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04. O fardo de Elara

Enquanto o príncipe se preparava para tentar descansar, do outro lado do castelo, a princesa Elara estava sozinha em seus aposentos, lutando contra a tempestade de emoções que se agitava dentro dela. Ela havia ouvido cada palavra dita entre seu pai e Adrian através de uma passagem secreta, uma prática comum em Eldoria para espiar conversas importantes.

O coração de Elara estava dividido. Ela sabia que havia uma missão a cumprir, uma ordem direta de seu pai que não podia ignorar. Mas cada vez que via Adrian, cada vez que ouvia a determinação em sua voz, algo dentro dela se rebelava contra o destino que lhe fora imposto. A visão do príncipe, solitário e observador, à luz da lua, a havia tocado mais do que ela gostaria de admitir.

Naquele momento, ao ouvir a conversa entre Adrian e Hector, Elara percebeu que estava em uma encruzilhada. Ela poderia continuar no caminho que seu pai havia traçado para ela, seguir adiante com o plano que poderia garantir a vitória de Eldoria... ou poderia se arriscar, desafiando tudo o que conhecia, para seguir um novo caminho. Um caminho de paz verdadeira, talvez até de amor, ao lado de um homem que, ao invés de ser seu inimigo, poderia se tornar seu maior aliado.

Enquanto olhava para as cortinas de seu quarto balançando ao vento, os pensamentos de Elara a levaram de volta ao passado, para um tempo em que a guerra ainda não havia deixado cicatrizes tão profundas em sua alma. Lembranças de sua mãe surgiram com uma clareza dolorosa.

Lady Seraphina, sua mãe, era uma mulher de uma beleza e graça lendárias. Mas mais do que isso, era conhecida por sua bondade e sabedoria. Ela havia sido a luz na vida de Elara, sempre presente para guiá-la, ensinar-lhe as lições que apenas uma mãe poderia transmitir. Eldoria era diferente naquela época. Embora as tensões com Valoria já existissem, havia uma sensação de estabilidade e paz dentro dos muros do castelo.

Elara se lembrava das tardes passadas no jardim, sua mãe segurando suas pequenas mãos enquanto lhe ensinava sobre as diferentes plantas medicinais, ou sobre as estrelas que brilhavam no céu à noite. Era uma vida tranquila, mas essa paz foi destruída quando a guerra atingiu Eldoria com força total.

O ataque que levou sua mãe foi rápido e brutal. Elara se lembrava do pânico, do caos, dos gritos que ecoavam pelos corredores do castelo enquanto ela era levada às pressas para a segurança. Mas nem mesmo a fortaleza de Eldoria conseguiu proteger Lady Seraphina. A notícia de sua morte, atingida por uma flecha inimiga, havia quebrado algo dentro de Elara, algo que nunca mais se curou.

A guerra havia roubado não só a vida de sua mãe, mas também a inocência de Elara. A partir daquele momento, ela se viu envolta em uma escuridão que a afastou das doces lembranças do passado, substituindo-as por uma determinação fria e uma sede de vingança que seu pai, o rei Hector, alimentou habilmente.

Elara sabia que a morte de sua mãe era apenas uma entre tantas outras no conflito entre Eldoria e Valoria, mas para ela, representava algo muito mais profundo. Sua mãe havia sido uma vítima de uma guerra sem sentido, uma guerra causada por ambições e ressentimentos que ela própria não compreendia completamente quando criança.

Agora, anos depois, aquela dor transformada em raiva ainda pulsava dentro dela. O plano que seu pai havia arquitetado, enviando-a para casar com o príncipe de Valoria, era a oportunidade que Elara via para finalmente vingar sua mãe e terminar o ciclo de sofrimento que a guerra havia imposto sobre ela e seu povo.

Porém, o encontro com Adrian havia despertado algo inesperado. Por trás do príncipe valente e determinado, Elara viu um homem igualmente preso no jogo cruel de poder e vingança. Adrian também carregava as cicatrizes da guerra, e em seus olhos, ela vislumbrou uma dor que refletia a sua própria. A conexão inesperada entre eles, ainda que tênue, ameaçava desmoronar as paredes que Elara havia erguido ao redor de seu coração.

Enquanto refletia sobre tudo isso, Elara sentiu uma onda de emoções conflitantes se agitar dentro dela. Havia uma parte de si que queria acreditar que Adrian poderia ser diferente, que talvez ele também desejasse um fim para o conflito tanto quanto ela. Mas essa era a mesma parte de seu coração que sua mãe havia nutrido, uma parte que Elara aprendera a suprimir.

Mas uma decisão precisava ser tomada. O futuro de seu povo e da nação dependia de sua decisão. Ela sabia que se seguisse o plano de seu pai, tudo daria certo e a paz seria instalada de vez, porém seu coração gritava para que ela não sujasse as mãos com sangue inocente.

Ela sabia que esta decisão poderia mudar tudo. Se ela seguisse o plano, Valoria perderia seu herdeiro, e Eldoria teria a vantagem que tanto procurava. Seu pai confiava nela para fazer o que era necessário.

Mas as palavras de Adrian da noite anterior, sua promessa de buscar a paz apesar das dificuldades, ecoaram em sua mente. E, por um momento, Elara hesitou. Ela estava à beira de algo que poderia alterar o destino dos dois reinos para sempre. Poderia ela trair a confiança que começava a crescer entre eles? Poderia ela ignorar a pequena esperança que havia brotado em seu coração?

Com um suspiro profundo, Elara fechou os olhos e deixou as lembranças de sua mãe e as expectativas de seu pai guiá-la. Ela não podia se permitir fraquejar agora. A imagem da morte de Lady Seraphina, o desespero de seu pai, a destruição causada por Valoria — tudo isso inflamava sua determinação.

Quando abriu os olhos novamente, a hesitação havia desaparecido. Elara sabia o que tinha que fazer. O sacrifício pessoal, o preço a ser pago, era necessário para garantir o futuro de Eldoria. Ela deitou em sua cama decidida a fazer o que era necessário e sentiu uma ansiedade incontrolável tomar conta de seu corpo, pois na manhã seguinte iria ter um encontro com Adrian.

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