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Capítulo 7 - Laços Envenenados

Dias atrás, Anna deslizava distraidamente pelas redes sociais quando seus olhos captaram uma imagem que a fez congelar. Era uma foto de um evento beneficente promovido pelo Hospital Lewantys. Ao fundo, quase imperceptível, estava Sarah. Ela parecia diferente – pálida, frágil, mas sem dúvidas, era ela.

— Achei você... — murmurou Anna, apertando o telefone com força.

A legenda informava que o evento beneficiava a ala de voluntariado do hospital, destinada a pessoas sem recursos. Um sorriso frio curvou os lábios de Anna.

— Vulnerável. Sozinha. Perfeita para o que eu preciso.

As lembranças invadiram Anna como um turbilhão, trazendo à tona sentimentos enterrados.

Nos primeiros anos, ela adorava Sarah, chamando-a de "minha bonequinha" enquanto penteava seus cabelos ruivos e criava histórias para entretê-la.

Anna tinha sete anos quando seu pai trouxe Sarah, ainda bebê, para casa. Apesar da diferença de idade, elas foram inseparáveis por um tempo, vivendo aventuras em um mundo que criaram juntas.

Christine, sua mãe, mantinha uma distância elegante, cumprindo obrigações sociais sem demonstrar afeto genuíno.

Com o tempo, a dinâmica mudou; conforme Sarah crescia, suas habilidades naturais começaram a chamar atenção. Ela não era apenas bonita — era brilhante.

Aos quatro anos, aprendeu a ler sozinha e, aos seis, resolvia problemas matemáticos que seus colegas mal compreendiam. Os elogios vinham de todos os lados, enquanto Anna observava à sombra desse brilho.

Inicialmente orgulhosa da irmã, logo o orgulho se transformou em peso.

O ressentimento crescia como uma sombra densa e implacável.

O que antes era amor fraternal transformou-se em uma mistura tóxica de inveja e amargura. Cada conquista de Sarah era, aos olhos de Anna, um lembrete doloroso de suas próprias falhas.

Anna sussurrou para si mesma: — eu fiz de tudo para ser a única e agora ela vai me roubar tudo de novo...

A possibilidade de Sarah reaparecer e ameaçar seu plano de conquistar Thomas fazia seu coração disparar. E se ela fosse atrás de Thomas? Ele descobriria a troca das noivas.

O passado moldou Anna em alguém incapaz de lidar com a ideia de ser deixada para trás; para ela, Sarah não era apenas uma rival, mas um espelho cruel do que nunca poderia ser.

Anna fechou os olhos por um instante, tentando afastar a angústia crescente em seu peito. Ao reabri-los, seu olhar endureceu.

— Não desta vez — murmurou, apertando o telefone com força.

— Desta vez, eu vou fazer você desaparecer de vez.

Anna recordou-se de um comentário vago de seu pai sobre Sarah ter assumido seu lugar na cerimônia de casamento. Na época, porém, imersa em seu próprio universo de interesses, não se deteve nos detalhes.

Lembrou-se também do motivo de sua ausência na cerimônia:

— “Thomas a havia ameaçado, e ela não estava disposta a encarar sua fúria.”

— “Se ela foi parar naquele hospital, algo aconteceu” — pensou Anna, estreitando os olhos.

— “E, se eu jogar as cartas certas, posso transformar isso em uma oportunidade.”

Anna olhou novamente para a foto, ampliando a imagem com os dedos. O olhar vazio e cansado de Sarah dizia tudo: ela estava destruída, uma presa fácil para quem soubesse se aproximar com o veneno certo.

Na manhã seguinte, Anna chegou ao hospital vestindo um traje impecável que destacava suas curvas e exalava um perfume caro. Cada detalhe havia sido calculado para inspirar confiança e disfarçar suas verdadeiras intenções.

Assim que atravessou a recepção, os olhares curiosos se voltaram para ela. Anna adorava isso. O poder de entrar em um ambiente e dominar todas as atenções era uma sensação viciante.

No setor de voluntariado, ela abordou a enfermeira-chefe com um sorriso caloroso.

— Estou aqui para visitar minha irmã, Sarah Campbell — anunciou com a voz suave e encantadora.

A enfermeira hesitou.

— Não temos ninguém registrado com esse nome aqui.

Anna retirou uma foto impressa da publicação que vira

— Aqui está. Ela está na ala de voluntários, certo? —

A enfermeira olhou para a imagem e reconheceu de imediato.

— Ah, sim. Essa jovem foi trazida em estado crítico. Está no quarto 172. Mas foi registrada como Senhorita NoName, já que ninguém apareceu para identificá-la.

Anna suspirou teatralmente, uma atriz em sua melhor performance.

— Sarah sempre foi orgulhosa. Nunca pediria ajuda, mas sou a única família que ela tem agora. Por favor, preciso vê-la.

A enfermeira assentiu e a levou ao quarto, embora ainda houvesse um leve incômodo em seu olhar.

O cheiro estéril do quarto de hospital foi a primeira coisa que atingiu Anna ao entrar. Sarah estava deitada na cama, pálida e imóvel, mas seus olhos ainda tinham um brilho de alerta e desconfiança.

Ao ver Anna cruzar a porta, o semblante de Sarah se endureceu.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou Sarah, a voz fraca, mas firme.

Anna fechou a porta com um clique suave e inclinou levemente a cabeça, em uma falsa demonstração de preocupação.

— Eu deveria perguntar o mesmo — respondeu Anna com falsa doçura.

— Como chegou a esse ponto? O que aconteceu com você?

Sarah desviou o olhar para o teto, como se não conseguisse suportar encará-la.

— Não é da sua conta.

— Sarah, preste muita atenção no que vou te dizer — declarou Anna, com um tom quase maternal.

— Você é minha irmã. E, apesar de tudo, eu me importo com você...

Sarah riu amargamente, um som rouco que contrastava com a atmosfera silenciosa do quarto.

— Você se importa? Isso é novidade.

Anna ignorou a provocação.

— Escute, Sarah — disse, adotando um tom quase maternal.

— Conversei com a equipe médica. Eles disseram que não podem mantê-la aqui por muito mais tempo. O hospital precisa liberar a vaga para outros pacientes.

Sarah franziu a testa, confusa e desconfiada.

— Isso não faz sentido...

— Infelizmente, é assim que funciona — continuou Anna com suavidade ensaiada.

— Mas eu tenho uma solução. Você pode vir comigo. Levo você para a nossa casa, onde terá tempo para se recuperar.

— Nossos pais foram para o exterior cuidar dos negócios da família, sem previsão de retorno.

Sarah mordeu o lábio inferior, sentindo o corpo tenso. Uma parte dela queria gritar que nunca confiaria em Anna, mas a exaustão era tão avassaladora que resistir parecia impossível.

— Tudo bem — disse finalmente, com um suspiro resignado.

— Mas só até eu conseguir me recuperar.

Enquanto Anna se afastava para providenciar os documentos de alta, Sarah ficou sozinha com seus pensamentos turbulentos. Sua memória, que retornara apenas há alguns dias, trazia consigo uma avalanche de dúvidas e inquietações.

Ela sabia, com uma certeza dolorosa, que nem seus pais nem Anna realmente se importavam com ela. Meses de internação se passaram e ninguém a procurou, uma única visita ou demonstração de preocupação por parte de sua família.

Eles não se preocuparam com o desaparecimento dela?

Agora, fragmentos dos acontecimentos traumáticos que a levaram ao hospital voltavam à tona, como pedaços de um quebra-cabeça inquietante. Cada lembrança era uma ferida aberta, e a solidão parecia pesar ainda mais em seu coração.

A mente de Sarah fervilhava.

— Por que agora? Por que ela decidiu me ajudar?

A intuição lhe dizia que algo estava errado, mas a necessidade de escapar daquele hospital e reconstruir sua vida parecia mais urgente do que as suspeitas.

Enquanto isso, Anna se afastava com passos decididos, um sorriso triunfante se formando em seus lábios.

— Ela aceitou... Exatamente como eu planejei — pensou.

Anna já podia visualizar o futuro onde Sarah não existiria mais em seu caminho e o bebê que ela carregava se tornaria a chave para sua segurança e posição ao lado de Thomas.

— É uma jogada perfeita — murmurou para si mesma.

— E ninguém pode me deter agora.

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