As chamas de Valoria cintilavam no horizonte, tingindo o céu com um brilho alaranjado enquanto o sol se punha atrás das montanhas. O príncipe Adrian estava de pé sobre as muralhas do castelo, seus olhos fixos nos campos arruinados além dos muros. As planícies, outrora férteis, agora eram um mar de cinzas e cadáveres. As árvores, que antes abrigavam vida, agora se erguiam como esqueletos carbonizados. O vento frio trazia consigo o cheiro amargo da destruição, um lembrete pungente da guerra que devastava seu reino há tanto tempo.
O príncipe sentiu um peso insuportável no peito. A guerra havia consumido tudo. Valoria estava à beira do colapso, e ele sabia que seu povo sofria mais a cada dia que passava. Homens e mulheres eram recrutados à força, crianças ficavam órfãs, e o desespero se tornava um manto sombrio que cobria toda a nação. A porta da torre se abriu com um ranger, e Adrian se virou para ver seu conselheiro mais leal, Sir Edgar, se aproximando. O cavaleiro estava visivelmente abatido, seus ombros curvados sob o peso da responsabilidade e da angústia. “Meu príncipe,” Edgar começou, sua voz rouca, “a situação no sul é crítica. As forças de Eldoria romperam nossas defesas em Blackridge. Se não tomarmos uma decisão agora, temo que perderemos a fortaleza dentro de dias.” Adrian assentiu, seu rosto se endurecendo. Ele sabia que Eldoria não mostraria misericórdia. A guerra havia começado por orgulho e vingança, mas agora era uma questão de sobrevivência. Valoria estava perdendo, e ele sabia disso. “O que meu pai diz sobre isso?” Adrian perguntou, embora já soubesse a resposta. Seu pai, o rei Aldric, estava há muito tempo doente, física e mentalmente esgotado pela guerra interminável. As decisões eram, na prática, de Adrian, embora ele ainda devesse consultar o rei. “Ele… ele não está em condições de dar conselhos claros, meu senhor. A febre o consome novamente,” Edgar respondeu, sua voz baixa. Havia um silêncio tenso entre os dois, enquanto a realidade da situação se assentava. “Precisamos considerar a proposta de paz, meu príncipe. Talvez seja a única maneira de salvar Valoria.” Adrian olhou para Edgar, seus olhos escuros se estreitando em desconfiança. "Paz? Como podemos confiar neles? A proposta de casamento do rei de Eldoria é uma armadilha, uma jogada desesperada para nos enfraquecer ainda mais." Edgar suspirou profundamente, parecendo ainda mais envelhecido sob a luz do entardecer. "Talvez seja. Mas, Adrian, temos que considerar a possibilidade de que eles estejam tão desesperados quanto nós. Eldoria também está em ruínas. Se essa união for nossa última esperança, não podemos nos dar ao luxo de rejeitá-la sem ponderar." Adrian se afastou das muralhas, caminhando de volta para o interior da torre. O castelo, outrora majestoso, agora estava desgastado, com rachaduras nas paredes e tapeçarias desbotadas. O ar dentro das muralhas parecia denso e pesado, refletindo o desânimo que permeava o reino. O príncipe parou diante de um grande mapa que cobria a parede do salão principal. As marcas e anotações feitas ao longo dos anos mostravam o avanço e o recuo das forças de ambos os lados, uma dança mortal que deixava cicatrizes profundas em toda a terra. "Casar-me com a princesa Elara..." Adrian murmurou, quase para si mesmo. Ele havia ouvido falar dela, é claro. Os relatos variavam: alguns diziam que ela era bela e graciosa, outros que era fria e calculista, uma verdadeira filha de Eldoria. Mas o que era verdade e o que era propaganda de guerra? Ele não sabia. Edgar se aproximou, colocando uma mão reconfortante no ombro de Adrian. "Você não precisa decidir agora. Mas, se me permite uma opinião, acho que devemos considerar a proposta com seriedade. Se pudermos negociar termos favoráveis, talvez possamos garantir uma paz duradoura. Pense no seu povo, meu príncipe. Eles já sofreram demais." Adrian ficou em silêncio por um longo tempo, seus olhos fixos no mapa. Ele sabia que Edgar estava certo. A guerra estava esgotando não apenas os recursos de Valoria, mas também sua própria alma. A ideia de uma união com Eldoria era repugnante para ele, mas talvez fosse o sacrifício necessário para salvar seu reino. "Envie uma mensagem ao rei de Eldoria," Adrian disse finalmente, sua voz firme. "Aceitarei a proposta de casamento, mas sob as minhas condições. Não vou me curvar a eles sem garantias." ~X~ No grande salão do castelo de Eldoria, o rei Hector sentava-se em seu trono de ferro, observando a figura diante dele com olhos calculistas. A princesa Elara mantinha a cabeça erguida, seus olhos brilhando com determinação, mas havia uma sombra de incerteza neles. Ela sabia qual era o papel que deveria desempenhar, o plano que seu pai havia arquitetado. “Elara,” o rei Hector começou, sua voz firme e fria, “o príncipe Adrian aceitou a proposta. Ele virá para Eldoria em três dias. Tudo está conforme planejado.” Elara respirou fundo, tentando controlar a torrente de emoções dentro de si. Desde criança, fora treinada para ser uma peça estratégica, uma arma nas mãos de seu pai. Ela sabia que sua missão era crucial para o futuro de Eldoria, mas a ideia de trair um homem com quem iria partilhar e gerar um filho era difícil de suportar. “E o plano, pai?” Elara perguntou, tentando manter sua voz estável. “O plano continua,” Hector respondeu, sem hesitação. “Você fará o que for necessário. Este casamento é uma formalidade. Você precisa ganhar a confiança dele, carregar o herdeiro e, quando o momento certo chegar… você sabe o que fazer.” Elara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. As palavras de seu pai eram afiados como lâminas. Havia muito em jogo, e qualquer hesitação de sua parte poderia custar não apenas sua vida, mas o futuro de Eldoria. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela se rebelava contra essa missão. “Sim, pai,” ela respondeu, sua voz baixa, mas resoluta. Ela se curvou e deixou a sala, sentindo o peso do destino sobre seus ombros. Enquanto Elara caminhava pelos corredores de pedra fria do castelo, seus pensamentos estavam um turbilhão. O que seria desse casamento? Seria ela capaz de cumprir sua missão sem perder a própria humanidade? E o príncipe Adrian, seria ele um monstro como as histórias o pintavam, ou apenas um homem preso nas mesmas correntes da guerra que a enredavam? Elara entrou em seus aposentos e olhou para o espelho que ocupava uma parede inteira. Seus olhos, os mesmos olhos que tantas vezes encantaram a corte de Eldoria, agora estavam cheios de dúvida. Ela sabia que sua vida estava prestes a mudar para sempre, e que não havia como voltar atrás.Três dias depois, o príncipe Adrian chegou ao castelo de Eldoria, acompanhado por uma pequena comitiva. O ambiente estava tenso enquanto os dois reinos se observavam, cada um esperando um movimento errado do outro. Na grande sala do trono, onde os reis de Eldoria governavam há séculos, o príncipe encontrou-se pela primeira vez com a princesa Elara. Adrian estava preparado para encontrar uma mulher fria e calculista, mas a figura que se aproximava dele era diferente. Elara caminhava com uma graça que ele não esperava, e seus olhos, embora firmes, não tinham a dureza que ele temia. Ainda assim, ele manteve sua guarda, lembrando-se de que este casamento era, antes de tudo, uma jogada estratégica. "Princesa Elara," Adrian disse, fazendo uma reverência educada. "É um prazer finalmente conhecê-la." Elara respondeu com uma leve inclinação da cabeça. "O prazer é meu, príncipe Adrian. Espero que nossa união traga paz aos nossos reinos." Os dois trocaram palavras formais, cada um estuda
Na manhã seguinte, enquanto Adrian se preparava para os compromissos do dia, uma mensagem chegou às suas mãos. Era um pedido de reunião com o rei Hector, um encontro privado que Adrian não podia recusar. Ele sabia que este poderia ser o momento em que as verdadeiras intenções de Eldoria seriam reveladas. Quando Adrian entrou na sala do trono, encontrou o rei Hector sentado em seu trono, cercado por alguns de seus conselheiros mais próximos. O ambiente estava pesado, com uma tensão que não podia ser ignorada. Hector olhou para Adrian com um sorriso calculado. "Príncipe Adrian," começou Hector, sua voz grave e controlada. "É um prazer vê-lo novamente. Espero que tenha encontrado Eldoria ao seu agrado até agora." Adrian fez uma reverência curta, mantendo seu tom diplomático. "Eldoria é um reino impressionante, majestade. Estou grato pela hospitalidade oferecida a mim e aos meus homens." Hector assentiu, mas havia algo frio em seus olhos. "Fico contente que esteja satisfeito. Como
Enquanto o príncipe se preparava para tentar descansar, do outro lado do castelo, a princesa Elara estava sozinha em seus aposentos, lutando contra a tempestade de emoções que se agitava dentro dela. Ela havia ouvido cada palavra dita entre seu pai e Adrian através de uma passagem secreta, uma prática comum em Eldoria para espiar conversas importantes. O coração de Elara estava dividido. Ela sabia que havia uma missão a cumprir, uma ordem direta de seu pai que não podia ignorar. Mas cada vez que via Adrian, cada vez que ouvia a determinação em sua voz, algo dentro dela se rebelava contra o destino que lhe fora imposto. A visão do príncipe, solitário e observador, à luz da lua, a havia tocado mais do que ela gostaria de admitir. Naquele momento, ao ouvir a conversa entre Adrian e Hector, Elara percebeu que estava em uma encruzilhada. Ela poderia continuar no caminho que seu pai havia traçado para ela, seguir adiante com o plano que poderia garantir a vitória de Eldoria... ou poderia
A manhã seguinte foi agitada em ambos os reinos, pois foi anunciado oficialmente o noivado entre Adrian e Elara. Enquanto os líderes tentavam manter uma fachada de normalidade, era impossível ignorar o burburinho que se espalhava tanto em Eldoria quanto em Valoria. O casamento, que deveria ser um símbolo de paz, tornara-se o epicentro de tensões latentes, alimentando tanto esperanças quanto temores. Em Valoria, o anúncio do casamento entre o príncipe Adrian e a princesa Elara havia se espalhado rapidamente pelos campos e vilas. Para muitos, a notícia trouxe uma mistura de surpresa e ceticismo. As feridas da guerra ainda estavam abertas, e a ideia de uma união com o reino inimigo parecia quase impossível de aceitar. Nos mercados e tavernas, os cidadãos discutiam o noivado com fervor. Alguns acreditavam que a união poderia finalmente trazer a paz que tanto desejavam. "O príncipe Adrian sempre foi justo e corajoso," diziam. "Se ele acredita que essa é a melhor forma de garantir nosso f
As semanas que se seguiram ao noivado de Adrian e Elara foram marcadas por uma tensão silenciosa, uma espera que parecia eterna. O príncipe, preso em compromissos políticos urgentes, mal teve tempo para se encontrar com sua futura esposa. A guerra havia terminado, mas os problemas que ela deixara para trás exigiam atenção constante, e Adrian se viu mergulhado em decisões que poderiam moldar o futuro de seu reino. Era uma tarde fria e cinzenta quando Sir Edgar, o conselheiro de confiança de Adrian, entrou na sala onde o príncipe analisava documentos. A mesa estava coberta de relatórios sobre a situação do reino, desde o estado das colheitas até os relatos de descontentamento entre os nobres. “Como estão as coisas em Eldoria, Sir Edgar?” perguntou Adrian, sem tirar os olhos dos papéis. “Meu príncipe,” começou Sir Edgar, aproximando-se da mesa, “o fim da guerra trouxe algum alívio, mas as cicatrizes são profundas. Há fome nas aldeias e o povo ainda está desconfiado. A paz é frágil,
O crepúsculo caía sobre o reino de Eldoria, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho, quando Adrian foi chamado para os aposentos de seu pai. O rei, uma sombra do homem vigoroso que uma vez governara com punho firme, estava reclinado em uma grande poltrona, seus olhos cansados fixos na janela, observando o sol desaparecer no horizonte. “Pai,” disse Adrian ao entrar no quarto, sua voz cheia de preocupação. O rei de Eldoria virou-se lentamente, seu rosto pálido e marcado pelo tempo e pela doença. Ele fez um gesto para que Adrian se aproximasse. “Filho, estou contente que tenha voltado. Precisamos conversar sobre o futuro de nosso reino.” Adrian sentou-se ao lado do pai, notando o quanto ele havia enfraquecido nas semanas em que esteve ausente. “O que deseja me dizer, pai?” O rei suspirou, a voz mais fraca do que Adrian jamais havia ouvido. “Eu sei que a guerra te forçou a tomar decisões difíceis, incluindo o noivado com a princesa Elara. Mas você precisa entender que o rei de V
A noite se estendia sobre o reino de Eldoria, com o céu estrelado servindo de cenário para os muros imponentes do castelo. O jantar havia terminado, e o príncipe Adrian se afastou da agitação dos convidados, buscando um momento de paz na varanda. O vento noturno trouxe um leve alívio para a tensão que ele sentia, mas suas preocupações não podiam ser dissipadas tão facilmente.Enquanto Adrian observava as estrelas, perdido em pensamentos sobre o futuro incerto, ouviu passos leves atrás de si. Ao se virar, encontrou Elara se aproximando, a luz da lua suavemente iluminando suas feições. Ela parecia mais confiante do que antes, seus olhos brilhando com uma determinação fria.“Esperava te encontrar aqui sozinho, meu príncipe,” Elara disse, a voz doce, mas com uma ponta de malícia.Adrian ofereceu um sorriso cansado, ainda perturbado pelas palavras de seu pai. “Às vezes, a solidão é o melhor conselheiro.” Repetiu palavras semelhantes as que ela lhe disse na sua primeira noite em Valoria, ar
Alguns dias haviam se passado desde o jantar em Eldoria, e o clima entre o príncipe Adrian e a princesa Elara tornava-se cada vez mais ameno e mais ardente. A atração que ambos sentiam era inegável, mas havia uma barreira invisível entre eles, uma mistura de desconfiança e intenções ocultas. Adrian decidiu que um passeio privado poderia aliviar um pouco dessa tensão, por isso sugeriu a Elara que visitassem um lago nas proximidades do reino de Valoria, um local que sempre trouxera paz à sua mente. Ela aceitou o convite, vendo nisso uma oportunidade de se aproximar ainda mais de Adrian e avançar em seu plano. Os dois saíram cedinho pela manhã, sem a presença da guarda real, pois Adrian desejava um momento a sós com a princesa para poderem se aproximar mais. Ao chegarem ao lago, cercado por densas florestas e montanhas distantes, ambos ficaram em silêncio por um momento, admirando a beleza tranquila do lugar. O reflexo das montanhas na água cristalina criava uma paisagem quase mági