Aplicando batom rosa, Sara terminava de se arrumar no banheiro para seu primeiro dia de trabalho. Já tinha prendido o cabelo em um rabo de cavalo baixo e optado por calça confortável, camiseta, jaqueta e nos pés sapatilhas, tudo na cor branca.Quando terminou de se vestir, pensou nas muitas vezes que admirou sua mãe aprontar-se, sempre sonhando com o momento em que se vestiria da mesma forma e exerceria o mesmo cargo.Infelizmente, o acidente apagou as lembranças do que estudou, mas, graças a Tatiana, teria a oportunidade de participar da rotina de um hospital. Seria excitante e, com sorte, ajudaria no retorno de sua memória, de forma que pudesse exercer seu cargo novamente. De qualquer forma, planejava voltar a estudar para garantir seu posto no futuro.Rodrigo entrou no banheiro e observou o encantador e atraente reflexo dela lhe sorrir.Aproximou-se, os braços fortes envolvendo a cintura da esposa, juntando seus corpos, o rosto recém-barbeado se aconchegando entre o pescoço e o omb
Ao passarem pela sala, imediatamente os olhos de Rodrigo caíram sobre a mesinha de centro, em que o vaso de rosas vermelhas reinava majestoso. Era impressionante que as rosas ficaram mais bonitas com o passar dos dias, ao invés de murcharem e morrerem, como Rodrigo desejou desde o primeiro dia.Deveria ter seguido seu primeiro impulso, pisoteado aquelas flores e saído para arrebentar a cara do “eterno namorado”. Mas seu lado racional, e normalmente mais ativo, aconselhou a não fazer nada e agora tinha de aturar aquele vaso bem no meio de sua sala de estar. A vontade sempre voltava, como naquele momento, mas se controlava pelo bem do seu relacionamento. Sara não gostaria que fizesse nenhuma das duas coisas.Saíram do apartamento e Rodrigo pegou a chave para trancá-lo, mas parou ao ver Marta sair do elevador.A empregada se aproximou com um sorriso gentil.— Bom dia, senhor e senhora Montenegro! Vão sair?Somente Sara respondeu ao cumprimento, informando que iriam para o trabalho, porém
Tremia de ódio, surpresa e, principalmente, medo. Pela primeira vez desde que começou a trabalhar para Rodrigo, Karen temia perdê-lo. Não conseguia assimilar a notícia que, sentado à sua frente, Rodrigo acabara de lhe dar. Negava-se a aceitar. O homem que amava e que a amava nunca diria um absurdo daqueles. Jamais. — Não pode ser sério. — Sua voz, por culpa do choro contido, saiu esganiçada. — Não pode fazer isso comigo. — Está decidido — Rodrigo sentenciou fitando-a com indiferença. — Durante o mês que antecede sua viagem será secretária do Júlio. Aconselho a segurar seus comentários ferinos a respeito dele, porque, se por algum motivo ele decidir te demitir, não vou de forma alguma interceder a seu favor. Não mais. — Não irei, e não pode me obrigar — retrucou determinada. Para seu alívio, Rodrigo assentiu. — Nesse caso, será transferida para a área financeira — ele decidiu, escolhendo propositalmente uma ocupação que a manteria longe, no andar abaixo do que ele ocupava. — É is
Em duas semanas de trabalho no hospital, Sara contabilizou momentos de altos e baixos. Conseguiu a confiança de alguns colegas e crianças, mas era visível que ainda tinha muito a percorrer antes de obter colaboração total da equipe.Em casa seu relacionamento com Rodrigo melhorou, embora não falassem muito do passado, tinham entrado em uma rotina agradável. Tomavam café da manhã, ele lhe dava carona até o hospital e a buscava no fim do dia, retornando juntos para casa, jantavam, falavam sobre as ideias para a nova decoração e trocavam carícias até pegar no sono.Ainda pensava muito em Isabel, chegou a perguntar sobre ela para Marta e até para Laura, mas não tentou contato, nem com o editor chefe dela. Parecia tolice falar sobre a amiga com alguém que não conhecia, mesmo que fosse alguém bem intencionado querendo reuni-las.Lembranças ocasionais vinham ao longo dos dias, muitas vinham durante o trabalho. Flashs de procedimentos, pessoas que reconhecia, uma vida inteira aparecendo em pe
Sem ocultar seu nervosismo, batendo o pé direito incessantemente no lustroso piso, Karen aguardava na recepção do elegante prédio permissão para falar com o maior traidor de todos os tempos.Consultou o relógio de pulso pela enésima vez desde que passou pelas portas eletrônicas. Já se passara meia hora e nada. Sabia que a demora em permitir sua passagem era proposital. Ele nunca gostou dela e censurava-se por demorar tanto a perceber esse fato, por ter um dia acreditado nas mentiras daquele verme egocêntrico.Andou até a bancada da recepcionista.— Não dá pra ser mais rápida e liberar a minha entrada?— Senhora...— Senhorita — corrigiu, completando com arrogância: — Futura esposa de Rodrigo Montenegro, dono de metade de tudo isso aqui.A atendente, levantando uma fina sobrancelha, analisou Karen de cima a baixo, logo depois executando o processo inverso até encarar os irados olhos dela com uma expressão neutra.— Informei a sua presença duas vezes, como a senhorita pediu — a mulher d
Com sua costumeira empolgação, Júlio entrou sem bater na sala de Rodrigo, largou-se na cadeira em frente ao amigo e questionou bem humorado:— Como está seu primeiro mês sem a coisa ruim por perto?Erguendo os olhos castanhos dos papéis que examinava, Rodrigo encarou o sócio sem muito interesse.— Falta serviço na sua sala? Tenho o suficiente para nós dois se precisar — disse, balançando os documentos em suas mãos.— Ranzinza como sempre — Júlio comentou com um falso biquinho de ressentimento. — Só vim comemorar o ar puro da empresa desde que Karen foi embora. Inspire fundo e sinta isso Rodrigo. — Respirou fundo e adornou a boca com um sorriso brilhante. — É maravilhoso!— Júlio, tenho uma pilha de documentos para revisar e nenhum tempo pra perder com bobagens — retrucou, voltando a atenção para os documentos em suas mãos.— Ok. Entendi que está super ocupado, mas já é hora de almoço, a melhor hora do dia — Júlio informou e, ao não obter reação do sócio, insistente, puxou os documento
Ficaram em total silêncio até chegarem a área externa dos fundos do hospital, que naquele horário estava parcialmente vazia. Sara sentou e aguardou Robson sentar antes de recomeçar a conversa. — Obrigada por proporcionar um pouco de alegria as crianças. — Não tem o que agradecer. Me diverti também. Fazia um bom tempo que não manejava meus amiguinhos — comentou, a mão batendo de leve na maleta com os bonecos. — Permiti sua passagem hoje, mas não é uma boa ideia que retorne — anunciou em parte incomodada por dizê-lo. Robson a encarou com atenção. — Diz isso por causa do seu marido? — Sim — confirmou, sentindo uma ponta de vergonha. A atitude de Robson, mesmo que com interesse suspeito, foi bondosa para com as crianças. Mesmo assim, foi obrigada a justificar: — Rodrigo não vai gostar de te ver por aqui. E não acreditará que você veio visitar um amigo internado e acabou, por acaso, na ala em que trabalho. Robson riu. — Vejo que continua esperta. Sara sorriu. — Sempre. Correspond
— Atrapalho?Sorridentes, Robson e Sara se voltaram para Tatiana.A médica se aproximava com as mãos no bolso do jaleco, o olhar desconfiado passeando pelos rostos dos dois.— Lógico que não, Tati — respondeu Robson pegando a maleta com os bonecos do chão. — Nos vemos amanhã, Sara! Até mais, Tati! — despediu-se antes de se afastar rumo à rampa da saída.— Sara Montenegro, o que pensa que está fazendo?Pega de surpresa pelo tom condenatório da pergunta, Sara afundou o corpo no banco.— Madri...— Pelos céus, Sara! Porque permitiu que esse homem passasse a tarde aqui? — Tatiana exigiu saber ao sentar do lado da afilhada. — O que Robson fazia aqui afinal?— Nada de mais, veio visitar um amigo e decidiu me ajudar a animar as crianças.— Esse amigo está internado em que quarto? — Ela perguntou desconfiada.— Não sei — confessou embaraçada, não querendo acrescentar que duvidou da veracidade e, por isso, não o questionou sobre o assunto. — O importante é que ele me ajudou a descontrair as cr