Dias atrás, Anna deslizava distraidamente pelas redes sociais quando seus olhos captaram uma imagem que a fez congelar. Era uma foto de um evento beneficente promovido pelo Hospital Lewantys. Ao fundo, quase imperceptível, estava Sarah. Ela parecia diferente – pálida, frágil, mas sem dúvidas, era ela.
— Achei você... — murmurou Anna, apertando o telefone com força. A legenda informava que o evento beneficiava a ala de voluntariado do hospital, destinada a pessoas sem recursos. Um sorriso frio curvou os lábios de Anna. — Vulnerável. Sozinha. Perfeita para o que eu preciso. As lembranças invadiram Anna como um turbilhão, trazendo à tona sentimentos enterrados. Nos primeiros anos, ela adorava Sarah, chamando-a de "minha bonequinha" enquanto penteava seus cabelos ruivos e criava histórias para entretê-la. Anna tinha sete anos quando seu pai trouxe Sarah, ainda bebê, para casa. Apesar da diferença de idade, elas foram inseparáveis por um tempo, vivendo aventuras em um mundo que criaram juntas. Christine, sua mãe, mantinha uma distância elegante, cumprindo obrigações sociais sem demonstrar afeto genuíno. Com o tempo, a dinâmica mudou; conforme Sarah crescia, suas habilidades naturais começaram a chamar atenção. Ela não era apenas bonita — era brilhante. Aos quatro anos, aprendeu a ler sozinha e, aos seis, resolvia problemas matemáticos que seus colegas mal compreendiam. Os elogios vinham de todos os lados, enquanto Anna observava à sombra desse brilho. Inicialmente orgulhosa da irmã, logo o orgulho se transformou em peso. O ressentimento crescia como uma sombra densa e implacável. O que antes era amor fraternal transformou-se em uma mistura tóxica de inveja e amargura. Cada conquista de Sarah era, aos olhos de Anna, um lembrete doloroso de suas próprias falhas. Anna sussurrou para si mesma: — eu fiz de tudo para ser a única e agora ela vai me roubar tudo de novo... A possibilidade de Sarah reaparecer e ameaçar seu plano de conquistar Thomas fazia seu coração disparar. E se ela fosse atrás de Thomas? Ele descobriria a troca das noivas. O passado moldou Anna em alguém incapaz de lidar com a ideia de ser deixada para trás; para ela, Sarah não era apenas uma rival, mas um espelho cruel do que nunca poderia ser. Anna fechou os olhos por um instante, tentando afastar a angústia crescente em seu peito. Ao reabri-los, seu olhar endureceu. — Não desta vez — murmurou, apertando o telefone com força. — Desta vez, eu vou fazer você desaparecer de vez. Anna recordou-se de um comentário vago de seu pai sobre Sarah ter assumido seu lugar na cerimônia de casamento. Na época, porém, imersa em seu próprio universo de interesses, não se deteve nos detalhes. Lembrou-se também do motivo de sua ausência na cerimônia: — “Thomas a havia ameaçado, e ela não estava disposta a encarar sua fúria.” — “Se ela foi parar naquele hospital, algo aconteceu” — pensou Anna, estreitando os olhos. — “E, se eu jogar as cartas certas, posso transformar isso em uma oportunidade.” Anna olhou novamente para a foto, ampliando a imagem com os dedos. O olhar vazio e cansado de Sarah dizia tudo: ela estava destruída, uma presa fácil para quem soubesse se aproximar com o veneno certo. Na manhã seguinte, Anna chegou ao hospital vestindo um traje impecável que destacava suas curvas e exalava um perfume caro. Cada detalhe havia sido calculado para inspirar confiança e disfarçar suas verdadeiras intenções. Assim que atravessou a recepção, os olhares curiosos se voltaram para ela. Anna adorava isso. O poder de entrar em um ambiente e dominar todas as atenções era uma sensação viciante. No setor de voluntariado, ela abordou a enfermeira-chefe com um sorriso caloroso. — Estou aqui para visitar minha irmã, Sarah Campbell — anunciou com a voz suave e encantadora. A enfermeira hesitou. — Não temos ninguém registrado com esse nome aqui. Anna retirou uma foto impressa da publicação que vira — Aqui está. Ela está na ala de voluntários, certo? — A enfermeira olhou para a imagem e reconheceu de imediato. — Ah, sim. Essa jovem foi trazida em estado crítico. Está no quarto 172. Mas foi registrada como Senhorita NoName, já que ninguém apareceu para identificá-la. Anna suspirou teatralmente, uma atriz em sua melhor performance. — Sarah sempre foi orgulhosa. Nunca pediria ajuda, mas sou a única família que ela tem agora. Por favor, preciso vê-la. A enfermeira assentiu e a levou ao quarto, embora ainda houvesse um leve incômodo em seu olhar. O cheiro estéril do quarto de hospital foi a primeira coisa que atingiu Anna ao entrar. Sarah estava deitada na cama, pálida e imóvel, mas seus olhos ainda tinham um brilho de alerta e desconfiança. Ao ver Anna cruzar a porta, o semblante de Sarah se endureceu. — O que você está fazendo aqui? — perguntou Sarah, a voz fraca, mas firme. Anna fechou a porta com um clique suave e inclinou levemente a cabeça, em uma falsa demonstração de preocupação. — Eu deveria perguntar o mesmo — respondeu Anna com falsa doçura. — Como chegou a esse ponto? O que aconteceu com você? Sarah desviou o olhar para o teto, como se não conseguisse suportar encará-la. — Não é da sua conta. — Sarah, preste muita atenção no que vou te dizer — declarou Anna, com um tom quase maternal. — Você é minha irmã. E, apesar de tudo, eu me importo com você... Sarah riu amargamente, um som rouco que contrastava com a atmosfera silenciosa do quarto. — Você se importa? Isso é novidade. Anna ignorou a provocação. — Escute, Sarah — disse, adotando um tom quase maternal. — Conversei com a equipe médica. Eles disseram que não podem mantê-la aqui por muito mais tempo. O hospital precisa liberar a vaga para outros pacientes. Sarah franziu a testa, confusa e desconfiada. — Isso não faz sentido... — Infelizmente, é assim que funciona — continuou Anna com suavidade ensaiada. — Mas eu tenho uma solução. Você pode vir comigo. Levo você para a nossa casa, onde terá tempo para se recuperar. — Nossos pais foram para o exterior cuidar dos negócios da família, sem previsão de retorno. Sarah mordeu o lábio inferior, sentindo o corpo tenso. Uma parte dela queria gritar que nunca confiaria em Anna, mas a exaustão era tão avassaladora que resistir parecia impossível. — Tudo bem — disse finalmente, com um suspiro resignado. — Mas só até eu conseguir me recuperar. Enquanto Anna se afastava para providenciar os documentos de alta, Sarah ficou sozinha com seus pensamentos turbulentos. Sua memória, que retornara apenas há alguns dias, trazia consigo uma avalanche de dúvidas e inquietações. Ela sabia, com uma certeza dolorosa, que nem seus pais nem Anna realmente se importavam com ela. Meses de internação se passaram e ninguém a procurou, uma única visita ou demonstração de preocupação por parte de sua família. Eles não se preocuparam com o desaparecimento dela? Agora, fragmentos dos acontecimentos traumáticos que a levaram ao hospital voltavam à tona, como pedaços de um quebra-cabeça inquietante. Cada lembrança era uma ferida aberta, e a solidão parecia pesar ainda mais em seu coração. A mente de Sarah fervilhava. — Por que agora? Por que ela decidiu me ajudar? A intuição lhe dizia que algo estava errado, mas a necessidade de escapar daquele hospital e reconstruir sua vida parecia mais urgente do que as suspeitas. Enquanto isso, Anna se afastava com passos decididos, um sorriso triunfante se formando em seus lábios. — Ela aceitou... Exatamente como eu planejei — pensou. Anna já podia visualizar o futuro onde Sarah não existiria mais em seu caminho e o bebê que ela carregava se tornaria a chave para sua segurança e posição ao lado de Thomas. — É uma jogada perfeita — murmurou para si mesma. — E ninguém pode me deter agora.Anna agilizou a alta de Sarah com rapidez, usando sua influência e uma generosa "doação" para o hospital. O Dr. Arthur, que acompanhava o caso com dedicação, observava tudo com desconfiança, embora não tivesse provas concretas para impedir sua saída.— Tem certeza de que quer ir com ela? — perguntou Arthur, a voz carregada de preocupação.Sarah tentou sorrir, mas seu rosto exausto traiu qualquer tentativa de tranquilizar Arthur.— Vou ficar bem. Ela é minha irmã — murmurou Sarah, desviando o olhar para evitar o peso do olhar atento de Arthur.Arthur assentiu com relutância, mas seus olhos refletiam um desconforto crescente.— Se precisar de ajuda, volte. Estaremos aqui. E quanto à ultrassonografia de hoje? Tem certeza de que não quer esperar?Sarah fez um leve aceno e murmurou:— Eu volto outro dia...Mas, no fundo, ela sabia que as coisas não seriam tão simples.O carro deslizou pela estrada deserta. Anna mantinha as mãos firmes no volante, mas sua mente era um redemoinho de pensamen
Meses se passaram, e, finalmente, chegou o aguardado dia da posse de Thomas Lewantys como Diretor-Chefe do renomado hospital fundado por sua família. A instituição, um marco da medicina internacional, estava prestes a iniciar uma nova era.Os corredores do hospital fervilhavam de excitação. O dia era especial, e até mesmo os profissionais mais sisudos pareciam contagiados pela atmosfera de celebração.— Dr. Arthur, hoje é a posse do novo Diretor-Chefe. O senhor vai comparecer? — perguntou uma enfermeira, organizando papéis no balcão da ala voluntária.Arthur ergueu os olhos do prontuário que analisava e sorriu brevemente. Se fosse qualquer outro evento social, ele teria recusado sem hesitar. Mas Thomas não era apenas um amigo; era um irmão de coração.— Claro que vou. Thomas merece esse momento. Trabalhou duro para chegar até aqui, enfrentando pressões que poucos entenderiam.O comentário de Arthur era uma verdade silenciosa. Thomas não havia conquistado a posição apenas pelo sobrenom
Nos primeiros dias, Sarah vagou pela casa de campo como uma sombra, explorando cada canto em busca de algo que lhe devolvesse a sensação de controle. As paredes em tons claros e a decoração elegante eram incapazes de mascarar o peso sufocante do confinamento.Ela passava longos minutos diante das janelas gradeadas, observando o mundo lá fora. Sonhava com o vento acariciando seu rosto e com a sensação de liberdade que agora parecia um sonho distante.— Eu costumava amar jardins — murmurou, passando a mão na barriga com delicadeza. — Um dia, nós dois vamos correr juntos por um...Com o passar dos dias, a solidão deu lugar a lembranças que ardiam como feridas abertas. As risadas compartilhadas com Anna quando na infância agora eram apenas ecos distantes de um tempo que parecia pertencer a outra vida.Sarah se lembrou de quando Anna era sua heroína, sua protetora contra os pesadelos e os temores infantis, antes de se transformar nessa figura fria e calculista.O silêncio opressivo da casa
Anna ajustava cuidadosamente o ventre falso em frente ao espelho, inclinando a cabeça para verificar cada detalhe. O tecido esticado do vestido destacava a barriga de maneira convincente, e o reflexo que ela via era de perfeição calculada.Cada linha de expressão, cada gesto, estava ensaiado até o último detalhe.Ela sabia que não havia espaço para erros. Anna havia passado anos aperfeiçoando a arte da manipulação, mas sabia que Thomas não era um alvo fácil. Ele desconfiava de cada gesto dela, e isso tornava o jogo mais perigoso.— Thomas sempre foi desconfiado... — murmurou, alisando os cabelos impecavelmente penteados. — Mas todo mundo tem um ponto fraco. Ele também terá.— Eu só preciso que ele acredite... pelo menos por um tempo — murmurou, respirando fundo antes de sair.Um suspiro longo escapou de seus lábios. Anna sentiu o peso da situação, mas a ambição dentro dela era maior do que qualquer dúvida. Desde que começara a planejar essa farsa, não deixara nada ao acaso. Seus passo
Enquanto Anna deixava a sala, Thomas apertou as têmporas com os dedos, tentando organizar os pensamentos.Thomas permanecia na sala de reuniões, os olhos fixos nos papéis à sua frente, mas incapaz de se concentrar. Algo no comportamento de Anna o incomodava mais do que de costume. Ele sabia que ela era manipuladora, mas havia uma insistência nela que parecia diferente dessa vez.— Ela é uma mentirosa... mas, e se...? — O pensamento o atormentava. Seu histórico com Anna era repleto de mentiras e manipulações; ele sabia que havia algo obscuro naquela história.— Preciso ser cauteloso... — murmurou. — Se for verdade, eu vou lidar com isso. Mas se for mentira... Fechou os olhos por um momento, tentando afastar a dúvida. Independentemente da verdade, sabia que precisava estar preparado para o pior.Thomas se recostou na cadeira, os olhos fixos nos papéis à sua frente. Ele sabia que Anna não desistiria tão fácil.— Eu não vou ser manipulado por ela nunca mais.Enquanto Thomas retornava ao t
Anna observava seu reflexo no espelho com um sorriso malicioso. Vestida com um roupão de seda cintilante, seus olhos brilhavam com uma mistura de ambição e arrogância. A gravidez falsa que proclamava viver era a chave para o futuro que sempre desejou.— Thomas Lewantys... — murmurou, ajeitando os cabelos com delicadeza. — Em breve, todos me conhecerão como "Sra. Lewantys". O nome tem um peso, um poder... e ele será meu. Nada pode dar errado agora.Anna sempre se viu como uma estrela destinada ao brilho, mas frequentemente ofuscada. Sete anos mais velha que Sarah, cresceu ouvindo elogios que, com o tempo, perderam a intensidade, deixando apenas expectativas frustradas. Quando decidiu cursar medicina, não foi pela paixão, mas pela promessa de status que a carreira oferecia.Durante a faculdade, seu desempenho foi mediano, mas Anna compensava suas limitações acadêmicas com charme e manipulação. Aproveitava cada oportunidade para atrair as pessoas certas, mantendo-se relevante, mesmo sem
Embora se sentisse invencível, Anna sabia que Sarah representava uma ameaça silenciosa. Não tinha certeza se a irmã sabia de seus planos, mas sua simples existência era um risco.— Eu a deixei isolada naquela casa de campo por uma razão, — refletiu. — Ela está frágil e sem forças. Não vai escapar até que eu decida o que fazer.Porém, algo a incomodava. Durante sua última visita, notou algo diferente em Sarah. Apesar da aparência debilitada, havia um brilho nos olhos dela, uma determinação inquietante.— Ela não pode estar planejando algo... pode?Para garantir que seus planos continuassem intactos, Anna decidiu intensificar o isolamento da irmã. Na próxima visita, encontrou Sarah sentada na janela contemplando o jardim com os olhos fixos no horizonte.— Você deveria descansar mais, Sarah, — disse Anna, em um tom casual, mas cheio de subtexto. — O bebê precisa de você saudável.Sarah ergueu o olhar lentamente, um sorriso leve, mas desafiador, brincando em seus lábios.— Não se preocupe
A infância de Sarah, para qualquer observador externo, parecia perfeita. Cresceu em uma família rica, com pais influentes e uma irmã mais velha que, à primeira vista, parecia adorá-la. No entanto, por trás das portas fechadas, sua vida era marcada por amor condicional, expectativas esmagadoras e uma solidão crescente que ela não conseguia explicar.Desde pequena, Sarah era a alegria da casa. Seus cabelos ruivos brilhantes e olhos verdes vivazes encantavam todos ao seu redor. Anna, sua irmã mais velha, a tratava como uma boneca viva.— “Minha bonequinha” — dizia Anna enquanto penteava os cabelos volumosos de Sarah e organizava brincadeiras e histórias. Mas essa adoração inicial começou a se transformar em algo mais sombrio à medida que Sarah crescia.Conforme suas habilidades naturais começaram a chamar atenção, os professores a elogiavam constantemente por sua inteligência excepcional. Ela aprendeu a ler sozinha antes dos quatro anos e resolvia problemas matemáticos avançados aos seis