Nos primeiros dias, Sarah vagou pela casa de campo como uma sombra, explorando cada canto em busca de algo que lhe devolvesse a sensação de controle. As paredes em tons claros e a decoração elegante eram incapazes de mascarar o peso sufocante do confinamento.Ela passava longos minutos diante das janelas gradeadas, observando o mundo lá fora. Sonhava com o vento acariciando seu rosto e com a sensação de liberdade que agora parecia um sonho distante.— Eu costumava amar jardins — murmurou, passando a mão na barriga com delicadeza. — Um dia, nós dois vamos correr juntos por um...Com o passar dos dias, a solidão deu lugar a lembranças que ardiam como feridas abertas. As risadas compartilhadas com Anna quando na infância agora eram apenas ecos distantes de um tempo que parecia pertencer a outra vida.Sarah se lembrou de quando Anna era sua heroína, sua protetora contra os pesadelos e os temores infantis, antes de se transformar nessa figura fria e calculista.O silêncio opressivo da casa
Anna ajustava cuidadosamente o ventre falso em frente ao espelho, inclinando a cabeça para verificar cada detalhe. O tecido esticado do vestido destacava a barriga de maneira convincente, e o reflexo que ela via era de perfeição calculada.Cada linha de expressão, cada gesto, estava ensaiado até o último detalhe.Ela sabia que não havia espaço para erros. Anna havia passado anos aperfeiçoando a arte da manipulação, mas sabia que Thomas não era um alvo fácil. Ele desconfiava de cada gesto dela, e isso tornava o jogo mais perigoso.— Thomas sempre foi desconfiado... — murmurou, alisando os cabelos impecavelmente penteados. — Mas todo mundo tem um ponto fraco. Ele também terá.— Eu só preciso que ele acredite... pelo menos por um tempo — murmurou, respirando fundo antes de sair.Um suspiro longo escapou de seus lábios. Anna sentiu o peso da situação, mas a ambição dentro dela era maior do que qualquer dúvida. Desde que começara a planejar essa farsa, não deixara nada ao acaso. Seus passo
Enquanto Anna deixava a sala, Thomas apertou as têmporas com os dedos, tentando organizar os pensamentos.Thomas permanecia na sala de reuniões, os olhos fixos nos papéis à sua frente, mas incapaz de se concentrar. Algo no comportamento de Anna o incomodava mais do que de costume. Ele sabia que ela era manipuladora, mas havia uma insistência nela que parecia diferente dessa vez.— Ela é uma mentirosa... mas, e se...? — O pensamento o atormentava. Seu histórico com Anna era repleto de mentiras e manipulações; ele sabia que havia algo obscuro naquela história.— Preciso ser cauteloso... — murmurou. — Se for verdade, eu vou lidar com isso. Mas se for mentira... Fechou os olhos por um momento, tentando afastar a dúvida. Independentemente da verdade, sabia que precisava estar preparado para o pior.Thomas se recostou na cadeira, os olhos fixos nos papéis à sua frente. Ele sabia que Anna não desistiria tão fácil.— Eu não vou ser manipulado por ela nunca mais.Enquanto Thomas retornava ao t
Anna observava seu reflexo no espelho com um sorriso malicioso. Vestida com um roupão de seda cintilante, seus olhos brilhavam com uma mistura de ambição e arrogância. A gravidez falsa que proclamava viver era a chave para o futuro que sempre desejou.— Thomas Lewantys... — murmurou, ajeitando os cabelos com delicadeza. — Em breve, todos me conhecerão como "Sra. Lewantys". O nome tem um peso, um poder... e ele será meu. Nada pode dar errado agora.Anna sempre se viu como uma estrela destinada ao brilho, mas frequentemente ofuscada. Sete anos mais velha que Sarah, cresceu ouvindo elogios que, com o tempo, perderam a intensidade, deixando apenas expectativas frustradas. Quando decidiu cursar medicina, não foi pela paixão, mas pela promessa de status que a carreira oferecia.Durante a faculdade, seu desempenho foi mediano, mas Anna compensava suas limitações acadêmicas com charme e manipulação. Aproveitava cada oportunidade para atrair as pessoas certas, mantendo-se relevante, mesmo sem
Embora se sentisse invencível, Anna sabia que Sarah representava uma ameaça silenciosa. Não tinha certeza se a irmã sabia de seus planos, mas sua simples existência era um risco.— Eu a deixei isolada naquela casa de campo por uma razão, — refletiu. — Ela está frágil e sem forças. Não vai escapar até que eu decida o que fazer.Porém, algo a incomodava. Durante sua última visita, notou algo diferente em Sarah. Apesar da aparência debilitada, havia um brilho nos olhos dela, uma determinação inquietante.— Ela não pode estar planejando algo... pode?Para garantir que seus planos continuassem intactos, Anna decidiu intensificar o isolamento da irmã. Na próxima visita, encontrou Sarah sentada na janela contemplando o jardim com os olhos fixos no horizonte.— Você deveria descansar mais, Sarah, — disse Anna, em um tom casual, mas cheio de subtexto. — O bebê precisa de você saudável.Sarah ergueu o olhar lentamente, um sorriso leve, mas desafiador, brincando em seus lábios.— Não se preocupe
A infância de Sarah, para qualquer observador externo, parecia perfeita. Cresceu em uma família rica, com pais influentes e uma irmã mais velha que, à primeira vista, parecia adorá-la. No entanto, por trás das portas fechadas, sua vida era marcada por amor condicional, expectativas esmagadoras e uma solidão crescente que ela não conseguia explicar.Desde pequena, Sarah era a alegria da casa. Seus cabelos ruivos brilhantes e olhos verdes vivazes encantavam todos ao seu redor. Anna, sua irmã mais velha, a tratava como uma boneca viva.— “Minha bonequinha” — dizia Anna enquanto penteava os cabelos volumosos de Sarah e organizava brincadeiras e histórias. Mas essa adoração inicial começou a se transformar em algo mais sombrio à medida que Sarah crescia.Conforme suas habilidades naturais começaram a chamar atenção, os professores a elogiavam constantemente por sua inteligência excepcional. Ela aprendeu a ler sozinha antes dos quatro anos e resolvia problemas matemáticos avançados aos seis
A casa de campo, envolta em um silêncio sepulcral, parecia refletir o peso da angústia que tomava conta de Sarah. Os ventos suaves do lado de fora eram os únicos sons que quebravam a opressão daquele espaço. Confinada há meses naquele lugar isolado, cada dia parecia mais sufocante,Caminhando pelo quarto, a mão pousada sobre o ventre volumoso, ela sentia o peso da incerteza e, sua intuição a alertava de que algo estava terrivelmente errado. Cada dia passado ali a fazia questionar se seu bebê estava bem, se a vida que carregava ainda pulsava com força.Após uma noite agitada de pesadelos — imagens de fogo e de Anna levando algo precioso embora —, Sarah desceu com dificuldade até a cozinha. Encontrou Olívia mexendo distraidamente em algo no balcão. A jovem parecia desconfortável, como se soubesse que uma tempestade estava prestes a se formar.— Olívia, eu preciso de ajuda, — começou Sarah, com um tom que misturava exaustão e urgência. — Quero ir ao hospital. A data do parto está próxima
Poucas horas após a decisão fatídica, Anna chegou à casa de campo, descendo do carro com passos firmes e decididos. Sua expressão era um retrato de controle absoluto, mas por dentro, uma tempestade de fúria rugia contra a interferência indesejada de Sarah.Ao abrir a porta, encontrou Olívia à sua espera, nervosa e inquieta.— Obrigada por tudo, querida. Agora vou cuidar disso sozinha, — disse Anna, sua voz suave como uma lâmina afiada. — Você já fez o suficiente.Olívia hesitou, um misto de preocupação e alívio cruzando seu rosto antes de obedecer e sair rapidamente, aliviada por não estar mais envolvida em um drama que a deixava à beira do colapso.Anna subiu as escadas lentamente, os ecos dos seus saltos ressoando pelo corredor vazio como um prenúncio do que estava por vir. Ao abrir a porta do quarto, encontrou Sarah sentada na cama, os olhos fixos nela, como se esperasse um confronto inevitável.— Finalmente decidiu aparecer, — Sarah disse, sua voz carregada de frustração e desespe