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02. Encontro de destinos

Três dias depois, o príncipe Adrian chegou ao castelo de Eldoria, acompanhado por uma pequena comitiva. O ambiente estava tenso enquanto os dois reinos se observavam, cada um esperando um movimento errado do outro. Na grande sala do trono, onde os reis de Eldoria governavam há séculos, o príncipe encontrou-se pela primeira vez com a princesa Elara.

Adrian estava preparado para encontrar uma mulher fria e calculista, mas a figura que se aproximava dele era diferente. Elara caminhava com uma graça que ele não esperava, e seus olhos, embora firmes, não tinham a dureza que ele temia. Ainda assim, ele manteve sua guarda, lembrando-se de que este casamento era, antes de tudo, uma jogada estratégica.

"Princesa Elara," Adrian disse, fazendo uma reverência educada. "É um prazer finalmente conhecê-la."

Elara respondeu com uma leve inclinação da cabeça. "O prazer é meu, príncipe Adrian. Espero que nossa união traga paz aos nossos reinos."

Os dois trocaram palavras formais, cada um estudando o outro, procurando por qualquer sinal de fraqueza ou engano. O rei Hector observava de perto, seus olhos brilhando com astúcia. Ele sabia que este era apenas o começo, e que verdadeiro teste ainda estava por vir.

Após a cerimônia de chegada formal, um banquete foi preparado em honra do príncipe Adrian. A grande sala de banquetes de Eldoria estava decorada com tapeçarias luxuosas e candelabros dourados, mas a atmosfera era fria, marcada pela tensão invisível entre os dois reinos.

Adrian e Elara foram sentados lado a lado, uma proximidade que os dois sentiam como um fardo. Cada gesto, cada palavra dita, parecia carregar um peso maior do que o normal. O príncipe, embora atento à presença de Elara ao seu lado, mantinha os olhos focados nos outros nobres de Eldoria ao redor da mesa. Ele sabia que, mesmo em meio a sorrisos e brindes, havia olhares avaliadores e palavras veladas.

"Espero que a viagem não tenha sido muito cansativa, príncipe Adrian," disse Elara, sua voz suave e controlada. Ela havia sido treinada para esconder suas emoções, e agora mais do que nunca, precisava dominar essa habilidade.

"Foi tranquila, princesa," Adrian respondeu, com um leve sorriso que não alcançou seus olhos. Ele sabia que havia algo mais por trás da fachada polida de Elara. Ela era uma peça-chave nesse jogo perigoso, mas ele ainda não conseguia ler o que estava por trás daqueles olhos profundos.

"E o que achou daqui?"

"Eldoria é um reino magnífico, ainda que marcado pelas cicatrizes da guerra."

"Como o é Valoria," Elara replicou, mantendo o tom cordial. "Ambos os nossos reinos foram profundamente afetados por esse conflito. Talvez, juntos, possamos curar essas feridas."

"Talvez," Adrian disse, desviando o olhar para o banquete à sua frente. Havia algo inquietante na calma de Elara, uma tranquilidade que parecia calculada. "Paz é o que todos desejamos, mas o caminho até lá nunca é simples."

Elara sentiu uma ponta de amargura nas palavras de Adrian, algo que ela não podia ignorar. Por mais que soubesse do plano de seu pai, ela não podia deixar de questionar o que conhecia sobre aquele homem ao seu lado. Seria ele tão cruel quanto Eldoria o pintava, ou havia algo mais por trás da sua máscara de príncipe guerreiro?

Enquanto o banquete continuava, os dois trocaram mais algumas palavras educadas, mas ambos mantinham uma distância emocional. O ambiente era carregado com a tensão de dois mundos colidindo, e o futuro incerto pesava sobre eles como uma sombra.

Depois do banquete, Adrian se retirou para os aposentos preparados para ele, um conjunto de quartos luxuosos no coração do castelo. Mas, em vez de descansar, ele sentiu a necessidade de clarear a mente. Vestiu um manto escuro e decidiu explorar o castelo por conta própria. As horas avançadas garantiam que poucos estariam vagando pelos corredores, e ele queria observar mais de Eldoria sem as camadas de formalidade que o cercavam durante o dia.

Caminhando pelos corredores silenciosos, Adrian se deparou com uma sacada que dava vista para os jardins do castelo. A lua estava cheia, lançando uma luz prateada sobre as árvores e flores abaixo, criando um cenário quase mágico. Ele se apoiou na balaustrada de pedra, deixando a brisa noturna acalmar sua mente tumultuada.

"Não consegue dormir, príncipe Adrian?" A voz de Elara surgiu da sombra, surpreendendo-o. Ela estava ali, a poucos metros dele, vestida com um manto claro que refletia a luz da lua, seus olhos fixos nele.

"Princesa Elara," Adrian cumprimentou, ocultando sua surpresa. "Também não consegui encontrar o sono, parece."

Elara se aproximou, seus passos suaves e graciosos. "Às vezes, a noite traz mais clareza do que o dia," ela disse, olhando para os jardins. "Eu sempre venho aqui quando preciso pensar."

Adrian ficou em silêncio por um momento, observando-a de soslaio. Havia uma sinceridade em sua voz agora que ele não havia percebido antes. "E o que tem ocupado seus pensamentos ultimamente?" ele perguntou, tentando sondar mais profundamente.

Elara hesitou por um instante, sua expressão suavizando. "Muitas coisas. A responsabilidade que temos, o peso das decisões que precisamos tomar... A paz que almejamos, mas que parece tão distante."

Adrian sentiu um eco de suas próprias preocupações nas palavras dela. Pela primeira vez, ele sentiu que estava conversando com alguém que compreendia a gravidade de suas responsabilidades. "A paz," ele repetiu, pensativo. "Sempre tão próxima e, ao mesmo tempo, tão fora de alcance."

"É um paradoxo cruel," Elara concordou, seus olhos encontrando os dele. "Nossos reinos se destruíram por tanto tempo que parece quase impossível imaginar um futuro diferente."

Adrian olhou para ela, tentando ler os sinais em seu rosto. Havia uma tristeza nos olhos de Elara, uma melancolia que ele não havia notado antes. Talvez ela também estivesse presa em um papel que não queria desempenhar, em uma missão que não escolheu.

"Mas não podemos desistir," Adrian disse, a voz firme. "Se existe uma chance de paz, devemos agarrá-la, por mais arriscado que seja."

Elara assentiu, mas seu olhar estava distante. "Sim, devemos. Mas o que estamos dispostos a sacrificar por isso?"

Essa pergunta pairou no ar entre eles, carregada de significados ocultos. Adrian sabia que havia algo mais nas palavras de Elara, algo que ele ainda não compreendia. Mas antes que pudesse responder, ela se afastou, quebrando o contato visual.

"Boa noite, príncipe Adrian," ela disse suavemente, começando a se afastar.

"Boa noite, princesa Elara," Adrian respondeu, observando-a desaparecer nas sombras do castelo. Ele ficou ali por um longo tempo, refletindo sobre a noite e as palavras que haviam trocado. Por mais que tentasse, não conseguia afastar a sensação de que estava se aproximando de algo muito maior e mais perigoso do que jamais imaginara.

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