas dessa vez ao invés dela me empurrar ela me puxava para o centro da sala, dei um passo para trás, depois mais dois de uma vez e eu estava quase na porta do banheiro, aí ela me puxou e nos encostamos na porta do meu quarto, nossas roupas foram ficando por todo o caminho desde a porta da sala, e quando nos deitamos na cama já estávamos apenas de roupas íntimas, ela deitada por cima de mim, consegui alcançar o controle remoto e acessar uma lista de músicas no computador que eu guardava apenas para os meus momentos de depressão, mas que agora estavam ali, ao alcance de um ou dois botões do meu controle remoto, e com a luz que já havia se apagado no momento que entramos no quarto e a porta que já havia sido fechada, entramos naquela atmosfera de meia luz, provocada pelas imagens abstratas que se originavam na tela do computador, e deu-se início então a um dos momentos mais lindos de toda minha vida.
Acordei no dia seguinte exatamente da maneira que eu já esperava, sozinho no vazio do meu quarto, olhando pro teto, pensando naquilo que fora o sonho mais lindo que eu já havia tido, lembrava de cada momento, de cada detalhe, de cada palavra sussurrada ao ouvido:” Meu amor, minha vida, meu tudo,” lembrei da respiração acelerada, do suor, do cabelo dela colado no lado direito do rosto, da maciez de sua pele e me segurei muito pra não chorar, eu não queria mais chorar por ela, a verdadeira Daniela, não era aquele anjo doce do meu sonho, mas aquela víbora que me espezinhava sempre que me via e não merecia que eu chorasse por ela, era preciso voltar à realidade, era preciso levantar e cuidar da “minha” vida foi quando notei algo de estranho, sentei na cama de repente quando olhei no balcão da cama e vi o relógio marcando oito horas e quarenta e cinco minutos, “minha nossa, quase nove da manhã” eu nunca tinha acordado naquele horário, já era acostumado a acordar cedo, puxei a coberta e tive outro susto, eu estava nu: “será que eu tirei a roupa dormindo?” se bem que eu morasse sozinho, jamais dormiria nu, não me sentia bem.
Puxei as cobertas em busca de uma bermuda que talvez tivesse “saído sozinha” tomei outro choque, havia uma mancha de sangue bem no meio do lençol, comecei a me assustar:” Acho que eu me machuquei dormindo” mas não era possível, não havia nada, eu estava em perfeito estado, fiquei em pé, parado no meio do quarto de cabeça baixa olhando para aquela mancha de sangue quando me lembrei do sonho:” Será que... não, não, não, foi apenas um sonho” me virei então e vi roupas de mulher junto com as minhas em cima da cadeira do computador, eram precisamente as mesmas roupas que eu estava usando na noite anterior, e havia roupas de mulher, a mesma saia azul escura e a blusa branca que a Daniela estava usando no meu sonho, até nossas roupas íntimas estavam lá, eu estava novamente atônito, mal podia respirar: “Caramba, mas isso foi um sonho, eu sei que foi, a Daniela me odeia.”
Fiquei olhando para aquelas roupas amontoadas sobre a cadeira, peguei uma das peças de roupa dela na mão e fiquei olhando de perto e repetindo pra mim mesmo: “Foi um sonho, foi um sonho, foi um sonho, eu sei que foi, não era possível que...” de repente escutei o chuveiro ligando dentro do banheiro: “Essa não, o que é isso agora.” fui caminhando devagar até o banheiro enrolado num dos lençóis da cama, empurrei a porta entreaberta em silêncio e lá estava ela, dentro do box entreaberto do banheiro, “a minha Danny,” a minha preciosa Dannyzinha, o meu anjo, debaixo do chuveiro, me provando que tudo aquilo não havia sido um sonho, era a mais pura realidade, era tudo verdade, o destino se divertia me pregando peças pois o meu lindo anjo estava ali na minha frente me mostrando através da beleza de seu corpo escultural que desde as batidas na porta, até aquele momento, era tudo verdade.
– Oi meu Amor, vem aqui comigo vem, eu estava esperando você acordar – como eu não saísse de meu espanto, ela começou a rir e estendeu os braços para mim – vem cá bobinho, 'cê 'tá tão lindo assim com essa cara de assustado.
– Daniela, o que está acontecendo?
– Como assim?
– Ora como assim, você me odeia, agora 'tá aqui, nua debaixo do meu chuveiro me chamando de amor, e também...
– Léo.
– Tem uma mancha de sangue no meu lençol, não me diga que...
– Léo vem cá – aí ela saiu do chuveiro, me puxou pra junto de si, tirou o lençol com que eu estava embrulhado, jogou em cima da pia do banheiro e me abraçou ali no meio do banheiro com o chuveiro ligado atrás da gente – eu sei que você tem um monte de perguntas mas fica calmo...
– Um monte não... eu só quero saber o que é que está acontecendo, eu não falei nada antes por que eu tinha certeza absoluta de que era um sonho, desde o momento que você bateu na porta até quando eu acordei sozinho agora de manhã, acontece que tudo estava diferente, tinha algo de estranho no ar, eu acordei tarde pra burro, e eu nunca acordo a essa hora, depois percebi que estava nu aí quando eu levantei, vi uma mancha de sangue no lençol, achei até que eu tinha me machucado e ... aí vi nossas roupas... me lembrei de tudo de ontem a noite... agora você aqui...
– Amor – agora ela voltou a ter aquele olhar triste que me cortava o coração, e embora estivéssemos os dois debaixo do chuveiro abraçados, dava pra ver a emoção claramente em seus olhos – eu sei que você tem muitas dúvidas, e eu te prometo que vou tentar responder tudo o que você quiser saber – ela falava segurando meu rosto entre suas mãos, enquanto que eu a segurava pela cintura – você me deu a noite mais linda de toda a minha vida, agora eu só quero ter mais um pouquinho de todo aquele carinho que você me deu ontem, depois e gente vai tomar um café delicioso que eu preparei pra nós dois, aí então eu te prometo, prometo que a gente vai conversar e eu falo tudo o que o que você quiser saber, tudo bem?
Assenti com a cabeça, em sinal de acordo, a gente se juntou mais num abraço, onde ficamos de rosto colado um no outro, abraçados debaixo da água que caía, era engraçado, ver como aquele cabelo clarinho ficava escuro quando estava molhado, sentir o corpo dela ali tão junto do meu, me abraçando, me beijando, não dava pra acreditar que aquilo tudo fosse verdade, por vezes eu até me recusava a pensar nisso, mas era real, ela estava mesmo ali, eu só não entendia como, pois a poucos dias antes ela sequer me olhava, se bem que todos haviam notado que desta vez ela estava um pouco mais triste do que das outras vezes.
Novamente a gente se perdeu em nosso próprio mundo que se fundia a cada hora que passava, um universo próprio, cheio de amor, no qual em nossos momentos juntos não havia mais ninguém no resto do mundo.
Era uma vida nova que se iniciava a cada hora, era uma nova Daniela que tomava o lugar daquela víbora por quem eu já sofria a quase dois anos, esta era doce, humilde, educada, enquanto a outra era grossa, nervosa, orgulhosa. Minha ficha custava a cair, mas eu deixava o tempo passar, preferi curtir cada minuto daqueles momentos com o meu doce anjo, acreditando piamente que haveria um momento em que tudo se acabaria e me restariam apenas as lembranças.
Pouco depois estávamos os dois sentados à mesa, não sei de onde ela havia tirado tantas coisas mas a mesa estava repleta.
– De onde você tirou tudo isso?
– Um pouco da sua despensa e um pouco da sua geladeira. – ela respondeu sorrindo.
Ela estava usando uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca que eu havia emprestado pra ela, o cabelo úmido ao lado esquerdo do rosto, enrolado pela frente lhe dava uma aparência linda, eu não conseguia comer nem falar nada, apenas olhava pra ela.
– Que foi amor? – seu sorriso era lindo.
– Você está tão linda assim, de cabelo molhado – alisei bem devagar seu rosto macio – eu não posso acreditar que isso tudo é verdade, Danny, eu sofri por tanto tempo – eu me deprimia cada vez que pensava nisso.
– Mas agora acabou – ela sussurrou me olhando e beijou minha mão depois segurou ela junto do pescoço, – eu juro que acabou minha vida, eu juro – a gente se beijou e resolvemos tomar café.
Depois do café sentamos abraçados no sofá da sala, coloquei música suave, bem baixinho, apenas para preencher o silêncio do ambiente, era em torno de umas dez e meia da manhã, a gente tinha muito o que conversar, eu principalmente, precisava entender o porquê daquilo tudo, a gente se abraçou em cima do sofá e ainda continuamos em silêncio por alguns minutos, volta e meia eu era açoitado com o pensamento daquela mancha de sangue no meu lençol que contrastava vividamente com a teoria que todo mundo tinha de que a Danny fazia de tudo com o namorado, aquela mancha só tinha uma única explicação, ela era virgem até o momento em que nos deitamos na cama, eu estava perturbado, com um monte de besteiras na cabeça, quando ela começou:
– Eu tenho medo de te contar uma coisa e você brigar comigo.
– Brigar com você? Meu amor, claro que não, a única coisa que eu quero entender é como você mudou sua opinião a meu respeito assim tão rapidamente.
– É que na verdade não foi assim “rapidamente,” tem um tempinho já.
– Quanto tempo?
– Mais ou menos uns seis meses.
– Seis meses!?
– Há mais ou menos uns seis meses atrás, eu já estava tendo problemas de relacionamento com o Daniel, bem na verdade eu sempre tive, mas de um tempo pra cá parece que estava piorando.
– Há quanto tempo vocês estavam juntos?
– Dois anos e meio, na verdade dois anos e nove meses, quase três. A gente sempre teve pequenos probleminhas, brigava e voltava direto, mas de um tempo pra cá tudo piorou, ele sempre foi assim muito mulherengo sabe, mas eu ia relevando, algumas pessoas até me contavam umas historinhas dele que eu simplesmente me recusava a acreditar, depois eu descobri que era tudo verdade, mas eu sempre fui orgulhosa demais pra admitir. Ele é meio durão, não é do tipo que fica se melando pra mulher, eu reclamava isso com ele, eu queria que ele fosse mais doce comigo, as vezes ele quase não me dava carinho, eu chegava até a pensar que ele estivesse comigo apenas interessado na minha aparência, ou por alguma outra coisa. Uma vez, de tanto eu reclamar, ele me escreveu uma cartinha pequena, eu quase fiquei louca de felicidade, mas uns dias depois eu queria matá-lo quando descobri que ele tinha pedido pra mãe dele escrever.
– As pessoas falam umas coisas tão estranhas de vocês dois.
– Eu sei, até sei o que é – nessa hora ela se virou de frente comigo, tomou meu rosto entre as palmas das suas mãos e falou bem baixinho, olhando dentro dos meus olhos – mas agora você já sabe que tudo isso é mentira, não é?– Sei, sei sim, depois de ontem à noite não tem como não acreditar em você, mas quando fiquei sabendo eu fiquei muito angustiado, eu não queria acreditar que aquilo fosse verdade. Era dolorido demais.
– Eu já tive muitos problemas por causa disso, já tive que passar por ginecologista três vezes, só pra fazer um atestado que comprovasse que eu ainda era virgem, pra poder entregar pra comissão da igreja, pois estava correndo o risco de ser excluída. Eu sei que metade daquele pessoal da igreja acredita nisso, e a culpa toda é do Daniel, ele conta muita vantagem por aí, me faz passar muita vergonha, aí eu tenho que sair desfazendo tudo, mas a verdade mesmo foi o que você viu aqui essa noite, eu era virgem, nunca fui pra cama com ele nem com ninguém na minha vida, minha primeira vez foi ontem à noite, com você.
– E por que você decidiu entregar aquilo que uma mulher tem de mais precioso na sua vida logo pra mim? – Acontece que ninguém consegue ser enganado a vida toda, ninguém é tão ingênuo assim, e aos poucos eu fui vendo que por mais sacrifícios que eu fazia pra ver se ele se afirmava na igreja, estava só perdendo meu tempo pois não tinha resultado nenhum, ele só me dava patada, era grosso comigo, não me dava carinho e ainda desfilava comigo pelas rodas de amigos dele como se eu fosse um troféu ou um objeto de valor, fui percebendo que ele só estava comigo interessado no meu corpo pois ele me pedia direto pra ir pra cama com ele, eu dizia que não, que não tinha coragem, que não seria tão hipócrita assim, mas ele não entendia, queria, queria, queria, aí a gente brigava, um dia eu tive que gritar com ele, ele me insistiu tanto, eu falando que não, que não, que não, tive de gritar, aí ele ficou bravo e me deu um tapa no rosto, eu... – Ele te batia?
Mas enfim chegou a noite, e conforme nosso combinado, cheguei mais cedo, preparei meu instrumento e fiquei lá embaixo entre meus poucos “amigos.”– Algum de vocês viu a Daniela? – Pra que você tá perguntando dela? – Espantou-se logo o Edu.– Estou preocupado, ela inda não chegou.– Você o quê? – perguntou o Marcello.– É que a gente combinou que se encontrava aqui e já vai dar sete e meia e até agora nada.– Léo, para de sonhar vai, você vai virar motivo de piada com esse tipo de brincadeirinha.– Poxa Ária, até você? Eu só estou preocupado, é que agora a gente 'tá namorando.– Vocês o que? – todo mundo quase que em coro, depois disso veio uma tempesta
Não sei se finalmente o veneno dela tinha me atingido ou se realmente eu “abria os olhos” como ela dizia, mas fazia sentido, fazia total sentido pois nos seis meses anteriores ao dia que a gente começou ela continuava a me humilhar e a me aborrecer, foi preciso que o Daniel a traísse para que ela decidisse ficar comigo, e como a Klísia dizia, quem poderia garantir que ela não estava querendo se vingar? É bem verdade que ela havia me jurado isso chorando, mas a Klísia estava certa, lágrimas nos olhos não provam nada, mas são altamente eficientes para convencer uma pessoa emotiva como eu, e a Daniela que todos conheciam era capaz de qualquer coisa, acho que até mesmo se aproveitar de sua aparência e de meu carinho por ela para me armar uma cilada. – Ela não seria capaz de fazer isso comigo. – E por que não? Só por que você é louco por ela? Seja realista “minha vida.” – Para de usar as palavras dela, Klísia e por
– Sabe o que isso significa, meu amor? – ela pensava primeiro nas consequências, pelo menos agora ela era assim.– Lá na igreja?– Sim, nós dois vamos ser excluídos.– É, eu sei, infelizmente sim. – agora ela conseguiu me deixar triste, desde que me batizei, isso quando ainda morava na casa de meus amigos, eu nunca tinha tido qualquer problema com a igreja, mas agora era a primeira vez, e não pensei em mim, pensei nela, eu ia expô-la a vergonha e ao ridículo de não ter sido firme a nossos princípios e agora estar grávida e logo de mim. – acha que devemos nos casar?– Com dois meses de namoro? Claro que não, quer dizer, não que eu não queira, eu quero sim, mas não vai adiantar muita coisa, eu já estou de seis semanas, sabe o que é isso? Cerca de um m&ecir
A ideia de que agora eu seria pai, me fez esquecer quase que todos os meus problemas, eu não queria saber de mais nada, só do meu filho e da minha mulher, embora morássemos cada um em suas casas, ambos, já nos considerávamos assim. Mas também sabíamos de nossas responsabilidades com a igreja, e decidimos ter uma conversa pessoal com o pastor da igreja e logo depois nos submetermos às decisões da comissão da igreja, que nós dois já sabíamos qual seria: Uma dupla exclusão, a qual a Danny me proibiu veementemente de sequer tocar no assunto de me lamentar ou qualquer coisa do tipo por causa dela, ela dizia que se tudo aconteceu foi por que ela colaborou, então não tinha por que ter pena. Achei que ela tinha razão e pus uma pedra no assunto. Decidimos não contar nada a ninguém antes de conversar com o pastor, o que nós descobrimos que deveria esperar um pouco pois o pastor estava viajando e demoraria vários dias para voltar, como ela ainda estava com menos de dois m
Na manhã seguinte, recebemos um telefonema do nosso pastor, nos avisando que um dos funcionários dos escritórios de direção da igreja assistiu nossa tarde de programação clássica e tinha gostado muito, aí estava querendo montar uma orquestra sinfônica a nível distrital e eram os nomes meu e do Marcello que estavam sendo cotados, na verdade esse era o grande sonho do Marcello, e eu também queria muito participar desse projeto só que tudo o que eu mais queria era sair dali, pois estávamos correndo risco de vida, eu a Danny que já estava com quase dois meses e meio de gestação e pra quem prestasse muita a atenção, o que não era quase ninguém agora que ela estava comigo, notaria que a barriga já não estava do tamanho normal. Aproveitei a oportunidade pra falar ao pastor que andávamos fazendo algumas “coisinhas erradas” que ele logo entendeu e prometeu que trataria disso logo que retornasse, não abri o jogo completamente pelo telefone, nem mesmo fal
Quando acordei, estava num quarto de hospital, não havia gesso nos meus braços, minha cabeça estava enfaixada, abri os olhos, olhei em volta sem me mover quase chorei quando vi meu doce anjo sã e salva sentada numa poltrona de espera, calmamente folheando uma revista, havia um relógio grande na parede marcando três e meia da tarde haviam também algumas máquinas monitorando meu corpo. – Oi. – Oi, meu amor – na mesma hora ela largou a revista e já veio para meu lado com os olhos marejados começou logo a beijar meu rosto todo. – minha vida, até que enfim, quanta saudade, meu amor. – Como você está? – Estou bem, eu estava muito preocupada com você. Você quase morreu. – Quanto tempo fiquei “fora do ar”? – ela demorou um pouco pra responder. – Três meses. – Tudo isso? – ela apenas acenou com a cabeça dizendo que sim. E já passava a mão no meu rosto. –
Depois de quase um ano e meio, chegou o dia da minha formatura, convidei alguns poucos amigos, não havia muitos, após a cerimônia no auditório da faculdade, precedida de um culto de ação de graças, fomos a nossa festa, e nesse dia me dei ao luxo de passar a noite toda em claro bagunçando com os colegas, a Danny não aguentou e lá pelas três ou quatro da manhã acabou dormindo dentro do carro que tínhamos alugado especialmente para a ocasião. Agora eu me considerava um músico de verdade, oficialmente formado, bacharel em música com habilitação em piano, até então eu dizia que era apenas um estudante. Resolvemos então dar continuidade aos nossos planos, e o primeiro deles, agora que eu tinha me formado era nos mudarmos daquela cidade, ir embora rumo a nosso próprio destino, em outra cidade então iniciaríamos o tratamento dela pra que pudéssemos ter nossos filhos, frequentaríamos uma igreja menor, onde houvesse mais necessidade de ajuda, e conseguiríamos um emprego t