Amor & Guerra
Amor & Guerra
Por: Vicka Arievilo
01. Um reino em ruínas

As chamas de Valoria cintilavam no horizonte, tingindo o céu com um brilho alaranjado enquanto o sol se punha atrás das montanhas. O príncipe Adrian estava de pé sobre as muralhas do castelo, seus olhos fixos nos campos arruinados além dos muros. As planícies, outrora férteis, agora eram um mar de cinzas e cadáveres. As árvores, que antes abrigavam vida, agora se erguiam como esqueletos carbonizados. O vento frio trazia consigo o cheiro amargo da destruição, um lembrete pungente da guerra que devastava seu reino há tanto tempo.

O príncipe sentiu um peso insuportável no peito. A guerra havia consumido tudo. Valoria estava à beira do colapso, e ele sabia que seu povo sofria mais a cada dia que passava. Homens e mulheres eram recrutados à força, crianças ficavam órfãs, e o desespero se tornava um manto sombrio que cobria toda a nação.

A porta da torre se abriu com um ranger, e Adrian se virou para ver seu conselheiro mais leal, Sir Edgar, se aproximando. O cavaleiro estava visivelmente abatido, seus ombros curvados sob o peso da responsabilidade e da angústia.

“Meu príncipe,” Edgar começou, sua voz rouca, “a situação no sul é crítica. As forças de Eldoria romperam nossas defesas em Blackridge. Se não tomarmos uma decisão agora, temo que perderemos a fortaleza dentro de dias.”

Adrian assentiu, seu rosto se endurecendo. Ele sabia que Eldoria não mostraria misericórdia. A guerra havia começado por orgulho e vingança, mas agora era uma questão de sobrevivência. Valoria estava perdendo, e ele sabia disso.

“O que meu pai diz sobre isso?” Adrian perguntou, embora já soubesse a resposta. Seu pai, o rei Aldric, estava há muito tempo doente, física e mentalmente esgotado pela guerra interminável. As decisões eram, na prática, de Adrian, embora ele ainda devesse consultar o rei.

“Ele… ele não está em condições de dar conselhos claros, meu senhor. A febre o consome novamente,” Edgar respondeu, sua voz baixa. Havia um silêncio tenso entre os dois, enquanto a realidade da situação se assentava. “Precisamos considerar a proposta de paz, meu príncipe. Talvez seja a única maneira de salvar Valoria.”

Adrian olhou para Edgar, seus olhos escuros se estreitando em desconfiança. "Paz? Como podemos confiar neles? A proposta de casamento do rei de Eldoria é uma armadilha, uma jogada desesperada para nos enfraquecer ainda mais."

Edgar suspirou profundamente, parecendo ainda mais envelhecido sob a luz do entardecer. "Talvez seja. Mas, Adrian, temos que considerar a possibilidade de que eles estejam tão desesperados quanto nós. Eldoria também está em ruínas. Se essa união for nossa última esperança, não podemos nos dar ao luxo de rejeitá-la sem ponderar."

Adrian se afastou das muralhas, caminhando de volta para o interior da torre. O castelo, outrora majestoso, agora estava desgastado, com rachaduras nas paredes e tapeçarias desbotadas. O ar dentro das muralhas parecia denso e pesado, refletindo o desânimo que permeava o reino.

O príncipe parou diante de um grande mapa que cobria a parede do salão principal. As marcas e anotações feitas ao longo dos anos mostravam o avanço e o recuo das forças de ambos os lados, uma dança mortal que deixava cicatrizes profundas em toda a terra.

"Casar-me com a princesa Elara..." Adrian murmurou, quase para si mesmo. Ele havia ouvido falar dela, é claro. Os relatos variavam: alguns diziam que ela era bela e graciosa, outros que era fria e calculista, uma verdadeira filha de Eldoria. Mas o que era verdade e o que era propaganda de guerra? Ele não sabia.

Edgar se aproximou, colocando uma mão reconfortante no ombro de Adrian. "Você não precisa decidir agora. Mas, se me permite uma opinião, acho que devemos considerar a proposta com seriedade. Se pudermos negociar termos favoráveis, talvez possamos garantir uma paz duradoura. Pense no seu povo, meu príncipe. Eles já sofreram demais."

Adrian ficou em silêncio por um longo tempo, seus olhos fixos no mapa. Ele sabia que Edgar estava certo. A guerra estava esgotando não apenas os recursos de Valoria, mas também sua própria alma. A ideia de uma união com Eldoria era repugnante para ele, mas talvez fosse o sacrifício necessário para salvar seu reino.

"Envie uma mensagem ao rei de Eldoria," Adrian disse finalmente, sua voz firme. "Aceitarei a proposta de casamento, mas sob as minhas condições. Não vou me curvar a eles sem garantias."

~X~

No grande salão do castelo de Eldoria, o rei Hector sentava-se em seu trono de ferro, observando a figura diante dele com olhos calculistas. A princesa Elara mantinha a cabeça erguida, seus olhos brilhando com determinação, mas havia uma sombra de incerteza neles. Ela sabia qual era o papel que deveria desempenhar, o plano que seu pai havia arquitetado.

“Elara,” o rei Hector começou, sua voz firme e fria, “o príncipe Adrian aceitou a proposta. Ele virá para Eldoria em três dias. Tudo está conforme planejado.”

Elara respirou fundo, tentando controlar a torrente de emoções dentro de si. Desde criança, fora treinada para ser uma peça estratégica, uma arma nas mãos de seu pai. Ela sabia que sua missão era crucial para o futuro de Eldoria, mas a ideia de trair um homem com quem iria partilhar e gerar um filho era difícil de suportar.

“E o plano, pai?” Elara perguntou, tentando manter sua voz estável.

“O plano continua,” Hector respondeu, sem hesitação. “Você fará o que for necessário. Este casamento é uma formalidade. Você precisa ganhar a confiança dele, carregar o herdeiro e, quando o momento certo chegar… você sabe o que fazer.”

Elara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. As palavras de seu pai eram afiados como lâminas. Havia muito em jogo, e qualquer hesitação de sua parte poderia custar não apenas sua vida, mas o futuro de Eldoria. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela se rebelava contra essa missão.

“Sim, pai,” ela respondeu, sua voz baixa, mas resoluta. Ela se curvou e deixou a sala, sentindo o peso do destino sobre seus ombros.

Enquanto Elara caminhava pelos corredores de pedra fria do castelo, seus pensamentos estavam um turbilhão. O que seria desse casamento? Seria ela capaz de cumprir sua missão sem perder a própria humanidade? E o príncipe Adrian, seria ele um monstro como as histórias o pintavam, ou apenas um homem preso nas mesmas correntes da guerra que a enredavam?

Elara entrou em seus aposentos e olhou para o espelho que ocupava uma parede inteira. Seus olhos, os mesmos olhos que tantas vezes encantaram a corte de Eldoria, agora estavam cheios de dúvida. Ela sabia que sua vida estava prestes a mudar para sempre, e que não havia como voltar atrás.

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