Enquanto o príncipe se preparava para tentar descansar, do outro lado do castelo, a princesa Elara estava sozinha em seus aposentos, lutando contra a tempestade de emoções que se agitava dentro dela. Ela havia ouvido cada palavra dita entre seu pai e Adrian através de uma passagem secreta, uma prática comum em Eldoria para espiar conversas importantes.
O coração de Elara estava dividido. Ela sabia que havia uma missão a cumprir, uma ordem direta de seu pai que não podia ignorar. Mas cada vez que via Adrian, cada vez que ouvia a determinação em sua voz, algo dentro dela se rebelava contra o destino que lhe fora imposto. A visão do príncipe, solitário e observador, à luz da lua, a havia tocado mais do que ela gostaria de admitir. Naquele momento, ao ouvir a conversa entre Adrian e Hector, Elara percebeu que estava em uma encruzilhada. Ela poderia continuar no caminho que seu pai havia traçado para ela, seguir adiante com o plano que poderia garantir a vitória de Eldoria... ou poderia se arriscar, desafiando tudo o que conhecia, para seguir um novo caminho. Um caminho de paz verdadeira, talvez até de amor, ao lado de um homem que, ao invés de ser seu inimigo, poderia se tornar seu maior aliado. Enquanto olhava para as cortinas de seu quarto balançando ao vento, os pensamentos de Elara a levaram de volta ao passado, para um tempo em que a guerra ainda não havia deixado cicatrizes tão profundas em sua alma. Lembranças de sua mãe surgiram com uma clareza dolorosa. Lady Seraphina, sua mãe, era uma mulher de uma beleza e graça lendárias. Mas mais do que isso, era conhecida por sua bondade e sabedoria. Ela havia sido a luz na vida de Elara, sempre presente para guiá-la, ensinar-lhe as lições que apenas uma mãe poderia transmitir. Eldoria era diferente naquela época. Embora as tensões com Valoria já existissem, havia uma sensação de estabilidade e paz dentro dos muros do castelo. Elara se lembrava das tardes passadas no jardim, sua mãe segurando suas pequenas mãos enquanto lhe ensinava sobre as diferentes plantas medicinais, ou sobre as estrelas que brilhavam no céu à noite. Era uma vida tranquila, mas essa paz foi destruída quando a guerra atingiu Eldoria com força total. O ataque que levou sua mãe foi rápido e brutal. Elara se lembrava do pânico, do caos, dos gritos que ecoavam pelos corredores do castelo enquanto ela era levada às pressas para a segurança. Mas nem mesmo a fortaleza de Eldoria conseguiu proteger Lady Seraphina. A notícia de sua morte, atingida por uma flecha inimiga, havia quebrado algo dentro de Elara, algo que nunca mais se curou. A guerra havia roubado não só a vida de sua mãe, mas também a inocência de Elara. A partir daquele momento, ela se viu envolta em uma escuridão que a afastou das doces lembranças do passado, substituindo-as por uma determinação fria e uma sede de vingança que seu pai, o rei Hector, alimentou habilmente. Elara sabia que a morte de sua mãe era apenas uma entre tantas outras no conflito entre Eldoria e Valoria, mas para ela, representava algo muito mais profundo. Sua mãe havia sido uma vítima de uma guerra sem sentido, uma guerra causada por ambições e ressentimentos que ela própria não compreendia completamente quando criança. Agora, anos depois, aquela dor transformada em raiva ainda pulsava dentro dela. O plano que seu pai havia arquitetado, enviando-a para casar com o príncipe de Valoria, era a oportunidade que Elara via para finalmente vingar sua mãe e terminar o ciclo de sofrimento que a guerra havia imposto sobre ela e seu povo. Porém, o encontro com Adrian havia despertado algo inesperado. Por trás do príncipe valente e determinado, Elara viu um homem igualmente preso no jogo cruel de poder e vingança. Adrian também carregava as cicatrizes da guerra, e em seus olhos, ela vislumbrou uma dor que refletia a sua própria. A conexão inesperada entre eles, ainda que tênue, ameaçava desmoronar as paredes que Elara havia erguido ao redor de seu coração. Enquanto refletia sobre tudo isso, Elara sentiu uma onda de emoções conflitantes se agitar dentro dela. Havia uma parte de si que queria acreditar que Adrian poderia ser diferente, que talvez ele também desejasse um fim para o conflito tanto quanto ela. Mas essa era a mesma parte de seu coração que sua mãe havia nutrido, uma parte que Elara aprendera a suprimir. Mas uma decisão precisava ser tomada. O futuro de seu povo e da nação dependia de sua decisão. Ela sabia que se seguisse o plano de seu pai, tudo daria certo e a paz seria instalada de vez, porém seu coração gritava para que ela não sujasse as mãos com sangue inocente. Ela sabia que esta decisão poderia mudar tudo. Se ela seguisse o plano, Valoria perderia seu herdeiro, e Eldoria teria a vantagem que tanto procurava. Seu pai confiava nela para fazer o que era necessário. Mas as palavras de Adrian da noite anterior, sua promessa de buscar a paz apesar das dificuldades, ecoaram em sua mente. E, por um momento, Elara hesitou. Ela estava à beira de algo que poderia alterar o destino dos dois reinos para sempre. Poderia ela trair a confiança que começava a crescer entre eles? Poderia ela ignorar a pequena esperança que havia brotado em seu coração? Com um suspiro profundo, Elara fechou os olhos e deixou as lembranças de sua mãe e as expectativas de seu pai guiá-la. Ela não podia se permitir fraquejar agora. A imagem da morte de Lady Seraphina, o desespero de seu pai, a destruição causada por Valoria — tudo isso inflamava sua determinação. Quando abriu os olhos novamente, a hesitação havia desaparecido. Elara sabia o que tinha que fazer. O sacrifício pessoal, o preço a ser pago, era necessário para garantir o futuro de Eldoria. Ela deitou em sua cama decidida a fazer o que era necessário e sentiu uma ansiedade incontrolável tomar conta de seu corpo, pois na manhã seguinte iria ter um encontro com Adrian.A manhã seguinte foi agitada em ambos os reinos, pois foi anunciado oficialmente o noivado entre Adrian e Elara. Enquanto os líderes tentavam manter uma fachada de normalidade, era impossível ignorar o burburinho que se espalhava tanto em Eldoria quanto em Valoria. O casamento, que deveria ser um símbolo de paz, tornara-se o epicentro de tensões latentes, alimentando tanto esperanças quanto temores. Em Valoria, o anúncio do casamento entre o príncipe Adrian e a princesa Elara havia se espalhado rapidamente pelos campos e vilas. Para muitos, a notícia trouxe uma mistura de surpresa e ceticismo. As feridas da guerra ainda estavam abertas, e a ideia de uma união com o reino inimigo parecia quase impossível de aceitar. Nos mercados e tavernas, os cidadãos discutiam o noivado com fervor. Alguns acreditavam que a união poderia finalmente trazer a paz que tanto desejavam. "O príncipe Adrian sempre foi justo e corajoso," diziam. "Se ele acredita que essa é a melhor forma de garantir nosso f
As semanas que se seguiram ao noivado de Adrian e Elara foram marcadas por uma tensão silenciosa, uma espera que parecia eterna. O príncipe, preso em compromissos políticos urgentes, mal teve tempo para se encontrar com sua futura esposa. A guerra havia terminado, mas os problemas que ela deixara para trás exigiam atenção constante, e Adrian se viu mergulhado em decisões que poderiam moldar o futuro de seu reino. Era uma tarde fria e cinzenta quando Sir Edgar, o conselheiro de confiança de Adrian, entrou na sala onde o príncipe analisava documentos. A mesa estava coberta de relatórios sobre a situação do reino, desde o estado das colheitas até os relatos de descontentamento entre os nobres. “Como estão as coisas em Eldoria, Sir Edgar?” perguntou Adrian, sem tirar os olhos dos papéis. “Meu príncipe,” começou Sir Edgar, aproximando-se da mesa, “o fim da guerra trouxe algum alívio, mas as cicatrizes são profundas. Há fome nas aldeias e o povo ainda está desconfiado. A paz é frágil,
O crepúsculo caía sobre o reino de Eldoria, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho, quando Adrian foi chamado para os aposentos de seu pai. O rei, uma sombra do homem vigoroso que uma vez governara com punho firme, estava reclinado em uma grande poltrona, seus olhos cansados fixos na janela, observando o sol desaparecer no horizonte. “Pai,” disse Adrian ao entrar no quarto, sua voz cheia de preocupação. O rei de Eldoria virou-se lentamente, seu rosto pálido e marcado pelo tempo e pela doença. Ele fez um gesto para que Adrian se aproximasse. “Filho, estou contente que tenha voltado. Precisamos conversar sobre o futuro de nosso reino.” Adrian sentou-se ao lado do pai, notando o quanto ele havia enfraquecido nas semanas em que esteve ausente. “O que deseja me dizer, pai?” O rei suspirou, a voz mais fraca do que Adrian jamais havia ouvido. “Eu sei que a guerra te forçou a tomar decisões difíceis, incluindo o noivado com a princesa Elara. Mas você precisa entender que o rei de V
A noite se estendia sobre o reino de Eldoria, com o céu estrelado servindo de cenário para os muros imponentes do castelo. O jantar havia terminado, e o príncipe Adrian se afastou da agitação dos convidados, buscando um momento de paz na varanda. O vento noturno trouxe um leve alívio para a tensão que ele sentia, mas suas preocupações não podiam ser dissipadas tão facilmente.Enquanto Adrian observava as estrelas, perdido em pensamentos sobre o futuro incerto, ouviu passos leves atrás de si. Ao se virar, encontrou Elara se aproximando, a luz da lua suavemente iluminando suas feições. Ela parecia mais confiante do que antes, seus olhos brilhando com uma determinação fria.“Esperava te encontrar aqui sozinho, meu príncipe,” Elara disse, a voz doce, mas com uma ponta de malícia.Adrian ofereceu um sorriso cansado, ainda perturbado pelas palavras de seu pai. “Às vezes, a solidão é o melhor conselheiro.” Repetiu palavras semelhantes as que ela lhe disse na sua primeira noite em Valoria, ar
Alguns dias haviam se passado desde o jantar em Eldoria, e o clima entre o príncipe Adrian e a princesa Elara tornava-se cada vez mais ameno e mais ardente. A atração que ambos sentiam era inegável, mas havia uma barreira invisível entre eles, uma mistura de desconfiança e intenções ocultas. Adrian decidiu que um passeio privado poderia aliviar um pouco dessa tensão, por isso sugeriu a Elara que visitassem um lago nas proximidades do reino de Valoria, um local que sempre trouxera paz à sua mente. Ela aceitou o convite, vendo nisso uma oportunidade de se aproximar ainda mais de Adrian e avançar em seu plano. Os dois saíram cedinho pela manhã, sem a presença da guarda real, pois Adrian desejava um momento a sós com a princesa para poderem se aproximar mais. Ao chegarem ao lago, cercado por densas florestas e montanhas distantes, ambos ficaram em silêncio por um momento, admirando a beleza tranquila do lugar. O reflexo das montanhas na água cristalina criava uma paisagem quase mági
O alvorecer do novo dia trouxe uma atmosfera tensa e agitada no castelo de Eldoria. A notícia do ataque das tropas estrangeiras se espalhara rapidamente, lançando uma sombra de inquietação sobre todos. O casamento entre Adrian e Elara, que até então era visto como uma simples formalidade, agora se tornara uma questão de urgência.Adrian, ainda abalado pelo ataque, passou a manhã em reuniões com seus conselheiros, organizando a segurança para os próximos dias. As ordens eram claras: os preparativos para o casamento deveriam ser concluídos o mais rápido possível, e a segurança do castelo reforçada.Elara, por sua vez, observava tudo com um olhar calculista. Seu plano estava avançando conforme planejado, mas a sensação de controle que antes possuía começava a escapar por entre seus dedos, pois seus pensamentos sempre a levavam a Adrian. Ela obviamente estava começando a se envolver de forma sentimental e a pressão de seu pai e a proximidade do casamento pesavam sobre ela, mas ela sabia
O sol nascente banhava o reino de Eldoria em tons suaves de dourado, trazendo consigo a promessa de um novo começo. Aquele era o dia do casamento entre o príncipe Adrian e a princesa Elara, uma união que prometia selar a paz entre Eldoria e Valoria. Mas, sob a superfície de alegria e celebração, havia uma tensão silenciosa, quase imperceptível, que pairava sobre o castelo. Nos aposentos da princesa, Elara observava seu reflexo no espelho. O vestido de noiva que ela usava era de uma beleza inigualável, feito de seda branca com bordados delicados em ouro. Mas, por mais deslumbrante que fosse, o vestido não conseguia esconder a batalha interna que se travava dentro dela. O plano de seu pai ecoava em sua mente, misturado com a crescente confusão de seus sentimentos por Adrian. “Senhora, o príncipe Adrian deseja vê-la antes da cerimônia,” informou a criada, interrompendo seus pensamentos. Elara assentiu, respirando fundo para se recompor. Ela precisava manter o foco, lembrando a si m
Parte 1: As Sombras da GuerraA noite havia caído sobre Eldoria, trazendo com ela um ar de calma aparente. O castelo, iluminado por tochas e velas, parecia um refúgio de paz em meio ao caos que ainda assolava os reinos ao redor. Mas, por trás das muralhas, as tensões continuavam a crescer. As notícias de que países estrangeiros estavam inquietos com a aliança entre Eldoria e Valoria começaram a chegar, provocando preocupações tanto no príncipe Adrian quanto na princesa Elara.Adrian estava sentado em sua mesa, olhando para um mapa espalhado à sua frente. Seus pensamentos estavam nublados pelas últimas mensagens que recebera. As fronteiras de Eldoria estavam sendo constantemente testadas por tropas estrangeiras, e a paz, que tanto desejava, parecia mais frágil do que nunca. Ele suspirou profundamente, passando a mão pelo cabelo, enquanto tentava encontrar uma solução.Foi nesse momento que Elara entrou no aposento, seus passos suaves, mas determinados. Ela havia sentido a tensão de Adr