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Capítulo 3 - Ponto de Vista de Sarah

Acordei com o coração disparado, o corpo latejando em cada centímetro. Cada fibra do meu ser parecia gritar em dor, mas não sabia dizer se a dor física superava o peso esmagador no peito.

Ao abrir os olhos, vi rastros de sangue pelo chão. Eles começavam na cama e terminavam onde eu estava caída. O sangue — seco e fresco — era um lembrete cruel do que eu havia suportado. A cabeça latejava, e o ar parecia denso, carregado de desespero.

— O que restou de mim depois disso? — perguntei a mim mesma, tentando encontrar uma fagulha de força dentro do caos.

O menor movimento fazia a dor aumentar. Meu corpo inteiro parecia prestes a ceder, mas a mente estava em frenético alerta, dividida entre a necessidade de sobreviver e a tentação de desistir.

— Se nem mesmo minha família é capaz de me amar, quem mais poderia? Talvez essa dor seja tudo o que me resta agora.

Com um suspiro derrotado, apoiei-me nos braços trêmulos e me obriguei a levantar. Cada passo era como um golpe contra a exaustão, mas eu sabia que ficar ali significava aceitar o destino que me fora imposto. E isso, eu não podia permitir.

Enquanto me movia pelo quarto, percebi o cenário devastador ao meu redor. O vestido rasgado, as roupas íntimas destruídas, e os respingos de sangue pintavam uma cena que me fazia estremecer.

— Eu preciso sair daqui... agora.

Cambaleando, alcancei o banheiro e improvisei um curativo com uma toalha pequena para conter o sangramento. Cada gesto era acompanhado por uma pontada de dor que ameaçava me derrubar, mas eu me recusava a ceder. Minhas pernas tremiam, e o desespero crescia a cada segundo.

— Nem sei se quero viver... mas essa não é uma decisão para agora. Primeiro, preciso sair daqui.

Revirei o armário do quarto, procurando algo para vestir. Entre as roupas masculinas, encontrei uma camisa jeans larga e um agasalho que me serviram como um vestido improvisado.

Rasguei o tecido do vestido destruído para improvisar um curativo e conter o fluxo de sangue, já que minhas roupas íntimas estavam completamente destruídas.

Ignorando as memórias aterradoras da noite anterior. Rasguei o tecido ainda mais, amarrando-o firmemente para segurar a toalha e reforçar o curativo, que estancava a hemorragia.

— "Ele me trouxe para o quarto dele? Será que essa brutalidade é algo normal para ele"?

— “A ideia me enchia de horror”.

Ao descer as escadas, cada degrau parecia um desafio insuperável. Mas o que me impulsionava era a certeza de que precisava escapar daquela casa. Minha mente não parava de ecoar as memórias traumáticas da noite anterior, cada uma mais cruel que a outra.

— "Eu não posso parar... Não estou com documentos, nem celular. Preciso encontrar uma saída" — pensei, sentindo a solidão me envolver como um manto pesado.

A sensação de estar abandonada era esmagadora. Eu me sentia como uma sombra perdida, sem apoio da família e sem saber como prosseguir. Cada passo era uma luta contra a desesperança.

A violência que havia sofrido ecoava em minha mente; cada lembrança era uma facada que me lembrava da fragilidade da minha situação. O medo me paralisava, e a ideia de não ter ninguém em quem confiar tornava tudo ainda mais insuportável.

Cada passo que eu dava parecia um esforço sobre-humano. Eu precisava encontrar uma saída antes que a escuridão me engolisse completamente.

A angústia de não entender por que tudo isso havia acontecido com minha vida me consumia.

A única certeza que eu tinha era a necessidade urgente de escapar daquele lugar e encontrar um caminho de volta para mim mesma.

A casa era grandiosa, mas cada detalhe exalava uma frieza impessoal. Ao chegar à cozinha, abri a geladeira e peguei uma garrafa de água, bebendo com avidez.

No entanto, ao deixar o copo escorregar das mãos, o som dos cacos se espalhando pelo chão foi estranhamente libertador.

Com um ímpeto de desespero, comecei a vasculhar os armários, quebrando objetos sem pensar enquanto buscava algo útil. Pisei em alguns cacos, sentindo a dor aguda me ferir ainda mais, mas isso parecia insignificante diante da necessidade de escapar daquela prisão.

Foi então que encontrei uma maleta médica, e meu coração disparou.

A revelação me atingiu como um soco no estômago.

— Ele é médico! — pensei, enquanto a ironia da situação se instalava em minha mente como um veneno.

Como alguém com tal conhecimento poderia ser capaz de infligir tanta dor?

Ao abri-la, meus olhos pousaram em uma ampola de ácido aminocapróico, um remédio usado para conter hemorragias.

— Vou usar — pensei.

Com mãos trêmulas, apliquei o medicamento com precisão, agradecendo mentalmente pelas lições básicas de medicina que um dia aprendi. O alívio foi imediato, mas eu sabia que era apenas temporário.

— O suficiente para sair daqui — murmurei para mim mesma.

Tentei a porta da frente, mas estava trancada. As janelas tinham grades, e a frustração ameaçava me consumir. Subi para o quarto novamente, peguei lençóis do armário e improvisei uma corda. Com dor e exaustão, amarrei tudo com firmeza e desci pela lateral da casa. Quando meus pés tocaram o chão do jardim, senti uma fagulha de esperança.

O jardim era deslumbrante, com flores vibrantes que contrastavam com a escuridão que me envolvia. Ignorei a beleza ao meu redor e caminhei até a garagem. Entre os carros luxuosos e a moto estacionada, escolhi a última.

Liguei o motor com habilidade — um vislumbre de esperança iluminou minha mente enquanto acelerava pela estrada.

O painel de controle do portão, para minha surpresa, abriu na primeira tentativa, estava destravado.

— “Você realmente não é tão esperto assim, hein”?

Cada quilômetro que percorria era uma vitória, mas a dor de cada ferida pulsava como uma lembrança cruel do que eu estava deixando para trás. Quando um carro em alta velocidade quase me atingiu, fui forçada a parar. O tremor do meu corpo denunciava o limite da minha resistência.

— Seguir em frente. Sobreviver. Isso é tudo o que importa agora.

Acelerei novamente, determinada a não olhar para trás. Deixei para trás não apenas uma casa, mas um pesadelo que ameaçava consumir minha alma.

Enquanto dirigia, imagens fragmentadas invadiram minha mente. O sangue no chão, os ecos de dor e a presença esmagadora dele. Mas, em meio à confusão, surgiu uma ideia perturbadora: eu mal reconhecia quem eu era agora.

Olhei rapidamente para o retrovisor e vi meus olhos cansados, o rosto marcado pela dor e o semblante endurecido. A mulher que encarava de volta não era mais a Sarah que eu conhecia. Ela era uma sósia, moldada pela violência e pela necessidade de sobreviver.

— Quem sou eu agora? — perguntei a mim mesma. A resposta parecia estar além do alcance, enterrada sob camadas de traumas e cicatrizes.

Enquanto acelerava em direção ao desconhecido, sabia que não estava apenas fugindo dele — estava fugindo da mulher que eu temia me tornar. E, ao mesmo tempo, correndo para reencontrar a mulher que eu um dia fui.

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