Três dias depois, o príncipe Adrian chegou ao castelo de Eldoria, acompanhado por uma pequena comitiva. O ambiente estava tenso enquanto os dois reinos se observavam, cada um esperando um movimento errado do outro. Na grande sala do trono, onde os reis de Eldoria governavam há séculos, o príncipe encontrou-se pela primeira vez com a princesa Elara.
Adrian estava preparado para encontrar uma mulher fria e calculista, mas a figura que se aproximava dele era diferente. Elara caminhava com uma graça que ele não esperava, e seus olhos, embora firmes, não tinham a dureza que ele temia. Ainda assim, ele manteve sua guarda, lembrando-se de que este casamento era, antes de tudo, uma jogada estratégica. "Princesa Elara," Adrian disse, fazendo uma reverência educada. "É um prazer finalmente conhecê-la." Elara respondeu com uma leve inclinação da cabeça. "O prazer é meu, príncipe Adrian. Espero que nossa união traga paz aos nossos reinos." Os dois trocaram palavras formais, cada um estudando o outro, procurando por qualquer sinal de fraqueza ou engano. O rei Hector observava de perto, seus olhos brilhando com astúcia. Ele sabia que este era apenas o começo, e que verdadeiro teste ainda estava por vir. Após a cerimônia de chegada formal, um banquete foi preparado em honra do príncipe Adrian. A grande sala de banquetes de Eldoria estava decorada com tapeçarias luxuosas e candelabros dourados, mas a atmosfera era fria, marcada pela tensão invisível entre os dois reinos. Adrian e Elara foram sentados lado a lado, uma proximidade que os dois sentiam como um fardo. Cada gesto, cada palavra dita, parecia carregar um peso maior do que o normal. O príncipe, embora atento à presença de Elara ao seu lado, mantinha os olhos focados nos outros nobres de Eldoria ao redor da mesa. Ele sabia que, mesmo em meio a sorrisos e brindes, havia olhares avaliadores e palavras veladas. "Espero que a viagem não tenha sido muito cansativa, príncipe Adrian," disse Elara, sua voz suave e controlada. Ela havia sido treinada para esconder suas emoções, e agora mais do que nunca, precisava dominar essa habilidade. "Foi tranquila, princesa," Adrian respondeu, com um leve sorriso que não alcançou seus olhos. Ele sabia que havia algo mais por trás da fachada polida de Elara. Ela era uma peça-chave nesse jogo perigoso, mas ele ainda não conseguia ler o que estava por trás daqueles olhos profundos. "E o que achou daqui?" "Eldoria é um reino magnífico, ainda que marcado pelas cicatrizes da guerra." "Como o é Valoria," Elara replicou, mantendo o tom cordial. "Ambos os nossos reinos foram profundamente afetados por esse conflito. Talvez, juntos, possamos curar essas feridas." "Talvez," Adrian disse, desviando o olhar para o banquete à sua frente. Havia algo inquietante na calma de Elara, uma tranquilidade que parecia calculada. "Paz é o que todos desejamos, mas o caminho até lá nunca é simples." Elara sentiu uma ponta de amargura nas palavras de Adrian, algo que ela não podia ignorar. Por mais que soubesse do plano de seu pai, ela não podia deixar de questionar o que conhecia sobre aquele homem ao seu lado. Seria ele tão cruel quanto Eldoria o pintava, ou havia algo mais por trás da sua máscara de príncipe guerreiro? Enquanto o banquete continuava, os dois trocaram mais algumas palavras educadas, mas ambos mantinham uma distância emocional. O ambiente era carregado com a tensão de dois mundos colidindo, e o futuro incerto pesava sobre eles como uma sombra. Depois do banquete, Adrian se retirou para os aposentos preparados para ele, um conjunto de quartos luxuosos no coração do castelo. Mas, em vez de descansar, ele sentiu a necessidade de clarear a mente. Vestiu um manto escuro e decidiu explorar o castelo por conta própria. As horas avançadas garantiam que poucos estariam vagando pelos corredores, e ele queria observar mais de Eldoria sem as camadas de formalidade que o cercavam durante o dia. Caminhando pelos corredores silenciosos, Adrian se deparou com uma sacada que dava vista para os jardins do castelo. A lua estava cheia, lançando uma luz prateada sobre as árvores e flores abaixo, criando um cenário quase mágico. Ele se apoiou na balaustrada de pedra, deixando a brisa noturna acalmar sua mente tumultuada. "Não consegue dormir, príncipe Adrian?" A voz de Elara surgiu da sombra, surpreendendo-o. Ela estava ali, a poucos metros dele, vestida com um manto claro que refletia a luz da lua, seus olhos fixos nele. "Princesa Elara," Adrian cumprimentou, ocultando sua surpresa. "Também não consegui encontrar o sono, parece." Elara se aproximou, seus passos suaves e graciosos. "Às vezes, a noite traz mais clareza do que o dia," ela disse, olhando para os jardins. "Eu sempre venho aqui quando preciso pensar." Adrian ficou em silêncio por um momento, observando-a de soslaio. Havia uma sinceridade em sua voz agora que ele não havia percebido antes. "E o que tem ocupado seus pensamentos ultimamente?" ele perguntou, tentando sondar mais profundamente. Elara hesitou por um instante, sua expressão suavizando. "Muitas coisas. A responsabilidade que temos, o peso das decisões que precisamos tomar... A paz que almejamos, mas que parece tão distante." Adrian sentiu um eco de suas próprias preocupações nas palavras dela. Pela primeira vez, ele sentiu que estava conversando com alguém que compreendia a gravidade de suas responsabilidades. "A paz," ele repetiu, pensativo. "Sempre tão próxima e, ao mesmo tempo, tão fora de alcance." "É um paradoxo cruel," Elara concordou, seus olhos encontrando os dele. "Nossos reinos se destruíram por tanto tempo que parece quase impossível imaginar um futuro diferente." Adrian olhou para ela, tentando ler os sinais em seu rosto. Havia uma tristeza nos olhos de Elara, uma melancolia que ele não havia notado antes. Talvez ela também estivesse presa em um papel que não queria desempenhar, em uma missão que não escolheu. "Mas não podemos desistir," Adrian disse, a voz firme. "Se existe uma chance de paz, devemos agarrá-la, por mais arriscado que seja." Elara assentiu, mas seu olhar estava distante. "Sim, devemos. Mas o que estamos dispostos a sacrificar por isso?" Essa pergunta pairou no ar entre eles, carregada de significados ocultos. Adrian sabia que havia algo mais nas palavras de Elara, algo que ele ainda não compreendia. Mas antes que pudesse responder, ela se afastou, quebrando o contato visual. "Boa noite, príncipe Adrian," ela disse suavemente, começando a se afastar. "Boa noite, princesa Elara," Adrian respondeu, observando-a desaparecer nas sombras do castelo. Ele ficou ali por um longo tempo, refletindo sobre a noite e as palavras que haviam trocado. Por mais que tentasse, não conseguia afastar a sensação de que estava se aproximando de algo muito maior e mais perigoso do que jamais imaginara.Na manhã seguinte, enquanto Adrian se preparava para os compromissos do dia, uma mensagem chegou às suas mãos. Era um pedido de reunião com o rei Hector, um encontro privado que Adrian não podia recusar. Ele sabia que este poderia ser o momento em que as verdadeiras intenções de Eldoria seriam reveladas. Quando Adrian entrou na sala do trono, encontrou o rei Hector sentado em seu trono, cercado por alguns de seus conselheiros mais próximos. O ambiente estava pesado, com uma tensão que não podia ser ignorada. Hector olhou para Adrian com um sorriso calculado. "Príncipe Adrian," começou Hector, sua voz grave e controlada. "É um prazer vê-lo novamente. Espero que tenha encontrado Eldoria ao seu agrado até agora." Adrian fez uma reverência curta, mantendo seu tom diplomático. "Eldoria é um reino impressionante, majestade. Estou grato pela hospitalidade oferecida a mim e aos meus homens." Hector assentiu, mas havia algo frio em seus olhos. "Fico contente que esteja satisfeito. Como
Enquanto o príncipe se preparava para tentar descansar, do outro lado do castelo, a princesa Elara estava sozinha em seus aposentos, lutando contra a tempestade de emoções que se agitava dentro dela. Ela havia ouvido cada palavra dita entre seu pai e Adrian através de uma passagem secreta, uma prática comum em Eldoria para espiar conversas importantes. O coração de Elara estava dividido. Ela sabia que havia uma missão a cumprir, uma ordem direta de seu pai que não podia ignorar. Mas cada vez que via Adrian, cada vez que ouvia a determinação em sua voz, algo dentro dela se rebelava contra o destino que lhe fora imposto. A visão do príncipe, solitário e observador, à luz da lua, a havia tocado mais do que ela gostaria de admitir. Naquele momento, ao ouvir a conversa entre Adrian e Hector, Elara percebeu que estava em uma encruzilhada. Ela poderia continuar no caminho que seu pai havia traçado para ela, seguir adiante com o plano que poderia garantir a vitória de Eldoria... ou poderia
A manhã seguinte foi agitada em ambos os reinos, pois foi anunciado oficialmente o noivado entre Adrian e Elara. Enquanto os líderes tentavam manter uma fachada de normalidade, era impossível ignorar o burburinho que se espalhava tanto em Eldoria quanto em Valoria. O casamento, que deveria ser um símbolo de paz, tornara-se o epicentro de tensões latentes, alimentando tanto esperanças quanto temores. Em Valoria, o anúncio do casamento entre o príncipe Adrian e a princesa Elara havia se espalhado rapidamente pelos campos e vilas. Para muitos, a notícia trouxe uma mistura de surpresa e ceticismo. As feridas da guerra ainda estavam abertas, e a ideia de uma união com o reino inimigo parecia quase impossível de aceitar. Nos mercados e tavernas, os cidadãos discutiam o noivado com fervor. Alguns acreditavam que a união poderia finalmente trazer a paz que tanto desejavam. "O príncipe Adrian sempre foi justo e corajoso," diziam. "Se ele acredita que essa é a melhor forma de garantir nosso f
As semanas que se seguiram ao noivado de Adrian e Elara foram marcadas por uma tensão silenciosa, uma espera que parecia eterna. O príncipe, preso em compromissos políticos urgentes, mal teve tempo para se encontrar com sua futura esposa. A guerra havia terminado, mas os problemas que ela deixara para trás exigiam atenção constante, e Adrian se viu mergulhado em decisões que poderiam moldar o futuro de seu reino. Era uma tarde fria e cinzenta quando Sir Edgar, o conselheiro de confiança de Adrian, entrou na sala onde o príncipe analisava documentos. A mesa estava coberta de relatórios sobre a situação do reino, desde o estado das colheitas até os relatos de descontentamento entre os nobres. “Como estão as coisas em Eldoria, Sir Edgar?” perguntou Adrian, sem tirar os olhos dos papéis. “Meu príncipe,” começou Sir Edgar, aproximando-se da mesa, “o fim da guerra trouxe algum alívio, mas as cicatrizes são profundas. Há fome nas aldeias e o povo ainda está desconfiado. A paz é frágil,
O crepúsculo caía sobre o reino de Eldoria, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho, quando Adrian foi chamado para os aposentos de seu pai. O rei, uma sombra do homem vigoroso que uma vez governara com punho firme, estava reclinado em uma grande poltrona, seus olhos cansados fixos na janela, observando o sol desaparecer no horizonte. “Pai,” disse Adrian ao entrar no quarto, sua voz cheia de preocupação. O rei de Eldoria virou-se lentamente, seu rosto pálido e marcado pelo tempo e pela doença. Ele fez um gesto para que Adrian se aproximasse. “Filho, estou contente que tenha voltado. Precisamos conversar sobre o futuro de nosso reino.” Adrian sentou-se ao lado do pai, notando o quanto ele havia enfraquecido nas semanas em que esteve ausente. “O que deseja me dizer, pai?” O rei suspirou, a voz mais fraca do que Adrian jamais havia ouvido. “Eu sei que a guerra te forçou a tomar decisões difíceis, incluindo o noivado com a princesa Elara. Mas você precisa entender que o rei de V
A noite se estendia sobre o reino de Eldoria, com o céu estrelado servindo de cenário para os muros imponentes do castelo. O jantar havia terminado, e o príncipe Adrian se afastou da agitação dos convidados, buscando um momento de paz na varanda. O vento noturno trouxe um leve alívio para a tensão que ele sentia, mas suas preocupações não podiam ser dissipadas tão facilmente.Enquanto Adrian observava as estrelas, perdido em pensamentos sobre o futuro incerto, ouviu passos leves atrás de si. Ao se virar, encontrou Elara se aproximando, a luz da lua suavemente iluminando suas feições. Ela parecia mais confiante do que antes, seus olhos brilhando com uma determinação fria.“Esperava te encontrar aqui sozinho, meu príncipe,” Elara disse, a voz doce, mas com uma ponta de malícia.Adrian ofereceu um sorriso cansado, ainda perturbado pelas palavras de seu pai. “Às vezes, a solidão é o melhor conselheiro.” Repetiu palavras semelhantes as que ela lhe disse na sua primeira noite em Valoria, ar
Alguns dias haviam se passado desde o jantar em Eldoria, e o clima entre o príncipe Adrian e a princesa Elara tornava-se cada vez mais ameno e mais ardente. A atração que ambos sentiam era inegável, mas havia uma barreira invisível entre eles, uma mistura de desconfiança e intenções ocultas. Adrian decidiu que um passeio privado poderia aliviar um pouco dessa tensão, por isso sugeriu a Elara que visitassem um lago nas proximidades do reino de Valoria, um local que sempre trouxera paz à sua mente. Ela aceitou o convite, vendo nisso uma oportunidade de se aproximar ainda mais de Adrian e avançar em seu plano. Os dois saíram cedinho pela manhã, sem a presença da guarda real, pois Adrian desejava um momento a sós com a princesa para poderem se aproximar mais. Ao chegarem ao lago, cercado por densas florestas e montanhas distantes, ambos ficaram em silêncio por um momento, admirando a beleza tranquila do lugar. O reflexo das montanhas na água cristalina criava uma paisagem quase mági
O alvorecer do novo dia trouxe uma atmosfera tensa e agitada no castelo de Eldoria. A notícia do ataque das tropas estrangeiras se espalhara rapidamente, lançando uma sombra de inquietação sobre todos. O casamento entre Adrian e Elara, que até então era visto como uma simples formalidade, agora se tornara uma questão de urgência.Adrian, ainda abalado pelo ataque, passou a manhã em reuniões com seus conselheiros, organizando a segurança para os próximos dias. As ordens eram claras: os preparativos para o casamento deveriam ser concluídos o mais rápido possível, e a segurança do castelo reforçada.Elara, por sua vez, observava tudo com um olhar calculista. Seu plano estava avançando conforme planejado, mas a sensação de controle que antes possuía começava a escapar por entre seus dedos, pois seus pensamentos sempre a levavam a Adrian. Ela obviamente estava começando a se envolver de forma sentimental e a pressão de seu pai e a proximidade do casamento pesavam sobre ela, mas ela sabia