Settanta­cinque

Damiano se certificou de que Valentim ficaria longe de qualquer risco de voltar a casa de sua família, já que tal fato implicaria em grande problema para ele caso fosse descoberto.O Mazzini voltou para casa o mais rápido que poderia, após concluir com esperteza o seu álibi para quem ninguém desconfiasse de que ele está envolvido com o sumiço de Valentim.Antes de retirá-lo de lá, ele limpou todo o sangue, retirou os objetos que ele mesmo havia levado, e deixou tudo pronto, armado para parecer que Valentim conseguiu fugir por conta própria.Catarina e Victoria ambas estavam dormindo em seus quartos, sem qualquer possibilidade de se envolverem na confusão que iria acontecer ao perceberem que ele havia desaparecido.Tudo estava armado para ter sido uma fuga, desde os objetos usados para “arrombar” a porta onde ele estava, até a sua suposta aus&

Settanta­sei

Ele não precisou ouvir mais uma palavra sequer da boca de seu pai para entender o que havia acontecido. Mais uma vez, se sentiu passado para trás, como se os esforços para adiantar seus passos não fossem o suficiente.Fez tudo exatamente como havia sido planejado, e mesmo assim, se sentiu passado para trás. Carl não disse uma palavra sequer, permaneceu no canto, calado como de costume, apenas com um olhar pidão em seu rosto, como se implorasse via telepatia para que Damiano não o matasse em um surto repentino ao perceber que Victoria estava em perigo.Mesmo assim, ele tentou se apegar a confiança que sentiu há alguns minutos, tendo certeza de que de alguma forma conseguiria recuperar a mulher que tanto esperava ver quando retornasse para a mansão.

Settanta­sette

Damiano seguiu diretamente até o quarto onde Victoria estava, sentindo seu coração apertado ao ver que seus pertences não estavam mais ali. Ele apoiou a testa sobre a parede ao lado da cama onde ela dormia há horas. E um pouco antes dele deixá-la sozinha, e sentiu uma única lagrima escorrer através de seu rosto ao perceber que foi imprudente a ponto de permitir que ela fosse arrancada de lá sem ao menos entender o que estava acontecendo. Ele sentia a fúria aumentar cada vez mais em seu peito, e sua vontade era de quebrar aquela mansão tijolo por tijolo, destruindo qualquer resquício que ficasse, até que seu pai não tivesse mais nada que pudesse usar para causar algum mal a outra pessoa. Ele não sabia se ela estava a salvo, ou se pelo menos entendia que ele faria de tudo para buscá-la quanto antes. Isso o deixou completamente destruído, saber que talvez sua esperança estivesse comprometida pelo medo do esquecimento. O que, de fato, Victoria sentiu por diversas vezes, até o momento on

Settant­otto

O dia estava na metade, e mesmo assim, parecia que sua duração havia se estendido além do normal pela quantidade de tarefas que Damiano já havia feito. E com o passar do tempo que se arrastava através das horas que ele ansiosamente observava no relógio em seu pulso, sua paciência diminuía cada vez mais. Ele acreditava firmemente que seu pai estava o punindo por algum motivo, o qual não teria sido revelado, já que ele consequentemente o atribuiu as tarefas que seriam feitas por qualquer um dos seguranças a sua disposição. Como buscar colegas e sócios no aeroporto, cuidar para que eles ficassem bem hospedados na mansão, e levá-los para um tour na cidade como forma de entretê-los durante o dia, conforme as suas vontades. Até o breve momento, ele não havia conseguido falar com Victoria. Já fazia três dias que ela havia sido levada, e ele não fazia ideia de onde ela estava e com quem estava, se estava segura ou se alimentando adequadamente. Após suas infinitas indagações sobre como eles

Settanta­nove

Os detalhes que envolviam os planos de Damiano eram desconhecidos para Victoria, e ela não saberia dizer exatamente qual o passo que ele daria a seguir, ou em quanto tempo conseguiria fazer o necessário para que eles estivessem livres de toda essa situação sufocante na qual estavam envolvidos. Todas as suas perguntas estavam sem as respostas necessárias para que ela conseguisse respirar aliviada e com calma, sabendo exatamente o quanto faltava para que ela pudesse se ver livre de todo o inferno que vivia.Era angustiante, mas, ao mesmo tempo, a esperança a alimentava diariamente para que seu espírito não morresse de fome.Independente do tipo de pensamento que vinha em sua mente quando as coisas se dificultassem, para ela, o importante era sentir que havia algo ou alguém que existisse, para que ela pudesse se agarrar nisso. E nesse momento, seu motivo maior, além de seus pais, teria se tornado Damiano.Seu sono tranquilo após a noite agradável tida juntos, cheia de risadas, carinhos e

Ottanta

De todas as situações que esteve nos últimos tempos, passando por todas as agonias inimagináveis e torturantes, Victoria nunca se sentiu tão assustada quanto no dia em que foi arrancada da mansão dos Mazzini sem qualquer aviso ou explicação do motivo que a fez ser arrancada de lá. Enquanto descia as escadas do lugar desconhecido, o ar ia se tornando mais escasso e o ambiente adquiria uma temperatura quase insuportável de tão quente. Por fim, ela ouviu uma grande porta, incrivelmente pesada enquanto sentiu com a palma das suas mãos, se abrir lentamente. Ainda com a venda sobre os seus olhos, ela só pode ouvir as vozes ecoando pelo espaço que parecia vazio pelo eco que fazia. O lugar, ao contrário de todo o trajeto que fizera, tinha cheiro de produtos de limpeza, como uma casa recém-limpa. A levaram até um cômodo mais silencioso do que os demais, retirando sua venda, e revelando o local onde estava. Para a sua surpresa, Victoria se viu em um quarto extremamente limpo e organizado, c

Ottantuno

Damiano tentou permanecer completamente imóvel enquanto assistia à mulher que amava escutar seu pai explicar todas regras que os novos empregados da Paradiso deveriam seguir, mesmo contra sua vontade. O desespero no rosto daqueles que aguardavam suas instruções de maneira ansiosa era notável, e sempre que escutavam algo mais absurdo, esboçavam uma reação ainda mais constrangedora. A maioria estava ali pela promessa de uma vida melhor que receberam ao deixar seus países, porém, se depararam em um terrível esquema de tráfico humano, onde essas pessoas perderam qualquer direito que tinham sobre suas vontades próprias e até o seu próprio corpo. A partir de agora, eram propriedade única e exclusiva da Paradiso, com o simples objetivo de servir todos e todas as pessoas que os visitassem em busca de entretenimento e prazer. Eles sabiam muito bem que as atividades não se resumiram apenas em fazer companhia para os homens e mulheres ricos que visitavam o local, já que ninguém é inocente o su

Ottanta­due

Todas as formas de mudança são mais aceitáveis quando se há uma passagem sutil entre elas, desde as menores até as maiores. Porém, algo assim não tem semelhança com a vida real quando a maioria dos seres humanos se deparam com a brutalidade com que certos acontecimentos acabam surgindo durante a vida.Para alguns, a sensação pode ser descrita como um tapete que acabou de ser puxado sob os seus pés, retirando toda a certeza do equilíbrio que o mantinha no chão até há alguns segundos, onde tudo era o mesmo.Se apegar aos momentos de ordem, fora do caos e a tudo que torna a vida uma loucura sem qualquer roteiro e definição exata do seu destino, é o que mantém a mente de muitos ainda com sua sanidade resguardada.Infelizmente, a tarefa não é a mesma para todos, e alguns se perdem no meio da sua própria bagunça, sem conseguir fugir das caixas empoeiradas que se tornam cada vez mais amassadas e rasgadas com a tamanha brutalidade do movimento intenso das mudanças repentinas.Victoria teve a