O tempo estava como que por um milagre limpo, dificilmente em São Paulo se vê algo assim, mas nunca podia faltar um guarda chuva e uma blusa de frio no kit de sobrevivência paulista.
Um dia e três estações, era quase mágico se não fosse trágico.
— Bom dia Lise. — cumprimentei Elizabeth, a morena maravilhosa que estava encostada a porta da loja me esperando, com uma cara não muito boa.
Elizabeth tinha trabalhado com minha mãe na outra floricultura, até que abrimos mais uma e ela veio me ajudar.
Nossa amizade tinha começado aos poucos, mas ela era agora a primeira pessoa que eu contava qualquer coisa e confiava plenamente. Apesar de não ser cem por cento recíproco, já que ela tinha segredos bem guardados
— Bom dia Em, como você está? Lembre-me de dar os parabéns aos seus pais. — resmungou me ajudando a levantar a pesada porta da floricultura para começar nosso dia.
— Hoje à noite faremos uma festinha, está convidada. — isso era mera formalidade, já que era de praxe todos os amigos e afins fazerem parte de qualquer comemoração na nossa casa, por menor que fosse.
Batizado, estavam todos lá; aniversários, todos enchiam a casa; velórios, não era diferente; formaturas, feriados, comemorações sem sentido algum, não importava o motivo, se convidássemos um ou dois sabíamos que todos viriam também.
— Ótimo, adoro as festas na casa de seus pais. — ela riu cheia de insinuações sacudindo as sobrancelhas e já voltando para a calçada com vasos cheios de flores nos braços.
Como disse meus pais não sabiam ser nada discretos, imagine então os amigos desses dois. Pare para pensar que mamãe era de uma época hippie, então a maioria dos tios postiços que tenho também são da mesma pegada. Musica alta, dança, comida e sem hora para acabar.
O dia passou rápido, por algum motivo as pessoas não estavam dadas a comprar flores hoje. Na verdade homens, em sua maioria. O movimento maior eram nas sextas e sábados, nada como conquistar alguém com um belo buquê.
Dei graças aos céus que assim pudemos fechar mais cedo e eu corri para casa a fim de fazer o bolo da noite.
Era sempre assim desde que havia aprendido a fazer bolos deliciosos, qualquer desculpa era válida para me fazerem ficar na cozinha e eu não reclamava, era realmente uma terapia cozinhar.
Já passava das sete quando os convidados começaram a chegar e eu já estava morta, meus pés pediam por descanso depois do dia em pé na floricultura e depois na cozinha. Mesmo assim eu não podia deixar de curtir a noite com todos os tios e tias que eu tinha ganhado bem antes de nascer.
Eu adorava todos eles, éramos como uma família enorme, meio maluca e cheia de nuances. Era perfeita.
A música alta nos embalava levando todos a dançar, não importava se tocasse Beatles ou Beyonce, todos se apertavam para cantar ou balançar o corpo ao som.
Como sempre a "festinha" virou um festão, mais e mais pessoas chegavam, pessoas além do que prevíamos como sempre. Mas o que podíamos fazer se a cada ano às famílias amigas cresciam, para infelicidade da minha mãe isso não se aplicava à nossa.
Como se sentisse responsável por mudar aquilo assim que ela avistou a pobre Margo, fez questão de não perdê-la de vista. Agora seria só questão de tempo para Cris fugir da garota, apenas para tirar da cabeça de nossa mãe a ideia de um possível casamento.
Não levem a mal, Cristian não era um canalha por completo, só não conseguia se comprometer com ninguém, além da família e amigos ninguém fica na sua vida por muito tempo.
Tirando a parte do mulherengo não tinha uma pessoa mais doce e sincera que ele. Nossa pouca diferença de idade nos fez crescer mais unidos do que qualquer irmãos que eu conhecia.
— Você pode pelo menos disfarçar Emma. — Cris sibilou no meu ouvido me assustando. — Mamãe está à noite toda como um urubu atrás da garota.
— Deus sabe que ela só precisava de um pouco de esperança para continuar vivendo. — debochei, gargalhando em seguida com sua careta.
Cris puxou meu corpo começando a dançar em volta da sala, me obrigando a controlar meu surto de riso assim que viu que tínhamos chamado a atenção de algumas pessoas, em especial das duas mulheres que ele estava evitando como se fosse o próprio diabo.
— Obrigado por fazê-la me notar aqui. — ele resmungou ainda balançando nossos corpos ao som de Treasure do Bruno Mars.
— Você não vai afastá-la só por causa da mamãe, certo? — perguntei mesmo já sabendo a resposta.
— Todos tem sua hora de ir Emma, sabe que detesto despedidas, então uma mensagem com um emoji quem sabe. — encarei o homem a minha frente que olhava para a bela mulher do outro lado da sala enquanto calculava o que fazer para afastá-la de sua vida, e meu peito doeu por ele, eu sabia o que tinha causado tudo aquilo e isso me magoava ainda mais.
Meu irmãozinho era lindos, os cabelos castanhos ondulados lhe davam um ar descontraído e molecão que eu sabia que ele era, quando estava de terno era a perdição das mulher, mas quando não usava nada além de shorts para correr causava problemas de torcicolo. Isso sem falar no sorriso, sabe aqueles homens que você olha e fala céus que lindo e assim que ele abre o sorrisão bonito e sexy você diz não vale nada, mas eu sentava? Esse é meu irmão.
Doía saber que ele nem ao menos se dava a chance de amar e ser amado. Deus sabe que se eu pudesse estaria fazendo isso.
— Cris, não precisa fugir sua vida toda. — murmurei chamando sua atenção de volta a mim.
Quando seu olhar encontrou o meu não precisou nenhuma palavra sobre o que se passava em nossas mentes. Cris apenas desviou o olhar, já tomando distancia e se fechando.
— Agora não. — falou batendo nos bolsos até achar às chaves do carro. — Essa é minha deixa para curtir a noite fora daqui. Tchau pandinha. — acenou já a caminho da porta.
Encarei minha mãe, que agora estava de cara feia do outro lado da sala, e só pude dar de ombros, não queria estragar a noite dela também com velhos problemas nossos, então o melhor era me fazer de desentendida, estávamos aqui para comemorar e não chorar.
E foi isso o que fiz, rodei pela casa conversando, comendo e dançando, não havia coisa melhor.
Depois de altas horas conversando, rindo e dançando eu me rendi ao cansaço e fui para a casa com Lise, a última coisa que precisava no dia era ouvir a festa obscena e nada discreta dos meus pais na noite de aniversário.
A semana passou rápido a quinta já havia chegado, meus pais já iriam viajar no dia seguinte e eu estava eufórica. Não me lembrava quando tinha sido a última vez que esses dois tinham tirado mais do que apenas um par de dias para ficarem juntos, sem filhos, sem trabalho, sem família. — Eu já falei que não dá amor. — ouvi a voz mansa do meu pai atravessar a porta do quarto enquanto me arrumava para o trabalho. — Então eu não vou! — foi a resposta decisiva e alta de minha mãe. Abri a porta do quarto apenas a tempo de só ouvir seus passos firmes descendo as escadas. — O que foi? — questionei olhando meu pai parado na soleira da porta encarando o caminho que a mulher tinha acabado de fazer. Ele estava com uma cara péssima, o que significava que além da pequena discussão ele estava com problemas na empresa e não tinha colocado para fora. Era sempre assim, uma coisa levava a outra. — Sua mãe não tem jeito, quando ela coloca uma coisa na cabeça é impossível alguém tirar. — ele disse, pa
— Só Emma e que bom que não está rindo de mim, seria muito deselegante e já nos basta um sem educação aqui. — rosnei a última parte me virando para meu irmão. — Dois meu amor, não se esqueça de que você foi pior. — ele respondeu indo em direção ao elevador. — Ora ora, não me irrite Cristian, sou mais velha que você. — o provoquei e tentei, mesmo que em vão, arrancar meu celular de suas mãos. A última coisa que precisava agora era ficar passando vergonha, tentando alcançar meu celular enquanto aquele homem ao lado me olhava, então me limitei a fuzilar ele com o olhar, com sorte ele cairia no chão duro. — Mais velha? São irmãos? Cris, você nunca me disse que tinha uma irmã e ainda por cima mais velha, vejam só. — disse o deus de modo galante, mais para mim que para Cris. — Você também nunca fala de sua irmã, se não fosse a mídia jamais saberia que ela existe. — Cristian murmurou contrariado. — Você é um galinha e eu selo pela minha irmã. — ele respondeu Cris e po
Ligação on: — Emma onde você está? — Cris questionou o óbvio, já era para ele saber que estava na loja a essa hora em um sábado. O dia já havia sido corrido e eu ter acordado atrasada foi a cereja do bolo, então tudo o que eu queria era fechar e me deitar de frente a televisão e dormir ali mesmo. — Fechando a loja, por quê? — questionei rápido antes que me arrependesse de ter atendido. — Deus, por que está trabalhando até essa hora? Mamãe e papai estão viajando, você deveria estar curtindo. — Não vou mudar minha rotina só por isso. Vamos diga logo o que você quer! — ele estava estragando minha vibe fim de noite do sábado. — Ok chatinha, Charles vai abrir uma nova boate e hoje é a inauguração. — Cris tagarelou e eu me perguntei porque ele estava falando aquilo comigo, ele sabia que eu não fazia esses programas há muito tempo. — É obvio que ele convidou você, então vamos? — Sabe que minha resposta é não. — não era nenhuma novidade que eu não ia para boates, nem festinhas como cos
Eu sorri para ele, Lise tinha razão afinal, talvez ela pudesse ganhar dinheiro com esse negócio de prever o futuro das pessoas. Aproximei meu rosto do seu, querendo beijar finalmente aquela boca espertinhas, mas de repente suas mãos não estavam mais em mim. O encarei confusa enquanto ele se afastava indo embora como se nada tivesse acontecido. Ele simplesmente me deixou ali. Que merda tinha acabado de acontecer aqui? Guilherme acabou de estragar minha dança com outro cara, acender todo meu corpo com seus toques e beijos para me deixar plantada no meio da pista de dança, com a maior cara de tacho da história. A frustração se espalhou por meu corpo, mas foi rapidamente substituída por raiva assim que entendi tudo e me odiei por ter me deixado levar. Grande babaca! Inferno, parte de mim continuou a negar a cena que tinha acabado de acontecer, eu não conseguia acreditar que ele tinha me deixado assim, toda entregue, um joguinho sujo e idiota que eu não estava nenhum pouco a fim de jo
Acordei com uma escola de samba na minha cabeça, tudo parecia claro de mais ou barulhento de mais, isso sem falar da boca seca, como se estivesse há dez dias no deserto sem água. Me arrastei para fora da cama quase me arrependendo de levantar. — Deus, não bebi quase nada e estou me sentindo horrível. — resmunguei entrando na cozinha e indo em direção a cafeteira. Tudo o que eu queria era tomar um café, um remédio para dor de cabeça e voltar a dormir o restante do dia. Lise estava sentada já a mesa com uma cara bem melhor do que a minha, mesmo ela tendo bebido muito mais do que eu ainda parecia que tinha passado a noite no spa. Queria voltar aos meus dias de glória. Quando estávamos no carro voltando para casa ela me confidenciou o motivo de ter ficado tão transtornada a noite passada. Assim que o homem que ela estava beijando a chamou para ir a um lugar mais privado ela surtou, o dispensou e foi para o bar. Me indignava que as vezes qualquer coisinha pudesse desencadear nela ess
Eu estava tentando alcançar algumas garrafas de cervejas que estavam bem no fundo da geladeira e distraída como estava deixei minha bunda para o alto, dando uma bela visão do meu traseiro para o desgraçado. Me ergui respirando fundo tentando manter a compostura, mas assim que meu corpo se alinhou senti o calor de seu corpo próximo ao meu. Deus, porque ele estava tão perto, tinha perdido totalmente a noção de espaço? — Eu não me lembro de ter perguntado nada. — resmunguei irritada finalmente me virando para encará-lo. — Ui, porque está nervosinha? — Guilherme questionou me lançando um sorriso sacana de lado. — Adorei a cor do seu biquíni. — era preto, com tiras de amarrar dos lados, uma peça mais do que comum. — Tenho certeza que aqui tem outras duas meninas usando igual. E não estou com raiva, não se de tanta importância. — Mas as outras não são você. Não tem seu corpo. — Guilherme me olhou de cima a baixo, esquadrinhando cada pedacinho, como se me desenhasse em sua mente com o
Sai da casa de Emma pisando duro, não me despedi de ninguém e ainda esbarrei em um casal que se pegava na entrada onde os carros estavam estacionados. Perfeito! Eu estava puto da vida comigo mesmo, não tinha como fingir que era com outra pessoa. Não podia nem culpar aquela diaba, mesmo que fosse ela a maior responsável por eu ter me deixado enganar, com aqueles olhos doces e inocentes, aquela voz suave e o sorriso que me desarmou. A culpa no fim de tudo era minha por ser tão burro em me deixar levar por esses detalhes, é claro que ela era uma bruxa na arte do engano. Eu finalmente tinha encontrado uma jogadora a altura. Quando a vi dançando na boate com um cara aleatório que a avistou na pista de dança fiquei inquieto, ela estava feliz, parecendo livre enquanto dançava com sua amiga. Um belo show para se assistir, mas então aquele idiota entrou no meio, tentando seduzi-la. Eu a queria então porque não ir até lá mostrar pra ela? Foi o que pensei. Mas não sei o que me deu quando a
Eu estava na cozinha, não estava conseguindo dormir e desci para tomar um copo de leite quente, com sorte o sono voltaria. Tinha passado boa parte da noite pensando em Guilherme e aquilo estava me irritando, perder o sono por causa dele era o fim. Mas quando eu estava subindo as escadas de volta para o quarto a campainha tocou me assustando. — Deus, quem pode ser a essa hora? — espiei pela janela ao lado da porta e me surpreendi ainda mais. — Guilherme? O que ele estava fazendo ali aquela hora da madrugada? Abri a porta e fiquei o encarando confusa. Os cabelos castanhos estavam bagunçados e ele vestia uma calça jeans, com uma blusa de malha com mangas longas, que se moldava aos seus músculos, o tom azul da blusa realçando ainda mais os seus olhos claros. Ele era um colírio para os olhos, mas ainda sim eu estava confusa. — O que aconteceu... — não consegui terminar de falar, pois ele veio sobre mim. Seus lábios em cima dos meus eram macios, mas exigentes, não facilitando nenhum