Violet
Era loucura, eu sabia.
Mas eu não conseguiria ter paz sem falar com ele. Ele quem eu ainda nem sabia o nome, não que ele tenha me dado muita brecha para perguntas.
- Cheguei - Falei no telefone enquanto entrava no Space Needle.
- Você ainda não me mandou a localização em tempo real - Megan grunhiu ao telefone. - Sossegue, se ele fosse me sequestrar não teria me chamado em um restaurante no maior ponto turístico da cidade - Entrei no elevador e comecei a subir. - Você sabe que ai só tem frutos do mar né? Fácil dele enfiar um camarão na sua boca e te matar. - Sim, Megan, ele viu na bola de cristal dele que sou alérgica a frutos do mar.As portas do elevador se abriram me dando vista para o restaurante giratório mais famoso de Seattle, era engraçado o fato de que eu moro aqui a minha vida inteira e nunca tinha pisado meus pés aqui. Ser alérgica ao preto principal também não incentivava a visita.
- Vou desligar.
- Localização em tempo real, Violet. Ou eu juro que apareço ai antes mesmo de você sentar a bunda na cadeira.Desliguei a chamada e mandei a localização para que Megan ficasse mais tranquila. Parando em frente ao balcão da recepcionista eu travei, não sabia bem o que dizer.
- Reserva? - Ela me olhou com um sorriso simpático que não chegava aos olhos. Anos de experiência provavelmente.
- Eu acho que sim. Meu nome é Violet e… - Me acompanhe - Ela apenas girou sob seus saltos e saiu andando.Mesmo meio atordoada eu a segui até o outro lado do restaurante, onde menos pessoas estavam. Por ser fora de temporada o restaurante estava agradável, mas em temporada aqui era uma verdadeira loucura de turistas.
Eu o vi, e no mesmo segundo, como em um estalo, o reconhecimento, segui a recepcionista em modo automático, extasiada.
Ele me olhou, e com o olhar preguiço me avaliou de cima a baixo. Quando parei ao seu lado e a recepcionista se retirou ele então levantou, puxou a cadeira e sinalizou para que eu me sentasse.
- Isso foi um erro - Eu disse apertando minha bolsa contra meu peito - Desculpe.
Ia me virar e correr dali quando senti sua palma quente segurar meu cotovelo com delicadeza, ele puxou levemente me fazendo virar para olhá-lo e eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo desde que o reconheci.
- Provavelmente, sim, é um erro. Mas acho que deveria primeiro me escutar para depois decidir.
- Você está brincando comigo, não está? - Perguntei, já sentindo meu coração acelerar. - Por que estaria? - Ele parecia realmente confuso. - Está dizendo que é pura coincidência o chefe do meu noivo estar na porta da minha igreja e propor uma forma de me vingar? - Puxei meu braço para longe do seu toque - não sei que tipo de brincadeira doente você e Eathan estão planejando mas eu vou embora.Me virei novamente para ir embora, e novamente ele me segurou, dessa vez com um pouco mais de firmeza, me fazendo olha-lo.
- Não sei se entendi.
Seus olhos castanhos dançavam pelo meu rosto, parecia tentar memorizar cada detalhe como um admirador e sua obra de arte. Alguém quem que está vendo a solução para seus problemas, como ele havia mencionado.
- Eu estava fora de mim na igreja, meio zonza depois de ter sido deixada no altar, por isso não te reconheci. Mas achou mesmo que eu não o reconheceria agora? Por Deus meu noivo trabalha para você a mais de três anos!
Quando meus olhos pousaram nos de Damon, fui pega de surpresa pela intensidade com que ele me olhava. Ele era o tipo de homem que não passava despercebido, com uma presença forte e quase imponente. Alto, seus ombros largos e postura confiante faziam qualquer um se sentir pequeno ao lado dele. O terno escuro que usava parecia feito sob medida, destacando seu físico atlético, mas não era só isso que chamava atenção.
Seu rosto, com traços marcantes, parecia esculpido com perfeição. O maxilar firme e bem definido, a barba ligeiramente por fazer, que lhe dava um ar de despretensiosa elegância, e os lábios que mantinham uma linha séria, como se sempre estivesse em controle da situação. Mas eram os olhos que mais me intrigavam. Castanhos profundos, quase dourados à luz, cheios de uma intensidade que me fez sentir como se ele enxergasse além do que eu deixava transparecer. Havia algo de misterioso e perigoso ali, uma mistura entre charme e poder que ele exalava sem esforço.
- Eu posso garantir que não faço a menor ideia do que você está falando. Por que não se senta e me conte quem é seu marido? Assim podemos evitar mais olhares curiosos.
- Olhei em volta e de fato, algumas pessoas nos olhavam com estranheza. Damon voltou a puxar a cadeira, e mesmo contra todos os meus princípios, eu sentei.Ele ajeitou o terno e voltou a sentar, me servindo com o vinho que já estava na mesa.
- Vou pular a apresentação, já que aparentemente você me conhece - Ele pegou o cardápio e começou a olhá-lo - então me diga, quem é o seu noivo?
Damon era o exemplo da arrogância viva. Cansei de ouvir Eathan reclamar de como seu chefe esnobava e não fazia questão de nada e nem ninguém. Mas apesar disso, sempre senti uma malícia de suas falas, como se Damon fosse um estilo de anti-herói, que mesmo sendo um babaca estremo, ainda sim era alvo de admiração do meu noivo.
- Como que alguém trabalha para você a tanto tempo e você não a conhece? - Perguntei e ele deu de ombros.
- Se você me disser um nome, pode me ajudar - Ele me olhou por cima do cardápio. - Eathan - Falei pegando minha taça e bebericando o vinho tinto.Não era uma expert em vinhos. Mas algo me dizia que este que estava na garrafa em nossa mesa valia mais que o meu apartamento.
- Damon juntou as sobrancelhas e o canto dos seus olhos enrugaram levemente.
- Eathan Tompson - Falei surpresa pela falta de conhecimento do cara. - Seu noivo é o meu motorista? - Ele parecia chocado - Ele me pediu folga para te abandonar no altar?Senti minhas bochechas corarem, a vergonha me fez desviar meus olhos dele para a garrafa de vinho tinto.
- Certo, sinto muito, foi rude - Ele jogou o cardápio para o lado - apenas fiquei surpresa com a coincidência.
- Coincidência? - Perguntei amarga. - Lógico. Ou você acha que Tompson me contou que pretendia te largar e me mandou lá para te acudir? - ele se recostou na cadeira - não me leve a mal, eu não negaria ser o seu afago, mas ele é a merda de um motorista, você acha mesmo que eu faria algo do tipo por um?Eu estava chocada.
- Sua arrogância veio do útero ou você a conquistou com o tempo? - Perguntei.
Damon então sorrio, quase como se eu o tivesse elogiado da melhor maneira possível. Achei que pessoas assim só existissem em livros.
- Por mais agradável que a conversa esteja sendo, acredito eu que você não tenha vindo aqui para saber o quão terrível eu consigo ser. Vamos esclarecer um ponto caso não seja nítido, eu não fazia ideia que você tinha qualquer relação com meu motorista, mas ao meu ver isto pode ser um grande benefício para você.
- Como?DamonEu a encarei por um momento, buscando as palavras certas. Não podia assustá-la, mas também não havia tempo a perder com rodeios. Ela precisava entender que essa era uma oportunidade única para ambos. Respirei fundo e comecei.- Violet, minha situação é um tanto... complicada. Meu pai faleceu recentemente e, no testamento, deixou uma condição peculiar. Para que eu possa receber a herança que tenho direito, preciso estar casado.Ela me olhou com uma mistura de curiosidade e ceticismo. Era uma proposta absurda, eu sabia disso, mas continuei.- Eu sei que acabou de passar por algo horrível, e a última coisa que quer agora é outro relacionamento, mas... e se usássemos essa situação a nosso favor? Nós dois podemos ganhar com isso. Se você se casar comigo, terá a chance de esfregar na cara do seu ex que você está melhor, muito melhor na verdade. E não vai ser difícil, já que ele é... bom, o meu motorista. - Fiz uma pausa, observando a surpresa tomar conta de seu rosto. - Imagine como e
VioletO resto do jantar transcorreu em um silêncio agradável, e eu estava grata por isso. Damon, sabiamente, permitiu que eu ficasse com meus pensamentos, sem tentar preencher o espaço com palavras desnecessárias. Agora, enquanto descíamos no elevador em direção ao térreo, minha mente fervilhava com tudo que ele havia proposto.Casar-me com um homem que acabei de conhecer. Fazer parte de um acordo que poderia mudar nossas vidas. Parecia insano, mas... também fazia sentido de uma forma estranha. Claro, havia tantas coisas que poderiam dar errado. E se o casamento de fachada se complicasse? E se as pessoas desconfiassem? Eu seria capaz de sustentar essa mentira por um ano? E o que aconteceria comigo depois que Damon conseguisse o que queria? Essas perguntas giravam na minha cabeça, uma após a outra, como engrenagens de um relógio descontrolado.Mas, então, uma sensação de satisfação amarga começou a tomar conta de mim. Eu me imaginei ao lado de Damon, vivendo uma vida de luxo e sucesso
DamonParei ao lado de Tompson e coloquei as mãos no bolso. Ele parecia perdido, desolado, olhando a ex-noiva como se estivesse nascendo uma terceira cabeça dos seus ombros.- Francamente, Tompson, hoje só o seu corpo veio trabalhar não é - Chamei sua atenção e ele praticamente pulou.Vi o desdém em seus olhos, a confusão e a indecisão do que iria acontecer a partir dali.- Ou você acorda para a vida, ou tem muita gente esperando a chance de receber a metade do salário que você ganha.Eu o vi engolir o orgulho como se fosse areia, esticou a mão e abriu a porta, enquanto voltava a olhar para Violet, que agora estava entrando em um táxi sem nem olhar para trás.- Algum problema? - Perguntei fazendo a minha melhor versão de desentendido.- De onde o senhor a conhece? - Ele perguntou um pouco incerto.- Não que seja da sua conta, mas… - fingi pensar - é, realmente não é da sua conta - Entrei dentro do carro - aposto que sua noiva não ficaria contente em vê-lo babando em outra mulher, abre
Violet- Você só pode estar de brincadeira - Megan arrancou a rolha do vinho e encheu duas taças. - É loucura, eu sei, mas… - Mas? Mas nada Violet, você não pode estar mesmo considerando isso! Amiga nós não estamos em uma telenovela turca.Peguei a taça e tomei um gole, nem de longe sentindo o mesmo saber do vinho que eu estava tomando uma hora atrás.- Você tinha que ver a cara do Eathan, Meg, ele só faltou cavar um buraco e se enfiar nele. - Eu não sei se acredito nessa coincidência do cara ser chefe do Eathan. - Talvez seja o carma finalmente a meu favor, como você sempre diz, o carma tarda mas não falha. - Isso é muito maior que carma, Violet - Megan cruzou as pernas como índio para se sentar no sofá - ele não está pedindo para vocês só fingirem uma relação, ele quer casamento Vi, papeis de cartório e pelo amor de Deus, ele quer que isso dure um ano inteiro! - Eu sei que parece insano - eu digo, passando as mãos
DamonDepois que deixei Violet, segui direto para a empresa. Havia algumas pendências para resolver, reuniões que não poderiam esperar. Mas, mesmo enquanto discutia números e prazos, minha mente voltava para o encontro. Voltava para Violet. Como ela processaria tudo aquilo? As chances estavam a meu favor, mas ainda assim, havia uma parte de mim que se perguntava: e se ela não aceitar?Quando cheguei em casa, o cansaço do dia bateu. Tirei os sapatos com um suspiro de alívio e me servi de um bom whisky, sentindo o calor do líquido descendo pela garganta enquanto caminhava até a varanda da cobertura. A cidade se estendia à minha frente, iluminada, movimentada. Mas eu estava distante disso. Meus pensamentos estavam ainda no restaurante, naquela proposta maluca que coloquei na mesa.Antes que pudesse me perder mais nos meus devaneios, o telefone vibrou no bolso. Era Edgar. De novo.
VioletQuando entrei na cafeteria, o aroma do café fresco envolveu-me como um abraço caloroso. A sensação de ansiedade pairava no ar enquanto eu procurava por Damon. Assim que o vi, sentado à mesa, meu coração acelerou um pouco mais. Ele estava vestido com uma roupa de corrida, os cabelos desgrenhados de um jeito que só parecia realçar sua beleza. Não era atração, pelo menos não da maneira como eu costumava sentir. Mas, convenhamos, ninguém poderia negar: Damon era incrivelmente bonito.- Eu tenho uma dúvida - Foi a primeira coisa que falei ao parar ao lado de Damon, que parou de tomar seu café para me olhar com os olhos cerrados.- Eu estranharia se não tivesse. Sente-se, Violet.Sentei-me em frente a ele, hesitante. Um segundo se passou em que me permiti admirar a simplicidade daquela imagem — Damon ali, relaxado, e
DamonEnquanto Violet falava, eu não podia deixar de pensar em como tudo aquilo parecia provar o que eu já sabia desde o início: eu não tinha me enganado sobre ela. Havia uma força em Violet que era impossível ignorar. Não era o tipo de mulher que aceitaria ser empurrada para as margens da própria vida. Ela tinha sido deixada para trás uma vez, mas não deixaria isso acontecer de novo — e agora, aqui estava ela, tomando as rédeas da situação, colocando condições, estabelecendo suas próprias regras. E que não eram poucas.- Eu imagino que nós teremos que morar na mesma casa, mas não dormiremos no mesmo quarto, vamos tentar dar o máximo de privacidade possível um ao outro…Eu admirei a determinação com que ela conduzia a conversa. A forma como os olhos dela brilhavam ao falar com firmeza só confirmava que, mesmo com todas as consequências e as chances de dar errado, ela estava totalmente dentro. Não havia hesitação. E eu sabia que isso não tinha nada a ver comigo, ou com qualquer atração
VioletEra uma vez, uma garota chamada Violet que teve seu café derrubado de maneira nada elegante por um total desconhecido — e adivinhem? Aquele foi só o primeiro desastre do dia. O "causador" em questão? Damon. Sim, ele mesmo, o nosso “Príncipe Encantado” moderno, que trocou o cavalo branco por uma roupa de corrida e uma expressão de “ei, você parece péssima, está tudo bem?”.Claro, eu poderia ter ignorado. Mas ele estava parado ali, com um charme que quase me fez esquecer da bagunça na minha roupa e da humilhação do meu pedido de casamento recente. Eu soltei um suspiro e, por algum motivo, decidi contar. Falei que meu relacionamento andava tão bem quanto um cachorro em cima de patins, e que eu tinha uma ilusão de que o pedido de casamento, recém-feito, talvez desse uma última chacoalhada no romance. Deu para ver que