Capítulo 7
Durante a internação de Maia, Caio foi algumas vezes perguntar sobre o estado dela, mas Vasco sempre o despistava com desculpas.

— Você viu como ela está. Não coopera, e eu não posso fazer milagres. Quando ela decidir se tratar, vai se recuperar rápido. E, quando estiver no exterior, terão especialistas ainda melhores para cuidar dela. Pode ficar tranquilo.

Caio, por um lado, sentia raiva das atitudes “teimosas” de Maia, mas, por outro, não conseguia deixar de sentir uma satisfação oculta. Afinal, essa obsessão dela só provava o quanto ele era importante para ela. Maia chegava ao ponto de se prejudicar fisicamente apenas para buscar sua atenção.

— Maia, por que você não aceita logo o tratamento e se recupera? — Caio perguntou. — Por que insiste em se machucar assim e deixar sua saúde piorar?

Maia, no entanto, apenas levantou os olhos e perguntou sem emoção:

— O vovô já acordou?

Toda a compaixão que Caio começava a sentir por ela evaporou instantaneamente. Ele riu com desprezo:

— Você ainda tem coragem de perguntar? Se você não estivesse com as pernas machucadas, eu mesmo te arrastaria até ele para ajoelhar e pedir desculpas!

Maia, com um fio de voz, murmurou:

— Me desculpe.

Mas Caio não parecia ouvir. Ou talvez ele apenas não quisesse ouvir.

Logo, os criados da família Nunes começaram a recolher as coisas de Maia e empacotá-las, como se estivessem arrumando tudo para expulsá-la. Entre os pertences, havia um pequeno entalhe de madeira, algo que Maia havia planejado dar a Caio no aniversário dele, muito tempo atrás.

Quando chegou à família Nunes, Maia era apenas uma menina perdida, sozinha em um mundo que não conhecia. Mestre Nunes nem sempre podia estar ao lado dela, então era Caio quem a acompanhava. Ele a levava ao parque de diversões, ao cinema e até para passear no shopping. Naquela época, Caio era gentil e dedicado, cuidando dela com uma doçura que a fez se apaixonar.

Foi quando Maia começou a escrever sobre ele em seu diário, anotando o nome de Caio com cuidado, linha por linha. O pequeno entalhe de madeira foi algo que ela passou um mês inteiro esculpindo.

Mesmo quando a faca de entalhar cortou sua mão, ela continuou, ignorando a dor. Sua única preocupação era não manchar o presente com sangue.

No dia do aniversário de Caio, ela foi à festa cheia de expectativa, com o coração transbordando de felicidade. Mas, ao chegar lá, encontrou Caio acompanhado por outra pessoa. Era Nana.

Nana estava de braços dados com Caio, e os dois riam juntos de forma que, para Maia, parecia insuportavelmente íntima.

Naquele momento, Maia sentiu como se seu coração tivesse sido esmagado. Ela segurou as lágrimas, mas Caio, completamente alheio ao que ela sentia, trouxe Nana até ela e disse:

— Maia, esta é a primeira vez que Nana participa de um evento assim. Cuide bem dela, está bem?

Maia não conseguiu ouvir o resto da frase. Consumida pela raiva e pela dor, ela empurrou Caio e saiu correndo.

“Eu deveria estar ao lado dele!” Maia pensava, em prantos. “Eu sou a noiva dele!”

Mais tarde, ela e Caio tiveram uma briga terrível. Ele a acusou de ser irracional.

— Você pode parar de atacar todo mundo como um cachorro louco? Não sente vergonha? — Ele gritou. — Nana é minha amiga. Será que você pode respeitá-la?

Mas Maia sabia. Ela via claramente no olhar de Nana que aquilo não era só amizade.

Depois disso, Caio começou a se distanciar de Maia. Ele nunca mais a chamou pelo nome com a mesma ternura de antes. Em vez disso, o tom impaciente que ele usava ao dizer “Maia” a machucava mais do que qualquer ferida física.

Naquele dia fatídico, quando estava ferida e presa na montanha, Maia sentou-se sob uma árvore, sentindo-se completamente derrotada. Diante da morte iminente, todas as mágoas e desejos pareciam insignificantes.

De repente, uma figura etérea apareceu diante dela. A Deusa da Lua, com um vestido branco esvoaçante, olhou para Maia com curiosidade.

— Então você é uma humana ferida pelo amor. Está à beira da morte. Vamos fazer um acordo. Eu posso deixá-la viver.

Maia, quase sem forças, perguntou:

— Que tipo de acordo?

— Dê-me o que você tem de mais precioso, e eu permito que você sobreviva.

Maia soltou uma risada amarga:

— Eu não tenho família, não tenho dinheiro ou poder. O que eu tenho de mais precioso é o meu amor por Caio. Mas como eu posso entregá-lo a você?

A Deusa sorriu:

— Simples. Daqui a seis dias, você se jogará de uma altura e me dará não só o seu amor por Caio, mas todas as suas memórias sobre ele. Em troca, você terá uma nova vida.

Maia fechou os olhos. Todas as memórias que tinha com Caio passaram por sua mente, como um filme. Ela sentiu uma dor profunda, mas, no final, sussurrou:

— Caio, eu vou desistir de você.

Então ela deu um leve aceno de cabeça:

— Eu aceito.

Seis dias depois.

Os criados da família Nunes foram ao quarto de Maia entregar os últimos pertences dela:

— Srta. Maia, aqui estão todas as suas coisas. Por favor, confira.

Maia olhou para a pilha de objetos, mas logo desviou o olhar:

— Não precisa. Joguem tudo fora.

Na despedida, Caio foi até o quarto de Maia. Pensar que ficaria muito tempo sem vê-la fez com que ele sentisse um desconforto difícil de explicar.

— Quando estiver no exterior recebendo tratamento, aproveite para refletir sobre si mesma e mudar esse seu temperamento. Depois que você perceber seus erros e mudar, eu vou te buscar de volta, ouviu?

Maia apenas assentiu com uma expressão vazia, sem demonstrar nenhuma emoção:

— Entendi. Eu vou mudar.

Caio franziu as sobrancelhas. No fundo, algo o incomodava. A Maia que estava diante dele parecia tão obediente e submissa, mas isso não era algo natural. Aquilo o fazia sentir um desconforto inexplicável, como se algo estivesse fora do lugar. Ele tinha a estranha sensação de que Maia... não deveria ser assim.

Antes que pudesse entender o que estava errado, Nana entrou no quarto e, com um sorriso radiante, segurou seu braço, interrompendo seus pensamentos.

— Irmã Maia, está pronta?

Maia olhou para os dois, que estavam lado a lado de maneira íntima, e deu um sorriso leve, quase indiferente:

— Podem esperar lá fora. Vou trocar de roupa e já saio.

Caio hesitou. Ele não queria sair, mas, com Nana ao seu lado, acabou concordando e deixou o quarto, ainda com o coração inquieto. Algo nele dizia que havia algo errado.

Por que Maia não agia mais como antes? Por que ela não fazia drama ou pedia para ele ficar? Ou até mesmo por que ela não demonstrava ciúmes de Nana?

Enquanto isso, Nana observava a expressão inquieta de Caio e, por dentro, sentia um prazer perverso. Seus olhos brilharam com uma maldade contida. "Essa Maia... miserável. O que ela tem que ainda prende tanto a atenção do Caio? Mesmo estando nesse estado patético, nem humana, nem fantasma, ele continua tão preocupado com ela!"

Mas, ao levantar o rosto, Nana voltou a sorrir, doce como mel:

— Caio, não se preocupe tanto. Já está tudo organizado. A Irmã Maia será muito bem cuidada.

Caio balançou a cabeça, distraído, mas assentiu. Ele pensou que, se Maia ficasse fora por muito tempo, ele poderia visitá-la ocasionalmente. Claro, sem que ela soubesse. Do contrário, com o temperamento de Maia, ela com certeza o agarraria e não o deixaria ir embora, como fazia antes.

Esse pensamento o fez curvar os lábios em um sorriso sutil. Mas, no instante seguinte, ele viu algo pelo canto do olho. Na janela do quinto andar, uma figura familiar estava sentada.

— Não...

Os olhos de Caio se arregalaram enquanto ele sentia o coração parar. Seu corpo reagiu por puro instinto, e ele correu em direção à janela.

Mas já era tarde demais. No momento seguinte, ele viu o corpo delicado de Maia despencar no ar até atingir o chão. O impacto fez o sangue espalhar-se como uma flor vermelha desabrochando no concreto.

— Yaya!

Caio gritou com toda a força, chamando o apelido carinhoso que não pronunciava há muito tempo. Sua voz ecoou em desespero, mas não podia mais alcançar Maia.
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