Amor Tardio
Amor Tardio
Por: Óscar Lio
Capítulo 1
Quando a avalanche atingiu a estação de esqui, Maia foi empurrada montanha abaixo por Nana. Enquanto Nana apenas deslocou os dois braços e ficou caída no mesmo lugar, Maia despencou até o fundo do vale. Ela ficou presa na neve da montanha Muri por sete dias inteiros.

Se não fosse por um galho que perfurou seu pé, deixando marcas de sangue na neve branca como um aviso, talvez ela nunca tivesse sido encontrada. As manchas vermelhas se espalhavam pelo chão gelado como uma flor escarlate desabrochando no meio do vazio.

Maia estava encostada em um tronco, à beira da inconsciência. Seu corpo parecia tão frágil e exausto que mais um instante e ela se fundiria com o gelo ao seu redor.

Assim que a equipe de segurança a avistou, um dos seguranças usou o rádio para entrar em contato imediatamente com Caio:

— Sr. Caio, encontramos a Srta. Maia!

Pouco depois, um helicóptero desceu rapidamente, levantando uma ventania que fazia Maia mal conseguir abrir os olhos. Mesmo assim, ela conseguiu ver Caio imediatamente. Ele estava lá, mas não estava sozinho. Atrás dele, seguia Nana.

Caio correu até Maia, mas, ao invés de preocupação, ela foi recebida com uma enxurrada de críticas. Ele a encarou, visivelmente irritado, e começou a despejar suas palavras como flechas:

— Como você consegue ser tão irresponsável? Por sua causa, mobilizei mais de mil pessoas para te encontrar! Se tivesse ficado no mesmo lugar, ninguém teria perdido cinco ou seis dias te procurando! A equipe de segurança teve que trabalhar 24 horas sem descanso por sua causa! É isso que você faz? Arruma problema todos os dias?

A temperatura estava abaixo de zero, e a montanha coberta de neve era implacável. Maia, no início, havia tentado ficar no mesmo lugar, com medo de se perder ainda mais. Ela passou horas congelando, com o coração apertado, esperando que Caio a encontrasse.

Ela pensava:

“Caio nunca me deixaria aqui para morrer... certo?”

Mas, à noite, o ambiente ao seu redor se tornava assustador. A escuridão era total, e olhos brilhantes e verdes espreitavam ao longe. Rugidos de animais selvagens ecoavam nas proximidades, fazendo Maia tremer de medo. Ela segurou uma tocha a noite inteira, sem ousar fechar os olhos.

Quando a comida acabou, ela não teve escolha senão sair para procurar algo para comer. No entanto, em pleno inverno rigoroso, tudo o que conseguiu encontrar, depois de machucar os dedos até sangrarem, foram algumas sementes e nozes duras.

Um dia. Dois dias. Três dias. A esperança de Maia foi se apagando, como uma vela sendo soprada pelo vento gelado.

Agora, ouvindo as acusações de Caio, Maia apenas abaixava a cabeça e permanecia em silêncio. Ele sempre a tratava assim: achava que ela era irritante, dramática, manipuladora. Não importava o que acontecesse, sempre que Maia tentava explicar qualquer coisa, a resposta de Caio era a mesma:

— Você está inventando de novo? Qual é o truque dessa vez?

Cansada, ela desistiu de tentar se defender. Ele podia falar o que quisesse. Para Maia, já não fazia diferença.

Um dos seguranças, encolhido por causa do vento gelado, espirrou e murmurou baixinho:

— Essas montanhas têm lobos. Se ela tivesse ficado no mesmo lugar, provavelmente já estaria só os ossos.

— Ah, é mesmo? — Nana se aproximou, cobrindo a boca com a mão em um gesto aparentemente surpreso. — Irmã Maia, esse é seu amigo?

O segurança, confuso, balançou a cabeça:

— Não, eu nem a conheço.

Ele estava no primeiro dia de trabalho e ainda nem sabia o nome de todos os colegas, quanto mais de Maia.

Nana soltou uma risada discreta e cheia de segundas intenções:

— Ah, entendi. Você se importa tanto com ela que eu achei que já a conhecesse. A Irmã Maia sempre conquista as pessoas, né?

Como esperado, o rosto de Caio imediatamente escureceu. Ele virou-se para Maia, com a voz dura e cheia de desprezo:

— Maia, você não tem vergonha?

Ele então apontou para o segurança que havia falado antes e decretou friamente:

— Você, não precisa mais vir trabalhar. Só para deixar claro, eu sou o seu chefe. Se alguém aqui não entender quem manda, pode sair também!

As palavras de Caio fizeram todos darem um passo para trás, temendo perder o emprego.

Nana foi a primeira a se aproximar de Maia:

— Irmã Maia, você está bem?

Falando com um tom doce, ela tentou ajudar Maia a se levantar e virou-se para Caio, com uma expressão de falsa compaixão:

— Caio, a Irmã Maia não quis me machucar de propósito. Eu sei que ela só é um pouco mimada e impulsiva porque foi criada assim. Ela só estava descontando em mim, mas não é culpa dela. Caio, por favor, não fique bravo com ela. Meus braços já estão melhores depois de todos esses dias. A Irmã Maia ficou tanto tempo sozinha na montanha... deve estar querendo voltar para casa. Vamos levá-la logo.

As palavras de Nana fizeram o rosto de Caio ficar ainda mais sombrio. Ele bufou e disse friamente:

— Você deveria agradecer que os braços da Nana estão bem. Caso contrário, só morrendo nesta montanha você poderia compensar! O casamento está cancelado. Quando você perceber o que fez de errado, a gente conversa sobre remarcar.

Caio olhou para Maia com desprezo e acrescentou:

— Todo mundo sabe que esta estação de esqui não tem segurança. Mas você, só para tirar fotos bonitas, decidiu se arriscar e andar por aí. Se algo aconteceu, a culpa é sua! Maia, se não fosse pela dívida que tenho com seus pais, eu já teria terminado tudo com você há muito tempo!
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