Damon
- Essa foi a ideia mais ridícula que eu já ouvi em toda a minha vida - Edgar falou virado completamente no banco do carona para me olhar.
- Me dá um tempo, Ed - Bufei apertando o volante. Belo dia para o infeliz do meu motorista pedir folga. Não estava com cabeça para dirigir, as memórias recentes ainda queimavam minha pele.
"Com a morte do seu pai, Damon, você herdará o controle da empresa imediatamente. Isso significa que, a partir de hoje, você assume todas as responsabilidades e poderes que antes pertenciam a ele. Você terá total autoridade para tomar decisões, supervisionar projetos, e gerir as operações da forma que achar mais adequada. Além disso, será remunerado com um salário condizente com suas novas responsabilidades, o suficiente para manter seu estilo de vida e garantir o sucesso da empresa.
No entanto, a herança completa — os 100% de todos os bens, investimentos e ações da empresa — será sua apenas sob uma condição específica. O testamento de seu pai estipula que você só terá direito a essa totalidade após cumprir um ano de casamento. Até lá, o patrimônio estará sob administração e proteção, para assegurar que o desejo dele seja plenamente cumprido.
Em outras palavras, você pode comandar a empresa e viver de forma confortável, mas a herança integral, o acesso irrestrito a todos os recursos deixados por ele, só será liberada quando você atender à exigência de permanecer casado por um ano."
- Cara, é uma igreja, não uma temporada de casamento as cegas.
- Eu preciso de uma esposa pra ontem! - Ok, mas o que exatamente você acha que vai acontecer? - Estacionei o carro e saí contornando o mesmo, Edgar saiu também e cruzou os braços assim que ficou frente a frente comigo - acha que uma garota vestido de noiva vai sair por aquela porta pronta para se casar com você?A porta da igreja se abriu com força, e lá estava ela, saindo como uma tempestade em fúria. Ela descia os degraus da igreja com uma determinação inabalável, e cada passo parecia uma declaração de guerra. O vestido de noiva, branco e impecável, contrastava com o caos que se desenrolava ao redor dela. A seda brilhava sob o sol do final da tarde, moldando seu corpo perfeitamente, mas ela não era mais a noiva que esperava alguém no altar. Não, isso era óbvio. Ela estava sozinha, traída, e a raiva emanava dela de uma forma quase palpável.
Ela estava destruída, mas havia uma força ali, algo que me fez perceber que aquela mulher não era alguém que aceitava ser derrotada.
Ela apertava o buquê de flores com tanta força que suas mãos tremiam, e eu sabia que, naquele exato momento, algo dentro dela estava mudando. Aquela mulher não ia se curvar à humilhação. Ela estava decidida a não ser a vítima.
- Mas nem fodendo - Edgar estava boquiaberto.
Eu precisava de alguém como ela. Alguém com nada a perder, alguém que também precisasse se reinventar, alguém disposto a fazer o que fosse necessário. Um casamento de conveniência. Ela era perfeita para isso. Ela tinha a força, a raiva e, principalmente, a motivação.
Convencê-la não seria fácil — eu sabia. Mas eu também sabia que, naquele momento, talvez ela estivesse aberta a qualquer coisa que pudesse ajudá-la a virar a página. E eu, por acaso, tinha a solução que ela ainda não sabia que estava procurando.
- Violet, espere! - Outra garota saiu correndo de dentro da igreja - onde você vai?
- Vou fazer Eathan engolir esse buquê - Violet praticamente esfregou o buquê no rosto da amiga. - Por mais que eu seja fã de uma revanche nível Doce Vingança, ir até lá agora só vai fazer você se humilhar na frente daquele babaca.Me encostei no carro e tirei os óculos escuros admirando a cena. Violet soltou um grito frustrada, puxou a saia do vestido e chutou seu buquê, que como um míssil guiado, acertou Edgar em cheio.
- Ai meu Deus - Ela arregalou os olhos.
- Também não precisa descontar em estranhos - A amiga dela, de forma alguma, ajudava em algo. - Sinto muito, machucou? - Ela se aproximou avaliando Edgar, que estava boquiaberto de mais para dizer qualquer coisa. - Ele vai sobreviver - Peguei o buquê das mãos de Edgar e o avaliei - também não sou fã de flores.Violet estava com as bochechas vermelhas, os cabelos escuros, soltos e bagunçados, dançavam ao redor de seu rosto, que era uma mistura de mágoa e orgulho ferido. Mas o que realmente me prendeu foram os olhos. Aquele azul profundo, cheio de fúria, misturado com uma dor que ela ainda não tinha conseguido esconder completamente.
- Deixe-me adivinhar, o cara não apareceu - Violet respirou fundo, passou as mãos pelo cabelo e olhou para a amiga quase em súplica.
- Vamos embora? - Pediu a amiga. - Jogar esse buquê no cara não vai mudar muita coisa - Arremessei o buquê direto em uma lata de lixo - Se quer uma… como sua amiga disse? - Olhei para a loira que me olhava com os olhos cerrados - uma revanche nível Doce Vingança, você vai precisar mais do que um buquê. - Cara, do que você está falando? - A amiga cruzou os braços na defensiva. - E se eu te disse que tenho um jeito perfeito de você se vingar do seu noivo? - Perguntei para Violet. - Ex-noivo - Ela corrigiu. - Você não está mesmo escutando esse cara, né? - A amiga segurou o braço de Violet.Encarei a amiga, que estava quase tão furiosa quanto Violet, como um cão protegendo seu dono ferido. Nunca conseguiria nada agora. Aos poucos, uma multidão começou a sair da igreja, Violet olhou para as pessoas completamente constrangida e a amiga a puxou até a ponta da calçada e acenou para um táxi que parou na mesma hora.
Eu a vi no táxi, pronta para ir embora, e soube que aquele era o momento certo. Antes que a porta se fechasse, dei alguns passos rápidos e bati de leve na janela. Eu me abaixei, me aproximando um pouco mais, e tirei um cartão do bolso, estendendo para ela.
- Eu sei que você não me conhece - comecei, mantendo a voz firme, mas com o tom certo de seriedade - Mas sei o que você está passando agora. Sei o que é ser traído por alguém em quem você confiava.
Ela hesitou, mas não tirou os olhos de mim. Pegou o cartão, mas ainda em silêncio.
- O que ele fez com você é imperdoável. Você tem todo o direito de estar com raiva, e se quer saber, eu tenho uma maneira de fazer ele se arrepender amargamente do que acabou de fazer.
O interesse brilhou nos olhos dela por um segundo, mas ela ainda estava desconfiada, como era de se esperar
- Eu também preciso de algo, e acho que você pode ser a resposta. O que eu tenho a te oferecer é simples: uma solução para o seu problema... e você pode ser a solução para o meu - Fiz uma pausa, olhando nos olhos dela, querendo que ela entendesse que eu não estava ali por acaso - Se você me der uma chance de explicar, podemos sair dessa situação muito melhor do que entramos. Ligue para mim. Você não vai se arrepender.
Violet- Você não pode mesmo estar considerando encontrar esse cara - Megan me olhou com uma careta.- Só estou curiosa - Mexi o drink em minha mão e tomei o resto em um gole.Estávamos em um resort em Alki Beach, aproveitando minha lua de mel. Fazia quatro dias desde que Eathan me abandonou no altar, e a humilhação ainda queimava em meu peito. Se não fosse por Megan, que me arrastou para este resort que já estava pago não sei o que seria de mim nesta semana de férias que tirei para a minha lua de mel.Quatro dias desde que um estranho se debruçou na janela do meu táxi, e me prometeu ser a resposta para o que eu precisava.- Ta certo que o cara era bonitão, mas estava na cara que ele é doido da cabeça, amiga.- Sabe o mais estranho? Ele me era familiar, mas não consigo lembrar da onde.Olhei o cartão mais uma vez, completamente preto, apenas com um número escrito em uma fonte comum branca. Simples e elegante pra caralho. Sem nem um maldito nome.- Você deve ter visto ele em algum dess
DamonEdgar me entregou um copo de café batizado com Whisky, era apenas nove da manhã mas ele sabia que meu humor exigia algo mais forte que apenas cafeína.- Por um momento eu achei mesmo que uma noiva cairia do céu para você.- Não precisa me lembrar disso.Apertei o botão do elevador para me levar ao estacionamento. Havia se passado uma semana e Juliet não havia me ligado. Não sabia dizer se a irritação era por não ter arrumado uma noiva para agradar meu falecido pai e suas exigências mesquinhas e infundável, ou se era por ter certeza que a garota me ligaria. Eu não era o tipo de pessoa que fica pendurada no telefone esperando a ligação de uma garota. Chequei meu celular novamente. Nenhuma ligação perdida.- Eu já falei cara, eu caso com você, não estava especificado no testamente que tem que ser uma mulher o seu cônjuge.- Aprecio a oferta - Debochei saindo do estacionamento e indo em direção ao meu carro.- Conheço pessoas que morreriam apenas pela oportunidade de encostar nesse
VioletEra loucura, eu sabia.Mas eu não conseguiria ter paz sem falar com ele. Ele quem eu ainda nem sabia o nome, não que ele tenha me dado muita brecha para perguntas.- Cheguei - Falei no telefone enquanto entrava no Space Needle.- Você ainda não me mandou a localização em tempo real - Megan grunhiu ao telefone.- Sossegue, se ele fosse me sequestrar não teria me chamado em um restaurante no maior ponto turístico da cidade - Entrei no elevador e comecei a subir.- Você sabe que ai só tem frutos do mar né? Fácil dele enfiar um camarão na sua boca e te matar.- Sim, Megan, ele viu na bola de cristal dele que sou alérgica a frutos do mar.As portas do elevador se abriram me dando vista para o restaurante giratório mais famoso de Seattle, era engraçado o fato de que eu moro aqui a minha vida inteira e nunca tinha pisado meus pés aqui. Ser alérgica ao preto principal também não incentivava a visita.- Vou desligar.- Localização em tempo real, Violet. Ou eu juro que apareço ai antes m
DamonEu a encarei por um momento, buscando as palavras certas. Não podia assustá-la, mas também não havia tempo a perder com rodeios. Ela precisava entender que essa era uma oportunidade única para ambos. Respirei fundo e comecei.- Violet, minha situação é um tanto... complicada. Meu pai faleceu recentemente e, no testamento, deixou uma condição peculiar. Para que eu possa receber a herança que tenho direito, preciso estar casado.Ela me olhou com uma mistura de curiosidade e ceticismo. Era uma proposta absurda, eu sabia disso, mas continuei.- Eu sei que acabou de passar por algo horrível, e a última coisa que quer agora é outro relacionamento, mas... e se usássemos essa situação a nosso favor? Nós dois podemos ganhar com isso. Se você se casar comigo, terá a chance de esfregar na cara do seu ex que você está melhor, muito melhor na verdade. E não vai ser difícil, já que ele é... bom, o meu motorista. - Fiz uma pausa, observando a surpresa tomar conta de seu rosto. - Imagine como e
VioletO resto do jantar transcorreu em um silêncio agradável, e eu estava grata por isso. Damon, sabiamente, permitiu que eu ficasse com meus pensamentos, sem tentar preencher o espaço com palavras desnecessárias. Agora, enquanto descíamos no elevador em direção ao térreo, minha mente fervilhava com tudo que ele havia proposto.Casar-me com um homem que acabei de conhecer. Fazer parte de um acordo que poderia mudar nossas vidas. Parecia insano, mas... também fazia sentido de uma forma estranha. Claro, havia tantas coisas que poderiam dar errado. E se o casamento de fachada se complicasse? E se as pessoas desconfiassem? Eu seria capaz de sustentar essa mentira por um ano? E o que aconteceria comigo depois que Damon conseguisse o que queria? Essas perguntas giravam na minha cabeça, uma após a outra, como engrenagens de um relógio descontrolado.Mas, então, uma sensação de satisfação amarga começou a tomar conta de mim. Eu me imaginei ao lado de Damon, vivendo uma vida de luxo e sucesso
DamonParei ao lado de Tompson e coloquei as mãos no bolso. Ele parecia perdido, desolado, olhando a ex-noiva como se estivesse nascendo uma terceira cabeça dos seus ombros.- Francamente, Tompson, hoje só o seu corpo veio trabalhar não é - Chamei sua atenção e ele praticamente pulou.Vi o desdém em seus olhos, a confusão e a indecisão do que iria acontecer a partir dali.- Ou você acorda para a vida, ou tem muita gente esperando a chance de receber a metade do salário que você ganha.Eu o vi engolir o orgulho como se fosse areia, esticou a mão e abriu a porta, enquanto voltava a olhar para Violet, que agora estava entrando em um táxi sem nem olhar para trás.- Algum problema? - Perguntei fazendo a minha melhor versão de desentendido.- De onde o senhor a conhece? - Ele perguntou um pouco incerto.- Não que seja da sua conta, mas… - fingi pensar - é, realmente não é da sua conta - Entrei dentro do carro - aposto que sua noiva não ficaria contente em vê-lo babando em outra mulher, abre
Violet- Você só pode estar de brincadeira - Megan arrancou a rolha do vinho e encheu duas taças. - É loucura, eu sei, mas… - Mas? Mas nada Violet, você não pode estar mesmo considerando isso! Amiga nós não estamos em uma telenovela turca.Peguei a taça e tomei um gole, nem de longe sentindo o mesmo saber do vinho que eu estava tomando uma hora atrás.- Você tinha que ver a cara do Eathan, Meg, ele só faltou cavar um buraco e se enfiar nele. - Eu não sei se acredito nessa coincidência do cara ser chefe do Eathan. - Talvez seja o carma finalmente a meu favor, como você sempre diz, o carma tarda mas não falha. - Isso é muito maior que carma, Violet - Megan cruzou as pernas como índio para se sentar no sofá - ele não está pedindo para vocês só fingirem uma relação, ele quer casamento Vi, papeis de cartório e pelo amor de Deus, ele quer que isso dure um ano inteiro! - Eu sei que parece insano - eu digo, passando as mãos
DamonDepois que deixei Violet, segui direto para a empresa. Havia algumas pendências para resolver, reuniões que não poderiam esperar. Mas, mesmo enquanto discutia números e prazos, minha mente voltava para o encontro. Voltava para Violet. Como ela processaria tudo aquilo? As chances estavam a meu favor, mas ainda assim, havia uma parte de mim que se perguntava: e se ela não aceitar?Quando cheguei em casa, o cansaço do dia bateu. Tirei os sapatos com um suspiro de alívio e me servi de um bom whisky, sentindo o calor do líquido descendo pela garganta enquanto caminhava até a varanda da cobertura. A cidade se estendia à minha frente, iluminada, movimentada. Mas eu estava distante disso. Meus pensamentos estavam ainda no restaurante, naquela proposta maluca que coloquei na mesa.Antes que pudesse me perder mais nos meus devaneios, o telefone vibrou no bolso. Era Edgar. De novo.