Maia já estava no hospital há três dias, mas, durante esse tempo, apenas uma enfermeira estagiária aparecia de vez em quando para limpar seus ferimentos e aplicar um pouco de medicamento.Dizer que era "tratamento" seria exagero. Tudo o que faziam era passar um antisséptico básico nos cortes. O efeito era quase nulo.A estagiária não tinha o menor cuidado. Suas mãos pesadas faziam Maia estremecer de dor, enquanto o suor frio escorria de sua testa. Ela agarrava o lençol com força, e seus dedos magros estavam tão tensos que as articulações ficavam brancas.Caio entrou no quarto no meio desse processo, e a cena o incomodou profundamente. Ele pegou o frasco de medicamento das mãos da enfermeira, irritado:— Por que você não diz que está doendo? Antes... você já não estaria fazendo drama e pedindo pra eu te consolar?Se fosse antes, Maia certamente faria birra e exigiria que Caio lhe fizesse todas as suas vontades. Mas agora, ela preferia suportar tudo em silêncio, engolindo a dor sem dizer
Caio virou-se para Maia, e o olhar que ele lançou estava carregado de desprezo:— Maia, você foi longe demais! Quero ver quanto tempo você consegue sobreviver sem a família Nunes! A partir de agora, o nosso noivado está rompido! Você não é mais minha noiva!Mestre Nunes ficou tão indignado que seu rosto ficou lívido. Ele apontou o dedo trêmulo para Caio, tentando falar.— Você... você é um cego... um ingrato...Antes que pudesse terminar a frase, o velho senhor fechou os olhos e desmaiou na frente de todos.Os médicos correram imediatamente para socorrê-lo e o levaram para ser atendido. Maia, vendo a cena, tentou se levantar de forma instintiva, mas seus ferimentos a impediram, e ela caiu de volta no chão.— Vovô... vovô... — Ela murmurou, com lágrimas nos olhos. Tentando desesperadamente alcançar Caio, ela puxou a barra da camisa dele com as mãos trêmulas e sussurrou com a voz embargada. — Por favor, me deixe vê-lo... Eu imploro...O sangue escorria junto de suas lágrimas, formando ma
Durante a internação de Maia, Caio foi algumas vezes perguntar sobre o estado dela, mas Vasco sempre o despistava com desculpas.— Você viu como ela está. Não coopera, e eu não posso fazer milagres. Quando ela decidir se tratar, vai se recuperar rápido. E, quando estiver no exterior, terão especialistas ainda melhores para cuidar dela. Pode ficar tranquilo.Caio, por um lado, sentia raiva das atitudes “teimosas” de Maia, mas, por outro, não conseguia deixar de sentir uma satisfação oculta. Afinal, essa obsessão dela só provava o quanto ele era importante para ela. Maia chegava ao ponto de se prejudicar fisicamente apenas para buscar sua atenção.— Maia, por que você não aceita logo o tratamento e se recupera? — Caio perguntou. — Por que insiste em se machucar assim e deixar sua saúde piorar?Maia, no entanto, apenas levantou os olhos e perguntou sem emoção:— O vovô já acordou?Toda a compaixão que Caio começava a sentir por ela evaporou instantaneamente. Ele riu com desprezo:— Você a
— Yaya! Caio parecia ter sido congelado no tempo. O sangue que escorria lentamente do corpo de Maia era como uma lâmina afiada atravessando seu peito, deixando-o sem ar. A dor que ele sentia era insuportável.— Yaya... Yaya... — Ele murmurou, com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Suas mãos tremiam enquanto seguravam as de Maia, geladas como gelo. Ele tentava, em vão, aquecer aquele corpo sem vida diante dele.Logo, médicos e enfermeiras chegaram correndo e, com pressa, colocaram Maia em uma maca. Ela foi levada às pressas para a sala de emergência.— Yaya, você não pode me deixar, por favor. Não morra, Maia, não morra! Eu te imploro, não morra! — Caio corria atrás dos médicos, sua voz trêmula, quase engasgando com cada palavra.As vozes dos médicos começaram a ecoar em sua mente como golpes:— O paciente sofreu fraturas múltiplas e graves em todos os membros, especialmente nas pernas.— Há uma hemorragia interna causada por danos severos aos órgãos.— O cérebro sofreu um impact
— Não pode ser! — Caio empurrou Nana com força, sem se importar quando ela caiu no chão. Ele estava completamente fora de si, tentando a todo custo se levantar. — Eu preciso vê-la. Eu preciso ver a Yaya...Mas, por mais que ele tentasse, suas pernas não conseguiam sustentá-lo. Ele caía no chão repetidas vezes. O sangue começou a escorrer de seus joelhos, manchando o piso de vermelho.Nana levantou-se rapidamente e o ajudou a voltar para a cama. Com lágrimas nos olhos e a voz embargada, ela tentou acalmá-lo:— Caio, por favor, não faça isso. Ver você assim me parte o coração. Pelo menos... pelo menos a irmã Maia ainda está viva. Se procurarmos um jeito, ela vai acordar. Mas você precisa se acalmar, tudo bem?As palavras de Nana, aos poucos, fizeram o Caio frenético se acalmar. Ele respirou fundo e, com um olhar decidido, chamou um dos seguranças:— Quero voltar para a família Nunes agora. Dizem que pacientes em coma precisam de estímulos emocionais para despertar. Se eu encontrar algo q
Caio chegou ao hospital já no final da tarde.— Caio, que bom que você veio. Venha comer alguma coisa comigo. — Nana o chamou com um sorriso gentil, mas por dentro, seu coração fervia de ciúmes.Ela olhou para as bochechas ligeiramente fundas de Caio e sentiu um misto de pena e inveja. Por que, mesmo com Maia em estado vegetativo, Caio ainda se importava tanto com ela?Mas Nana sabia como esconder seus verdadeiros sentimentos. Vendo que Caio estava visivelmente abatido, ela decidiu usar a oportunidade para ganhar ainda mais a confiança dele. Com um toque de doçura, ela o empurrou delicadamente para a mesa e começou a colocar os pratos à sua frente.— Caio, ouvi dos seguranças que você passou o dia inteiro sem comer. Isso não pode continuar. Eu sei que você está preocupado com Irmã Maia, mas não pode descuidar de si mesmo. Se ela soubesse que você está assim, ficaria muito triste. Aqui, fiz uma canja especialmente para você. Prove e veja se está boa.A atitude cuidadosa de Nana fez com
Do lado de fora da porta, Caio estava com os olhos vermelhos como sangue, a mandíbula tão tensa que parecia prestes a quebrar os dentes. Ele finalmente entendeu. Durante todo esse tempo, ele havia sido um idiota, completamente enganado por Nana.Aquela mulher de coração frio e cruel... Ele a tratava como uma irmã, cuidava dela, confiava nela. E, mesmo assim, ela quase matou Maia, sua noiva!Caio lembrou-se de todas as vezes em que Maia tentou se defender, implorando para que ele acreditasse nela. Mas ele, cego pela manipulação de Nana, sempre descartava suas palavras como se fossem simples caprichos. Ele a acusava de ser irracional, de inventar mentiras... Mas a verdade era que Maia era a vítima o tempo todo.Com o coração cheio de culpa, Caio deu um soco na própria perna, ignorando a dor que o golpe causou.— Por quê? Por que eu não consegui ouvir Maia? — Ele murmurou, com a voz cheia de desespero.Se ele tivesse acreditado nela, apenas uma vez, ela não estaria agora presa a uma cama
— Como ela teve a coragem! — Caio gritou, enquanto arremessava o copo de vidro que estava em sua mão contra a parede. O som da explosão ecoou pelo quarto, pedaços se espalharam pelo chão, refletindo a fúria que queimava em seus olhos. Ele cerrou os punhos com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos.— Nana... — Ele murmurou entre os dentes, a raiva pulsando em sua voz. — Eu vou fazer você pagar por isso.Seus passos o levaram de volta ao quarto de Maia. Por trás da porta, ele ainda podia ouvir as vozes de Nana e Vasco, completamente alheios ao perigo que os cercava.— Olha só pra essas pernas dela. — Zombou Nana, com desprezo. — Que coisa mais nojenta. Essas feridas são horríveis.Vasco soltou uma risada debochada:— Quem mandou ela querer morrer? Eu nem tinha intenção de cuidar direito dessas pernas podres. E o mais engraçado é que ela aguenta tudo. Outro dia, eu até usei uma pinça pra cutucar as feridas dela, só pra ver se ela gritava de dor. Mas ela ficou calada, mesmo