Naquela mesma semana, arranjei um tempo livre pra levá-las pra Valparaíso, ao amanhecer do dia de uma manhã chuvosa, encostei o Sandero Vermelho no portão da Amanda e descemos eu e a Daniela de mãos dadas e Fernanda e Isabelle também de mãos dadas.
É lógico que a Amanda demorou uns quarenta minutos pra entender tudo, mas no final até ela ficou contente, o Thiago não estava no momento, tinha saído pro trabalho a poucos minutos, a própria Amanda ainda estava deitada quando chegamos, e só não falou nada do Lipe por que consegui fazer sinal pra ela ficar quieta, esperta como era isso pelo menos ela conseguiu entender, até que tomei a Fernanda pela mão e a levei ao quarto do Lipe, que por ser tão cedo, ainda dormia embrulhado em seu lençol.
– Cuidado pra não fazer barulho, Fer.
– Quem é papai, o filho deles?
– Não, é o seu irmão.
– Posso mesmo?
– Leonardo, ele vai fazer aquele escând
Após terminado o julgamento, a defesa não trabalhou como se esperava, dando chance à promotoria, composta entre outros pelos advogados Perseu e Félix Abbaris que após um belíssimo trabalho, conseguiram condenar a ré a oito anos de prisão em regime fechado, com possibilidade de condicional em cinco anos, sob acusação de homicídio premeditado. Incompetentemente, a ré foi transferida para uma penitenciária de segurança máxima no interior do estado do Mato Grosso em uma viatura comum, presa no banco de traz e sem algemas, conduzida apenas por dois policiais – Será que nós vamos percorrer muitos quilômetros ainda? Estou com fome e quero ir ao banheiro. – Tenta outra, moça, essa é velha, você vai ficar aí até a gente decidir que está na hora de parar. – Então vou fazer aqui mesmo, quero ver se vão suportar o cheiro. – Ela está falando sério senhor. – Ok, Ok, você
Solidão, para uns pode ser uma fonte de inspiração, para outros um castigo, ainda outros podem considerá-la como um refúgio enquanto que uns outros preferem vê-la como um algoz cruel; para mim acho que ela é um misto de tudo, minha eterna companheira, minha cruel carcereira. A vida toda fui sozinho, quando pequeno, ainda com apenas dois anos de idade me perdi dos meus pais não me lembro muito de minha vida com eles, mas acho que meu pai era músico, pois ainda me lembro dele tocando piano e esse dom que hereditariamente passou pra mim me prova que essa imagem não é apenas um simples devaneio mas uma lembrança distante de uma vida que poderia ter sido minha mas que por casualidade do destino me abandonou à própria sorte. Hoje tenho vinte anos, moro sozinho e sou bem mais feliz do que no lar de minha família adotiva, tenho meu próprio emprego, o qual me permite ganhar meu pão de cada dia e pagar minhas contas sem sair de casa, as vezes eu preciso ir até o escritório da
Dias depois tive uma surpresa muito desagradável, eu tinha saído para comprar umas coisas para casa quando por acaso vi o Daniel na rua, o felizardo namorado da Daniela, era assim que eu o considerava, um felizardo; eu já havia visto os dois juntos algumas vezes na igreja, claro que me senti super mal com isso e ganhei umas caras feias dele também, mas eu não sou nem um idiota, ela eu até encarava, mas um “armário” de um metro e noventa e cinco de altura igual ao Daniel eu não tinha coragem não, me chame de covarde quem quiser mas ainda tenho amor aos meus dentes e parece que para minha infelicidade ela percebeu isso, e passou a vir muito mais vezes acompanhada com ele, e ainda por cima ficava me olhando de vez em quando, é claro que era pra ter certeza de que eu não teria coragem de olhá-la perto do Daniel. Mas voltando à ocasião, des
Resolvi seguir o conselho da Ária ao pé da letra, passei a orar muito mais do que antes pela Daniela, na verdade tinha vezes em que eu orava até mais por ela do que por mim mesmo, e passei a me sentir muito mais confortado, passei a sofrer bem menos pelas repulsas dela. Passaram-se vários meses e eu me conformava muito mais com minha situação, mas ainda me pegava triste por não tê-la comigo as vezes, ainda sonhava com ela e ainda era fascinado pela beleza celestial daquela garota com olhar de anjo. Ela no entanto, é claro que não notou mudança alguma, aliás, nem ela nem ninguém, pois como eu disse antes, eu não passava de um mísero grão de areia. Haviam-se passado um ano desde que a conheci, e ela ainda odiava quando me surpreendia olhando pra ela, mas houve uma vez em que foi diferente, ao invés de abaixar a cabeça ou virar para o outro lado como sempre eu fazia, dessa vez eu a enfrentei, o Edu até estava do meu lado nesse dia, e vendo que eu comecei a provoca
Após terminar um sábado normal como qualquer outro, tive de insistir muito com o pessoal da orquestra pra não ir comer pizza na casa do Marcello, eu estava afim mesmo era de ficar sozinho, tinha uns trabalhinhos extras que eu precisava terminar então ao chegar em casa, tomei um banho, jantei e me enterrei no computador quando lá pelas nove e meia da noite ouvi batidas na porta: – Já vou – gritei. Tomei o maior susto da minha vida quando abri a porta, era impossível acreditar, mas era verdade. – Dan... Daniela? – não podia acreditar que ela estivesse ali, bem na minha frente, bem na minha varanda, batendo à porta da “minha” casa, eu seria capaz de esperar uma visita até do Papa, menos dela. Linda como sempre, usando a mesma roupa que ela usava no dia que ficou tão pertinho de mim pra me ferir com aquelas palavras duras, uma saia azul marinho pelos joelhos, camisa branca de botões, levemente transparente, sandália preta de s
E a gente continuou assim por mais um tempo que eu não faço a mínima ideia, só sei que passava da uma da manhã quando ela anunciou que precisava ir, isso depois da gente ter conversado sobre os mais diversos assuntos, era simplesmente inacreditável que ela estivesse ali como uma amiga qualquer, depois da gente ter conversado muito, meu anjo precisava ir embora, e isso significava que eu precisava acordar e por um instante isso me doeu, e ela percebeu isso, pois a gente caminhou meio calados do quarto até a porta da sala quando já no lado de fora ela rompeu o silêncio: – Não se preocupe por que aquela Daniela que você e todo mundo conheceu nunca mais volta. E ao dizer isso, ela passou a mão bem de leve nos cabelos da minha testa, eu não podia crer, mas novamente senti aquela temperatura altíssima ao sentir o toque da pele dela na minha testa, e vi que ela sentiu também pois puxou rápido a mão e a gente ficou ali os dois olhando um pro outro
– E por que você decidiu entregar aquilo que uma mulher tem de mais precioso na sua vida logo pra mim? – Acontece que ninguém consegue ser enganado a vida toda, ninguém é tão ingênuo assim, e aos poucos eu fui vendo que por mais sacrifícios que eu fazia pra ver se ele se afirmava na igreja, estava só perdendo meu tempo pois não tinha resultado nenhum, ele só me dava patada, era grosso comigo, não me dava carinho e ainda desfilava comigo pelas rodas de amigos dele como se eu fosse um troféu ou um objeto de valor, fui percebendo que ele só estava comigo interessado no meu corpo pois ele me pedia direto pra ir pra cama com ele, eu dizia que não, que não tinha coragem, que não seria tão hipócrita assim, mas ele não entendia, queria, queria, queria, aí a gente brigava, um dia eu tive que gritar com ele, ele me insistiu tanto, eu falando que não, que não, que não, tive de gritar, aí ele ficou bravo e me deu um tapa no rosto, eu... – Ele te batia?
Mas enfim chegou a noite, e conforme nosso combinado, cheguei mais cedo, preparei meu instrumento e fiquei lá embaixo entre meus poucos “amigos.”– Algum de vocês viu a Daniela? – Pra que você tá perguntando dela? – Espantou-se logo o Edu.– Estou preocupado, ela inda não chegou.– Você o quê? – perguntou o Marcello.– É que a gente combinou que se encontrava aqui e já vai dar sete e meia e até agora nada.– Léo, para de sonhar vai, você vai virar motivo de piada com esse tipo de brincadeirinha.– Poxa Ária, até você? Eu só estou preocupado, é que agora a gente 'tá namorando.– Vocês o que? – todo mundo quase que em coro, depois disso veio uma tempesta