06. Viagem

As semanas que se seguiram ao noivado de Adrian e Elara foram marcadas por uma tensão silenciosa, uma espera que parecia eterna. O príncipe, preso em compromissos políticos urgentes, mal teve tempo para se encontrar com sua futura esposa. A guerra havia terminado, mas os problemas que ela deixara para trás exigiam atenção constante, e Adrian se viu mergulhado em decisões que poderiam moldar o futuro de seu reino.

Era uma tarde fria e cinzenta quando Sir Edgar, o conselheiro de confiança de Adrian, entrou na sala onde o príncipe analisava documentos. A mesa estava coberta de relatórios sobre a situação do reino, desde o estado das colheitas até os relatos de descontentamento entre os nobres.

“Como estão as coisas em Eldoria, Sir Edgar?” perguntou Adrian, sem tirar os olhos dos papéis.

“Meu príncipe,” começou Sir Edgar, aproximando-se da mesa, “o fim da guerra trouxe algum alívio, mas as cicatrizes são profundas. Há fome nas aldeias e o povo ainda está desconfiado. A paz é frágil, e há aqueles que acreditam que o casamento com a princesa Elara é uma jogada arriscada. Eles temem que essa aliança possa trazer mais problemas do que soluções.”

Adrian suspirou, sentindo o peso das palavras de seu conselheiro. “E quanto ao meu pai? Qual é a sua condição?”

“A saúde de Sua Majestade piorou,” respondeu Sir Edgar, com uma sombra de preocupação no olhar. “Ele deseja vê-lo, meu príncipe. A decisão de casar com Elara não foi bem recebida por todos, e o rei tem algo importante a lhe dizer.”

Adrian assentiu lentamente. Ele sabia que o tempo estava se esgotando, tanto para seu pai quanto para a paz que ele tentava construir. “Então, devemos partir o mais rápido possível. Preciso ouvir o que meu pai tem a dizer, e também quero que Elara veja o que será sua nova casa.”

~x~

Naquela noite, Adrian foi até os aposentos de Elara. O palácio valoriano estava silencioso, com as sombras da noite já começando a se alongar pelas paredes de pedra. Quando ele bateu na porta, Elara abriu, surpresa ao vê-lo.

“Adrian,” disse ela, com um leve sorriso, engolindo a seco ao notar o olhar do príncipe sob seu colo despido, “não esperava vê-lo tão tarde.”

“Preciso falar com você,” ele respondeu, a voz firme, mas suave. “Meu pai está muito doente e pediu para me ver. Quero que você vá comigo a Eldoria. É hora de conhecer sua nova casa.”

Elara hesitou por um momento. O convite de Adrian era tanto um gesto de confiança quanto uma oportunidade de avançar com o plano de seu pai. “Claro,” disse ela finalmente. “Partirei com você.”

~x~

Antes de partir, Elara foi chamada à sala de audiências de seu pai. O rei de Valoria, um homem imponente e de expressão dura, aguardava-a com impaciência. Quando ela entrou, ele não perdeu tempo com formalidades.

“Elara,” começou ele, a voz carregada de autoridade, “as semanas estão passando, e você sequer conseguiu seduzir o príncipe. O tempo da hesitação acabou. Você precisa seduzir Adrian e conquistar sua confiança. Lembre-se do que está em jogo.”

Elara sentiu um frio percorrer sua espinha. A severidade de seu pai não era surpresa, mas cada palavra dele a lembrava do peso da tarefa que havia aceitado. “Eu entendo, pai,” respondeu ela, mantendo a voz firme. “Não vou falhar.”

“Não pode falhar,” ele corrigiu, com um olhar penetrante. “Nosso futuro depende disso.”

Com essas palavras ainda ressoando em sua mente, Elara deixou a sala, sabendo que não poderia mais adiar o que precisava ser feito.

~x~

A viagem a Eldoria foi longa e silenciosa. O castelo, situado no alto de uma colina, apareceu no horizonte como uma fortaleza imponente. Ao chegarem, Elara foi recebida com a devida cortesia, mas também com olhares desconfiados dos servos e guardas que já haviam ouvido rumores sobre ela.

Adrian a guiou até seus aposentos, onde ela teria tempo para se preparar para o jantar de boas-vindas. “Espero que goste de Eldoria,” disse ele antes de deixá-la. “Esta será sua casa em breve.”

Elara assentiu, tentando ignorar a sensação de estar cercada por inimigos. Ela sabia que a verdadeira batalha ainda estava por vir, e cada movimento precisava ser calculado com precisão.

Quando a noite caiu, Elara estava em seus aposentos, preparando-se para o jantar. Vestiu-se com um vestido de seda azul, que realçava sua pele clara e seus olhos. Enquanto se olhava no espelho, a jovem princesa não pôde deixar de pensar nas palavras de seu pai. Ela precisava agir, precisava seduzir Adrian, mas o dilema moral continuava a atormentá-la.

Ela se virou lentamente, observando seu reflexo e tentando se convencer de que tudo aquilo era necessário. O plano deveria ser executado, e o jantar seria a primeira oportunidade para se aproximar ainda mais de Adrian.

Com um último suspiro, Elara endireitou os ombros e saiu do quarto, pronta para enfrentar o que estava por vir.

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