Caio chegou ao hospital já no final da tarde.— Caio, que bom que você veio. Venha comer alguma coisa comigo. — Nana o chamou com um sorriso gentil, mas por dentro, seu coração fervia de ciúmes.Ela olhou para as bochechas ligeiramente fundas de Caio e sentiu um misto de pena e inveja. Por que, mesmo com Maia em estado vegetativo, Caio ainda se importava tanto com ela?Mas Nana sabia como esconder seus verdadeiros sentimentos. Vendo que Caio estava visivelmente abatido, ela decidiu usar a oportunidade para ganhar ainda mais a confiança dele. Com um toque de doçura, ela o empurrou delicadamente para a mesa e começou a colocar os pratos à sua frente.— Caio, ouvi dos seguranças que você passou o dia inteiro sem comer. Isso não pode continuar. Eu sei que você está preocupado com Irmã Maia, mas não pode descuidar de si mesmo. Se ela soubesse que você está assim, ficaria muito triste. Aqui, fiz uma canja especialmente para você. Prove e veja se está boa.A atitude cuidadosa de Nana fez com
Do lado de fora da porta, Caio estava com os olhos vermelhos como sangue, a mandíbula tão tensa que parecia prestes a quebrar os dentes. Ele finalmente entendeu. Durante todo esse tempo, ele havia sido um idiota, completamente enganado por Nana.Aquela mulher de coração frio e cruel... Ele a tratava como uma irmã, cuidava dela, confiava nela. E, mesmo assim, ela quase matou Maia, sua noiva!Caio lembrou-se de todas as vezes em que Maia tentou se defender, implorando para que ele acreditasse nela. Mas ele, cego pela manipulação de Nana, sempre descartava suas palavras como se fossem simples caprichos. Ele a acusava de ser irracional, de inventar mentiras... Mas a verdade era que Maia era a vítima o tempo todo.Com o coração cheio de culpa, Caio deu um soco na própria perna, ignorando a dor que o golpe causou.— Por quê? Por que eu não consegui ouvir Maia? — Ele murmurou, com a voz cheia de desespero.Se ele tivesse acreditado nela, apenas uma vez, ela não estaria agora presa a uma cama
— Como ela teve a coragem! — Caio gritou, enquanto arremessava o copo de vidro que estava em sua mão contra a parede. O som da explosão ecoou pelo quarto, pedaços se espalharam pelo chão, refletindo a fúria que queimava em seus olhos. Ele cerrou os punhos com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos.— Nana... — Ele murmurou entre os dentes, a raiva pulsando em sua voz. — Eu vou fazer você pagar por isso.Seus passos o levaram de volta ao quarto de Maia. Por trás da porta, ele ainda podia ouvir as vozes de Nana e Vasco, completamente alheios ao perigo que os cercava.— Olha só pra essas pernas dela. — Zombou Nana, com desprezo. — Que coisa mais nojenta. Essas feridas são horríveis.Vasco soltou uma risada debochada:— Quem mandou ela querer morrer? Eu nem tinha intenção de cuidar direito dessas pernas podres. E o mais engraçado é que ela aguenta tudo. Outro dia, eu até usei uma pinça pra cutucar as feridas dela, só pra ver se ela gritava de dor. Mas ela ficou calada, mesmo
Maia foi transferida para a cama ao lado da de Caio. Agora, bastava ele virar a cabeça para vê-la. Todos os dias, ele se sentava ao lado dela, passando os dedos levemente sobre suas sobrancelhas e seus traços delicados, como se desenhasse seu rosto na memória.— Yaya, os monstros que te machucaram já pagaram pelo que fizeram. Agora, abre os olhos e olha pra mim, por favor.Mas Maia, imóvel na cama, não dava nenhuma resposta.Enquanto isso, do outro lado da cidade, Nana e Vasco estavam à deriva. Após serem expulsos de forma humilhante do círculo social da alta sociedade, os dois enfrentavam dias difíceis.Nana, que antes havia usado sua proximidade com Caio para trabalhar como modelo em uma das empresas da família Nunes, agora não tinha mais emprego, casa ou reputação. Ela sempre manipulava as pessoas ao seu redor com mentiras e falsas promessas, mas nunca construiu amizades verdadeiras. Agora, sem o apoio de Caio, ela era rejeitada por todos.Vasco, por sua vez, era ainda pior. Ele nun
Caio não se lembrava de como havia voltado ao hospital. Quando percebeu, já estava sentado ao lado da cama de Maia, o rosto coberto de lágrimas.Maia continuava deitada, com os olhos fechados, tão silenciosa que parecia ausente de tudo. Apenas o leve movimento de seu peito provava que ela ainda estava viva.Caio olhou para os traços serenos de seu rosto e não conseguiu conter o choro. Ele cobriu o rosto com as mãos, sentindo o peso esmagador da culpa. Nana estava certa.Por mais que Nana e Vasco fossem monstros, o que ele havia feito a Maia era ainda pior. Ele sabia disso. Como tudo podia ter chegado a esse ponto? Ele realmente a amava no começo. Então, como foi capaz de machucá-la tanto?sEle se lembrou de cada erro, cada escolha que levou Maia até ali. Se ele não tivesse ido à festa de aniversário com Nana... Se ele não tivesse discutido com Maia naquele dia... Se ele não tivesse deixado Maia para trás durante a viagem de esqui...O quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, int
Após pular da sacada, Maia sentiu como se sua consciência fosse engolida por uma escuridão profunda. Ela olhou ao redor, confusa, até que uma luz brilhante surgiu à distância.Uma voz calma e suave falou com ela:— Vá, seu desejo está prestes a ser realizado.Sem entender, Maia seguiu instintivamente em direção à luz. Quando abriu os olhos novamente, encontrou-se em um lugar familiar, mas ao mesmo tempo distante. Ela olhou para o teto acima de sua cabeça, reconhecendo-o imediatamente. Era o quarto da velha casa da família Davis, na distante Cidade Dondo.Seu corpo, que havia estado adormecido por tanto tempo, ainda estava fraco. Ela se sentou com dificuldade, analisando o ambiente ao seu redor. Tudo estava exatamente como antes.Maia franziu o cenho, surpresa. Depois que seus pais morreram heroicamente, salvando outras pessoas, a empresa e as ações da família haviam sido tomadas por parentes gananciosos. A casa também fora colocada à venda, mas, por estar muito velha, ninguém quis comp
Maia conseguiu um emprego em uma floricultura perto de sua nova casa. Embora o salário fosse modesto, ela adorava o trabalho. Poder transmitir beleza e alegria para os outros fazia com que ela se sentisse feliz e realizada. Durante o tempo que passou na loja, ela também fez novas amizades.— Bom dia, Renata! — Maia entrou na loja com um sorriso radiante.A dona da loja, Renata, rapidamente empurrou um toast quentinhos para ela:— Maia, experimenta! Fui eu mesma que fiz hoje de manhã.Depois de terminar os preparativos do dia, Maia recebeu um pedido de entrega. Para sua surpresa, o endereço era na casa ao lado da sua. Ela pegou um buquê de lírios e foi até a porta do cliente. Tocou a campainha com cuidado.— Já vou! — Respondeu uma voz masculina clara e agradável de dentro da casa.Quando a porta se abriu, um homem jovem, de rosto bonito, apareceu. Ele pegou o buquê das mãos dela, mas, ao levantar os olhos, sua expressão mudou para uma mistura de surpresa e alegria:— Obrigado... Espera
Maia havia se arrumado com um cuidado especial naquela noite. O ano estava prestes a terminar, e Enrico a havia convidado para assistir a um filme juntos na virada.Ela sabia muito bem o que aquele convite significava. Além disso, ela também sentia algo por ele. Enrico era gentil, educado e tinha uma personalidade calorosa que a fazia se sentir tranquila. Toda vez que Maia estava ao lado dele, um sentimento de paz e conforto preenchia seu coração. Era uma sensação que ela não experimentava desde que seus pais haviam partido.Ao entardecer, as luzes coloridas de néon já iluminavam as ruas, que estavam movimentadas e cheias de vida. Casais passavam de mãos dadas, trocando risadas e olhares apaixonados.Para combinar com o clima romântico da noite, Maia escolheu um vestido longo vermelho escuro, junto com um casaco de lã que adicionava um toque de elegância e delicadeza.A neve começou a cair suavemente, cobrindo a cidade com um véu branco e brilhante. Maia, distraída, estendeu a mão para