Acordei na segunda-feira atrasado e minha cabeça doía como se tivesse levado uma martelada. Ressaca, algo que nunca tive na vida.Tomei um banho, peguei minha mochila e não fui diretamente para a faculdade. Dirigi até a Biblioteca.Chegando lá, perguntei pelos jornais antigos e fui levado até uma sala enorme, com tantos jornais que imaginei que levaria anos para encontrar algo a respeito do acidente da minha mãe.- Os mais recentes estão separados por ano. E naquele lado temos as primeiras edições.- Vocês têm aqui... Todos os exemplares do Jornal de Laranjeiras?- Quase todos... Infelizmente faltam alguns. Naquela mesa grande – apontou, me mostrando – Tem aquelas pastas. Nelas estão recortes de notícias importantes, principalmente de exemplares que já não temos mais. Talvez encontre alguns que já não estejam em tão bom estado. Futuramente temos planos de digitalizar as notícias... Afinal, é a nossa história... A história de Laranjeiras.Respirei fundo e comecei a procurar nas pilhas
Assim que Patrick se juntou a nós, na sala, Sophie ordenou que a empregada trouxesse uma bebida.Apresentou o filho às convidadas, sentindo-se orgulhosa enquanto certamente planejava fazer Patrick e a filha de Ava se aproximarem, mesmo sabendo que ele era o meu marido.Se eu senti ciúme? Talvez sim... Pela forma como Angeline olhava para Patrick, sem disfarçar sua admiração, mesmo sabendo que éramos casados.Era uma descarada, tanto quanto minha sogra. E eu que cheguei a achar que poderia me enquadrar como uma vagabunda! Não, eu não era. Vagabunda era Angeline John.- Bebe alguma coisa, senhora? – A governanta perguntou-me enquanto entregava as bebidas aos demais convidados.- Lagoa azul, por favor. – Pedi, percebendo que Patrick me observava o tempo inteiro.- Não sei como preparar... – Ela sorriu, sem jeito.- Lagoa azul? Isto é coisa que se pede em casa noturna, Clara? – Sophie me recriminou – Quem sabe prova um Martini com azeitonas, como Angeline!- É uma bebida clássica e sofist
Patrick havia dito que a praia era segura e tinha toda uma infraestrutura para os condôminos. Eu não observei nada do que ele mencionou. Não tinha sequer lâmpadas.Levantei a perna, tentando fazer com que a lua iluminasse meu pé. O máximo que consegui foi ver um pedaço de pele solta, que retirei com força, gritando de dor.Observei o sangue na minha mão e descansei a perna numa das rochas, preocupada em como voltaria embora.Até que vi um homem vindo na minha direção, com uma prancha debaixo do braço. A silhueta era perfeita e não pude deixar de admirá-lo. Suspirei, imaginando que fosse um devaneio da minha cabeça.- Está tudo bem com você? Ouvi seu grito.Olhei na sua direção, percebendo que ele realmente estava ali.- De onde você surgiu? – Perguntei, confusa.Ele riu:- Eu estava no mar... Surfando.- E... Ouviu meu grito?- Sim... Foi bem alto. – Riu novamente.Embora a única claridade fosse praticamente uma lua a milhares de quilômetros de distância de nós, dava para ver o quanto
- Só vim ajudá-la. – Kelly ficou sem jeito.Patrick foi até Kelly e lhe estendeu a mão:- Sou Patrick Huxley... Grande fã seu.- Ah... Obrigado. – Kelly apertou a mão dele.- Patrick surfa. – Observei, dando pouca importância.- Na verdade, sou campeão nacional no meu país. E vou disputar o mundial aqui na Austrália. – Meu marido deixou claro.Kelly riu, de forma irônica:- Sinto muito, mas este mundial é meu, Patrick – deu um tapinha no ombro de meu marido – Creio que deva dar uma atenção especial à sua esposa.Todos olharam para o meu pé, cujo dedo estava sangrando, sem a pele que eu havia retirado, além de sujo e cheio de areia.- Comprei uma prancha inspirada na sua. – Patrick disse, ignorando por completo meu ferimento.- Isso é... Legal. Mas eu preciso ir agora, Patrick. Espero que cuide do ferimento de Clara.- Clara? – Patrick riu – O nome dela é “Ana Clara” para os desconhecidos. Clara é para os íntimos... O que não é o seu caso, não é mesmo?Enruguei a testa, incrédula com o
- Que seja... Eu casei e quero a minha esposa comigo. Se ela será um bibelô ou não, pouco me importa.Patrick saiu e bateu a porta com força, fazendo-me dar um salto, assustada, com o estrondo na parede.“É sobre isto... Não desista nunca.” Ouvi a voz de Renan ao meu ouvido.“Não precisamos ser como nossos pais. Podemos ser melhores do que eles”. Aquilo foi o que eu disse, tentando fazê-lo mudar de ideia quanto a deixar Flora por se achar pouco para ela.Patrick tinha razão. Pedro estava perdido para mim. Jamais me perdoaria. E eu precisava parar de me achar pouco para Patrick. Era hora de tomar meu lugar.Pedi a Deus e sonhei com aquele homem por anos da minha vida. E agora ele estava ali, sob o mesmo teto que eu, sendo que tínhamos uma aliança que nos tornava marido e mulher. Talvez fosse o momento de viver o impossível, o inimaginável... Que se apresentava para mim como mais possível do que voltar a ver Pedro Moratti.Tomei banho, pus um maiô de marca famosa, bonito e que deixava m
- Eu não disse? Ele está com ciúme! – Kelly riu, fazendo com que meus olhos não desviassem de sua boca perfeita, com dentes largos e bem cuidados, a pele bronzeada contrastando com a água perfeita daquele mar azul que mais parecia uma pintura.Enquanto o observava, uma onda forte me desequilibrou, fazendo-me cair e com a força ser levada. Tentei levantar, mas não conseguia. Acabei engolindo água salgada e fui pega por braços ágeis e fortes, que me prenderam junto ao corpo duro feito pedra.Imaginei ser Kelly. Mas era Patrick.- Está bem? – Ele perguntou enquanto retirava delicadamente os fios de cabelos que grudaram no meu rosto e com o outro braço permanecia me segurando com força contra seu corpo.- Clara? Você está bem? – Ouvi a voz de Kelly ao meu lado, preocupado.Logo houve uma pequena aglomeração de pessoas, certamente não preocupadas com meu estado após o quase afogamento na parte rasa do mar, mas querendo a atenção do campeão mundial de surf, que me fazia parecer ser alguém i
- Isso faz meses, Clara!- Ainda assim... Levou-a.- Fui gentil... Só isto.- Eu... Era sua esposa.- Ainda é.- Não deveria ter ido.- Você chegou acompanhada de um estranho.- Teoricamente não era um estranho... Já que Kelly Slater é figura pública.Patrick riu e abriu as pernas, fazendo nossos corpos se unirem ainda mais e minha boceta roçar na parte onde seu pau estava sob a calça.Enrubesci, mas não me movi. Nossos olhos não se afastavam e embora eu quisesse sair dali, o corpo não obedecia.- Você é bem engraçadinha... – A mão dele alisou minha bochecha de forma carinhosa.- Não acredito que não tenha dormido com ela.- Não dormi com ela, Clara. A levei embora porque você apareceu com Kelly. Além do mais, já que é minha esposa, porque sumiu e deixou-me sozinho com a mulher?- Não o deixei sozinho. Sua mãe e a mãe dela estavam junto.- Devia imaginar que mais cedo ou mais tarde elas sairiam... Principalmente sabendo que você deixou o caminho livre.- Sou... Sua esposa... No papel.
A praia que Patrick escolheu tinha ondas grandes e fortes. E não ficava próxima do Paradise Beach. Gold Coast tinha praias maravilhosas. E eu me apaixonava por cada uma que conhecia.- Esta prancha é antiga. – Patrick observou.- Eu... Lembro dela. – Sorri, enquanto a retirava do jipe e Patrick pegava a sua.- Acho que comprei ela em 1995.- Também acho! – Ri.Ele me olhou e sorriu enquanto nos dirigíamos ao mar:- Eu... Acho que gostava das cartas, embora tivesse um pouco de medo.Gargalhei, fazendo careta:- Não sei do que você está falando.- Ah, sabe sim!- O que fez com elas? - Não vou dizer... Afinal, não foi você que escreveu! – Provocou, me olhando de canto.Sorri e não confirmei, embora estivesse curiosa.Fomos entrando no mar e as ondas eram bem fortes. Quando começaram a ultrapassar a minha altura, fazendo com que eu tivesse que mergulhar dentro delas, fiquei com medo.- O primeiro passo é passarmos desta área da rebentação.- Não deveria ser o contrário? – questionei